Será um posfácio ou mais uma edição revista e corrigida?

Por vezes lembro-me de uma ou outra e pergunto-me o que lhes terá acontecido. Pessoas que por uma razão qualquer tiveram os holofotes da curiosidade das gentes em cima, andaram nas bocas do mundo e atravessaram-se assim nos nossos dias. Pessoas que por algum tempo fizeram parte das nossas conversas, sentaram-se connosco à mesa, a quem esmiuçámos a vida, tratámos por tu e deixámos para trás, para darem lugar a outras pessoas e outras histórias e outras vidas.
Hoje, no sítio mais improvável, tropecei numa delas. Foi na caixa de gmail, mas não era um email com notícias de longe. Era um link azul, em cima, para uma notícia. E um nome. Um nome conhecido. Por mim e por quase toda a minha geração.
Ela chama-se Christiane e tem agora 46 anos. Foi-nos apresentada a todos com 13 e tinha como sobrenome um simples F. "Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituta". Um dos livros mais lidos quando andámos no liceu.
Ela, Christiane F., 46 anos, drogada. O prostituta não faz parte desta história, talvez por ser contada na terceira pessoa, mas a miséria da vida não se lhe descolou da pele.
Não voltou a escrever outro livro, mas continua a ser notícia, que a desgraça humana vende sempre jornais e todos nós gostamos de saber por onde anda e que tem feito um velho conhecido.

A alemã Christiane Felscherinow - protagonista do best-seller da década de 70, Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída - voltou a ganhar destaque na imprensa alemã por, supostamente, ter voltado ao vício, aos 46 anos de idade.
Uma reportagem do tablóide berlinense B.Z. diz que a recaída foi um dos motivos que levou as autoridades do país a assumir a guarda do filho de Christiane, de 11 anos. De acordo com o jornal, o menino está morando em um abrigo para crianças nas redondezas de Berlim. As autoridades estudam entregar o garoto à avó materna dele, e Christiane poderá visitá-lo regularmente. Christiane F. tomou a primeira dose de heroína aos 13 anos e aos 14 começou a se prostituir para sustentar o vício.

Fuga
O novo drama de Christiane teria começado no começo desse ano, quando ela e o namorado decidiram emigrar para Holanda, levando o menino. Ao tomar conhecimento do plano, o juizado de menores tomou a criança da mãe, com ajuda de policiais. Pouco tempo depois, ela seqüestrou o próprio filho e fugiu para Amsterdã. Na capital holandesa, Christiane teria voltado a consumir heroína. Após brigar com o namorado, a alemã voltou no fim de junho à Alemanha e, ainda no trem, entregou seu filho à Polícia Federal alemã. Segundo a imprensa local, amigos e conhecidos contam que Christiane tem buscado as antigas amizades da época das drogas, passa a noite na casa de amigos e freqüenta uma praça de Berlim famosa como ponto de venda de entorpecentes. O tablóide Bild cita a mãe de Christiane, que teria visitado o neto duas vezes no abrigo infantil. Ela se disse “chocada” com a situação e não sabe o que fazer para ajudar a filha. De acordo com o periódico, o juizado afirmou que a criança só poderá voltar ao convívio da mãe caso Christiane supere seus problemas psiquiátricos e a dependência de drogas.
Recaídas
Após uma trajetória de repetidas tentativas de desintoxicação, a alemã parecia ter vencido a luta contra as drogas apesar de ter admitido, durante uma entrevista à televisão alemã em maio do ano passado, que temia “recaídas”. Christiane ainda disse que ingeria com freqüência a metadona, um medicamento usado na terapia para dependentes de heroína. "Tomo diariamente uma dose pequena", afirmou, contando ter medo de enfrentar novos problemas que a impedissem de criar seu filho. “De outra forma, não sei o que aconteceria", disse Christiane F. na época. "A metadona é para mim uma segurança, para que eu não caia num buraco." Desempregada, dizia ainda se sentir à margem da sociedade, tendo como sua principal fonte de renda o dinheiro que recebe mensalmente pelos direitos do romance que a tornou famosa.



5 comentários:

O Santo disse...

Tal como no caso dos medos de um post abaixo, não é só o mostrar ao mundo que resolve os problemas. Somos seres únicos, com problemas e precisamos de ajuda. Mas também precisamos muito de nos ajudar.
Esta relação do "eu" com o Mundo tem esta particularidade engraçada, fazemos o que não queremos ou que não concordamos.
E desculpem a referência, mas já S. Paulo dizia isto... penso que passaram 2000 anos...

Anônimo disse...

Quando eu tinha 15 anos, soube pelos maus pais que o meu irmão um ano mais velho era toxicodependente. Não sabia muito bem o que isso era mas percebi que devia ser mau. Cresci a ver ressacas, mentiras, sonhos, promessas, desilusões, manipulações, gritos e os meus pais cada vez mais pobres.
Ao final de 20 anos e pelos menos 100 mil contos, uma quinta, carros, ouro e a saúde e sanidade mental de todos desaparecerem, o meu irmão faleceu.
E só sob um anonimato é que se confessa que foi com alivio que soube da noticia. A paz de alguns começou com a morte de um.
E só quem nunca viveu semelhante é que pode criticar.

Teresa disse...

Milu, percebo bem muito do que diz.

sem-se-ver disse...

um abraço, milu.

Anônimo disse...

imagino que seja uma enorme tristeza,

votos de felicidades para os que sobreviveram,

e perdoem-no, agora que já foi