Pela calada da noite.

Hoje não vi o CSI. Ou melhor, hoje não tentei ver o CSI e por isso, só por isso, não estou a dormir a esta hora como é costume. O CSI tem em mim um efeito suporífero.
Não estando a dormir, e não tendo a televisão ligada, que se a tivesse estava a dormir, dei por mim a pensar o que era isso de ser Cabra de Serviço.
Sempre achei que se se tem a fama há que se ter o proveito, portanto nada melhor que tomar para mim o que me é dado e passar a ser o que já passava por ser. E convenhamos que é um golpe de génio, porque esvazia a suposta ofensa, já que ninguém chama cabra a quem diz logo que o é. Nasceu assim a Cabra de Serviço e aqui, neste blog, posso ser o que sou ou o que não sou.
Durante muito tempo este blog foi o meu blog, apesar de ainda hoje não perceber muito bem o que isso é, ou o que se espera que seja.
Para mim foi, e continua a ser, o meu tu.
Tu. Tu sabes que a Ferreira Leite voltou a fazer porcaria? Tu sabes o que ouvi hoje? Tu sabes o que acho disso? Tu sabes o que me vai na alma? Tu queres ouvir uma piada?
E se os tus às vezes se fazem de surdos, eu quando sou tu também me faço, este tu esteve sempre aqui pra mim e nunca respondeu com os hum hum do costume. Mas este tu tem outros tus, tens os tus todos que não conheço, que só percebo que passaram por cá e me serviram de orelha. E o que devo fazer com esses tus?
Resposta sincera? Nada. Absolutamente nada. Gosto, gosto muito de saber que anda por aqui gente, que alguém nos (me) lê, mas no dia em que tentar sussurrar ao ouvido de cada um desses tus, desses tus que são vós, deixo de ser eu e passo a ser todos os tus que vocês, cada um de vocês, são. E vocês são tus demais para poderem ser um nós, para poderem ser um eu.
Não tenho mais nenhum outro blog. Tenho este e é neste que escrevo quando me apetece e o que me apetece. Mas tenho, também, e apesar de tantos apeteceres, regras a cumprir. Criadas pelo vós que o lêem? Desculpem, mas não.
Não sei quem é esse vós. Não sei quem vocês são, como vieram, porque vieram, porque estão, o que querem, como pensam. Sei quantos são, onde estão, como entraram, como sairam, quanto tempo aqui estiveram, qual o número do vosso IP e qual o vosso browser. Ou seja, não sei coisa alguma. E quando nada se sabe não podemos ter a ilusão de agradar, ou de desagradar, ou de cumprir regras que não conhecemos. Podia tentar fazer um estudo de mercado? Podia, mas de que mercado? Não há por aqui compras e vendas, ou, pelo menos, eu não compro nem vendo nada e não tenho o mínimo interesse em encontrar um público alvo. É desagradável para quem me (nos) lê saber que estou aqui por mim e por mais nada? Pois deve ser, mas recomendo uma subida no post até ao terceiro parágrafo - Cabra de Serviço, escusam de repetir.
Mas tenho regras, disse eu, e se não me são impostas por quem me lê de algum lado me hão-de vir. As regras, as minhas únicas regras, ou melhor, as minhas únicas limitações, vêm dos meus co-bloggers. Não por me serem impostas, mas porque lhes devo isso. Eles, que um dia aceitaram fazer da minha casa a casa deles, fizeram-no por se sentirem confortáveis com a mobília que lhes mostrei. Não posso, não quero, mudar qualquer cadeira de sítio sem lhes pedir opinião, tal como eles fazem comigo, ou arriscarmo-nos-íamos a estatelarmo-nos no chão e a partir um cóccix qualquer.
Tudo isto para dizer o quê? Que eu, Teresa, vou continuar a fazer deste blog o meu tu enquanto todos os outros que aqui escrevem acharem que o posso fazer. Vou continuar a escrever na primeira pessoa do singular, ou na terceira, se assim me quiser, ou no plural se tiver procuração, mas vou fazê-lo como sempre fiz - para o tu que na altura me apetecer, tendo só como limite o nós que aqui somos e nunca o vós que por aí andais e não conheço.

22 comentários:

sem-se-ver disse...

(isto tudo veio a propósito de quê? não percebi)

Teresa disse...

De ontem não ter dormido e ter andado a rever posts antigos.
Sabes, acho que já passaram por aqui muitos dos meus estados de alma e às vezes pergunto a mim mesma o que fica desse lado, mas continuo sem conseguir, ou sem querer, criar um boneco para mim. Quando aqui escrevo sou a primeira a ler o post e se agora, ao relê-los, posso ter outra perspectiva, sei que quando os escrevi era aquilo mesmo que me apeteceu dizer. Mas também percebi, ontem, que suavizei um pouco. Já não sou tão excessiva no que escrevo, mas isso só pode ser porque também fiquei menos excessiva no que sou.

shark disse...

