Afinal ainda não se cansaram de falar, que pelo que parece as palavras não se gastam, apesar de já começarem a faltar.
No dia 9 de Julho fiz um post Parole, Parole, Parole, sobre a Eluana que nesta história toda é a única que não fala mas a quem toda a gente quer tirar palavras da boca.
A Eluana está há 16 anos ligada a uma máquina, em coma profundo, e o pai da Eluana quer a máquina desligada que a Eluana já se desligou há muito.
Apetecia-me dizer que aquela máquina já não é um suporte de vida mas é toda a vida da Eluana, só que eram mais umas trocas de palavras na vida sem palavras com que o destino trocou as voltas da vida da Eluana.
E por mais que eu queira ver por aqui humanidade, só consigo encontrar palavras. E a falta delas.
A notícia de hoje vinha no Jornal de Notícias e o título é mais um jogo de palavras. Um jogo que todos querem jogar e que fala de vida e de morte e de leis e de homens e de deuses e onde todos se arrogam o direito de dizer uma palavra e de pôr essa palavra na boca da Eluana. E a Eluana, neste jogo todo, também já é só mais uma palavra, que nem uma memória, no jogo das palavras, lhe dão o direito de ser.
Fica a notícia toda, mais uma vez sem mais comentários. Excepto à morte aspeada do título. É que quando até já as palavras começam a faltar embrulham-se assim e o jogo continua...
Tribunal impede pai de "matar" filha em coma.
O Procurador-geral de Milão recorreu da decisão da Justiça italiana de autorizar um pai a retirar a alimentação à filha, em coma há mais de 16 anos, relançando o debate sobre a eutanásia. Na primeira decisão, os juízes consideraram que a mulher preferia morrer a ficar em estado vegetativo.
O recurso pede ao tribunal para anular o julgamento de 9 de Julho último que autoriza o pai de Eluaba Englaro a interromper "a hidratação e alimentação forçada" que mantém com vida a filha de 36 anos, que entrou em coma na sequência de um acidente de viação a 18 de Janeiro de 1992.
O procurador-geral considera que os juízes "não estabeleceram com objectividade suficiente a irreversibilidade do estado vegetativo permanente" de Eluana Englaro e pede a suspensão imediata desta decisão, afirma a imprensa italiana citando meios judiciais milaneses.
Os juízes que analisaram o recurso afirmaram que estava provado que "o estado vegetativo permanente era irreversível" e que a jovem mulher "teria preferido morrer que ser mantida com vida de forma artificial" se tivesse podido exprimir-se.
O tribunal considerou estar provado que “o estado vegetativo permanente era irreversível” e que a mulher, caso pudesse falar, “teria preferido morrer que a ser mantida viva de forma artificial”.
O recurso do procurador-geral impede a cessação do tratamento administrado a Eluana num hospital de Lecco, norte de Itália.
A família Englano pede à Justiça, desde 1999, que deixe morrer a filha, mas boa parte da classe política italiana e a Igreja católica opõem-se fortemente contra a eutanásia e contra esta decisão.
O Vaticano reagiu, através do monsenhor Rino Fisichella, presidente da Academia Pontifícia pela Vida, considerando que a justiça italiana tinha justificado "de facto um acto de eutanásia".
O caso de Eluana chegou quinta-feira à Câmara de Deputados, com uma maioria dos deputados a considerar que os juízes não tinham competência para se pronunciar sobre as modalidades do fim da vida que reclamam ser da competência do legislador.
13 comentários:
ja comentei no parole parole parole 1 e mantenho a minha opiniao - quem tem poder para decidir isto?
e como ninguém tem poder para decidir, ou como ninguém tem coragem (ia dizer tomates, mas pareceu-me muito arrojado...) para o fazer, a Eluana, é(ra) gente, sim?, vai vegetando e a família dela vai morrendo...
Às vezes temos de tomar decisões lixadas, não temos?
(Isto agora é um aparte. Há uns anos, estava de saída para Madrid, a minha irmã telefonou-me a dizer que no Pediátrico de Coimbra estava tudo em pânico porque nesse dia já tinham entrado, e morrido, duas crianças com meningite. Desandei imediatamente para lá e saí com as duas receitas da vacina milagrosa. Era uma quinta feira. O problema era que receitas tinha duas, filhas também, mas vacina só arranjei uma. Tudo esgotado. Eu ia ao outro dia embora e vacina só na segunda feira. E agora, como decidir? Qual escolher?
Do caraças, não é? Pois eu tambem não consegui decidir. Ficou a vacina, a única, e as crianças, as duas, com a minha mãe e ordens expressas, minhas, que ou eram as duas vacinadas ao mesmo tempo ou não era nenhuma. Certo? Erradissímo, mas a única decisão que consegui tomar. Faltaram-me os tais tomates para mais...)
ela quereria?
ou, ela ainda quer?
ou - ela é?
é teresa. ainda é. e ai e que esta o problema
será? podes rsponder com toda certeza?
eu posso, acredito nisso
eu não tenho essas certezas todas... e o que penso é que há sempre muita pressa para nos armarmos em deuses e "dar vida", mas depois temos muito medo de tomar as decisões da morte...para a transformar num vegetal não foi preciso perguntar nada a ninguém, mas para a voltar a fazer gente, e a ter direito à morte, já é preciso muito papelinho carimbado. continuo a dizer que parecemos miudos a brincar com fósforos...
pois, mas o vegetal tem remédio. para a morte e preciso umas centenas de anos de profecias e mais uma série de coisas complicadas. mas sobre os papeis nada a dizer. isso que apoio de forma incondicional, que papeis? quem os faz?
se algum dia eu for uma eluana, faz o favor de escarrapachar na cara de toda a gente o que vou escrever:
desliguem tudo!
a vida, o meu conceito de vida, não é estar anos a fio amarrada a uma cama e ligada a máquinas, sem qualquer capacidade cerebral.
o problema gaija é que depois há sempre alguém a querer dar uns palpites e a discutir o conceito de fios, amarrada, capacidade, etc etc...
nada mais a dizer
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