Tudo o que você sempre quis saber sobre combustíveis, mas não sabe, que eu não posso estar em todo o lado (Tomo dois, o incrível mundo da especulação)

O tema da especulação é-me extremamente agradável, maneiras que vou ter um especial carinho ao escrever estas linhas e garanto que manterei sempre, mas sempre, um sorriso ao longo dos próximos trinta e sete segundos, o exacto tempo que me levará a escrever estes parágrafos, não vou aqui especular sobre o quantos parágrafos serão porque ainda não sei exactamente.

Imaginem então o mercado dos pastéis de nata (caramba, já falei sobre este tema usando o mercado do café, do Barca Velha e do tabaco, começo a ficar escasso de mercados...). Imaginem os Pastéis de Belém, com as filas de gente à espera nos sábados à tarde, à espera de pastéis de nata quentinhos e imaginem ainda que aquelas pessoas são como eu, funcionam a pastéis de nata, precisam mesmo de um pastel de nata para que o dia lhes corra pelo melhor e pagam um euro por cada pastel de nata.

Agora imaginem que o dono dos pastéis de Belém acaba de passar o negócio ao filho, acabinho de sair de um curso de Gestão da Católica. E o filho, espertalhaço do filho, tem um curso e tudo, começa a especular e aumenta o preço de pastéis de nata para um euro e meio (há filas à porta, lembrem-se...). As pessoas aboreccem-se, mas a maioria continua a ir lá comprar a sua meia dúzia de pastéis de nata, o pai a esfregar as mãos de contente, caramba, valeu bem pena pagar o curso ao rapaz. O filho entusiasma-se e passa a cobrar dois euros pelo pastel de nata, mas agora faz uma dupla jogada, reduz a produção em vinte por cento. Desta forma, pensa ele, o dinheiro que entra é o mesmo e pode reduzir no pessoal. Algumas pessoas começam a desistir de comprar pastéis de nata e, pior, começam a ver-se à porta alguns vendedores ambulantes de queijadas de Sintra e alguns turistas começam a comprar queijadas de Sintra e já não entram na casa dos Pastéis de Belém, afinal o que eles queriam era só um produto típico, dá igual que sejam queijadas de Sintra ou pastéis de nata.

Um dia chega um tipo com ar de estrngeiro aos pastéis de nata e vê ali potencial de negócio. O tipo trabalha na City e teve que tirar o dinheiro dos Clientes de fundos de risco e vê-se com liquidez. Propõe comprar os pastéis de nata a três euros, para entrega no mês que vem, as previsões é que o açucar e as natas encareçam demasiado e os pastéis de nata custem cinco euros cada um no mês que vem, é um bom negócio comprar agora a produção a três euros, até porque os pode voltar a vender a quatro euros à casa dos pastéis de nata e ganham todos.

Eu sei que a coisa já vai longa e vou abreviar. E a questão com que ninguém contava é que nem eu estou disposto a pagar três euros por um pastel de nata. Neste entretanto houve um dia em que eu experimentei queijadas de Sintra a um euro e não as achei assim tão más.

O tipo dos pastéis de nata ficou lá com a produção toda e começa a precisar de pagar aos funcionários. Baixa os preços até ao preço de custo, mas agora nem a esse preço consegue vender, muita gente compra agora queijadas e outras pessoas começam a pensar no Verão e não querem pensar em pastéis de nata. Os pastéis custam agora menos do que aquilo que são os custos de produção, o tipo da City é preso porque fez o negócio com dinheiro do banco, ainda por cima à revelia de toda a gente, o tipo só vinha a um congresso em Lisboa. A loja dos pastéis de nata fecha, os empregados vão para o fundo de desemprego, juntar-se aos tipos que vendiam as natas, o açucar e o leite para os pastéis de nata.

Mensagem a reter: Podia ter corrido bem? Podia, e aí ganhava-se dinheiro. Mas correu mal, tão mal como correu aos petroleiros que ficavam fundeados ao largo das refinarias, à espera que o Brent subisse um dólar ou dois, para então descarregarem.


A seguir: Ah, os impostos...

9 comentários:

gaija do norte disse...

não sei se o percebi quanto desejava, mas fui a correr buscar o livro da maria de lourdes modesto. o visconde é inspirador!

Anônimo disse...

Que curso de economês!! faz parte das novas oportunidades? Tb quero!!

shark disse...

E não se pode exterminá-los (os especuladores)?

Teresa disse...

E que acontece se acontecer o mesmo com as queijadas de Sintra?

Anônimo disse...

We will always have Belas...
Fofos de Belas...

Visconde de Vila do Conde disse...

Não, Shark. Fazem parte do jogo. Completamente inúteis, parasitas, mas fazem parte do jogo.

Visconde de Vila do Conde disse...

Teresa, as queijadas de Sintra serão sempre uma alternativa de recurso. E os vendedores de queijadas sabem isso, tenderão a ficar sossegados, sabem que em qualquer altura os pastéis de nata poderão ressurgiar.

Visconde de Vila do Conde disse...

jovem senhora do norte, foi o melhor elogio do fim de semana...

Anônimo disse...

ainda bem que ninguém se lembrou das queijadas de Azeitão. Eu deixei o post esfriar para não aumentar a concorrência