Breaking News.

Foi posto no youtube o vídeo de uma aluna de uma escola do Porto a agredir a professora por causa de um telemóvel.
A AR quere proibir os piercings em zonas do corpo mais "delicadas" ( esta deixou-me sempre intrigada. Quem inspeccionava? A ASAE?)
O Benfica vai jogar na Luz com o Paços de Ferreira.

Ah, e o meu Tubarão preferido mudou de mares. Parece que as águas que frequentava estavam a ficar piores que as do Mar Morto e, se bem que ele fosse o peixe maior, já se tornava difícil manter a qualidade de vida.
Assim desde... pois... desde há uns dias atrás, mas eu tenho andado por aqui à volta do meu umbigo e nem me atiro ao que é importante, o Shark mudou-se para os blogs do sapo e levou o Charquinho inteiro com ele.
A casa é nova, a madama a do costume e a qualidade a de sempre.
Recomendadíssimo por mim e isso basta.....

Shark, meu guru nestas lides ( não sabiam, pois não?, mas se quiserem reclamar alguma coisinha terá de ser com ele, que é o maior responsável por eu andar por aqui...) desculpa o atraso da notícia, sabes que sou desleixada, mas gosto muito de ti.

Pela sua saúde, vá de férias!

Cinco pessoas morreram hoje depois do pequeno avião privado onde viajam se ter despenhado numa zona residencial, em Kent, na Inglaterra.

Um outro piloto que estava no ar na mesma altura disse à estação televisiva Sky News que ouviu o piloto do Cessna Citation 501 a pedir ajuda. Segundos depois, o avião caía numa zona residencial criando uma bola de fogo e fumo, acompanhadas de explosões.

Os residentes daquela zona acrescentaram ainda que os donos da casa destruída pelo avião estão de momento de férias, pelo que não houve feridos naquela casa.

Peixa.

Mamã, o miúdo que fez o vídeo da professora foi expulso... mudado de escola, sim... mas já viste, coitado... está bem, pronto, tens razão, não tinha de filmar e pôr no youtube foi estupidez, mas imagina que a professora se queixava e não acreditavam nela, aquilo é uma PROVA não é??

Esta hora mágica.

Gosto de fins de tarde, muito. Sempre me lembro de gostar. Muito miúda, ficava sentada nas escadas de pedra da quinta do meu avô a ver o sol a pôr-se atrás das serras. a adivinhar as formas das nuvens e a sentir uma paz que ainda hoje lembro e me alimenta.
São horas serenas, com uma luz diferente, são as minhas horas do dia.

E também há muitos anos que gosto deste poema, que sei quase de cor. Hoje lembrei-me dele. Fica por aqui.

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus barcos...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

Florbela Espanca


Já são quase sete horas?? Bolas, bolas...

O meu relógio interno está desorientado... Tanto sol lá fora e só faltam três horas para as crianças irem para a cama.
Lá vou andar uns dias completamente baralhada...

Se não os podes vencer, junta-te a eles.

Personalidades políticas criam blogue «Câmara de Comuns».

Várias personalidades do PS, PSD e CDS e independentes vão reunir-se num novo blogue, intitulado «Câmara de Comuns», que pretende debater a actualidade política e cultural, estando ainda aberto à participação dos internautas.
O blogue, que estará alojado a partir de 01 de Abril no endereço www.camaradecomuns.blogs.sapo.pt, pretende ser um pólo de discussão da actualidade política e internacional, bem como uma plataforma de reflexão cultural, de tudo o que de bom se faz em Portugal, divulgaram hoje os responsáveis.

Ando por aqui há muito tempo, mas nunca tinha visto uma "campanha publicitária" de lançamento de um blog....
A invasão marciana está a chegar em força e não tarda temos a blogosfera domada, com OPAs, cotada na bolsa e o diabo a quatro.

Nada que seja de estranhar, que o velho adágio continua válido.


Apoio ao Cliente

Era do Vista, da vista, da firewall, da placa, do cartão, do cabo, do software, do hardware, era uma incompatibilidade grave, era o sistema instável, era caso para PC Clinic, era desesperante e era a internet que não ligava nem a válvulas.
Era.
Já não é. Acabei agora, mas funciona que é um mimo.
Apetece-me ligar aos trezentos e vinte e quatro "técnicos" com quem falei hoje e dizer-lhes Obrigada por nada, que afinal consegui resolver sozinha.

Gosto de me rir, mas motivos assim de bandeja é um pouco demais

Acabei de receber um telefonema. Queriam confirmar a hora de uma reunião na próxima semana. Parece que acabaram de saber que no domingo os relógios adiantam 60 minutos e ficaram na dúvida - a reunião de quarta-feira era pela hora de hoje ou pela nova?
Glups!!!!...............

Special Olympics Portugal quer quintuplicar participantes até 2011

Acho muito bem e muito louvável. Parece que neste momento há mil atletas e querem passar a cinco mil.

Hoje, na cerimónia que assinalou o aniversário da Special Olympics Portugal, realizada numa unidade hoteleira de Lisboa, os grandes homenageados foram os atletas que estiveram nos Jogos Mundiais Special Olympics de Xangai 2007, onde conquistaram 17 medalhas.

Estive a ler a notícia no Sol online, que teve a Lusa como fonte. Li-a toda, todinha. Não é das curtas. Sei que pelo tal hotel passaram a Maria Barroso, a Rosa Mota, o Vitor Baia, o Oceano, o Rui Veloso, o Laurentino Dias e uma tal de Idália Moniz, e ainda Fátima Campos Ferreira, Clara de Sousa e mais uns tantos. Vi o nome dos jornalistas galardoados, o nome das estações de televisão, dos jornais e dos patrocinadores. Estava lá tudo, escarrapachadinho.

Só não vi, em lado algum, o nome de um desses 17 atletas medalhados e que foram homenageados com tanta pompa e circunstância. Nem um nome para amostra. Ou um diminuitivo. Ou umas iniciais. Ou sei lá, talvez mesmo um pssst faxe favor.

Estão a gozar comigo ou posso dizer o que me vai na alma neste momento e chamar a esta gente aqueles nomes que sei e não digo e mandar tudo isto para aqueles lados que me apetece mandar depois de ler uma coisa destas?

Fiem-se na virgem...


"Não se pode considerar que o facilitismo seja algo construtor de uma sociedade melhor". "O facilitismo não ajuda as pessoas. E a lei tem uma função pedagógica nisso, ajuda as pessoas a pensarem bem antes de darem o primeiro passo."

Segundo o porta-voz da conferência episcopal, D. Carlos de Azevedo, "o matrimónio é uma instituição da sociedade", "já existia antes da Igreja". Portanto, o "Estado tem obrigações para com essa instituição", ou seja, "deve defender a união entre as pessoas". "O serviço da fidelidade tem uma dimensão social - por exemplo, na educação das crianças - e nisso o Estado é responsável", considerou o prelado. "Não podemos armar o desejo em lei."

Foram estes os comentários que o porta voz da conderência episcopal fez ao D.N. sobre o projecto-lei que "liberaliza" o divórcio litigioso, reduzindo para um ano (ou menos) o período de separação de facto para um divórcio ser decretado, mesmo quando um dos cônjuges não o autoriza.

Eu quero ver é que comentários irão ser feitos quando começarem a ser vendidos em Portugal os testes "Rite-Aid".
Divórcios? Não vai haver tempo para tanto, por encurtado que esteja o prazo, que a malta é de sangue quente.

Os testes de paternidade são vendidos livremente desde quarta-feira nos Estados Unidos, sem necessitarem de prescrição médica e custando apenas algumas dezenas de dólares.

O laboratório norte-americano Identigene, com sede no Estado do Utah, colocou à venda em 4.363 drogarias-farmácia os testes "Rite Aid", que permitem conhecer a paternidade recorrendo ao ADN.

Os testes, que recorrem a uma pequena amostra de saliva, podem ser adquiridos por 30 dólares (20 euros), sendo depois enviados para análise por um custo suplementar de 119 dólares (cerca de 79 euros) mas especialistas alertam que os utilizadores devem ter um psicólogo por perto pois o resultado pode ser uma amarga surpresa.

Os resultados - que o laboratório afirma terem uma fiabilidade de 99 por cento - são enviados depois por carta ou e-mail ou ficam disponíveis num sítio na Internet mas sob confidencialidade (cada utilizador só poderá aceder ao resultado do seu teste).

Só mais uma pequena achega. Aquela história de um psicólogo por perto é muito states. Por cá talvez seja melhor pensarem num polícia da força de intervenção, que vai chover muita bordoada de certezinha....

Não é original, mas resulta sempre bem.

"O Mundo precisa de uma fita assim"


(I am the best political leader in Europe and the world.

Silvio Berlusconi, former Prime Minister of Italy, during a press conference)

Ah, sim, também está bem...

Hoje ao jantar, com vários miúdos à volta da mesa, falava-se, porque tinha de ser, na professora e no telemóvel e na aluna.
Todos tinham visto o vídeo, todos tinham alguma coisa a dizer, mas a história do Tiago calou-nos fundo. O Tiago tem 19 anos, é bom miúdo, muito bom miúdo, e consegue ser assumidamente "metálico" e assumidamente acólito, ajudando à missa todos os domingos de manhã.
Também tinha uma história de telemóveis, lá da escola por onde andou.

