BOLAS QUE QUASE NÃO CHEGAVA A TEMPO…

PARABÉNS GAIJA MAI LINDA DO NORTE E ARREDORES!!!!!!!!!!!!!!

Gaijaaaaaaaaaa....

Ainda vou a tempo para te desejar um Feliz Aniversário muito grande?

(e será que a net não cai antes disso?)

Como diria o Santo...

Expliquem-me, muito bem explicadinho, o que é isso do aquecimento global.

Hoje, no Facebook

Miguel Portas

Miguel Portas Semana de vertigens IV: na 5ªf o orçamento de estado cede o seu lugar à providência cautelar contra o Sol. Cá na minha, o administrador da PT que a colocou deve ser amigo de algum accionista do semanário e por qualquer razão que me escapa, inimigo fidagal do primeiro-ministro...

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Durante 27 anos ele viveu com o número da besta. Foi solto no dia 11 de Fevereiro de 1990, há 20 anos. Sugiro, a quem escolheu o dia de hoje para gritar por uma suposta liberdade perdida que se lembre deste homem e tenha vergonha na cara.

Momento National Geographic

As chocas sempre me fascinaram. Não por elas, que afinal não passam de chocas, mas por aquele secreto poder que detêm e que eu nunca entendi.

As chocas, animais ruminantes e de ar imbecil, deslocam-se em ruidosos grupos abanando os badalos e têm os seus cinco minutos de fama quando largadas na arena envolvem o touro, até aí bravo e renitente, e o transformam num manso cordeiro que as segue obedientemente até aos curros.

Nunca consegui perceber como as chocas fazem isto, mas também nunca consegui perceber se o touro vai atrás das chocas ou dos badalos das chocas. Certo é que o touro as segue o Tordo fez questão de também as cantar e, mal ou bem, saem de cena debaixo de uma salva de palmas que mesmo sendo de alívio sempre são palmas. Os campinos, homens sábios, enxotam-nas com varas longas sem se aproximarem muito, não por medo do toiro que anda já lá no meio mas por saberem que é nelas que não podem confiar. E as chocas, armadas em estrelas de olhar bovino e estúpido lá vão cumprindo a sua sina e tirando o touro das luces para o encaminharem para a morte certa inglória e solitária do matadouro mais próximo.

Digo outra vez, não percebo, nunca percebi, porque é que os touros, animais nobres e bravios, depois de derrubarem cavaleiros, forcados, peões de brega e tudo o mais que lhes apareça à frente metem os cornos entre os ombros e seguem obedientemente as chocas.

Mistérios da natureza, só pode.

Os Vencidos da Vida

Eram onze e juntavam-se para jantar uma vez por semana. Fialho de Almeida chamou-lhes dúzia e meia de ratões que... quando juntos, o que pretendem é jantar; depois de jantar o que intentam é digerir; e digestão finda, se alguma coisa ao longe miram, tanto pode ser um ideal como um water-closet. Eça de Queiroz, que não era gajo para se ficar, respondia O que é estranho não é o grupo dos Vencidos - o que é estranho é uma sociedade de tal modo constituída que no seu seio assume as proporções de um escândalo histórico o delírio de onze sujeitos que uma vez por semana se alimentam.

Estávamos em Portugal e o século XIX dava os últimos suspiros mas ao lê-los nem se nota que passaram quase 150 anos. Imagino estes Vencidos a escreverem hoje num blog. Dificilmente conseguiriamos perceber que estes senhores usavam cartola e bengala, mas perceberiamos rapidamente que tudo o resto que por aí anda é fancaria ao pé disto.

