And now for something completely different, …

Ao olhar para as mais recentes medidas do governo Português para “ajudar” as empresas, lembro-me de uma iniciativa de caridade que conheci à uns anos que consistia em comprar computadores para escolas em Cabo Verde, escolas essas que não tinham energia eléctrica.

Foi o caso da TSU, a descida do IRC e, agora, falam em reduzir as promoções dos Supermercados. São tudo ideias brilhantes, de génio que endereçam de uma maneira que até faz sentido uma serie de problemas reais e de difícil solução. O problema é que, tal como os computadores nas escolas de Cabo Verde, falta-lhes um bocadinho “assim”.

Toa a gente sabe que, uma parte importante dos custos de uma empresa são os custos com o trabalho. Ordenados e impostos sobre o trabalho são “a matar” portanto, uma medida como a da TSU seria, à partida boa (estou a falar apenas da redução para as empresas, vamos esquecer a outra parte por agora sff). Ora, o problema é que para as PMEs a redução da TSU seria mais ou menos insignificante e, as grandes empresas já não contratam ninguém sem cunhas anyway, têm tudo em outsourcing.

Antes de o outsourcing ter o poder que tem hoje no nosso país, as empresas que obrigavam os seus empregados a assinar clausulas de que não podiam ir trabalhar para clientes ou concorrentes até 1 ano depois de saírem eram consideradas ilegais. É que nós temos uma coisa chamada constituição que diz que o trabalho é um direito e, o facto é que para eu usufruir deste meu direito constitucional, preciso de assinar essa clausula ou não arranjo emprego.

Isso é também a definição de clausula coerciva. Para eu dar de comer ao meu filho, tenho de concordar com uma clausula cujo único propósito é garantir a perpetuidade de um serviço, reduzir o meu poder negocial no futuro e garantir que a mobilidade do trabalho é devidamente estrangulada. Tudo isto para garantir uma margem obscena como as que são habitualmente praticadas pela generalidade das empresas de outsourcing.

Devido à ausência de legislação, o Estado torna-se cúmplice desta situação que custa todos os meses às empresas algo que habitualmente passa os 40% do custo da sua massa salarial, garante o descontentamento dos seus colaboradores e estrangula a inovação.

De igual modo, as restrições às promoções com vista a proteger os produtores é uma piada de mau gosto.
O Pingo Doce (deve haver outros mas este eu conheço) tem uma lista de fornecedores aos quais paga a 10 dias, comparem isso com a habitual grande empresa que paga a 60, 90 ou não paga ou com o Estado que é como a neve em Lisboa.
Acho que é claro quem é que esta preocupado com os produtores, …

É certo que o QI combinado presente no plenário da AR é menor que o de um vulgar balde de estrume e, os nossos senhores deputados nunca tiveram 1 dia de trabalho honesto na vida mas, e que tal se eles se preocupassem em fazer leis? Just for a change, bora lá tentar esta ideia, …

Se a concorrência é atrofiada por lei, o mercado é imediatamente viciado. Sempre que a escolha é reduzida, a malta que detém o monopólio é imediatamente promovida a ditador estas leizinhas rascas e parvas de nada servem. Podem até parecer uma boa ideia a teóricos que nunca tiveram que trabalhar a serio para viver mas, se não fossem tão tristes e preocupantes, seriam apenas motivos de risada para toda a gente que lida com elas (tipo, que vai às compras, ...)

Alicerces e Fractais

Na maioria dos países, há leis bastante restritivas no que dizem respeito à construção civil. Essas leis são necessárias porque foi assumido que nenhum cliente final podia avaliar a qualidade dos alicerces pelo que a informação sobre o produto não podia ser suficiente para uma decisão de compra.
Assim, a lei obriga os construtores a fazerem casas com alicerces suficientes para o edifício não cair. Faz sentido e é útil.
À uns tempos falei com um tipo de Marketing (mas bom) que me disse que as pessoas chamavam “infraestrutura” às coisas que estavam 1 nível abaixo do que elas se preocupavam e, apesar do contexto ser informática (o modo como os programadores vêm o hardware, os admins de sistemas vêm os bastidores e os técnicos de hardware vêm a energia no centro de dados) mas, podemos ver este caso a acontecer em praticamente todos os sectores da sociedade, desde a política à mãe que compra a imitação barata do chinês como brinquedo para o filho.
Se calhar é o matemático em mim que vê um fractal (uma estrutura que se repete desde a maior à menor escala possível) mas, mais do que uma forma, isto é mas é estúpido.
Disse o Camilo Lourenço num comentário que fez no facebook:

“não sou eu que apoio o Governo, o Governo é que me apoia a mim. Pois se eu ando a dizer há mais de 15 anos que o Estado tem de ter contas públicas equilibradas... Eu fico muito contente por saber que a Troika finalmente obrigou um governo português a pôr ordem no peso excessivo que o Estado tem na Economia. Você e muita gente podem não gostar porque isto dói. Mas também doeu em 78-79 e em 83-85, quando cá veio o FMI. O problema está aí: como a gente não corrigiu os problemas fundamentais do Estado nessa altura, eles reapareceram. Portanto desta vez a Troika está a obrigar-nos a fazer aquilo que devíamos ter feito há muito... mas não fizemos."

Pessoalmente, acho que o Camilo tem razão até chegarmos ao próximo nível do Fractal. O problema é que o problema fundamental não esta na economia e, por isso, os economistas (e os jornalistas focados em economia) desenvolvem uma zona morta no seu campo de visão.

Como pode uma organização ser boa sem controle? A resposta é óbvia – não pode. E, por maioria de razão nós não vamos nunca ter um governo decente até o conseguirmos controlar, monitorizar e punir.

O caso Catroga na EDP foi sintomático da promiscuidade que há entre o governo e as grandes empresas (privadas) no país. Pode o sector empresarial controlar (ou denunciar) um governo onde os membros têm tantas relações de confiança? Claro que não.

Quando o Sócrates atacou os vencimentos dos Juízes, pela primeira vez que me lembro, vi a notícia de que o tribunal de contas tinha pedido todas as apresentações de despesas do governo para fiscalizar as contas destes. Ora aí esta outro equilíbrio de forças perfeitamente destrutivo, ó Governo, não te metas com a gente e nós não te lixamos a vida. Por outro lado, ó Tribunal de contas, não me lixas a vida e a reforma da Justiça fica adiada para depois, ok?

A própria oposição, com a disciplina parlamentar, fica sujeita aos barões dos partidos que partilham a administração de empresas e o cargo de "consultores independentes" em quanto não estão eles próprios no governo (acho que é isso a que se referem quando falam em alternância democrática).

E, termino nos jornalistas em que sempre que muda o governo mudam as caras nos jornais (porque os outros são requisitados como assessores de imprensa para o Governo) e onde todos pertencem a grupos económicos debaixo de grupos empresariais. Será ainda possível algum jornal Português fazer um artigo a bater forte na PT por exemplo? Será que tal jornalista e Editor irá manter o seu emprego durante muito tempo? Pessoalmente, acredito que não.

A Troika esta a obrigar o Estado Português a retirar da Economia. Pessoalmente acho isso muito bom mas, há países onde o Estado tem um papel ainda maior que o nosso na Economia e onde as coisas genericamente funcionam. Pois, este não é o único caminho, há outros e, apesar de não gostar de nenhum dos outros, o potencial para estragar tudo neste também é real (eu diria quase certo).

Acho que o melhor mesmo é, quando a troika sair de cá, darmos uma de TMN e despedimo-nos com o celebre "Até Já" porque, não vamos estar "Mais perto do que é importante".