- Na minha turma eram todos malucos e faziam com cada cena. Um setôre uma vez também tirou um telefone, mas o meu colega levantou-se e encostou-lhe uma borboleta à barriga.
- Uma borboleta?
- Sim, uma faca borboleta, daquelas que se abrem assim...
- Ah!
- Por acaso ele também se chama Tiago. Olha, vai agora sair da cadeia, esteve preso dois anos mas não foi por isso, que o setôre deu-lhe logo o telefone...
- Ah!...

Já agora, desculpa, podes passar-me a cestinha do pão? E por acaso não haverá por aí ninguém que me ateste o copo? Sim, podes encher e abram mais umas garrafas. Não sei porquê, mas acho que fiquei com uma sede de anteontem. Preciso de álcool...

Cor de rosa.

Nove horas da manhã. Segunda-feira. Treze anos atrás. Uma médica com cara de segunda-feira aproxima-se da minha cama e diz-me as palavras que nunca mais vou esquecer " a sua filha está bem, só estamos a fazer mais uns exames. É que ela tem um facies diferente e só duas pregas numa das mãos"...

Não foi preciso dizer mais nada para eu lhe fazer a pergunta fatal - é mongolóide?... assim, sem politicamente correctos nem anestesias.
A Clara tinha nascido há quatro horas, não a tinha tornado a ver, estava a acordar e o mundo caíu-me em cima.

Nove horas da manhã. Segunda-feira. Seis anos atrás. O telefone tocou e do outro lado ouço as palavras que nunca tinha esperado ouvir "Teresa, o pai morreu".

Detesto segundas-feiras. Não é por nada de especial, mas não me dou bem com elas.

Este dia de aniversário da Clara é sempre estranho para mim. A Clara nasceu, a minha primeira filha nasceu. A seguir, logo a seguir, a vida tenta dar-me um nó cego, que não fosse eu tão escorregadia e avessa a nós cegos que ainda estava a tentar desembrulhar-me.
Parece-me demasiado brutal dizer isto agora, que a Clara é a Clara e não a consigo imaginar de outra maneira, mas na altura foi uma porrada do caraças e que se perdoe a vulgaridade, mas não há outra maneira de dizer isto.
Chorei baba, chorei ranho, chorei por mim, por ela, por nós, chorei por tudo e chorei por nada. Nada disso agora me faz sentido, mas na altura chorei. Chorei muito. Olhava para ela e chorava. Pensava no que não poderia ser e chorava. E chorei até em frente a um maldito poster no corredor da maternidade a pensar que a minha filha, aquela coisa linda e cor de rosa, nunca se iria casar.
Casar, que raio de coisa para chorar. Logo eu que nunca tinha sequer sonhado em casar-me, que nunca o tinha querido fazer, e que chorava por pensar que a minha filha não se iria casar. Acho que só percebi o porquê disso quando fiquei grávida outra vez. É que quando me perguntavam se ia ter mais um filho eu respondia vou ter é netos.

Penso que foi a maior dor quando a Clara nasceu e não há como explicá-la a quem não a conhece. Queira-se ou não, um filho é a nossa continuidade, mesmo que não se olhe para ele assim. A Clara foi a primeira e pensava eu que seria a única, mas quando nasceu pareceu-me que alguém nos tinha roubado, a mim e a ela, o futuro.

Hoje é tudo diferente. Deixei de chorar há muito muito tempo. Deixei de chorar no dia em que, pouco depois de ela ter nascido, prometi a mim mesma que não iria deixar a vida tornar-me uma pessoa amarga e que por mais difícil que parecesse iria arranjar sempre uma razão para me rir. Como sempre fiz. Mesmo quando no liceu me estatelei numa poça de lama na frente do miúdo que tentava impressionar. Tinha quinze anos e, aos quinze anos, dar um salto elegante para mostrar como se é linda e acabar coberta de lama da cabeça aos pés é humilhação capaz de nos incapacitar para uma vida social decente. Eu resolvi rir. E nesse dia resolvi rir também. E tenho feito os possíveis para me ir rindo e tentar levar com humor o que poderia ser um drama. Só depende da nossa perspectiva e na minha não é drama desde há muito. Nem poderia ser, que a Clara também não é dada a martírios e leva a vida da melhor maneira.
Pode ser irresponsabilidade, mas divertimo-nos bastante e até ela se ri quando não consegue dizer Magda e lhe sai o margredra que nos leva às lágrimas.

Mas nestes dias de aniversário fico um bocadinho baralhada. Foi demasiado dois em um para se digerir assim depressa. Fico masoquista e lembro e relembro todos os pormenores. Vejo, como ainda agora fizemos, as fotografias dela quando nasceu, de como era tão pequenina, tão bonita, tão cor de rosa, tão boneca de porcelana. Vejo-lhe o peito sem a enorme cicatriz da operação ao coração, vejo-a e relembro o medo que sentia na altura, quando não sabia que um dia iria fazer treze anos, fugir de casa, andar de patins, escrever um diário, chatear toda a gente, ter um namorado, fazer duas piscinas debaixo de água e tudo o mais que ela faz e a faz a ela.

E hoje, mais uma vez, ouvimos a música da Clara. Foi feita nesta madrugada já de 28, há treze anos. Foi-lhe dada amanhã, pelo pai que a fez e a gravou para ela na primeira cassete que apanhou, e a Clara passou dias seguidos de hospital a ouvi-la. Ouviu-a no berçário, ouviu-a nos cuidados intensivos, ouviu-a na cama 13 e ouviu-a depois nas salas de espera para as consultas. Os phones eram maiores que a cabeça dela, mas para onde ela fosse iam atrás.
Fica aqui, mesmo sem autorização de quem a fez, que a Clara é esta música e esta música é a Clara.

Cor de Rosa

Côr de rosa, paixão
minha bela adormecida
Flôr de gente em botão
Novo amor da minha vida.

Bem me importa que brilho
Pôs o sol nas tuas côres,
Côr de rosa, paixão
Estou contigo onde fôres.

Cor de rosa, mulher
Ou promessa de um caminho
Devagar - devagar! - a aprender
Cada passo, cada espinho!!

Bem me importa se o Mundo
Te excluir dos escolhidos
Côr de rosa, mulher!,
Somos dois os excluidos...


Olhem, não foi em Portugal e a TVI não estava lá!... E a Noruega não é aquele país onde apostávamos que isto não aconteceria?


E será a primeira vez que uma embaixada faz obras ou a nossas guerras diplomáticas são isto?

As obras nos jardins da Embaixada da China em Lisboa, um palacete de interesse público na Lapa, estão suspensas, informou hoje o presidente da Câmara, António Costa.

Mamã...

... qual é a melhor editora infantil?
- Hein?
- Sim, qual é a melhor editora?
- filha, estás a falar de autores?
- não, mamã, editores.
- não faço ideia, só conheço os autores.
- eu estou indecisa entre a ASA e a Verbo
-Han? Estás mesmo a falar de editores...
- pois, já te tinha dito... conheces alguém numa editora que me possa recomendar os melhores livros?
- não, acho que não conheço...
- Bolas mamã, quando preciso nunca sabes nada.....

Ups.... nunca sei nada quando ela precisa? Editoras? E eu que pensava que estava a fazer um bom trabalho a escolher os autores. Editoras? Desculpa filha, mas dessas nunca me lembrei...

Será que amanhã vai chover? Você Decide, diz o Correio da Manhã.

Armas. Dinheiro.Teenagers. Apartamentos. Raptos. Mas está tudo doido ou isto é um filme rasca?

Obrigada!

Oiça, os ciganos têm má fama, mas somos boas pessoas.

Ontem a Clara fugiu de casa. Foi assim mesmo, fugiu. O clássico nas fugas. Fingiu que estava a dormir, encheu a cama de roupas e bonecos, tapou com o edredon, vestiu-se e saltou pela janela. Eu e a irmã demos pela falta dela quase à hora de almoço. Nem sabiamos quando teria desaparecido, mas a janela aberta não indicava nada de bom. A essa hora, e pelo que soubemos depois, já estava num posto da GNR, a quase vinte quilómetros de casa, à espera que a fossem buscar. Divertidíssima com os guardas, mas avisando que ia ficar de castigo... Aliás, foi das primeiras coisas que disse quando esteve comigo : desculpa mamã, fugi pela janela, gosto muito de ti e vou ficar de castigo... Pois vai. Pois está!

Explicou onde ia e para quê. Tudo lógico. Tudo assustadoramente lógico. Tudo a ensinar-me, mais uma vez, que a Clara é espantosamente melhor do que algum dia, nos meus sonhos mais optimistas, achei que pudesse ser. E sempre achei e esperei muito.

Agora que o susto já está mais domado, que muitas das imagens negras começam a desaparecer da minha cabeça, é hora de olhar para as coisas boas. É bom saber que a minha filha, que faz treze anos daqui a dois dias, é uma teenager típica que foge de casa e tudo. É hora de achar graça à roupa que escolheu para se vestir para a grande aventura. As galochas de chuva são o pormenor que todos os que a viram não deixam de lembrar... É hora de me enternecer com a mão cheia de amêndoas que meteu no bolso da saia, merenda para o caminho. É hora de confirmar que ela sabe o que quer e como o conseguir, que tem um sentido de orientação incrível e que não se assusta com nada, que tem capacidade para fazer planos que funcionam (e como funcionam) e para voltar a ouvir, de toda a gente que ontem a conheceu, que a Clara é fantástica.