" ... não há nas democracias homem menos respeitado, nem mais influente, do que o político. Essa influência não é prestígio: é apenas a consequência dos empregos que pode distribuir e dos negócios que pode contratar. Encontra-se como elo de uma cadeia, em que para um lado estão os eleitores, dando-lhe em troca de pequenos serviços o simulacro de popularidade que é uma força; e para o outro lado estão os barões, fornecendos-lhes o dinheiro com que essa força se compra, sonantemente, pela imprensa e pelas eleições.
(...)
Compreende-se pois que a selecção tenha de fazer-se num sentido cada vez mais deprimente; compreende-se a abstenção do grande número; compreendem-se afinal as palavras do príncipe: toujours plus bas!
ou disto
" Aplica-se à sociedade o critério adequado aos homens, e requer-se que ela obedeça aqueles ditames que a consciência nos impõe. É completamente absurdo. Proclama-se que o governo dos Estados deve subordinar-se à justiça, guiar-se pela opinião e ter por norma a publicidade - quando em verdade a opinião pública e a justiça são apenas moderadores dos princípios que foram em absoluto, e serão sempre, de um modo mais ou menos relativo, a essência e alma dos governos - o segredo e a razão de Estado"
Oliveira Martins, um dos onze derrotados, escreveu um dia estas pérolas. Aprendamos com ele, blogueiros de hoje.

A Elsa Preta

A Elsa era uma figura. Era filha da Cega, boa gente, e mulher do Abel, homem honrado e trabalhador, mas nunca lhe chamaram a Elsa da Cega ou a Elsa do Abel, foi o Preta o que se lhe colou ao nome. Lembro-me dela desde garota mas nunca soube de onde lhe veio o acrescento nem quem lho pôs tendo sempre acreditado que se devia ao encardido da cara que poucas vezes deve ter visto água. A Elsa tinha filhos, muitos, não sei quantos que nunca os consegui contar por serem facilmente confundíveis uns com os outros devido às manchas pretas que também os cobriam a eles. A Elsa vivia do magro ordenado do homem dela e da caridade alheia e o único trabalho que se lhe conhecia era o pedinchar de porta a porta, sempre recompensado. Um dia a casa da Elsa acabou de cair, acho que o peso do lixo ajudou, mas a Elsa já tinha pedido uma casa nova e o que a Elsa pedia normalmente tinha. Mas o que a Elsa se esqueceu foi de pedir também a vizinhança e como há segredos que só se adivinham depois de serem contados a casa nova que tinham dado à Elsa era paredes meias com a casa da amante do homem da Elsa e a Elsa disse que não, assim não queria, tinham de lhe arranjar uma casinha mais arejada. A Elsa era pobre mas não era pobre a pedir e quando soube que ou era aquela casa ou não era mais nenhuma tratou da vidinha dela.
Lembro-me perfeitamente do café, lembro-me de estarmos todos ao balcão e lembro-me da Elsa a entrar. Lembro-me de ter pedido para a ajudarmos a encontrar o número de telefone de uma televisão e lembro-me do choradinho que se lhe seguiu com o desenrolar todo das misérias e dos filhos e da casa a cair e dos filhos e da casa e da casa e dos filhos e da injustiça que tudo isso era e de como a incentivavam do outro lado, que a vida custa a todos, não é só à Elsa Preta, e nunca se sabe se se deixa cair uma história e os outros pegam. E lembro-me também, isso nunca vou esquecer, do argumento final da Elsa já que quanto mais não fosse foi ali, naquele momento, que todos os que a ouvíamos soubemos que ela e o Abel, o Abel da amante da casa do lado, o Abel pai dos filhos todos dela, que eu nunca soube quantos eram, o Abel que assentava tijolo mas que por muito tijolo que assentasse nunca era suficiente, pois ela e o Abel, esse Abel, não eram casados, assim casadinhos e de papel passado. Não é que esse pequeno pormenor tivesse para nós grande importância, que ela era a Elsa Preta filha da Cega e mulher do Abel e pronto, mas para ela, naquele momento, foi fundamental, porque deu-lhe a oportunidade de rematar o rosário das queixas com um quase desesperado "sim, e ainda por cima sou mãe solteira" que deve ter feito a alegria do ouvido que vampirescamente a escutava.

