Santa terrinha.

Já todos vimos um julgamento americano num filme qualquer. E já todos vimos como não há por ali papel e mais papel, nem salamaleques, nem vossas excelências, nem sine deis, nem tempo a perder. Também já todos vimos como por lá se negoceia. O prosecuter faz bluff, o advogado de Defesa faz bluff, medem-se os bluffs, acusa-se para mais, defende-se para menos e lá chegam a um acordo qualquer pela mediania. O tipo matou mas as provas podem não chegar para uma condenação? Faz-se um negócio, claro, e aceita-se uma confissão de agressões graves que garante a pena.
Eficaz.
Pouco justo? Eu acho que não mas por cá, neste nosso país à beira mar plantado, esta é uma das primeiras enormidades que qualquer estudante de direito aprende sobre o sistema de justiça da common law. Nunca, mas nunca, poderia ser possível uma heresia destas num sistema como o nosso onde Justiça se escreve com letra maiúscula. Porquê? Porque por aqui se garante, constitucionalmente pois claro, que ninguém pode ser condenado por um crime que não cometeu e uma agressão não é um homicídio e um homicídio qualificado não é um homicídio simples e não há pena sem crime, nem crime sem previsão legal, nem blá blá blá blá blá blá..., páginas e páginas de teorias, de princípios, de filosofias, de introduções ao estudo de qualquer coisa e dissertações sobre a coisa de qualquer estudo.
Saímos das Faculdades cheios de conhecimentos, cheios d'O Conhecimento.
E muitos conhecimentos depois a justiça anda pelas ruas da amargura, os tribunais pouco respeito impõem, já ninguém acredita na lei, mas o que é preciso é perceber que isso são pequenos detalhes, porque nós bebemos directamente na fonte da virtude e filosoficamente o nosso sistema é o melhor.
Recorrendo novamente aos americanos, bullshit!

O Freeport está aí outra vez. Manobra política ou não, há acusações de corrupção. E acusações graves. E nós, que até já vimos uns filmes, muitos filmes, dizemos o quê?
Que podemos dormir descansados porque se alguém embolsou umas massas para contornar umas regras os nossos tribunais resolverão o assunto. Que essa história da Gertrudes ter pago ao médico do Ferrari para ele marcar uma reunião com o Vale e Azevedo e fazerem um fax ao Melancia para ele entregar a Esmeralda ao Valentim Loureiro não vai ficar por esclarecer de certeza absoluta. Eles vão é todos presos. E é que é já!

2 comentários:

Anônimo disse...

Claro, só aparece em ano de eleições. A única coisa engraçada (?) é que um dos tipos que anda a soprar esta história tentou despedir-me com um telefonema para o jornal dizendo que eu tinha ido entrevistar o presidente da Câmara de Alcochete para o ajudar na campanha mas levou para trás porque eu limitei-me a cumprir a agenda do jornal. É gente de pouca estatura.a)JCFrancisco

Rachel disse...

(Suspiro)...
Então não vão!
(Suspiro, suspiro, suspiro)...

E pensar que ninguem me obrigou a escolher este modo de vida...