E foi hora de ir agradecer a quem a salvou e a recolheu e ajudou a que viesse para casa sem uma beliscadura. Quem a viu a caminhar direita à autoestrada, quem saltou redes para mais depressa chegar até ela, quem com todos os cuidados se aproximou e foi-lhe falando para não a assustar e quem a seguir foi pedir ajuda.
Foi salva pelos ciganos. Os mesmos ciganos que eu estava farta de ver acampados ali bem junto à estrada por onde passo tanta vez e para quem nunca tinha olhado duas vezes.

Soube pela GNR que tinha sido encontrada por ciganos e que foram eles que pediram ajuda. Hoje a Clara, sem nunca hesitar no caminho, levou-nos até lá. Fui tentar dizer obrigada, mas não há obrigada que chegue numa altura destas. Fui com as miúdas, mas de mãos vazias, que agradece-se assim, com as mãos vazias para nos poderem segurar o coração.

Fizemos uma festa e um drama. Eles ficaram encantados quando a viram chegar, desta vez sem estar perdida. Rimos, chorámos, ouvi a história deles e eles a minha. As miúdas brincaram no chão com os miúdos, comparámos idades, tamanhos das crianças, deliciei-me com os olhos incrivelmente verdes e lindos de todas elas, a Clara pegou no bébé ao colo e acabou de lhe dar o leite, arrepiámo-nos os adultos com o que podia ter acontecido, disseram-me que quando a apanharam só se lembravam da Maddie e da Mari Luz. Ficaram muito mais descansados quando perceberam que ela tinha uma família que a queria e que não tinha sido abandonada na estrada, como a história que a cabrinha lhes vendeu...

Contaram-me como ontem passou por ela um senhor num jeep, como disse mais tarde que a tinha visto a andar pela estrada e achou estranho, mas nada fez, e de como eles estavam dispostos a ficar com ela se ninguém a quisesse. Quero-a, queremos todos, mesmo quando o estuporzinho foge pela janela do quarto para tentar apanhar um comboio e ir com destino bem definido.

Ficámos amigos, que os amigos aparecem-nos assim, e agora, depois do obrigada, é hora de trocar moradas e fazer por eles o que possa fazer, sem nunca conseguir pagar o que fizeram por nós. Cá em casa já se juntam brinquedos e roupas e livros. Nas casas dos amigos o pedido já foi feito também. Não paga nada, mas aquelas crianças todas, amigas das minhas filhas, vão ficar com sorrisos ainda mais rasgados. E, como eles ainda agora nos diziam, os ciganos são boa gente e bons amigos.
Nós já sabiamos, que o primeiro amigo da Clara foi o Joãozinho Cigano e agora, mais uma vez, foram os ciganos que lhe serviram de anjo da guarda.

Obrigada pelo imenso bem que nos fizeram e desculpem por a estupidez da vida nos levar a passar por tanta gente e tanto sítio sem olharmos duas vezes e por só percebermos como somos muitas vezes injustos e arrogantes e estúpidamente preconceituosos quando a bondade das gentes nos esfrega isso na cara.
Para minha e nossa vergonha.

Foi boicote, claro

Cheguei agora aqui e vi estes posts lindos, dezenas deles todos iguais... pronto, está bem, não sei o que se passou e hoje estou demasiado cansada para tentar perceber. Limpei os invasores, deixei um único porque tinha comentários, e amanhã entro de serviço novamente.

Ritos Pascais.

Jesus Christ Superstar (1973) Trial/Pilate/39 Lashes (19)

Há muitos anos que ouvir o Jesus Christ é um dos rituais da minha Páscoa.

Papa apela a soluções que «salvaguardem o bem e a paz» no Tibete


Porque é que nem assim, com cores de Natal e tudo, eu consigo imaginar este homem a ter pensamentos caridosos?

Domingo. Este ou um outro qualquer.

Saudades

Fui viver sozinha muito miúda. Tinha 17 anos, no liceu lá do sítio não havia 12º ano, e tive de ir para Coimbra, ocupar um apartamento tamanho família que os meus pais tinham vazio há anos.
Saí de casa pouco tempo depois de terem comprado a primeira televisão a cores e um ano depois de nos termos mudado para a casa que até aí era a dos meus avós.
A vida mudava e eu ia-me embora. Estava por minha conta, a viver numa cidade onde nunca tinha vivido e com uma casa enorme só para mim. A única regra que tinha, e o meu pai nisso foi muito preciso, era que lá não entrava um rapaz nem que fosse para pedir um lápis….. O único que não entrou, que eu queria espaço para negociar e parva não sou, foi o meu namorado da altura.Todas as noites ele apanhava boleia para ir ter comigo e todas as noites ficávamos nas escadas do prédio, para desespero dele, que os amigos e os irmãos tinham livre trânsito. Mas quando um dia os meus pais chegaram de surpresa e eu tinha dez gajos na sala menos ele, o meu pai sentou-se à conversa e nem pestanejou e, no ano seguinte, renegociámos o acordo. Fiquei a ganhar, como já sabia que ia acontecer.

Na primeira noite que passei sozinha em toda a minha vida tive por compannhia o Rudolf Nureyev e a Margot Fontayn a dançarem o Lago dos Cisnes. Lembro-me que era no canal 2, ou qualquer outra coisa que se chamasse na altura, e chorei durante todo o tempo. Não foi por causa do bailado, mas por causa das batatas miúdas.
"Batatas miúdas" é um acompanhamento típico da casa da minha mãe. Faz-se um refogado como se fosse para arroz, junta-se água a olho, colorau e salsa, e cortam-se batatas "miúdas" lá para dentro. O truque é não lavar nunca as batatas depois de cortadas, que a água rouba-lhes o amido e estraga-se o molho.
Naquela primeira noite de autonomia pensei que nunca mais na vida iria comer batatas miúdas e foi por elas que chorei. A partir daí iria passar a ser "visita" na casa que ainda era a minha, só iria lá para fins de semana, e nesses dias não se faziam, e não se fazem, batatas miúdas em casa da minha mãe.
Na altura só sabia fritar ovos e pouco mais. Ou nem isso, mas fica sempre bem dizer que se sabe alguma coisinha. Quando saí de casa ainda tinhamos duas empregadas, ou criadas, como se dizia e não era por falta de carinho ou respeito, e nunca tinha sido preciso passar tempo na cozinha. Lembro-me de a minha mãe refilar por as filhas não saberem fazer “nada”, que ela vivia preocupada com o facto de as filhas não terem uma educação de meninas, e de o meu pai lhe responder que se fossemos inteligentes saberiamos fazer tudo. Só tinham de nos ensinar a pensar, o resto era connosco. Deve ser por isso que me lembro dele a ensinar-me matemática, e eu devia ter uns 3 anos, e não me lembro me terem ensinado a fazer arroz.
Acho que aprendemos a pensar. Ou gosto de pensar que aprendemos. Pelo menos, já sei fazer batatas miúdas. E sei fazer saias (mesmo que sejam de pregas, que dão um trabalho do caraças com os cálculos, porque se acham que é fácil tentem fazer; ou de godez, que precisam de ser cortadas certinhas; ou com bolsos metidos, que são lixados de pensar) e calças e vestidos e o mais que seja. E sei montar móveis, bordar arraiolos, arranjar aspiradores, fazer cueiros, mudar a bateria do carro, desentupir fossas, trocar vidros, pôr azulejos, fazer pudim abade priscos , andar de patins, falar francês e plantar alfaces. Também sei podar árvores, fazer compotas, dançar até de manhã, desenrascar um bilhete de avião quando tudo está esgotado, fazer uns negócios muito bons, descobrir a melhor maneira de poupar uns tostões legais nos impostos e resolver equações simples, que as mais complicadas já se me falham. Também sei, acho, criar duas filhas, que elas estão aí grandes e bonitas. E sei fazer mais umas coisinhas, mas isso agora não interessa nada, como dizia a outra. Só não sei tocar piano, que apesar de ter andado a aprender nunca tive queda para essa música.

Sei muito, e sei hoje que tenho saudades de casa. Tenho saudades da minha mãe e tenho saudades da enorme chatice que é ir passar a Páscoa na casa dela.
Por lá, esta é a altura das procissões. A minha tarefa, se lá estivesse, seria ficar em casa, acender as velas nas varandas e janelas e pôr um ar composto quando estivessem a passar. Iria ficar a ver na varanda, a Clara iria estar comigo e toda a gente lhe diria adeus quando passasse. A “gorda” não estaria connosco, que de uma maneira ou de outra arranjaria forma de estar amuada num canto qualquer. O padre rezaria a avé maria cheirassa e nós iriamos rir porque todos os anos a cheirassa não podia falhar.