A minha amiga Peixa gosta de homens arrogantes, grisalhos e de fatos às riscas. Eu, que tenho mais uns anos que ela e já não sou tão exigente, dispenso os fatos às riscas e mesmo o grisalho já nem é tanto um gosto tout court mas mera precaução porque crianças para tratar já tenho as minhas e chegam-me. Não sei, portanto, se é por ser arrogante e grisalho que gosto dele, mas acho que não. Acho é que me basta pensar nas alternativas que temos e ver a  Elsa Preta pintada e escarrapachada nelas todas para quase o distinguir como o homem da minha vida. Eu sei que ele não é santo, e nem eu que gosto de santos lhe exigia tanto, mas também sei que o poder que ele tem foi-lhe dado por nós, por mim, que só não votei nele porque não pude, e por todos os que um dia acordámos com tanques e cravos na rua e nos habituámos depressa a essa coisa engraçada de escolher quem manda e fizemos dela herança dos nossos filhos. E eu sei, e todos nós sabemos, que mais tarde ou mais cedo o tipo arrogante e de cabelos grisalhos vai ter de nos prestar contas e também sei que eu, e vocês, vamos exigir as continhas bem feitas. O que me deixa inquietada é que a Elsa Preta sabe mais do que eu, muito mais, que a mim não me dão casas e também sou mãe solteira, a Elsa Preta sabe que há quem não tenha de prestar contas. A Elsa Preta sabe que ela, tal como o gajo arrogante e grisalho, presta contas a todos mas há por aí quem não tenha de dar satisfações. A mim, pelo menos, nunca me deram. Acho que lhes chamam o 3º e o 4º poder e só o facto de saber que são poder, seja lá o número que tenham, e não me prestarem contas, ou a vocês todos, que nesta coisa de contas não quero exclusividades, deixa-me desassossegada porque assim como assim eles também riscam na minha vida. É que nunca me pediram para eleger um juiz e os outros, os tais que se arrogam de 4º poder e a quem a Elsa Preta chama quando a casa que lhe querem dar não lhe serve porque ao lado vive a amante do Abel, também não me mandam nem um postalzinho no Natal. E eu fico incomodada com essas coisas. Muito incomodada. É que quem me conhece sabe que eu gosto de ganhar, gosto muito de ganhar, gosto tanto de ganhar que sou incapaz de fazer batota porque isso não me dá aquele gostinho especial de saber que ganhei porque sou melhor, mas se começo a ver que toda a gente à volta da mesa é batoteira então as regras passam a ser outras e se é para ver quem faz melhor batota podem contar comigo. A chatice nisto da batotice é que deixo de saber qual o jogo que estou a jogar e como não sou a Elsa Preta, que não me chega a sabedoria e a batotice para tanto, nem uma casa mesmo com amante ao lado tenho para as minhas filhas, a única herança que lhes posso deixar é a tal que tem um gostinho especial, a de poderem escolher quem manda com regras que sabemos quais são.

Gosto de homens arrogantes e grisalhos. E gosto dele. Quanto mais não fosse porque não gosto, nunca gostei, da Elsa Preta.

IPad? É p'ra já.