Quer dizer que estamos mandatados para correr ca chefa e fundadora do Cabra?
Atão não atines, não...
Levas logo um par de patins que até manda ventarola.

(Hum, isto do poder é estimulante...)
:)

Teresa disse...

Psst, ó tubas, pôe-te quedo...

Anônimo disse...

brilhante! Teresa, sinto-me ultrapassado e é delicioso, li noutro dia no Aspirina que azul é um gajo ultrapassar-se e agora também fez faísca azul, quando me ultrapassaste, tus e eus a voar em conjuntos de fronteiras difusas,

mas não esqueças de dormir bem, plise, dizem que faz bem a um monte de coisas e assim tenho-me safado da gripe

sem-se-ver disse...

ok, entendi

Anônimo disse...

alucinações legais

gaija do norte disse...

ó chefa, fiquei tão desnorteada (como se fosse possível...) com os chouriços lá de cima que nem vi o teu post!

ora atão, a terra a quem a trabalha, não é? isto agora é que vai ser!

Marias disse...

Pois, ele não estava aqui quando eu escrevi o meu, magia ! Se tivesse visto nem escrevia o meu, a dizer o que me vai na alma (e me apeteceu dizer aos do casamento, mas tu nem reparáste, estavas numa de ser diplomática).

Teresa disse...

Pois não, foi escrito ontem mas só hoje de manhã reparei que não tinha ficado publicado - e net tinha caído.
Não percebo porque este post poderia alterar o teu. Não pode nem tem de.
Quanto a ser diplomática não vejo razão para o deixar de ser mas de qualquer forma não entendi uma conversa amena como ofensiva. Cada um gosta mais da terra onde vive? Normal. Diz mal das outras? Compreensível. Preocupar-me com isso? Tenho mais que fazer e para guerras de territórios já chega a da Faixa de Gaza.

Marias disse...

Sim, foi só o efeito cumulativo que me irritou.
Mas os blogs, são um desabafo do nosso estado de espírito, o ficar escrito não quer dizer que seja "verdade" absoluta, é uma opinião. Às vezes penso no entanto se ao sermos pessoais, ou falarmos de pessoas conhecidas, podemos ofender ou sermos "processados" e já retirei comentários que tinha feito, a pensar isso.

Anônimo disse...

"(...)

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos,
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."

Fernando Pessoa

Teresa disse...

Um Fernando Pessoa muito Id, Ego e Super-Ego. Bonito este poema.

Gabs, nos blogs, como no resto da vida, podemos ofender e difamar. A escolha é nossa como diria o Pessoa.

Anônimo disse...

E alter, sobretudo alter-ego.
É, também acho.

Marias disse...

Está bem, mas a maioria das pessoas que o faz pôe anónimo, se eu como Gabs digo que acho que "O Carlos Cruz é culpado/inocente", ele depois pode vir fechar o blog?

Anônimo disse...

Fechar o blogue? Só sobre o meu cadáver!
Ele que cá venha, para ver que isto não é uma casa de meninos...

Teresa disse...

Se deres a tua opinião não vejo como possa ser considerada uma injúria ou difamação, mas o Francisco Sousa Tavares foi julgado por injúrias por um artigo de opinião. Tudo depende da sensatez. Da sensatez de quem diz e da sensatez de quem ouve, apesar de nestas coisas ela imperar muito pouco. Já vi um acordo do Tribunal da Relação onde se discutia se dar um traque (ou uma ventosidade anal, como os senhores Desembargadores lhe chamaram) e dizer "este é para ti", pode ser considerado um crime de ofensas ou não...

Teresa disse...

Anónimo, se ainda nem se tinha percebido bem o que é o Ego saltar para o alter-ego pode ser arriscado.

Teresa disse...

Leclerc ficas encarregue do assunto. É que eu sou pequena e ele pode-se confundir e ainda me lixo...

Marias disse...

Quer dizer que nos blogs é como na imprensa escrita. Ena pá, pareço uma jornalista. Alguns colegas meus de curso dizem que são, não sei se tiraram carteira profissional ou fizeram mais algum curso.

Tangerina disse...

A sério, agora: era melhor ter visto o CSI.

Teresa disse...

Tangerina, também gostas do CSI? Eu gosto muito, mas aquele episódio afinal era dos repetidos. Era o das amigas que se conhecem num ginásio, começam a trocar histórias de vida e uma mata os maridos das outras porque acharam que assim ninguém ia desconfiar delas.
Lembras-te do Stangers on a Train, escrito pela Highsmith e filmado pelo Hitchcock? Dois clássicos. Elas eram mesmo básicas se pensavam que o Gibson não ia topar o esquema.