Tenho saudades da enorme monotonia que era passar a Páscoa em casa. Normalmente os meus irmãos piravam-se para o Algarve e só ficava eu, a tentar dar o arzinho de graça que falta sempre quando a casa não está cheia. Enquanto a minha mãe ia à missa eu punha a mesa para o almoço com todos os cuidados e levantava-a depressinha que o padre estava quase a chegar e ao domingo a empregada está de folga. A toalha branca bordada era tirada, que já tinha servido, e ia buscar uma outra ao gavetão da cómoda da sala. Natais e Páscoas tenho a mesa por minha conta e as toalhas também. Gosto de as ver na mesa, que para isso foram feitas, e escolho sempre uma das Essa não Teresa que é muito difícil de passar e a Irene já vai ter tanto para fazer… Nada feito, que era essa mesmo. A seguir faziamos a limonada na “jarra do bispo”, que limonada e Vinho do Porto não podiam faltar na mesa, punham-se os muitos doces, eu tentava esconder as castanhas de Viseu e as queijadas de S. Jorge atrás do do arranjo das flores, que desses eu gosto e não vale a pena correr riscos, o ramo era pendurado na porta e ficávamos à espera que “o Senhor chegasse”. Era então a altura de dar a antiga campainha de chamar as criadas às miúdas e de as mandar para a rua. Truque velho, esse de tocar a campainha na rua para pensarem que era o padre que estava a chegar e ver os vizinhos todos a correr de um lado para o outro para compôrem o que já estava composto. Todos os anos caíam na mesma esparrela e eu babava-me com o carinho do lá está a Terezinha outra vez, mas agora já não era a Terezinha mas eram “as meninas”, que filho de peixe tem de saber nadar.

Quando finalmente o padre entrava todos se perfilavam para beijar a cruz e a casa era benzida para o novo ano que começava, sem sonharem que mais um ritual pagão tinha sido cumprido. Eu nem respirava, escondida atrás de um sofá, que isso de andar a dar beijos em cima do cuspo dos outros não há fé que justifique e a minha já era pouca.

Durante o resto da tarde ficava-se em casa, que chegavam os afilhados para receber o folar. Esta foi sempre a parte pior. Os meus irmãos têm dezenas de afilhados – a mim deviam ter medo de pedir para ser madrinha, que sempre devo ter tido um arzinho de não ir com essas coisas– e eu tinha um único. Eles raspavam-se na Páscoa, eu ficava para aturar os afilhados deles.
O meu é que nunca apareceu por lá. Não percebo porquê, que a esse teria todo o gosto de ver na sala. É lindo, vermelho e enorme. Tem uma placa de lado a dizer Maria Teresa e, que eu saiba, é o único de todos os afilhados que nunca pediu folar. Está bem que é um carro de bombeiros, mas é o mais bonito autotanque que já foi fabricado, o melhor de todos que algum dia apagou fogos, ou não fosse meu afilhado e levasse o meu nome no casco.

Desde que vim viver para o Algarve que não vou passsar a Páscoa a casa da minha mãe. Já que cá estou, fico, apesar de achar que quem vem para cá deve vir só à procura de um shopping diferente. É impressionante como há gente que faz centenas de quilómetros para vir para o Algarve e depois deve pousar as malas no primeiro sítio que encontra e largar a correr para o centro comercial mais próximo. Como por aqui temos poucos já sabemos o que vamos encontrar e nem nos arriscamos a aparecer nas redondezas, que chegaram os malucos do Norte e é melhor ficar pela mercearia da Paula. Quando os gajos forem embora já podemos outra vez ir comprar o detergente para a máquina da roupa que estava a faltar ou as crianças podem ir ao cinema sem terem as salas esgotadas (expliquem-me, se puderem, porque é que há gente que vem de Lisboa para o Algarve para ir ao cinema…).

Mas continuo com saudades de casa da minha mãe. E foi por isso que hoje fui comprar um cabrito. Detesto cabrito, que a minha mãe é da serra da estrela e sempre nos impingiu cabrito como se fosse um manjar dos deuses, mas amanhã temos cabrito para o almoço. Desde aquela altura em que fui viver sózinha, demasiado cedo, que percebi que se perdesse algumas rotinas perdia-me a mim. Precisava delas para darem lastro à minha vida e para, apoiada nelas, poder fazer todas as loucuras que achava que tinha e podia fazer. Por mais perdida que andasse nunca jantei sem ser de mesa posta, nunca bebi um chá sem pôr um pires por baixo da chávena, nunca comi peixe com talheres de carne. Pormenores? Não, rotinas que nos seguram, por pequenas e fúteis que sejam. Posso tergiversar (esta é uma das minhas palavras preferidas) em muitas coisas, mas tento manter alguns padrões na minha vida para não me sentir completamente perdida. Aprendi, à minha custa, que se questiono todas as regras fico sem regras nenhumas e perco-me definitivamente. Assim, vou-me segurando no que parece que não tem importância, mas que tem a importância de me fazer sentir pertença de um lugar e de alguém. E se ainda não consegui passar tudo isto às minhas filhas, algumas coisas já lá estão. Amanhã são elas que vão pôr a mesa e já sei, que fui avisada, que a toalha vai ser aquela que eu gosto muito mamã, trouxeste agora de casa da avó e era do teu enxoval, que eu quero que fique para mim…

Tenho saudades de casa da minha mãe e quero que, um dia, as minhas filhas tenham saudades da casa da mãe delas.

Páscoa.

Minhas ricas filhas.

Mamã, nem imaginas o que arranjam para fazer notícias. Sabes que na capa de um jornal vem a dizer "Ressonar dá divórcio" ?
Que absurdo... O Bin Laden ameaça a Dinamarca e eles estão preocupados com barulhos que saem das gargantas quando se dorme. Que estupidez, não é? Não há coisas mais importantes para pôr na capa de um jornal?

Minha querida filha, já hoje te disse que de vez em quando me deixas completamente babada?

"procuro pai da minha filha rio tinto"

Juro que não sei dele, mas alguém anda à procura no google e veio parar a este blog.

Minha senhora, quer um conselho? Deixe-se estar quietinha e não procure coisa nenhuma, que corre o risco de o encontrar e pai que não aparece sozinho é melhor continuar perdido...

hable con ella - Caetano Veloso - Cucurrucucu Paloma

Embedded Video

Caipirinhas em flôr.

Bolo da Páscoa. Hummm...

Ganhei a noite.

Durante muito tempo ficou no meio dos outros, sem nunca sequer o ter aberto. Sabia, não o sabendo, que ia ser um dos meus filmes, e guardei-o para o dia que haveria de ser o dele.

Há muito tempo que a banda sonora me acompanha. Desde uma noite em que tudo foi mágico, com o calor de Agosto a entrar pelas portas abertas e o hable con ella a tocar durante horas perdidas pelas divisões já quase vazias da casa branca do cimo da colina de onde se via o mar.

O cd foi-me oferecido poucos dias depois e copiado para todos os computadores e mp3. Ouvi esta música, a mesma que oiço agora, centenas de vezes.

O filme veio a seguir, mas ficou à espera quase dois anos, que quis prolongar o mais possível o enorme prazer que me iria dar.

Aguentei-me até hoje e, com ele, voltei a ter uma noite mágica.

Ir à terra ou ir para a terra?

Nas Pontes 25 de Abril e Vasco da Gama, a circulação faz-se por vezes com algumas paragens no sentido Lisboa-Montijo e na A-1 na direcção Sul-Norte, onde dois acidentes, já resolvidos, agravaram o congestionamento do tráfego.

Junto à saída da A-1 para Santarém, ao quilómetro 66, um acidente causou filas de cerca de 15 quilómetros.

Na zona de Alhandra, ao quilómetro 22, uma colisão entre quatro viaturas ligeiras provocou grandes congestionamentos na circulação.

A Brigada de Trânsito da GNR prevê um abrandamento da intensidade do tráfego durante a noite.

Partilha de bens.

Ontem fui jantar a casa de uns amigos e a conversa, no meio dos copos, acabou por ir parar aos divórcios. Eles são da minha idade e estão casados há 25 anos, mas ainda se picam com o quem deixa quem e quem fica com o quê.
Não sei se a noite de ontem estava mais animada que o costume, mas a troca de galhardetes foi memorável e não resisto, com a devida autorização dos próprios, a deixá-la registada:

- Um dia destes deixo-te..
- Eu é que te deixo a ti...
- Então vai que de certeza fico melhor, és uma chata.
- Olha que levo as crianças...
- Podes levar tudo, mas deixas as mamas, que essas são um bem adquirido e fui eu que as paguei....

Lindo e, definitivamente, de ir ás lágrimas. Confesso que já dividi muitos bens e já vi muita estalada por causa disso, mas esta partilha iria dar-me um enorme gozo de fazer...

Aqui vou eu comprar mais uma guerra...

Há exactamente dois anos atrás estava em Coimbra, numa festa de aniversário. A casa dá para uma rua com bastante trânsito e não foi o barulho da miudagem na sala que nos impediu de ouvir um estrondo grande e travões a chiarem. Não havia dúvidas possíveis, acidente. A primeira espreitadele deu-nos o retrato geral - alguém tinha sido atropelado na passadeira. A partir daí foi a confusão habitual nessas situações, com gente a chegar, sirenes de polícia, ambulâncias, INEM e a parafrenália do costume. Lembro-me bem da nossa angustia durante quase meia hora, enquanto seguimos as tentativas do médico do INEM para reanimar a senhora que estava no chão e do horror que sentimos quando declarou a morte. No meio da estrada estavam os papo secos que ela tinha ido comprar e que nunca chegaram a casa.

Há dois ou três dias voltei a lembrar-me disto. Estava a ler o jornal e vi num titulo "condutor condenado a dois anos e meio de prisão efectiva". Mal que comecei a ler achei que era "aquele acidente" e era, que a data e o local não deixavam dúvidas.
Dois anos e meio de prisão efectiva. Um miúdo de vinte e três anos. Não estava alcoolizado, não acusou drogas. Dois anos e meio.
É justo? É justo em relação a quê ou a quem?
Dois anos e meio por uma vida? Seria sempre muito pouco. Dois anos e meio por uma conduta irresponsável, por excesso de velocidade que leva a atropelar uma pessoa na passadeira sem sequer ter tido tempo para travar? Acho que é justo.

