É que lembro-me de cada coisa...

Que um dia tenha chegado a casa e encontrado todas, mas todas, as minhas camisas, excepto as que estavam realmente sujas, que a rapariga era esperta, a enxugar penduradas em tudo o que era possível arranjar para prender uma cruzeta, eu ainda percebo. Tinha acabado de chegar a Lisboa e a minha empregada percebeu mal um bilhete bem explícito que lhe deixei - lave à mão as camisas que estão no roupeiro.
Pronto, está bem, depois do primeiro susto, todas as minhas camisas impróprias para consumo porque ou escorriam água ou estavam sujas, lá percebi que roupeiro era, pelos vistos, o armário do quarto e não, como é lógico, aquele cesto alto onde se põe a roupa suja. Que ela me tenha deixado um outro bilhete a dizer o resto ficou na bacia que não tinha mais cabides, já é um pouco mais estranho. Cabides, minha senhora, são aquelas armações em madeira que se usavam e pareciam um homem sem cabeça onde se penduravam os fatos. Nos armários, ou guarda-vestidos, ou guarda-roupa, usam-se cruzetas, percebido? Cruzetas!
Quando finalmente saí daquela terra estranha já não precisava de dicionário para me fazer entender, que consegui apanhar-lhes as manhas, mas ainda hoje voltei a pensar como no Sul as pessoas são como os romanos do Astérix - doidas! completamente doidas.
E que se passou hoje? Pés frios, só isso.
Tinha as botas molhadas e os pés frios e assim que cheguei a casa tratei de calçar umas sapatilhas. Enquanto torcia o pé e fazia todos os movimentos normais para as enfiar sem lhes desapertar os cordões, técnica, muita técnica, lembrei-me de um sulista (costumo lembrar-me desse sulista várias vezes por dia e não só quando calço sapatilhas, mas isso agora não interessa aqui para nada), a explicar-me porque nunca, mas nunca, se apertam os cordões dos ténis. Ténis! Ténis?
Caramba, até já lhes perdoei a história dos pêros, que percebi que é inútil perder tempo a explicar que pêro só se for o pêro malapo, e a esses nunca eles lhes puseram os olhinhos em cima, que na loja lá da rua vendem maçãs e é com sorte, mas ténis? Ténis, senhores? É que está-se mesmo a ver o Usain Bolt ou o Nelson Évora a correr com ... ténis!
Como diria a minha nortenha preferida - óbalhamedeus!

(lembrei-me agora de um pormenor que é fundamental. O Antigo Testamento deve ter sido escrito por um gajo de Lisboa e depois traduzido por uma pessoa normal que, como todas as pessoas normais, cometeu um erro. Onde se dizia que Eva deu um pero a Adão por causa da mania dele que vivia no paraíso e não querer fazer nenhum, era mesmo isso que se queria dizer e não devia ter sido traduzido por maçã. Está errado, mas este pequeno erro alterou toda a recente história da humanidade, que estivesse a Bíblia com a frase certa e outra galinha teria cantado...)

34 comentários:

Anônimo disse...

olha que era um alperce na última versão que li: Prunus armeniaca

quanto ao resto: claro que não queremos fazer nenhum a não ser mantermo-nos em forma para regar tudo com leite de macho como nos compete, e ainda umas discussões filosóficas pelo meio, compris?

Teresa disse...

essa do alperce já me faz mais sentido, que sempre achei que essa é que devia ser a fruta do pecado. Ou o pêssego.

Anônimo disse...

:))), olha que simpática e eu pensei que vinha aí trovoada, já imaginava a minha cabrinha-mor a deitar fumo das orelhas,

mas ao menos fui sincero

e ainda temos que falar um dia melhor dessa coisa dos gajos e das gaijas, porque isto anda tudo mal

mas sou gamado em damascos

Anônimo disse...

(como os gregos é que era bom para tod@s, mas deixa pra lá que eu também já estou a caminho de ficar quentinho)

Marias disse...

Cruzeta? Mas tu és a minha avó? E eu não digo pero (que são só aquelas maçãs amarelas grandes).
E o que é "azinho" ? A língua portuguesa é muito rica...

Teresa disse...

Só deito fumo das orelhas com a maldade. Do nariz deito com a estupidez. Contigo será uma impossibilidade deitar fumo.
Também gosto muito de damascos, ou alperces, ou como lhes queiram chamar que aqui no Algarve têm um nome que nunca consegui perceber. Temos dois enormes damasqueiros (escreve-se assim?) ao pé de casa e garanto-te que me delicio com eles.

Anônimo disse...

Quercus rotundifolia , e agora fiquei eu a augar por damascos nesta altura do ano!

bem, tenho ali um queijinho de Nisa e vou-me a ele que nós gajos somos versáteis

'té manhã

Teresa disse...

