Portugal, 3 de Setembro de 2008

Hoje deve ser temático, só falo de animais. Sim, que não é só na Suiça que os animais são protegidos. Por aqui não gostamos de fazer má figura e se os outros protegem nós não podemos ficar atrás.
Joana, licenciada e professora numa escola no Porto, foi casada durante sete anos com um indivíduo, também licenciado e actualmente quadro superior numa multinacional, que por múltiplas ocasiões a agrediu física e psicologicamente. "Levou-me a que me questionasse se o defeito seria meu. É que a humilhação era tanta, tanta... dizia que tudo o que eu fazia não prestava, insultava-me com os piores nomes e tentava pôr as crianças contra mim", conta Joana.

Protegidíssimo, este animal. Este e muitos outros. Os muitos que foram responsáveis por esta vergonha -
Foram 35 as mulheres vítimas de violência doméstica que acabaram assassinadas às mãos dos companheiros, de Janeiro a Agosto deste ano - e os ainda em maior número que passam incólumes entre as gotas da chuva.
E conheço alguns. Infelizmente conheço.
Animais que se passeiam por aí sem trela nem açaimo, que não fazem parte de listas oficiais, que nem vacina contra a raiva são obrigados a levar. Animais que têm sempre uma desculpa para agredirem, para humilharem, para viverem a excitação de se sentirem machos à custa da mulher que os vai sofrendo.
Mas estão bem protegidas estas bestas, que entre marido e mulher não se mete a colher e a vergonha pública ainda cala muitos gritos. E eles por aí andam, e quantos a indignarem-se com estas notícias, estas aberrações, a gritarem a sua revolta quase tão alto como as mulheres deles, lá em casa, vão gritando cada vez que eles, cheios de paciência e contra vontade, lhes vão mostrando quem manda. E coitados deles que ficam de rastos sempre que as deixam de rastos, que não lhes perdoam o que elas os obrigaram a fazer, que os agredidos são eles e se ficou qualquer mancha mais roxa onde antes a carne era rosa foi só porque tiveram de se defender daquelas loucas.
Conheço muitos. Infelizmente. Já trabalhei com eles, já falei com eles, já jantei com eles, já vivi com eles. Não têm marcas na testa nem avisos a dizer cuidado. São simpáticos, bem falantes, boas pessoas, génios e loucos. Não estão, sequer, em vias de extinção, que isto são bestas protegidas. Vivem nas nossas casas, comem da nossa comida, embalam os nossos filhos, dividem o gabinete connosco, bebem copos nos mesmos bares onde vamos, são amigos dos nossos amigos.
São também os mais nojentos bichos que já vi, os vermes que mais desprezo, os pedaços de lixo que nos conspurcam as vidas.
Protegidos ainda? Seguramente. Mas um dia, um dia que espero que não seja só um dia, serão devidamente etiquetados e guardados onde nunca mais, na miserável vida deles, possam confundir a falta de tomates que lhes é congénita com a valentia que nunca tiveram.

18 comentários:

Anônimo disse...

gostei, cabrinha assanhada!

Olha tu e o Valupi estão em ondas parecidas. É assim: nunca bati em nenhuma mulher, repugna-me abusar de mais fracos do que eu, mas lembro-me bem que me vinguei da G depois de ter conduzido 500 km entre os fiordes da Noruega a ter de ouvir uma resenha psicanalítica sobre a mãe e o pai (meus), e o caralho, levou com susto de urso quando chegámos ao motel que deitou um grito que ainda hoje rio a lembrar-me. E a I em Porto Covo há milénios levou com um lobisomem na tenda mas acho que era o que ela queria, despedi-mos no País Basco depois de estarmos em Veneza,

mas eu agora sou muito mau partido: o meu director espiritual avisa-me que nos próximos anos vou ser Esfinge, corpo de Leão e cabeça de Virgem, na quietude do dezerto nada me move, e o que é importante vem ter comigo

mete uma Esfinge a fumar, que eu já me conheço...

Teresa disse...

(eu e o Valupi? ai que ainda agora acabei de fazer um post para ele... e agora vou despachar as crianças que hoje a noite é minha... em casa, mas minha!)

Anônimo disse...

que engraçado a coincidência! Não fiques amuada, no essencial vocês estão perto, vê lá o que ele diz sobre a violência doméstica.

Amanhã tenho que ir almoçar a Lisboa com a minha Sisigambis - tem quase 90 anos a senhora e vai estar feliz, e eu preocupado que já conheço a rotina, vai ao cabeleireiro, vem toda num brinquinho, e por falra nisso tenho de ir aparar a barba

Teresa disse...