Acabei de ler um artigo sobre o tal taxista, que já toda a gente conhece, que atropelou quatro crianças numa passadeira.
Acho alguma graça ser "o taxista". Se o homem fosse chinês alguém se atreveria a escrever "chinês etc e tal"?. Sim, um taxista é um condutor profissional, deveria ter ainda mais cuidados, mas o outro lado desta moeda é que também tem muito mais horas de estrada e, estatísticamente, mais possibilidades de se distrair.
Sim. Conheço os factos. Atropelou quatro crianças na passadeira. Fugiu. Acusou alcool no sangue.
Apresentou-se na esquadra uma hora depois. Não foi inibido de conduzir e muito menos foi detido.
Levantam-se as vozes da indignação - horror! Como é possível? Como pode uma "besta" assim não ter sido logo morto no local do crime? (bem, o homem diz que não parou, apesar de ter chamado o 112, exactamente por ter tido medo de ser morto e, pelos comentários que já li, deve ter razão...).

Vou, mais uma vez, dar-me à morte, mas teria sido perfeitamente capaz de defender este homem. Consigo perceber tudo o que lhe aconteceu. Consigo perceber a distracção - nunca tiveram um acidente? eu já. não atropelei ninguém, mas enfiei o carro num muro... - consigo perceber a taxa de álcool - errado, eu sei, mas 0,92 gr são, com sorte, 3 ou 4 copos de vinho - e não implica que estivesse alcoolizado e consigo perceber a fuga. Eu não o faria, mas percebo o pânico, percebo que deve ser um horror ver crianças a ficarem debaixo do nosso carro, percebo o fugir para a frente (desde que a história seja como ele a conta e tenha ligado para o 112...), percebo o rebate de consciência e o ter-se apresentado na esquadra. Não tenho de desculpar nada disto, mas percebo.

Já consigo é ouvir os gritos do "e se fossem as minhas filhas? " Se fossem as minhas filhas estaria com elas no hospital e não teria, infelizmente, tempo para tentar perceber tudo isto. E, se fossem minhas filhas, não deixavam de estar em coma pelo facto de querer pendurar o gajo no candeeiro mais alto da avenida. Mas deve ser por estas razões que quando é com as nossas filhas mandam as regras que não se julgue. Só um idiota deixaria que o juiz deste homem fosse pai ou mãe destas crianças. Imparcialidade, não é? Portanto esse argumento de "e se fossem..." cai já por terra, se não se importam...

Não sei o que vai acontecer a este homem, mas continuo a acreditar que a justiça não precisa de linchamentos populares para ser eficaz. O outro, o da história lá de cima, está neste momento a cumprir os tais dois anos e meio de cadeia. Justa, na minha opinião.

Sabem o que não percebo nem desculpo nesta história? Isto:

Há duas crianças no hospital, uma das quais entre a vida e a morte e com a sua identidade devassada - um canal de televisão não se inibiu de mostrar, sem qualquer pudor, uma fotografia dela contorcendo-se no chão da passadeira.

Tem graça que não ouvi chamar besta a ninguém do tal canal, que nem sei qual é, que cá em casa, pelo sim pelo não, só se vêem desenhos animados...

Podemos é comparar atitudes. Há alguém, vamos supôr que um repórter, que tira uma fotografia. Até aqui percebo, que o instinto da notícia está lá e tem mais é que funcionar. Essa fotografia vai para uma redacção de uma televisão. É vista por vários jornalistas, editores, redactores, chefes de redacção. Já não se pode falar num impulso, num momento de pânico, como ali o do taxista, que não lhes faltou tempo para pensarem. A fotografia foi para o ar em nome do "furo" e da concorrência e esteve-se tudo nas tintas para as crianças. Mas tenho a certeza que não se coibiram, durante a reportagem, de apontar dedos ao malandro do taxista...

A estes gajos, a estas bestas, eu não defendia de certeza, que aqui não percebo nem desculpo e todas as justificações que aparecem para a escolha que fizeram são demasiado feias...
Isto sim, acho um nojo. Aqui sim, acho que falamos de bestas e não de gente decente.

P.S. - O Editorial que linkei é do Diário de Notícias. Estes que agora apontam o dedo ao tal canal de televisão foram os mesmos que publicaram a fotografia da Alexandra Neno, moribunda, meia despida, e com o INEM a tentar reanimá-la. Muito lixo para um taxista só...

Dei-lhe um ralhete, mas é uma santa...

Bastou sentar-me ao volante, hoje de manhã, para perceber que várias coisas estavam erradas no carro. Espelho retrovisor mexido. Destravado. Marcha atrás engatada. Limpa para-brisas ligados. Luzes ligadas. Luzes ligadas???!!!...... Não, luzes apagadíssimas, mas botão ligado.... O resto da lista é óbvio - bateria a zeros!

Aqui nestes sitíos nunca fecho o carro - invejinha não é, senhores dos alarmes, trancas, garagens e essas mariquices todas... - e às vezes tenho surpresas destas.
Claro que foi a Clara.... ontem desapareceu enquanto fomos às amoreiras e deve ter andado a divertir-se dentro do carro da mãe. 'tá bem!

E tem sido assim o dia. Carro à porta, mas sem poder sair daqui. Mau? Nops. Excelente! O Sr. Marcelino, a quem telefonei logo de manhã, disse que vinha já já, mas nem insisto que sempre tenho uma desculpa para não me mexer e também nem tinha nada de muito urgente para fazer lá fora. Só não tinha cigarros, mas as bicicletes servem para alguma coisa...

Portanto, hoje blogo... e faço mais umas coisitas, como ajudar as miúdas a arrumar os cd's, que estavam uma desgraça...

Não é Dia da Mãe, mas como sou dois em um a santa da minha filha deve ter resolvido dar-me um presente.
Clara, muito obrigada!

Dia do Pai

Faz hoje anos demais. Devia ser uma segunda-feira, princípio de semana, porque eu ia com o meu pai para Coimbra. No rádio, de minuto a minuto, faziam alusões ao Dia do Pai. Eu mantinha-me calada. O meu pai calado estava. O costume nas nossas viagens e tinhamos os dois muitos quilómetros daquela estrada, que comecei a ir com ele para Coimbra quando entrei para o Jardim Escola. Naquele dia para além de mudos fingiamo-nos também surdos. Tenho a certeza que tanto eu como ele gelávamos de cada vez que ouviamos o nome de mais um perfume para oferecer ao pai, mas nenhum de nós pestanejava sequer.
Trocámos as primeiras e únicas palavras quando o carro finalmente parou e o rádio se calou. Até sexta-feira. Boa semana.
Não, não éramos nada teimosos nem nada parecidos.

O meu pai morreu há seis anos. Tenho a certeza que se ele hoje aqui estivesse também não lhe desejava um bom Dia do Pai mas, merda!, tenho muitas saudades dele.

Há muitos anos também, o meu pai fez-me o retrato. O papel já está amarelado nas dobras e a letra vê-se mal, mas o que lá está escrito continua cirurgicamente exacto.
Nunca lhe dei uma prenda neste dia, mas hoje deixo-lhe aqui uma que ele me deu a mim. E dou-lhe o que nunca lhe dei - Pai, no que a mim dizia respeito, estava coberto de razão! (no resto ainda não tenho a certeza, que também não posso dar assim a razão toda de repente...)



Teresa vai,
Teresa vem.
Teresa mal,
Teresa bem.


Gente diz não,
Teresa diz sim.

Teresa que não,
Todos que sim.

Corre que corre,
Anda que anda,
Procura Teresa
Por toda a banda.

Procura-se a si
Até se encontrar.
Procura Teresa

Que vais gostar.

Pai

...............................................................................(obrigada gajo lindo por teres feito o milagre de pôr isto legível.)




Povinho ingrato e analfabeto... bando de comunistas malcheirosos!

O sol voltou a escolher o meu sítio para morar...

Olho a toda a volta e vejo nuvens pretas carregadas, com ar de trovoada e chuva a potes, como se não quisessem deixar mal visto quem hoje lhes atirou com um tal de alerta amarelo e ao longe, muito ao longe, ouço os ecos de trovões.
Olho para cima e vejo um enorme circulo de céu azul claro, sem uma única nuvem, por mais branca que fosse, e o sol brinca-me nas costas.
Acho que as nuvens carregadas voltaram a perceber que isto aqui não é lugar para elas...

Entrei num túnel do tempo...

Todos os dias recebo o Diário da República por email, mas o de hoje trouxe-me uma surpresa especial . Ou melhor, espacial.
Bem vindos ao sec. XIX...

"From: LegiX.pt@priberam.pt

Sent: quarta-feira, 19 de Março de 2008 14:04

To: Teresa .......

Subject: D.R. do dia 30-Dez-1899

Segue-se a lista dos sumários do Diário da República - Iª série - de hoje, tal como foram
publicados...."

"The answers are clear to me" Bush

"Five years later, Bush to say Iraq war must go on..."
(Heaven on Their Minds, Jesus Christ Superstar,1973)

2008: The Final Odyssey

Morreu escritor Arthur C. Clarke.
O escritor britânico de ficção científica Arthur C. Clarke, 90 anos, morreu hoje num hospital do Sri Lanka, revelou o seu secretário Rohan da Silva.

