A maratona Olímpica.

Vão entrar pela Porta da Maratona, no estádio do Ninho de Pássaro. Um deles há-de vir já destacado, ou talvez não, talvez entre perdido no meio do molhe mas, nos últimos metros, vai buscar o resto de pulmões que ainda tinha guardados, faz um arranque, e corta a meta na frente dos outros todos.
Ganha o ouro. Fecha os jogos. Ele, o vencedor da maratona.
Atrás, com prata, bronze ou só um cansaço enorme, estarão todos os outros, os homens. Os atletas. Os participantes na maratona masculina.
As mulheres? As mulheres correram na véspera, que a maratona pode ser a prova rainha mas são só homens que ali estão.
E é assim em todas as provas olímpicas, homens para um lado, mulheres por outro. Records femininos e masculinos, que não há aqui misturas e não me parece que tenha sido uma exigência da China.
Lógico não é? Justo, pois claro, que basta ver os tempos, os metros, os pesos, as alturas, para se perceber que se o ouro fosse disputado a meias as mulheres não lhe punham as mãos em cima. E se uma miúda de 12 anos pode disputar a medalha a uma mulher, e até a podia ter ganho, mulher nenhuma o faria com um homem, que não somos parvas.
Rosa Mota e Carlos Lopes. Duas medalhas de ouro. Duas maratonas corridas. Tempos diferentes. O Lopes é melhor? Não, não me parece, mas a Rosinha não teria a medalha se ele fosse a correr ao lado dela.
A nossa maratona tem os mesmo 42 quilómetros e uns tantos metros que a deles. As regras são as mesmas, porque certo é que seja assim. Mas os pulmões são diferentes e não podemos competir com eles.
Mas se isto é assim e se se percebe, se se aceita, se se acha justo, porque é que nas maratonas que corremos todos os dias vai tudo ao molhe mesmo que sem fé em deus?

Sempre achei que nós, mulheres, nesta coisa da igualdade enrolámo-nos e deixámo-nos enrolar. Nos nossos jogos da vida andamos lá, lado a lado, a esgotarmo-nos a correr para, na maior parte das vezes, não chegarmos sequer ao bronze. Somos piores atletas? Não, somos só diferentes, muito diferentes, e a pretensa igualdade de hoje é mais injusta ainda que a descriminação de facto de ontem.
Não me tratem como um cristal, que não o sou, não me dêem um "empregozinho de mulher", que não sei o que isso é, mas também não façam depender da minha disponibilidade, da minha exclusividade, da minha entrega total aquela corrida a medalha a que posso ter direito, porque de certeza absoluta que não posso, e não consigo, correr o mesmo que eles.
E vamos sendo vencidas nestas corridas, e vamos suportando a euforia dos vencedores, e vamos continuando a correr a maratona que não podemos ganhar. As regras podem ser iguais, mas o jogo está viciado à partida, que o que é desigual não pode nunca ser tratado como igual e eu, dê por onde der, sou uma mulher, não sou um homem.

21 comentários:

gaija do norte disse...

nunca somos vencidas! os jogos são diferentes. eu entendo o meu assim, e nunca ninguém me vence!

Teresa disse...

da porta de casa para dentro o meu é diferente... lá fora é molhada mesmo

gaija do norte disse...

lá fora és inteligente demais para jogar outro jogo que não o teu. pode transparecer que jogas o deles, mas é mentira! se assim fosse não aguentavas...

Teresa disse...

isso é muito giro, mas na pratica é assim - crianças para apanhar na escola, se eu não for não vai ninguém... trabalhar a essa hora? nem pensar... claro, colega faz... depois, se quero compensar, fico até às tantas da manhã no computador... saidas à noite? deve ser giro, já não me lembro...
estamos em todas as frentes, mas é dificil conseguir segurar todas as pontas. E não nos pedem menos que isso - ganharmos em todos os tabuleiros.

gaija do norte disse...

mas esse é só uma parte do teu jogo, ou antes do jogo feminino, e já está ganho antes de entrares em competição. devem ser muito poucas as mulheres "bem casadas" que se podem dar ao luxo de dizer que com elas não é assim.
agora pensa na outra parte do jogo, no da rua, no da profissão, no da sedução... esse é que é o jogo que dá luta

Teresa disse...

claro que dá mas é também nesse que eu digo que estamos em desvantagem - é mais um no meio de muitos.

gaija do norte disse...

estou quase a dizer asneiras...

@na disse...

Pois eu cá não me sinto em desvantagem n-e-n-h-u-m-a, muito pelo contrário!

Anônimo disse...

mas será possível ainda haver mulheres que vão na cantiga da 'igualdade dentro da diferença' sem se aperceberem que essa 'fórmula mágica' de acabar com a famosa 'guerra dos sexos' não passa de uma segregação, pretensamente igualitária, que só serve para aumentar mais e mais a discriminação?

@na disse...

mas qual discriminação??? Eu não me sinto discriminada com nada...

gaija do norte disse...

não vou em cantiga nenhuma. vivo a minha realidade sem me sentir diferente nem discriminada, isso sim.

@na disse...

11

@na disse...

porra gaija...

Teresa disse...

Minhas meninas estamos a falar de nós, que apesar de tudo temos vidas privilegiadas e até podemos estar aqui a brincar com isto. Quantas o podem fazer? Até onde é que a igualdade, que não tem em conta as diferenças, as protege?
Melusina, como é que a igualdade dentro da diferença segrega mais? Vamos a um exemplo prático. Não acha que, tendo em conta que as mulheres, a maior parte, tem por sua conta as tarefas domésticas, e estou a falar de Portugal e da grande maioria das mulheres, deviam ter horários de trabalho diferentes do dos homens? Claro que isso levaria os empregadores a não quererem empregá-las, mas e hoje, se puderem escolher entre um homem ou uma mulher para a mesma tarefa, quem acham que escolhem?

issufo napakova disse...

isto é conversa de gaija mas não resisto e vou ter que meter uma colherada. comecei a ler essas cenas de igualdade (de géneros) e parti-me a rir. se há igualdade eu sou o pai natal, gaijas. tudo bem, elas até começam a estar em maior número nas faculdades. mas vejam, por exemplo, em alguns cargos públicos como é que a coisa funciona. já quiseram reservar um número de lugares para elas em instituições (os gajos até são fixes, gaijas, para quê tanta conversa?). nos lugares de topo das empresas, há muitas gaijas? claro que não! quem é que costuma levar 'nas trombas' quando se fala em violência doméstica, humm? enquanto se discutir este assunto de géneros é porque a coisa ainda vai demorar... lamento gaijas (eu até tenho muitas gaijas lá em casa).

Teresa disse...

obrigada zé... isso é o que digo. não somos iguais e as vidas não são iguais. e sim, há muita descriminação e a história da igualdade na desigualdade ainda veio fazer pior.

gaija do norte disse...

com isso também concordo! eu sei que sou uma felizarda por não me sentir discriminada mas sim e sempre igual, mas que ainda existem muitas, cá no meio da nossa democracia toda, que são meras máquinas de fazer e criar filhos, levar porrada dos maridos e trabalhar forte e feio para garantir que alguém come dentro das suas casas. e essa ideia das quotas foi quase, se não mesmo, humilhante...

shark disse...

Um gajo aqui a secar no monte das oliveiras e dos pregos népia... :-)
Eu discrimino gajas e assumo. Rejeito todas as que não têm idade para tirar a carta de condução.

gaija do norte disse...

taditas!!! ;)

O Santo disse...

os jogos olimpicos incluem 10 provas mistas....

just to know

Teresa disse...

Quais??