Amuada?? Nem pensar, muito menos contigo. Não consigo é encontrar o post do Valupi...

(usas barba?? grão a grão... e agora tenho de ir mesmo levar as crianças..)

Teresa disse...

Já vi o post do Valupi. Tinhas razão..

Mas olha estou farta de rir a imaginar-te feito lobisomem. Mas percebo-te um bocadinho porque eu também já percebi que não tinha paciência para aturar uma gaja...

Bom almoço amanhã. Sabes que a minha avó, até morrer, nunca deixou de ir ao cabeleireiro, pintar as unhas e os lábios e usar saltos altos? Tinha quase 90 anos também, e chamava-me Terezinha... aparece aqui amanhã... amanhã dia difícil...

ardiloso disse...

os filhos muitas vezes são desculpas, para a fraqueza de assumir que casamento acabou. Neste caso concreto, como consegue ter força e sorriso para os filhos?
Sendo homem, condeno e incrimino a violência doméstica e para sujeitos assim...não existe qualquer perdão. E tenho dito

Anônimo disse...

apareço todos os dias tu sabez, excepto se amuo fico um dia fora para fazer saudades,

as velhotas são do mais bonito que há, há dois anos apareceu-me uma D. Emília que queria conhecer-me, oitenta e muitos, linda mas mesmo linda que não tenho palavras, ficámos a ouvir um concerto do Ecce Gratum de mão dada,

a minha mãe tinha morrido há pouco, não podia haver cena mais bonita

Anônimo disse...

essa mulher também é bonita, quando fores cota vais ser parecida, acho:

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1341515&idCanal=62

Teresa disse...

e amanhã fazia anos o meu pai... vê se não amuas...

Teresa disse...

E é linda sim... espero ser parecida, cabelo curto vou usar de certeza. E branco, que gosto de cabelos brancos.

Teresa disse...

Já agora, obrigada! Aspergix, tu sabes.

Anônimo disse...

ele está contigo cabrinha, foi por isso que eu apareci aqui lembras? Só que os espíritos são muito sensíveis, quando nós sentimos medo eles sentem como uma agressão e vão-se

é como uma brisa

eu às vezes dou um beijoca numa porta de madeira, ou aqui ou ali, uma vez até acendeu as luzes, eu achei muito prático ando sempre com canivete suiço nas viagens para arranjar interruptores e assim nem era preciso, mas para não contar vantagem nunca mais aconteceu,

também estás protegida por um bonzão ali em cima :)

Teresa disse...

Também ando sempre com um canivete suiço, mas nunca vi um espírito. E preferia ver carne e osso, ou então ser eu espírito também, que temos contas a acertar e têm de ser na mesma nuvem.
mas no outro dia também acendeu aqui uma luz. sem ninguém mexer. percebo como, mas prefiro contar como se tivesse sido magia...

mas que estou protegida sei eu. e não é um... conto três pelo menos... todos eles devem andar ao empurrão para protegerem. e discutem muito, mas acho graça...

@na disse...

ardiloso: 10 pontos para ti!

ardiloso disse...

numa escala de 1 a 10.. só pode, obrigado @na

Anônimo disse...

bom dia cabrinha, não, hoje não é um dia difícil vais ver que é um dia feliz,

eu também nunca vi um espírito, mas este ano fecharam-me ali o armário do cofre para me obrigar a tratar de outra coisa e depois de eu ter tratado lá apareceu a chave dentro da caixinha que eu tinha chocalhado três vezes,

dá um beijoca numa trave de madeira como se fosse teu pai, as árvores são do mais amigo que há, quando eu estou down vou ali encaixar-me no meu dragoeiro e saio sempre calmo,

ainda bem que sabes que estás protegida, e és corajosa zim,

Anônimo disse...

olha isto já está automático,

e perigozo que quem deita fumo das orelhas ainda sou eu,

ah, isso de seres tu espírito fica para mais tarde

bem, agotra tenho que atacar o presidente da câmara aqui com uma coisa e depois peensar como me vou vestir, essa parte é que eu detesto

Anônimo disse...

Bravo! Este texto é magnífico. Sim, dissemos o mesmo, mas aqui vem com uma verdade a que eu não poderei jamais chegar.

Muito bem, e continuemos à espera desse dia em que os cobardes sejam dominados e afastados. E não esquecer que esse dia pode ser hoje, para alguém.