Autor de «2001, Odisseia no Espaço», levado para o cinema por Stanley Kubrick, Clarke fora várias vezes hospitalizado por insuficiência respiratória desde que celebrara 90 anos em Dezembro.

Clarke, que desde 1945 previa as comunicações por satélite, escreveu mais de 80 obras. Era o mais conhecido dos residentes estrangeiros no Sri Lanka.

Ass (L) ombroso.

E se nos dissessem que o violador tipo era moreno, entroncado, usava bigode e tinha olhos castanhos? Ou que o "criminoso nato" tinha nariz torcido, maxilares salientes e era estrábico? Ou mesmo que a forma do crânio, sede da alma, poderia indicar a propensão para o crime e que o seu estudo ajudaria à sua prevenção?

Lombroso foi um médico italiano, nascido no princípio do sec. XX, que disse isto tudo e muito mais. Aproveitou os estudos de Gall sobre frenologia, ou melhor, de como a forma da cabeça poderia condicionar a mente, e desenvolveu uma teoria criminalista a partir daí. Por várias razões, e uma delas foi ter sido o primeiro a usar o termo "prevenção" aplicado ao crime, contrariando a doutrina corrente de pura repressão, as suas teorias foram levadas a sério e fizeram escola. Durante uns tempos o "apalpar" das cabeças foi um dos métodos usados para descobrir o criminoso e o seu desenho acompanhava o cadastro.

Assustador, não é? Mas lembrei-me do Lombroso quando li esta notícia:

Reconhece que a base de dados pode criar problemas de estigmatização das crianças e que o consentimento dos pais e o papel dos professores na identificação dos futuros delinquentes teria de ser discutido. Mas sustenta que é necessário um debate aberto e maduro sobre a melhor forma de lidar com o crime antes de ele ocorrer.
Mas na vida real, a polícia britânica já recolhe amostras de ADN de jovens entre os 10 e os 18 anos que sejam presos, desde 2004. E ainda na semana passada, as autoridades divulgaram que os dados recolhidos rondarão 1,5 milhões de amostras no próximo ano. As associações da sociedade civil relacionam a ideia com ‘livros de ficção’, condenando-a veementemente. Um dos sindicatos de professores avisou que a medida podia aproximar o país de um «estado autoritário», de acordo com o Guardian. Mas um relatório do Instituto de Investigação para Política Pública do Reino Unido, sustenta que «a prevenção deve começar cedo, porque os criminosos costumam começar a cometer delitos entre os 10 e os 13 anos». '

'Deviam era investir em segurança' «Não há base científica nenhuma», sustenta o médico geneticista Mário de Sousa. O especialista do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, sustenta que «todos os estudos revelam que os comportamentos agressivos derivam do ambiente que se proporciona às crianças». «Não querem é investir em boas escolas, boas casas e polícia na rua, como cá também não querem. Mas deviam era investir em meios seguros para as crianças». O geneticista é peremptório: «Se não cometeram nenhum crime, não devem constar de nenhuma base de dados, pois no ADN vem outra informação como as doenças e já se está a ver onde isso pode levar…» «Nós [médicos-geneticistas] sempre fomos contra bases de dados genéticas da população sem antecedentes criminais».

Há por aqui confusão, mas de qualquer forma é assustador.
Não me parece que a proposta inglesa seja a de fazer exames de DNA para descobrir a "propensão genética para o crime", mas recolher o DNA de quem for identificado como "potencialmente criminoso". Ou seja, querem fazer uma base de dados que permita, no caso de um crime, verificar de imediato se foi ou não cometido por quem já está identificado pelo sistema.
Mas é esta "propensão para o crime" que me lembra o tal de Lombroso. Será que recolhem o DNA das crianças estrábicas? Ou das morenas? Ou das árabes? Ou das que gamam as chupetas do bébé do lado?
Minority Report, como dizia o Pedro Sales no Zero de Conduta.

Os ingleses, que zelam tanto pela sua privacidade que nem Bilhete de Identidade têm, querem agora uma base de dados que poderá indicar desde a cor dos olhos até à propensão para o cancro da próstata ou a cirrose. Sendo que estes mesmo ingleses se especializaram, nos últimos tempos, a perderem bases de dados com informações confidenciais de milhões de cidadãos, parece que estão a querer brincar com o fogo. Como, para além disso, têm andado de lingua na boca com os mui integros serviços de informações americanos, talvez tenhamos razões para julgar altamente perigosa uma ideiazinha idiota como esta, sem ser sequer necessário discutir os caminhos por onde nos poderia levar.

Mas agora, aqui entre nós, vamos supôr que só queriam a impressão digital do futuro potencial criminoso. Horrível na mesma, não era? Era, mas também é o nosso dia a dia. Não há português, criminoso ou não, que não tenha a sua impressão digital postada no BI e supostamente catalogada e arquivada. Para quê? Não faço ideia, mas também não vejo ninguém a chatear-se com isso. O que tem graça, que somos tão ciosos dos nossos "direitos" e depois rolamos o dedinho na tinta, como qualquer cadastrado que se preze, numa herança directa de um estado autoritário. E, para além de não chiarmos, nem sequer nos perguntamos para quê.
Felizmente é, ou tem sido, para nada, que estamos em Portugal. Até agora, os milhões de impressões digitais recolhidas pelo Arquivo Nacional andam por lá metidas em caixas, provávelmente com um número qualquer, mas sem utilidade prática. Não estão catalogadas nem identificadas e só servem para ocupar espaço. Já pensaram que nunca se ouviu contar que um criminoso tenha sido descoberto pela busca das impressões digitais no Arquivo Nacional? Isto é tipicamente nosso. Andamos há anos a gastar tinta, papel, tempo, paciência e dignidade para nada, que aquela impressão digital no nosso BI não serve para nadinha, excepto como manobra intimidatória de um estado imbecil.
E nós lá vamos cantando e rindo e dizendo que "bases de dados" de quem não é criminoso? Nem pensar! Minority Report, pois claro.

Fomos às Amoreiras.


E viemos carregadas...

As de hoje são para a salada de fruta, mas com as próximas fazemos compota.

Fogo nas ventas

Estou, há vários minutos, a olhar para uma fotografia. Andei em arrumações, caiu do meio de uma pilha de papéis e encostei-a a uns livros, na prateleira mesmo na minha frente.

Deve ter sido tirada há uns quatro anos. É a minha filha mais nova montada no Dragão.
O Dragão era o poney, com tamanho de cavalo, que viveu aqui connosco. Foi comprado a uns ciganos, um dia que o meu namorado ia levar as crianças à escola e o viu a trotar atrás de uma carroça.

O Kartsen era alemão, do Norte, e sempre tinha vivido no meio de cavalos. O pai criava-os, o tio foi campeão olímpico de salto, orgulho da família, a ex-mulher dava aulas de equitação, os filhos entravam em tudo o que era concurso, e ele treinava os cavalos. O último que tinha tido, com que tinha entrado em concursos, era o Dick. Uma coisa enorme e que deixava sempre uns sorrisos malíciosos quando era anunciado o próximo concorrente, Mr. Karsten S.... and his big Dick.

Tinha um olho clínico, e assim que viu o Dragão achou que era um animal com raça. O negócio foi feito numa curva do caminho, eu fui apanhada de surpresa quando cheguei a casa, e as minhas filhas tiveram o que eu sempre sonhei quando era miúda como elas e nunca tive - um cavalo.
Já vinha crismado, Dragão, e depressa percebemos porquê. Tinha fogo nas ventas. A maior parte do tempo que viveu connosco andou por aqui à solta e se ladrasse parecia um dos cães. De manhã levava-nos até ao portão e à tarde, assim que ouvia o carro, ficava à nossa espera. Chegou a entrar na sala algumas vezes - entrava por uma das portas, dava uma voltinha e tornava a sair pela outra. Quando estava de mau humor alapava atrás do meu carro e, por mais atrasada que estivesse para levar as crianças à escola, tinha de negociar com ele.
Um dia troquei-lhe as voltas mas ele, num galope desvairado, atravessou-se-me pela frente com a corda da roupa pendurada ao pescoço, os lençois a esvoaçarem ao vento e a mulher a dias frenética atrás dele. Não preciso de dizer que, ainda hoje, as miúdas se matam a rir quando se lembram disto.

Aqui, na foto, está a "xica-preta" (a outra é a "xica-clara"), com uns seis anos, a montá-lo em pêlo. Está com umas jeans claras, uma t-shirt branca, as botas que já não consigo lembrar quais eram, tem as costas direitas à amazona e a mão esquerda a afagar-lhe o pescoço. Estavam na relva, aqui em frente.

( foto a pedido da babysitter...)


Ao olhar para a fotografia lembrei-me de como fui feliz nessa altura. Sempre. Sem momentos maus ou horas amargas.


Fui feliz. Muito. Acho que tento não me lembrar disso, mas de vez em quando aparece uma coisa destas que me obriga a pensar.
Foi a primeira vez na minha vida que me senti em casa e que pensei que a seguir a um hoje podia haver um amanhã.
Viviamos aqui, os quatro. Eu, as miúdas e o Karsten. Não tinhamos uma vida fácil por aí além, mas todos os dias acordava a achar que valia a pena, o que para mim era absolutamente novo. Tinha vindo de dias muito negros, muito tristes, de vidas muito complicadas e com pessoas muito difíceis, e num golpe enorme de sorte tinha não só paz como também dias felizes.