As maças amarelas grandes são as maçãs golden, gabs... Pêro é uma qualidade de maçã que se caracteriza por ser mais alongada que redonda. Longe, muito longe, das Golden.
Azinho não sei mas troco por "debrucar" e "missagras"

Anônimo disse...

ai Teresa mas olha que fiquei mesmo augado, que sorte isso dos damasqueiros, mas agora lembrei-me que tenho ali duas queijadinhas de xila e amêndoa que não tarda nada já não tenho,

a má da sumossacerdotisa obriga-me a escrever aquilo tudo de novo por causa das endnotes, mas a borboleta vai para o ar nem que eu a excomungue!

bem vou mesmo xonar, ou seja acabar de ler o meu livrinho só com a ponta do nariz de fora,

gatos anda bom, Janeiro também é o mês deles,

Anônimo disse...

(A língua portuguesa é muito rica? Pois se houvesse justiça a minha seria milionária. Ou eu à conta dela...)

Teresa disse...

tenho compota, se quiseres.

gostei do "nesta altura do ano". Sabes que cá em casa não deixo que se coma fruta sem ser na altura dela. Morangos em Janeiro acho que é uma heresia e por mais que as miúdas insistam recuso-me a comprar uvas em Março. Acho que se perde, ns prateleiras dos supermercados, a noção de que há uma época para plantar e outra para colher.

Teresa disse...

Arde core, como diz o povo, quem mais não tem a mais não é obrigado. Percebidos?

Anônimo disse...

Quercus rotundifolia é a azinheira, o azinho é a lenha (xilema) dela.

bem, acho que vou sonhar com damascos, dorme bem, eu cá já percebi que não apanhei a gripe que durmo muito que nem um gato, ou um texugo não sei,

também gosto muito de lontras, são espertas como um raio

Teresa disse...

z, sabes que já não consigo ler assim? Preciso de óculos e essa foi a pior coisa que me aconteceu no último ano. Alterou-me muitas e muitas rotinas.

Teresa disse...

Olha hoje comprei muita lenha de azinho. Já nem me lembrava como dá um cheiro bom.

Anônimo disse...

Cruzeta não é exactamente o mesmo que cabide, cruzeta era a de madeira com uma cruz no meio para se chegar ao varão do guarda-fatos. De resto, concordo e entendo, mas roupeiro é o cesto da roupa suja??? Para mim não (mas eu emigrei mais cedo que tu :DDD)

De resto, valente gargalhada e imagino a cara da empregada. :DDDD

Marias disse...

Já tinha percebido que "azinho" era lenha, mas de que árvore?
As Golden em Lisboa são peros, e os ténis são sapatos de ténis (sapatilhas são de ginástica,lol).

Teresa disse...

Imagina é a minha cara, Catarina...

Azinho é lenha de azinheira, Gabs...

calamity jane disse...

Que mal te pergunte, ó Teresa, mas de onde vens tu? Cruzeta???
E eu tb não chamo roupeiro ao guarda-fato, mas nunca ouvi chamar tal nome ao cesto da roupa suja... e banheiro? é o salva-vidas ou o WC? a língua portuguesa é mesmo muito traiçoeira... e eu, como a Gabs, tb achava q os pêros eram uma versão mais antiquada das maçãs golden, agora maçãs em forma de pêra... hum... num sei não.
Ténis, pôxtáclaro! Um téne, dois ténes. Sapatilhas é para o balé. Ballet para as meninas mais cosmopolitas.
E o henné? já arranjaste? há quem lhe chame hena. Mas agora fiquei na dúvida, vou investigar a ver se há outro regionalismo para a coisa ;-))

gaija do norte disse...

(encontraram-se à esquina para me dar cabo da noite...)
as sapatilhas usam-se para qualquer desporto, e não só! são um tipo de calçado. ténis é um desporto. azinho é a lenha da azinheira! o pessegueiro é o prunus persica. o cabite é uma armação para pendurar roupa, diferente da cruzeta, que é em forma de cruz. um pero é um soco. o roupeiro é um móvel onde se guardam roupas e o local onde se coloca a roupa suja é o cesto da roupa suja. também há quem lhe chame tulha.
e tens razão chefa, tivese a eva dado um soco ao morcão do adão que nunca mais se despachava, e o mundo seria bem diferente!

compota de amora com requeijão :)
(o que me lembra que tenho que fazer de abóbora!)

gaija do norte disse...

óbalhamedeus! sapatilhas para o ballet? no início são sabrinas e depois sapatos de pontas!

calamity jane disse...

Aqui na mouraria (é assim q vocês aí na imbicta chamam a isto aqui, né? pra mim, é mais campo de ourique, mas adiante...) é assim q se chamam. Sapatilhas de ballet. E, bai de uei, também não usamos cordões no calçado, seja ele qual for. É atacadores. Cordões é para a bolsa.
E ainda há quem fale em acordo ortográfico! A malta nem fala a mesma língua!!!

calamity jane disse...

(tb gramo à brava doce de abóbora com requeijão! nham! e sei fazer um muita bom - doce ou compota, vá, agora diz lá que não vai dar tudo ao mesmo: é até ver o fundo do frasco!!!)