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Roubado aqui

AVATAR

Sou uma pessoa altruísta que gosta especialmente de ajudar e animar pessoas de idade mais avançada. Foi imbuída nesse espírito humanitário que peguei numa senhora de uma certa idade e a levei a ver o Avatar em 3D. A primeira parte até correu bem. Vimos o filme, comemos pipocas e tudo e tudo e tudo. Chegadas ao intervalo, saimos para fumar um cigarro e a dita senhora fez uma chamada do seu pikeno telemóvel. Eu, vendo que a coisa estava demorada, fui andando para a sala. Sentei-me, pus os óculos e dediquei-me a tentar descobrir o que é que tinha acontecido apenas 5 vezes desde as Grandes Canções. Estava eu quase a descobrir quando vejo a senhora a entrar na sala com o seu andar levemente coxeante (coisa de senhoras de uma certa idade). Sentou-se ao meu lado, no seu lugarzito, peguei na coca-cola, pus a palhinha na boca e antes que eu conseguisse voltar a olhar para o ecrâ, senti-a agarrar no meu braço e começar a abanar-me como se não houvesse mais hoje quanto mais amanhã. A senhora, acometida de um ataque de genica, abanava-me toda e dizia em pânico e num volume considerável:
“Vamos embora!!! Estamos na sala errada!!!” Enquanto me tentava arrancar a coca-cola da mão. Descobri eu mais tarde que era porque achava que a coca-cola pertencia a uma qualquer pessoa que deveria ser o dono do lugar onde eu estava sentada e que deveria estar carregadinha de germes e vírus e bactérias.
Eu que não percebia nada sentia-me como se estivesse no meio de um tremor de terra, quando ela absolutamente em pânico atira para o ar: “NÃO VEJO NADA!!!!”
Eu já desesperada com os abanões quase que lhe grito: “Põe a porcaria dos óculos!”
“Mas eu já pus!!!!” Eis senão quando ela olha para mim para mostrar que, de facto, já os envergava.
Ir ao cinema com pessoa de idade provecta tem destas coisas…
Pelo menos, foi o que eu pensei enquanto desatava a rir a olhar para os óculos de sol que ela tinha na cara!!!!!!!!!

HOMENS QUE MATAM CABRAS SÓ COM O OLHAR


Destes nunca encontrei. Mas juro pela saúdinha da Chefa que já encontrei Homens Que Rasgam a Roupa de Cabras Só Com o Olhar.

Isso sim, meus amigos, é que me parece uma façanha digna de registo! Ou de um filme com o George Clooney...

Se chorares por ter perdido o Sol as lágrimas não te deixarão ver as estrelas*

Já lá vão quase 15 anos mas lembro-me perfeitamente do cartaz. Tinha-me andado a aguentar a manhã inteira mas ali, na frente daquele cartaz com letras enormes a dizerem "Casamento", chorei tudo o que ainda não tinha chorado.
Estava colado na parede ao lado da porta do meu quarto, em frente à janela. Na cama a Clara dormia embrulhada na manta cor de rosa. Tinha-a estado a embalar a ela e à notícia. Estávamos as duas sozinhas e eu parecia uma barata tonta de emoções, dividindo-me entre a estranheza de ter começado a ser mãe e a estranheza ainda maior das palavras que aquela médica me tinha dito e que metiam facies diferente, prega na mão e olhos afastados como se eu não lhe tivesse logo feito a pergunta de que não queria, não queria mesmo, ouvir a resposta.
"Casamento". A minha filha não se iria casar. A minha filha não iria ser mãe como eu. Eu não ia ser avó. As lágrimas rebentaram sem as conseguir segurar enquanto a cabeça anotava o rídiculo da situação. Eu, que nunca me quis casar, que nunca sonhei casar-me, chorava por a minha filha não se poder casar.
Acho que chorei por esse não poder à partida, por pensar que a corrida que ela estava a começar seria sempre limitada, por a vida que eu lhe tinha dado ser menos vida que as outras.
Decidi deixar de chorar poucos dias depois. Também me lembro bem. Desta vez estava sentada no banco corrido do corredor do hospital e jurei a mim mesma que não ia deixar-me arrastar, e muito menos arrastá-la a ela, para dias miseráveis e tristes onde o coitadinha e a pouca sorte seriam os nossos cartões de visita.