Olho para a fotografia e lembro-me dele a treinar o poney aqui em frente. A galopar relvado fora, a virá-lo no último momento, a aguentá-lo no meio dos pinotes e das fintas de barriga, os dois esbaforidos, os dois a quererem mostrar que mandavam. Os olhos azuis do homem, o olho azul e o olho verde do bicho, a lançarem chispas. Eu de coração aos saltos, que o meu homem ainda se matava, mas a rebentar de alegria, que o homem lindo, o poney branco e a relva verde estavam ali para mim. Quando acabavam já tinha uma cerveja para cada um, que homens e cavalos levam-se assim, com mimos.

Fui feliz. Muito. E durante muito tempo, o que também foi novo, que sempre tinha achado que a felicidade era um estado de alma que só podia durar poucos instantes.

Na primeira vez que montei o Dragão levava a lição toda ensinada. Segurar bem as rédeas que quem mandava era eu, obrigá-lo a ir para onde eu quisesse. Correu bem durante um tempo, e ainda dei umas voltas à quinta. O problema foi quando achei que ele ia começar a galopar. Estávamos a passar pelas favas e ele olhou duas vezes. Quis cortar para lá e segurei-o. Insistiu e continuei a segurá-lo. Quando senti os músculos retesados e uma enorme vontade de comer favas, entrei em pânico. Atirei-me lá de cima, cai sem me magoar muito, e o Dragão largou a galopar campo fora. Não sei se o queria fazer, mas saltei antes que o fizesse. Pelo sim, pelo não.

Com o Karsten, o meu namorado alemão, com quem fui feliz, que era lindo de morrer, um homem bom, que vivia apaixonado por mim e eu por ele, fiz exactamente a mesma coisa...

Às vezes, em momentos como este, tenho muitas saudades do Dragão.

"espectáculo deprimente"

Só deprimente? Eu arranjaria mais uns tantos adjectivos, mas não me estaria a referir à mesma coisa, de certeza...
Pavilhão Atlântico cheio de crianças a chorar com anulação do concerto da banda alemã Tokio Hotel.
O cancelamento do concerto de estreia da banda alemã Tokio Hotel, no Pavilhão Atlântico, transformou-se num "espectáculo deprimente" com milhares de crianças a chorar e adolescentes a desmaiar em pleno recinto.
Eram cerca das 20:00 quando chegou a notícia que chocou os milhares de fãs: o espectáculo tinha sido cancelado porque o vocalista Bill Kaulitz tinha uma amigdalite. Segundo relatos de pessoas presentes no Pavilhão Atlântico feitos à Lusa, quando a anulação foi conhecida, imensas miúdas desmaiaram e a maioria das crianças desatou a chorar.
"Na esperança de conseguirem um lugar na fila da frente", muitos já estavam no recinto do Parque Expo há dois dias "a aguardar a abertura das portas", referia um comunicado da empresa responsável pelo evento, a Everything is New.
"Eu sou mãe e estou indignada. Isto é um espectáculo deprimente que deixa qualquer mãe em choque. As crianças estão apavoradas, a chorar baba e ranho", criticou uma mãe que decidiu levar o filho de 14 anos ao concerto. Fernanda Celeste, mãe de Ana Sofia, 14 anos, e Helena Isabel, 10 anos, que veio do Porto no sábado para "estar bem cedo" no Parque Expo corrobora, indignada, a informação prestada pela Everything is New. "Comprei os bilhetes há quatro meses e quando aqui chegámos ouvi dizer que havia miúdos que estavam a dormir aqui desde quinta-feira. Isto é inaceitável", criticou Fernanda Celeste, lembrando que "deixaram os miúdos entrar. Estiveram lá imenso tempo aos pulos e depois anunciaram que não havia espectáculo. Havia miúdos que se atiraram para o chão a chorar". As filhas de Fernanda Celeste também choraram "de tristeza", mas ficaram mais calmas quando a mãe lhes prometeu que voltariam ao Pavilhão Atlântico no fim de Junho para ver a banda alemã.
Ex.ma Senhora Dona Mãe de Uma Criança Apavorada,

Tenha juízo!
Indignada? Em choque?
Get a life e, por favor, tente ensinar qualquer coisinha decente ao tal filho apavorado, que pode ser que ainda vá a tempo.
A Senhora Dona Fernanda Celeste e mais alguns ilustres desconhecidos podem fazer-lhe companhia.

Cheguei a casa.

Mesmo que não o soubesse adivinhava-o. Por alguma razão que não se explica, esta é sempre a música que toca no rádio quando chego a casa.

(o vídeo é demasiado mau...)

Às vezes é tão fácil ser feliz.

É sexta feira à noite. O Sérgio Godinho ouve-se pela casa toda, que vizinhos não temos. As crianças dançam na cozinha. A pasta com cogumelos frescos está a ser cozinhada. O copo de Loios tinto, que é festa mas não é de Duas Quintas ou Brunheda, está à mão de bebericar. O chantilly para os morangos está a sair decente, mais um bocadinho a bater e fica perfeito. O Sebastião dorme debaixo da mesa. O Goma está, como de costume, deitado à porta da sala. Lá fora a noite está quente e cheira a Primavera.
Aqui, agora, estamos felizes.

Recomendo fatias fininhas e manteiga. Até me babo...

Bolo de Ançã: VIII Feira promove produto artesanal do concelho de Cantanhede

Cerca de 5.500 bolos de Ançã vão estar à venda, domingo, na oitava edição da Feira dedicada a este produto típico da vila do concelho de Cantanhede, muito conhecido e apreciado na região.

"Há muitas tentativas de copiar o Bolo de Ançã, nomeadamente confeccionando-o de forma industrial em fornos eléctricos, mas o genuíno tem como base um processo artesanal de fabrico, sendo amassado manualmente e cozido em forno a lenha", explicou hoje o presidente da Associação para o Desenvolvimento e Promoção da Qualidade de Vida do Meio Rural de Ançã (AVANÇÃ), João Parreiral.

Farinha, açúcar, ovos, limão e manteiga são os ingredientes desta guloseima, "de confecção simples, mas de reconhecida qualidade", segundo a AVANÇÃ.

De acordo com João Parreiral, o segredo para tornar o bolo tão apetecível, apesar dos seus ingredientes vulgares - que devem, contudo, ser de qualidade -, reside no facto de ser amassado manualmente e cozido em forno de lenha.

O presidente da Junta de Freguesia de Ançã, Ricardo Rosa, realçou ainda, em declarações à agência Lusa, que a lenha usada na cozedura também não pode ser uma qualquer".

"São usados apenas os pequenos galhos dos pinheiros, que se vão apanhar nos pinhais", referiu, adiantando que a experiência é fundamental nesta produção que, muitas vezes, se insere numa tradição familiar.

Os bolos de Ançã são um produto artesanal conhecido e muito apreciado, sobretudo na Beira Litoral.

São comercializados sobretudo na vila de Ançã, onde as boleiras os vendem em açafates, ou em feiras e mercados da região.

Verdadeiro "embaixador" de Ançã, o Bolo é vendido domingo por perto de duas dezenas de boleiras na feira dedicada ao produto, que decorre no Terreiro do Paço da vila.

That's all folks..

Hoje, enquanto esperava pelo início de uma reunião, entretive-me a desfolhar um catálogo de uma agência imobiliária, feito em parceria com o BPI. Era muito bonito, fotografias impecáveis, apresentação fora do vulgar nestas coisa de real state agencies, escrito em inglês e português ( não conhecem aqueles cães algarvios que se cruzam e um faz ão ão e o outro miau? - miau? estás maluco? - maluco não, no Algarve quem não fala duas línguas não se safa, pall..). Bem, a revista, que era mais revista que encarte, estava escrita em duas línguas. A agência é portuguesa e o banco, que se saiba, também. Não me lembro das outras, mas sei que desatei a rir quando li que "as praias do Algarve têm quase todas uma banheira azul"...

Darlingues, bi mai guestes, ife iou uante tu cóme to algarve iou cân expequete a banheira azul éte oulemóste oule the bicheses bat be chure éte mai ome ui óneli éve a banheira branca.

Paradoxos de Gaija (ou, pelo menos, meus)

Nunca temos nada para vestir, mas também nunca temos armários suficientes para guardar os nossos trapinhos...

Pedimos desculpa...

...por esta interrupção. O blog segue dentro de momentos...

Dia de "Pica o Boi".

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As prioridades são :

1. Jantar;
2. Responder ao correio;
3. Tomar banho;
4. Escrever uma posta ou ver o CSI;
5. Dormir.

(ou baralho tudo e dou de novo?)

Está a chover aí em cima?

Aqui está um dia de Verão, mas virei-me a norte e vi umas nuvens tão negras tão negras que ou estão a levar por aí com uma carga de água ou acordou tudo mal disposto...

"I need you, like the flowers need the rain you know I need you..."

A Peste de A. Camus

Este sempre foi um dos meus livros preferidos. A morte a aproximar-se em circulos cada vez mais próximos, o outro, aquele, este, eu. A dor a tornar-se real só quando os olhos a começam a ver.

