Ontem à noite dei por mim de cabeça ligeiramente inclinada para cima para lhe conseguir olhar a cara. Estávamos as duas na cozinha a despedirmos-nos dos dez anos dela, e eu, que há muito sabia que ela era grande, senti-me, pela primeira vez, pequena.
E ela é grande em tudo. Até na forma como se mete pelas nossas vidas dentro e as vira do avesso, sem nos dar tempo para pensar, muito menos para dizer o que quer que seja. Faz hoje onze anos que nasceu e cada vez mais me convenço que foi ela que puxou os cordelinhos, que foi ela que decidiu que era altura de sair lá do limbo onde estava, nos voltou a juntar a mim e ao pai para nos trocar as voltas na volta daquele ano a estrear.
Desde o princípio que ditou as regras com o ar de enorme gozo de quem sabe distribuir o jogo e ficar com as cartas que ganham, como se isso fosse tão fácil para nós como é para ela. E ri-se, ri-se sempre.
Passou três meses, três meses certinhos, nem mais um dia nem menos um, a crescer dentro de mim sem dizer um ai. Quietinha, caladinha, não estava para ninguém. Escolheu o dia 1 de Abril para se dar a conhecer ao mundo, para nos dizer a todos enganei-vos, estou por aqui e preparem-se que vou chegar. A sacaninha até com isso brincou, que fazer-me pegar num telefone, no dia 1 de Abril, para um olá sou eu, estás bom? é só para dizer que vais ser pai outra vez, foi só a primeira das muitas partidas que me pregou. E tenho a certeza que já se estava a rir com os olhos, tal qual o faz agora.
Dias depois, muito poucos dias depois, voltou a mostrar-me que estava ali e que quem decidia era ela. O prazo para a amniocentese estava a acabar, tinha de ser feita depressinha e eu ainda nem tinha tido tempo para perceber que estava grávida quanto mais para pensar em todas as decisões que tal poderia implicar. A Clara tinha dois anos e eu tinha, muito frescos ainda, dias e noites de sofrimento imenso. Sabia que me era física e mentalmente impossivel passar por tudo outra vez. Não era a trissomia que me assustava, nunca foi, era a guerra da vida e da morte, eram os meses de hospital sem saber se a minha filha aguentava mais umas horas, era a certeza de que não iria resistir se tivesse de passar pelo mesmo. Fui para a sala de exames com a decisão firme de que abortaria imediatamente se me dissessem que havia problemas. Fiz os médicos garantirem-me que não haveria desculpas, nem filas de espera, nem conversas transcendentais - era feito e pronto.
Não, não era. Assim que os monitores de vídeo se acenderam eu, que sempre que olhei para eles só vi candeeiros de lava e nunca consegui perceber o que quer que fosse, nesse dia, e no que estava bem na minha frente, vi uma mão minúscula, aberta, como que num aceno de olá cheguei e daqui não saio pára lá com as parvoices e aguenta-te à bronca se tiver de ser.
Já não me lembro quanto tempo passou até a minha irmã me telefonar para dizer que tinha os resultados e estava tudo bem, mas também já não era importante. Fosse como fosse aquela mão já tinha tomado as decisões todas por mim.
E há onze anos atrás, no dia em que nasceu, confirmei o que já sabia - aquele nariz não iria nunca passar despercebido. E li a sina, a nossa, que a ela desde que deu o primeiro berro vejo-a a descer a Avenida da Liberdade, num primeiro de Maio qualquer, segurando um enorme cartaz a contestar seja o que fôr.
É a Francisca, faz hoje onze anos, e é maior que eu. Muito maior. Por dentro e por fora.
Há 2 anos
28 comentários:
Parabéns Cabra-Filha e Cabra-Mãe!!!
Parabéns Cabra Mãe, e sim, a Xica é Grande!
Muitos parabéns Cabra-Mãe por ter uma cabrita linda e muitos beijinhos parabéns ao sorriso lindo da Francisca
muitos beijinhos meus também, que sejam tempos felizes e cheios de graça
Parabéns Francisca, Xica! Da Catarina e David também. Beijos.
Parabéns à Francisca!
Ter 11 anos é tramado, dá-lhes a volta!
Re-Sol-Re
Como ja tens os acordes impressos o resto é ritmo.
Bjs parabens. Pa todas
Obrigada a todos e todas. A xica já cá vem agradecer.
Muito obrigada!
já te tinha dado os parabéns francisca, mas faltava que ficassem aqui! dá um beijo grande à tua mãe por mim:)
tava a ver que não, ó mau feitio jr...
(E eu vi a batota, xica... esperta)
:)
Gaija, meu anjo!
Hoje ela tá fora, podemos estar à vontade os dois...
:)
não está nada, peixão! aparece já com a remelice e a ciumeira!
Achas que sim?
Mas eu não consigo resistir a uns trocadilhos muito envolventes quando te apanho à mão, que posso fazer...
acabei de saber (não foi pelo vento na folhagem, mas não tem importância) que está mesmo fora. tu sabes tudo! tens uma bola de cristal?
É, para me ver no teu futuro...
:-)
sei que existes no meu futuro pela importância que tens no meu presente! por aí não me dás novas…
Então por onde posso dá-las, as novas e, bem conversadinho, as renovadas? :))))
(Bonita resposta a tua. Caiu-me bem. E assim o espero.)
as tuas novas trá-las o vento sul, que é sinal de chuva e por isso de cheiro de terra molhada. já mas deste, muitas, e nem sentiste...
Não me digas que sou mesmo sonâmbulo...
:-)
Tu também és uma lufada de ar fresco na minha retina, um sinónimo de experiências e de novidades agradáveis.
Uma boa nova, para ser consentâneo com o espírito da coisa.
;)
ai... então mas é outono e cheira-me a primavera?
as estações também são como o natal: quando uma gaija quiser!
(dizer que também és uma boa nova não me soava bem...)
boa nova?? boa sou, mas nova tem dias..
tem todos os dias do ano, NÃO É, chefa?
todinhos, com o 29 de fevereiro incluido...
Um beijinho de parabéns atrasado mas sincero. Daqui perto da EXPO 2008
J C Francisco
só hoje vi.
adoro a francisca.
adoro-te a ti. sempre. mas ainda mais quando, como com este post, me fazes comover desta forma.
és linda. ela é linda. vocês as três são lindas.
parabéns e um grande beijo a todas - à Francisca acompanhado de um grande abracinho.
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