A Clara tem 14 anos. Quase 15. Ontem, a caminho da escola, contou-me que a Marta tinha chorado. Foi desenrolando a história como só ela sabe e consegue desenrolar as histórias. O Marco tinha-a ajudado a descer do autocarro. E tinha-lhe carregado a mochila. E estavam a fazer máscaras de Carnaval. E tinha lanchado, tinha comido tudo. Ela era uma princesa. A Marta era namorada do Marco. Quando chegasse à escola ia dar o meu recado à professora Fátima. O Marco tinha-a beijado e a Marta tinha chorado. Vai chover mamã, o céu está preto.
Cá para mim, muito para mim, pensei que não ia chover, já estávamos era no meio de uma carga de água com relâmpagos e tudo.
Fui buscá-la à escola com a irmã, à escola onde está há menos de dois meses. Eram 5 horas, hora de saída,  havia miúdagem por todo o lado, eu tinha o carro em segunda fila como de costume e a Clara fazia o seu passeio habitual pelo meio da populaça, não deixando um Olá Clarinha, Até amanhã Clarinha, Tchau Clarinha por responder. A Xica, bom feitio, resmungava ao meu lado que não tinha paciência para pop stars. Achei que era a altura certa para largar a bomba e deixei cair, assim como quem não quer a coisa, a história do Marco que era namorado da Marta mas que tinha deixado de ser.

E agora estou aqui de sorriso de orelha a orelha enquanto volto e revolto a lembrar a conversa das minhas filhas adolescentes. As perguntas que uma fez e a outra respondeu e de que eu me recusei a ouvir as respostas - como diz a Peixa há perguntas para as quais não queremos saber as respostas... - mas que metiam beijos e os sítios onde os beijos foram dados, conselhos - acho que ouvi qualquer coisa sobre namorados de outras serem intocáveis mas não percebi bem... - os telefonemas da Clara para a grande amiga a contar as novidades, tudo tudo tudo o que a cartilha traz. E aqui, neste cantinho, volto a lembrar o estupor do cartaz que me fez chorar, passo a mão pela cabeça daquela eu perdida no corredor da maternidade e digo-lhe baixinho o que acho que ela já sabia na altura. Tonta, estás a ser tonta.

Só mais um pequeno pormenor. O Marco tem sardas. A Marta, bem, a Marta gosta de actores e actrizes e chama palhaça à Clara. A Clara? A Clara é gira, e tem sentido de humor, e é divertida e tem olhos verdes e, como diz a Xica com algum ressabiamento, um gajo com sardas não resiste a uma loira de olhos verdes.

* R. Tagore

A quarta virtude

Froquilhar o jogo alheio.

E onde é que eles andam?

OFICIAL E CAVALHEIRO

Os senhores arrogante e grisalhos que usam fatos às riscas gaguejam quando telefonam no dia a seguir.

Para esta não me tinham avisado!

Eu achei querido…

A LIGA DE CAVALHEIROS EXTRAORDINÁRIOS

A esta altura do campeonato já o mundo todo sabe que gosto de homens arrogantes. É verdade. Gosto. Se forem grisalhos, adiciona-lhes charme. E o ponto supremo de soberba será sem dúvida – e como já exaustivamente repetido neste blog – o proverbial fato às riscas.

Hoje almocei com um senhor. Grisalho, arrogante e com fato às riscas.

Se podia almoçar com uma criatura mais doce e simpática? Poder, podia… Mas, definitivamente, não era a mesma coisa…

O FIM DA AVENTURA

Minha Querida Tereza,

Quero-te falar do meu fim-de-semana. Adivinhava-se um fim-de-semana calmo derivado (o que eu sempre quis escrever isto e nunca tinha conseguido até hoje) da maleita que me afectava o pescoço e as costas. Sexta-feira como sabes tinha sofrido uma pequena irritação com essa espécie do sexo feminino que se denomina ‘gaja’. Sabes que nunca consegui entender porque essas criaturas – amiúde sem espinha dorsal – insistem em denegrir a nossa imagem e a lançar a sombra da suspeita sobre todas nós que possuímos uma vagina. Sabes que não encaro bem a mentira e sexta-feira lá tive que me socorrer do proverbial copinho de sumo de laranja e engolir a pastilha enquanto engolia também o anti-inflamatório.