Gente como eu morre em guerras de que não é soldado. Morre a rir, a ler, a ir para o trabalho, a embalar o filho, a assoar o nariz, a ouvir uma música, a telefonar à mãe. Todos os dias. Em todo o mundo. As noticías entram-nos casa a dentro e fazemos nossas as lágrimas deles. Chamamos nomes às bestas que morrem para matar, juramos vingança no sofá da sala, indignamo-nos, protestamos, fazemos coro com todos e vamos para a rua, assinamos petições online, tentamos resolver os problemas do mundo. E levantamo-nos e vamos buscar o copo de água à cozinha. A nossa vida vai continuando, que a morte anda lá longe.

Há quatro anos atrás acordei com as imagens de Atocha. E antes de chamar nomes, jurar vingança, protestar, gritar, indignar-me e todas aquelas outras coisas que se fazem nessa altura, gelei de medo. Ali, onde estavam aqueles pedaços de pessoas espalhados pelo chão, ali, naquele sítio que o horror tinha escolhido para começar a manhã, tinha estado eu uma semana atrás. A rir, no meio de amigos, a apanhar o Ave para Sevilha. Na minha vida, pequenina, como todas as vidas que ali acabaram naquela manhã. Vidas que pensamos tão simples que não vão dar histórias grandes. Vidas tão banais que não poderiam acabar assim, transformadas em bandeira de gente doente.
A Peste. Vai-se aproximando em circulos cada vez mais apertados e só nos dói quando a dor nos começa a tocar.
Há 4 anos atrás a dor de Atocha tocou-me de muito perto e por muito que não queira, por muito que pense que é um tremendo egoísmo medirmos o mundo a partir do nosso umbigo, não há nada que possamos fazer excepto sermos honestos e reconhecermos que nos dói mais quando nos toca mais de perto.
E Atocha dói-me. Muito.

Knojo (a pedido de várias famílias)

Um flop. Não há outra maneira de dizer isto, porque o knojo é mesmo um bocadito para o canojo...

Há mais de vinte anos fui ver uma exposição ao Museu da Ciência, em Londres. O tema teria a ver com a concepção e primeiros anos do ser humano, mas não me lembro precisamente de como se chamava. Lembro que era totalmente interactiva e de como eu, armada em miúda mas já graúdita, me vi a tentar ganhar a guerra do espermatozóide na conquista do óvulo, a brincar com a genética e escolher a cor dos olhos de acordo com os genes que entravam na dança, a fechar-me num útero para ouvir e sentir como um feto, a aprender o que era a perspectiva e a apanhar brinquedos que caiam ao chão e a como me equilibrar nas pernas bambas para começar a andar. Fiquei fascinada com o aprender da linguagem. Disso lembro bem. Havia um ecrã com um extra terrestre que debitava qualquer coisa numa lingua estranha. A seguir, sem nunca "traduzirem", aqueles sons iam sendo ditos mais lentamente, repetidos, explicados por mimica, metidos numa lógica do dia a dia. Cinco minutos depois conseguiamos compreender perfeitamente todo o discurso do homenzinho verde. Parecia magia, mas era só uma aplicação imaginativa e condensada dos truques da iniciação à linguagem dos bébés.

Andei dias seguidos encantada. Portugal ainda estava muito longe dessas coisas e o Museu mais divertido que conhecia era o do Caramulo, que pelo menos tinha carros. A minha descoberta de Londres, na pré-CEE, foi uma via sacra por museus, lojas de chocolates, que nós por cá tinhamos os Regina, Celeste, Favorita e pouco mais, e o Hippodrome pela noite. Na altura era o top das discotecas e se há apalpão que nunca vou esquecer na vida foi o que me deram lá, mas tenho de reconhecer que a saia era atreita a isso e só faltava o letreiro a dizer apalpem-me.

Estava a falar do Knojo não era? Fui parar longe, que nada do que me lembrei foi tão canojo assim.
Portanto, voltando a Portugal e ao Pavilhão do Conhecimento.
Quando as minhas filhas nasceram já por aqui se vendiam Kitcat, Lion, Mars, marshmallows, gomas de todas as cores e feitios, chicletes sem ser Pirata e mais duas ou três guloseimas. As discotecas também não eram más, apesar de não serem o Hippodrome e de os apalpões latinos não terem aquela determinação imperial, mas os museus eram a seca do costume. Por muito que as nossas criancinhas se esforçassem e tentassem ir além das armas e barões assinalados davam sempre de caras com uns funcionários façanhudos, um ambiente empoeirado, muitas placazinhas explicativas e uma tarde de sol perdida. A cultura era pior que o óleo de fígado de bacalhau, que pelo menos esse a Diese já vendia em cápsulas de gelatina.
O Pavilhão do Conhecimento foi uma revolução no meio do cinzentismo nacional. Passei por quase todas as exposições que lá fizeram, repetimos algumas, e era sempre melhor que a feira popular. As miúdas divertiam-se à farta e saiam com alguma coisa nova. Não podiamos portanto perder o Knojo. Há lá coisa melhor que passear no meio de arrotos, traques, macacos de nariz, vomitados, cócós, xixis e todas aqulas coisinhas que fazem a delícia de qualquer miúdo?
Como gosto de ter um painel alargado quando se trata de avaliações, que já basta o que os professores andam para aí a dizer, levei comigo seis experts na matéria. Cinco crianças entre os 6 anos e os 14, duas raparigas e três rapazes. As fases parvas estavam todas representadas e os géneros também. Levei o pai dos gajos, ou pelo menos de dois deles, o terceiro acho que é só amigo da casa, que desde a recente operação ao nariz tem batido todos os recordes no tamanho dos macacos que tira e fui eu. A minha especialidade nestas coisas de mete nojo deixa qualquer criancinha a roer-se de inveja, porque eu não sou de modas e assoar na manga é vulgaridade a mais, que eu cá limpo qualquer ranhoca mais inconveniente com a lingua. Tenho resolvido assim muitos problemas com crianças mais dadas à porcaria, que algumas entidades paternais, sabedoras da poda, mandam os seus rebentos mais difíceis cá a casa de propósito para me verem. É remédio santo, que depois desses miúdos pôrem os seus olhinhos remelosos numa mãe a servir-lhes os flocos enquanto se assoa com a lingua perdem a veleidade de se armarem em campeões da nojice e passam a comer decentemente à mesa.
O Knojo? Bem, o Knojo foi chumbado por todos nós. Está bem que a Clara resolveu desaparecer durante quase uma hora e deixou-nos a todos num estado de Pânico+1, que é mais que pânico e quase histeria colectiva, mas mesmo depois de a termos encontrado dentro de um estômago gigante, ou lá o que era aquilo, continuámos sem achar grande graça à coisa. Muita nojice, mas só no papel, que até o barulho dos traques era mal conseguido. Tudo muito colorido, uns bonecos a abanar a cabeça, umas paredes de ranho, uma máquina de vómitos, uns desenhos de uns cócós e uns xixis, mas nada de lutas na lama ou concursos de arrotos. Ainda pensei que iam pôr barcos a andar com ventosidades anais, vómitos a pintar quadros e mais coisas assim decentes, mas nada de nada. Uma perfeita desilusão. Animámos um pouco no concurso dos cheiros, porque eu insisti, e insisto, que me estavam a tentar vender cheiro a chulé por cheiro de rabo, mas eles dizem que sou eu que não sei a que cheira um rabo e tive de me calar e fingir vencida, que ainda acho que estão enganados e aquilo cheirava era a meia suja metida num canto durante quinze dias. Seja como for só posso ter razão, que ganhei a todos no teste de QI da Nojice.

Quando finalmente nos fartámos de fingir que nos estávamos a divertir muito e que aquilo era mesmo bué da giro rapidamente nos reorganizámos e voltámo-nos para o que sabiamos ser seguro, que o Knojo que não mete nojo não é a única coisa que por lá há. Revimos a "Explora", a "Matemática Viva" e a "Física no dia a dia". Ainda não são como a tal exposição que vi no Museu da Ciência de Londres há mais de vinte anos, mas não há miúdo que não se queira deitar na cama de pregos - até eu deitei, que sempre quis ser faquir - andar na bicicleta equilibrada na corda a mais de 10 metros do chão, caminhar na lua, armar-se em homem aranha e ficar preso na parede, ou fazer rádio com um balde de limpar o chão. Só por isto recomendo uma ida ao Pavilhão do Conhecimento. E já que lá estão espreitem a física que parece que nos engana e a matemática que assim mostrada até é simples. Se não tiverem crianças peçam emprestadas aos vizinhos, que elas agradecem de certeza e os vizinhos ficarão eternamente gratos por um dia de descanso.

O fim do dia foi bom, obrigada. As crianças foram para as mães respectivas e às minhas vesti-lhes o fato que as torna invisiveis e mandei-as com elas. Passaram despercebidas até às nove da noite. Acho que passaram, pelo menos foi a essa hora que o telefone tocou e educada mas imperativamente nos foi dito que talvez fosse melhor deixarmo-nos do descanço e tratar-lhes do jantar. Isto do descanço foi só um mal entendido, que sábado é dia de semanários e como não consegui gamar o Expresso ficámos no sofá a ler o Sol. O ficámos é assim mesmo - primeira pessoa do plural, que isso de singular é bom mas também aborrece.

O verdadeiro Canojo foi no domingo. Acreditem que um picnic nas matas da Lagoa de Albufeira com crianças, frangos assados, arroz e batatas fritas e sem guardanapos de papel, pratos, talheres e água para lavar as mãos bate qualquer Knojo...

E pronto. Foi assim o fim de semana do Knojo contado e do Kbom que fica no tinteiro.