Teresa disse...

Sabrinas e sapatos de ponta para as meninas, claro. Para os rapazes acho que se chamam sapatilhas. Acho. Ténis é que não são de certeza, apesar de o tal sulista me ter acabado de garantir que se joga basket com ténis....
Roupeiro, em casa da minha mãe, sempre foi o cesto da roupa suja. O resto eram armários, guarda-vestidos ou guarda-roupa (para lençois e toalhas de casa de banho).
Cabide nunca, cruzeta, claro. É uma cruz ou não é? E se for para saias é a cruzeta das saias.

Calamity, até agora brancos-10 hienna-0. Mas já me disseram que me arranjavam só que vou ficar com o cabelo vermelho. Vermelho?? É que nem pensar...
Já agora, manda a receita do tal doce de abóbora. Todos os dias de manhã passo por umas, ali a uma porta, que quase que juro que têm um letreiro a dizer "leva-nos"...

gaija do norte disse...

vá Cj, também dizemos atacadores! mas chamamos ao cadeado, aloquete... doce ou compota, vai tudo dar ao mesmo sim (acho eu...)

chefa, faz-te ao caminho, lê bem o letreiro e traz as abóboras. depois tratamos da receita.

Teresa disse...

É que amanhã já cá cantam... doce ou compota, não sei, mas com requeijão e nozes quero lá bem saber do Priberam (e agora devia ter feito um link, mas dá muito trabalho...)

Marias disse...

À sombra de uma azinheira, que já nem sabia a idade... já ouvi.
Malvados, a queimarem azinho...
A língua portuguesa é muito rica, por esses regionalismos todos juntos. E Lisboa também é uma região.

calamity jane disse...

... uma nação, é o que é!!! (ai ai ai q a gaija me torce o pipo ;-)

o docinho, ou compota: cozes a abóbora em água só. quando estiver cozida escorres a água (pode ser num escorredor - espero que conheças o objecto, é assim como um coador, mas maiorzinho...) durante um bocado - uma horinha, ou assim, q aquilo deita água até dizer chega. Óspois voltas a colocar a abóbora no tacho (panela, marmita, enfim, o tal recipiente q vai ao lume) com açúcar (eu costumo pôr amarelo) e paus de canela qb . NÃO PONHAS CASCA DE LARANJA SENÃO O DOCE FICA A SABER A TUDO MENOS A ABÓBORA!!! Se quiseres pôr nozes põe no fim para não ficarem moles. Proporções, eu faço a olho. Tento pôr mais ou menos metade do açúcar em relação à abóbora, porque esta já é muito doce. Imagina q puseste 3 kgs de abóbora em cru. Não ponhas mais q 1 de açúcar, pois a abóbora diminuiu na cozedura e além disso tiraste a casca e as pevides. Deixas cozer no lume mais brando que o teu fogão conseguir. Mexendo de vez em quando com a colher de pau (q se lixe a ASAE). Quando estiver em ponto de estrada (haverá algum regionalismo para esta expressão culinária?), está pronto. Deixar arrefecer ou não, é conforme o gosto.

Henné: é verdade, o puro põe o cabelo avermelhado (com reflexos, não é com aquele ar de pintado...) ou acobreado, mas tb os há com outros tons: castanho, acaju e até preto. Tem a ver com plantas que lhe misturam. Em geral não leva produtos químicos pelo q é mais saudável q as tintas de cabeleireiro. E quando começa a sair não fica aquela fronteira tão definida entre os brancos e os pintados.

beijos, ósculos olá uquié

Teresa disse...

Amanhã trago as abóboras para casa... Obrigada pela receita, porque eu não iria escorrer a abóbora no tal qualquer coisa, mas faria como faço as outras - cozer e açucar lá para dentro. E casquinhas de laranja nem pensar, que foi assim que estraguei a compota de diospiro - sabe a limão e mais nada.

Vou mesmo tentar a Henné mas se ficar uma ruiva fulminante já sabes que vais ter de responder por isso...

gaija do norte disse...

não torço nada, CJ. o Porto é uma naçõue, o que sendo a mesma coisa, é completamente diferente!

não faço assim a compota. vai tudo ao molho que é mais fácil. para três quilos, um de açúcar (uso branco), dois ou três paus de canela e deixo estar no fogão até ficar com a consistência que quero.

Marias disse...

Ena, olha as horas a que eu estava a comentar! Agora está aqui um nevoeiro.

Anônimo disse...

máquina 0.5 que é uma maravilha, até dá para esfregar com a escovinha das unhas,

as time goes by

hoje ainda não tenho fome, mas daqui a bocado começo, mas hoje é dia de me dar presentes

'té logo

Anônimo disse...

tufa

Teresa disse...

papaste-la...

hoje, pelo que parece, é dia de cortar cabelo.

(recebi a andorinha. Já li. Boas catástrofes é o que preciso por aqui...)