Sábado encontrei-me com uns amigos e tive que dar o braço a torcer e, como diria o Visconde, toda a gente sabe que eu detesto dar o braço a torcer. As gajas são uma sub-espécie que por ter conseguido sobreviver no submundo feminino, aquando do movimento de emancipação,  evoluiu de forma espantosa e domina o mundo. Margaret Thatcher? Anedótica. Condoleezza Rice? Uma frustada… Lembrei-me várias vezes do Senhor dos Aneis: “He who has the ring, rules the world.” E as gajas têm sempre o anel. Seja ele de noivado, a aliança, vaginal…

Observei durante as últimas 72 horas a diversas manobras de precisão militar digna dos Marines americanos e, surpreendentemente, verdadeiros machos alfa a sucumbir durante essas manobras. Juro que ainda tentei, atenta ao lema do Marines de nunca deixar nenhum homem para trás, tentar alertá-los mas era tarde demais. Eles enfeitiçados pelos sorrisos doces, os cabelos suaves e as mensagens calmas recusam-se a ver que o seu poderio foi destronado. Recusam-se a acreditar que le Roy et mort et vive la Reine.

Lembrei-me do que me disseste há uns dias. Que vivias sozinha porque não precisavas de viver com ninguém. Na altura acreditei, mas depois do que assisti... Depois de ver homens manipulados e felizes por sê-lo, posso apenas concluir que as regras do jogo mudaram e que, infelizmente, mais uma vez estava coberta de razão quando amaldiçoava as nossas avós por terem queimado os soutiens em vez de os tornarem mais decotados e os envergarem para seduzir os homens com quem à noite se deitavam. Essas que criaram as gaijas, devem estar agora arrependidinhas como o catano. Ao fim ao cabo, não há direito ao voto que valha isto.

Somos seres híbridos. As gaijas são seres híbridos e mutantes que não conseguem encontrar o seu lugar neste mundo e compete-nos a nós, porta-estandartes desta nova espécie, herdeiras das cinzas da roupa interior das nossas antepassadas, acreditar. Acreditar que se nós fomos criadas teve que ser criada também uma espécie compatível do sexo oposto. Algures por aí tem que existir uma espécie de homem capaz de manter a sua aura de arrogância ao sentir a sua supremacia ameaçada. Capaz de rir dos nossos disparates e sem medo de nos enfrentar. Capaz de nos trazer as pantufas quando lhe apetece sem se sentir humilhado e, simultaneamente, capaz nos mandar enfiar as pantufas onde o anjo meteu a árvore de Natal se nós nos convencermos de que é obrigação dele trazer-nos o dito agasalho pedonal. Temos que acreditar que existe uma raça que, apesar de gostar do cheiro de perfume e renda preta e mãos pelo pêlo, consegue olhar para além do óbvio e ser capaz de separar o essencial do acessório. O real do falso.

Somos seres hibridos e temos que ser crentes. Temos que lembrar a mensagem do presépio e acreditar que, tal como diziam aquelas que queimavam os soutiens, cada panela tem o seu testo. Porque se pensares nisso, é essa a mensagem do presépio: pois se há 2000 mil anos, uma gaija solteira e grávida arranjou um José que a apoiou, quem somos nós agora para decretar a morte ao emparelhamento?

Temos que acreditar que existe um desígnio maior para todas aquelas gaijas giras, inteligentes, que nunca na vida arquitectaram o Armagedão para levar um homem para a cama. Não porque não consigam arquitectar o Armagedão, porque conseguem. O Armagedão, o Apocalipse… Com a breca (também sempre quis escrever isto…), estamos a falar de mulheres que não só conseguiam arquitectar o Apocalipse como ainda comiam o 4 cavaleiros no decorrer da coisa!!! Mas elas não o fazem. Porque em tal não acreditam. Para essas tem que haver algo especial reservado. Porque se tal não for o caso, que nos resta senão pensar que o Luis Vaz era, efectivamente, um profeta e que o ‘Desconserto do mundo’ nada mais foi do que a revelação do destino de todas as gaijas que nós conhecemos?

