A Porto Editora anunciou hoje em comunicado que «recusou editar» o romance da escritora Sherry Jones sobre o casamento do profeta Maomé com uma menina de seis anos, intitulado «A jóia de Medina».
«A decisão foi tomada com base no parecer extremamente desfavorável redigido por um dos consultores editoriais da Porto Editora, a quem foi pedido a análise do original por Manuel Alberto Valente«, lê-se no comunicado.
«A jóia de Medina« trata-se de «um romance vulgar, pobremente escrito e pouco convincente nas suas personagens e enredo«, segundo o parecer de Manuel Valente, director da Divisão Editorial Literária de Lisboa (DEL-L), da Porto Editora.
No mesmo comunicado é salientado que a Porto Editora tinha «a possibilidade de lançar um livro com um enorme potencial comercial«, mas «acabou por pesar o critério fundamental, o da qualidade literária«.
O romance intitulado «The Jewel of Medina«, é a estreia literária da jornalista norte-americana Sherry Jones, e viu a sua edição recusada, em Agosto, pela Randon House, alegando que podia incitar à violência entre grupos radicais islâmicos.
Um comentário:
A auto-censura sempre esteve presente sob a forma do economicamente viável.
Hoje em dia é economicamente viável não levantar ondas sobre aquilo que é considerado politicamente correcto, especialmente quando tal toca assuntos tão melindrosos como religião, com especial foco sobre a muçulmana.
Para quem já leu os Versículos Satânicos de Salman Rushdie, e sabe quão intolerante é a religião muçulmana, não esquecendo a polémica dos cartoons, sai bem mais barato recusar a publicação de um livro por ser de extrema pobreza literária, quer o seja ou não, já que esse tipo de análise cabe aos críticos e aos leitores, do que arriscar a polémica, tantas vezes amiga dos cifrões, mas sob risco do fundamentalismo que pauta as reacções da comunidade muçulmana.
Como comentar? Fosse a decisão minha e ia certamente passar muitas noites em branco antes de tomar uma posição.
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