... a tarde em que o Visconde disse "porrada"

Estou estupefacta. Siderada. Esmagada perante tal aleivosia.
O Senhor Visconde disse, e passo a citar, que "assim não me dava tanta porrada..."
O sujeito escondido nesta oração era eu e só isso poderá explicar esta descida aos infernos da linguagem popular, porque mais nada explica um termo destes nos lábios de alguém tão primorosamente educado. Ou então apanhei o senhor Visconde, de samarra vestida, fazendo a sua anual visita aos caseiros e este foi o seu momento "bolo rei", soltando perdigotos de boca aberta como um verdadeiro homem do campo.
Mas, porrada, Visconde, porrada?
Visconde, depois de uma destas vou abrir-te a minha alma. E começo logo por aqui, e só desta vez, te tratar por tu, que a conversa vai ser intíma e nessas alturas o deferencial você não deve dar jeito nenhum.
Ó Vila do Conde (o título também já se foi), esta porrada que não conseguiste conter fez mais pela tua imagem que todos os posts sobre machos alfa e juras de virilidades bafientas. Tu és, afinal, um verdadeiro selvagem no que a sexo diz respeito. Desculpa esta denúncia pública, mas também só não vê quem não quer.
Tu começas cheio de primores, floreados, punhos de renda, enfim, manobras de sedução que agradam a qualquer mulher mais empedernida. Avanças a seguir, qual cavaleiro prestes a derrubar o torreão da donzela renitente, mostrando como és um homem que conhece o mundo, mas mantendo ainda toda a compostura do verdadeiro galanteador. Despachados os preliminares, que passam pelas tais compras não sei onde e as férias chiquérrimas e a discussão cinéfila, e o jantar de cerimónia e o momento em que as deixas no limbo e te afastas para um poker com os amigos, voltas, já de hormonas aos saltos e pouco disponível para grandes salamaleques, e passas directamente àquilo a que uma sábia mulher, de seu nome Fanny Hill, chamou o ataque principal. E aí Vila do Conde, no teu último e definitivo contributo, metamorfoseias-te qual personagem de Kafka e transformas-te num verdadeiro animal, no sonho de qualquer mulher. Estou a ver-te a retirar, cuidadosamente ainda, o anel brasonado do mindinho, a pousá-lo no pano de linho do psiché, a atirares o charuto pela janela e a acenderes um cigarro de enrolar que atiras despreocupadamente para o canto dos lábios, a desgrenhares o cabelo até aí impecável e, pegando nela pela cintura, arrásta-la para a arena de combate - mais um termo da inefável Fanny Hill - com um arrebatador ai queres porrada?
E pronto. Foi com esta que me deixaste de pernas bamboleantes, tremendo de cima a baixo e com uma certeza absoluta - és homem para mim!
E assim, em jeito de conclusão, digo-te, Vilas dos meus desejos mais secretos, quero falar, sim. Quando? Como? Onde? (Mas é para já, se fazes favor...)

6 comentários:

Visconde de Vila do Conde disse...

Caramba!

(recomponho-me...)

(e deixo a réplica para amanhã, Teresa)

(foi você quem começou...)

gaija do norte disse...

(ainda dá uma coisinha má ao visconde!)

Teresa disse...

Que dê, gaija, que dê, e que se solte a fera que há dentro dele...

Teresa disse...

Pronto, nunca mais come bolo rei na vida. Agora vai aparecer-me aqui só lá para o Carnaval...

Teresa disse...

(eu não dizia?? alguém viu por aí um Visconde? Ai gaija, que lhe deu mesmo qualquer coisinha... a idade não ajuda, os vícios são muitos e esta deve ter sido uma comoção muito forte)

gaija do norte disse...

foi nada... a esta hora anda numa daquelas lojas de brinquedos malucos a fazer compras para a "purrada"!