Minha querida, esta carta já vai longa e o café está a arrefecer. Tenho pão-de-ló de Ovar e sabes mesmo o que é que me apetecia? Uma partida de Canasta…

MQP aka Peixa (in Dory mode)

O macaco pelado

A notícia entrou-me pelos olhos dentro logo de manhã e dava-me a justificação perfeita para escrever o post que tenho andado a adiar. Os professores, ou melhor, alguns professores, têm-me andado entalados e depois de na última sexta-feira ter oficialmente aberto as hostilidades com um deles o saber que Movimentos independentes e sindicatos de professores defenderam hoje que será cada vez mais difícil manter a ordem nas escolas sem uma alteração urgente ao Estatuto do Aluno em matéria de ação disciplinar, faltas e provas de recuperação, era uma borla de que nem estava à espera. Esfreguei as mãos, afiei as garras e passei a manhã a tentar compôr mentalmente o post que havia de sair. Erro meu, má fortuna e provavelmente falta de amor ardente porque por maior que fosse o esforço para alinhavar duas frases sobre o estado do ensino e os mestres que não temos aparecia-me do nada a palavra gajas iluminada a neon e quilhava-me o brilhante raciocínio.

Não foi um fim de semana especialmente difícil e anunciava-se até como apetecível e cheinho de pequenas alegrias mas hoje, segunda-feira, dou por mim a acreditar firmemente que muitas das minhas convicções mais profundas foram impiedosamente espezinhadas e que a minha vida nunca mais voltará a ser a mesma. Sem ter pedido, sem ter sido avisada e, sobretudo, sem anestesia, vi-me obrigada a reconhecer que as gajas, aquela subespécie feminina que nós gaijas profundamente desprezamos, estão, por direito próprio, no topo da cadeia alimentar e atingiram um estadio em termos de desenvolvimento de espécie que nos transforma em personagens pré-históricas que buscam ainda as primeiras letras. Resisti bastante a esta conclusão, recusei-me a tomá-la como boa, revi todas as premissas, refiz as contas, conferi os resultados. Fui em busca das palavras dos sábios, vasculhei-lhes as obras, relembrei os ensinamentos na vã esperança de estar enganada. Quis ir ao fundo dos fundos, ao básico dos básicos e entrei biologia adentro atirando-me ao Desmond Morris e ao seu "Macaco Nu" que tantas alegrias já me deu. Saí absolutamente derrotada porque até o Morris, o meu velho Morris, me deu uma palmadinha nas costas, sorriu-me com alguma malandrice e aconselhou-me um sumo de laranja para engolir a pastilha.
Nós, gaijas, mulheres emancipadas, cultas, inteligentes, independentes, autónomas, fortes, orgulhosas, com um apurado sentido de humor, senhoras do nosso nariz e conscientes das nossas inúmeras qualidades, incapazes de viciar as regras do jogo, não por questões de princípio, que esses já os questionámos todos, mas para melhor saborearmos a vitória, andamos a enganar-nos desde o tempo em que as nossas avós queimaram os soutiens. Nós, que buscamos o macho alfa porque não nos satisfazemos com menos, esquecemos a regra número um da selva - ou se domina ou se é dominado não havendo qualquer hipótese de meio termo. Os nossos machos alfas, os únicos que achamos que poderão estar à nossa altura, só podem ter duas atitudes quando detectam a nossa presença e isso, minhas amigas, está nos livros que tanto gostamos de ler. Um macho alfa perante uma ameaça séria ao seu território ou foge ou ataca, nunca se senta para conversar. Nós, gaijas, que decidimos há muito que queremos um lugar ao lado dos até aqui vencedores e nunca acima ou abaixo, partimos para a guerra usando as mesmas armas dos adversários e insistindo na utopia, e estupidez, de um jogo limpo.

Tretas. Como eu comecei por dizer, este fim de semana foi fértil em ensinamentos e numa expedição digna da National Geographic tive a oportunidade de observar de uma forma isenta, porque só essa pode ser cientificamente valorizada, como as gajas, as verdadeiras gajas, aquela subespécie que nós menosprezamos, utilizando todas as tácticas que o Desmond Morris descreve, as tais que nós podemos ter lido mas que elas conhecem sem nunca lhes terem passado os olhinhos por cima, dominam os machos alfa e instalam-se no território deles sem lhes darem qualquer hipótese de defesa, porque eles nem percebem que estão a ser atacados, bastando-lhes depois um estalar de dedos para que eles até as pantufas lhes levem. Claro que nós, gaijas, assistimos a isto com um ar de comiseração e pensamos que o nosso macho alfa, aquele que ainda um dia havemos de conseguir sem que ele dê de frosques ou seja por nós dominado, nunca cederia a um ataque deste tipo mas, há sempre um mas, tenho uma má notícia - a tal relação de absoluta paridade não existe, está-nos no código genético dominarmos, sermos dominados ou fugirmos. Nós, gaijas, nunca vamos conseguir um gaijo à nossa altura porque eles até existem mas é impossível dividirem o território connosco - temos ambos um instinto assassino demasiado apurado.

E agora, perguntam vocês e com razão, em que é que isto mudou a minha vida?
Mudou, mudou e muito.
Peixa, quantos dias passaram desde que te disse que vivo sozinha porque não preciso de viver com ninguém? Tss, tss...  Eu, e tu Peixinha, vivemos sozinhas porque é impossível, por definição, vivermos acompanhadas. Nós não queremos dominar, porque assim que dominamos deixamos de respeitar, muito menos queremos ser dominadas porque não sabemos receber ordens e o meio termo não existe. Para os gaijos, mesmo os alfa, isso é fácil, porque ou dominam, e isso estás-lhes no sangue, ou são dominados, mas como foram derrotados com armas que lhes são desconhecidas nem chegaram a perceber que perderam há muito o controle e continuam a viver na doce ilusão do mais forte. Nós, que temos um pé nos dois mundos, que somos gajas porque nascemos assim e gaijas porque nos quisemos assim, topamos as manhas das gajas mas recusamos-nos a seguir-lhes os exemplos. Manias. O que conseguimos? Gaijo que é gaijo sente-se ameaçado e defende-se imediatamente assim que nos aproximamos porque sabe que só sobrevive como dominante se mantiver uma distância de segurança ou se, suprema maldade, nos excisar passando a considerar-nos como mais um gaijo. Eles sabem que se formos para a caça com ele não o caçamos a ele. Mas isso nós não queremos. Nós, gaijas, repito-o, temos uma gaja dentro de nós, e o que queriamos mesmo mesmo era ser um dos deles, mas sem pila. Derrubar-lhes todo o nosso charme em cima enquanto discutimos se o bisonte já está morto ou precisa de mais uma lança enfiada, fazê-los rabiar mas sem nunca nos ronronarem no colo ou termos de lhes pedir para nos mudarem a roda do carro. Impossível. Nós, tal como elas, sabemos que um almoço nunca é de graça, mas insistimos em não nos levantar da mesa sem acertar logo as continhas. Ou, erro supremo, pagamos a despesa toda e ainda deixamos uma gorjeta generosa para o gaijo perceber que apesar de termos umas pernas giras podemos dar-nos ao luxo de usar calças porque o nosso super homem tem visão raio x.
Como é que nós, gaijas, sobrevivemos? Nunca acompanhadas. Os nossos gaijos são mantidos, e mantêm-se, a uma distância segura e vamos vivendo como se isso fosse assim porque assim o decidimos. Não, não é. Nós é que nunca conseguiremos ser suficientemente gajas para ter um gaijo por perto e eles, os gaijos, os únicos que queremos, os machos alfa, também não correm o risco de se aproximar demasiado.
Gaja. Afinal eu devia era ser uma gaja, mas acho que já não consigo.
Parceiros para uma canasta, há por aqui?