E nem é o meu cão, que já começo a perceber que ele acha que eu é que sou dele. Tal como tudo o resto é dele.
Não sei de onde veio, mas infelizmente sei para onde vai - para lado nenhum, que o tipo colou-se aqui e não vai despegar nunca mais. Apareceu com ar miserável de cachorrinho abandonado, foi-se insinuando, umas lambidelas aqui e uns ronronares ali, saltos de alegria quando nos via e uma humildade que fazia dó. Depois de uma semana a dormir ao relento conseguiu o que queria e foi convidado a entrar, com direito ao tratamento completo - casa, comida e pêlo lavado.
Foi a sorte dele e a minha desgraça, que assim que se apanhou cá dentro nunca mais saiu. E lá lhe caiu a pose de cachorrinho abandonado.
É verdadeiramente insuportável porque tem todos os defeitos que não tolero.
Ocupou os espaços que quis, que quem manda é ele, mas sempre com aquele ar de sou um desgraçado e não me ligam nenhuma. Pôe-me doida quando começa a ladrar esganiçadamente, faz mais barulho que uma matilha de cães selvagens, mas é de uma cobardia atroz. Segue-me para todo o lado fazendo um barulho irritante com as unhas no chão, num sim, estou aqui, é bom que repares!
Fidelidade canina? Não, aqui não há amor, não há lealdade, não há sequer um pequeno reconhecimento pelo tecto que lhe demos. Há só a enorme arrogância de quem acha que tudo o que lhe dão é por direito próprio e se cá está ainda lhe deviamos agradecer.
Ontem, depois de ver mais uma mijinha nas pernas do grelhador, percebi que não gosto mesmo dele. Não gosto do isto é tudo meu e xixi é à porta da cozinha, que quero marcar bem os meus sítios para ver se vocês percebem, que as árvores logo ali não fazem parte do meu mundo. Não gosto que se enfie por baixo da secretária e se deite em cima dos meus pés, porque não o faz por carinho mas com ar de posse, és minha e daqui não te deixo sair nem te largo a perna. Não gosto do estômago delicado que o faz arrotar horas seguidas até se decidir, finalmente, a vomitar mais uma vez em cima da carpete, que ali é que é bom que toda a gente percebe como é um pobre doente. Não suporto os rolos de pêlos brancos a voar pela casa, não suporto os ataques histéricos, não suporto a maldade que o faz rosnar e atirar-se a nós cada vez que é contrariado. Não suporto que não deixe que ninguém se aproxime de mim e me faça uma festa, me dê um beijo, me sente ao colo, que aí está ele doido a tentar saltar-me para cima.
Não suporto o cão, pronto, porque tenho a certeza que fosse ele um gajo e era um estupor de um marialva ciumento, que de certeza absoluta se sentava no sofá a ler o jornal enquanto esperava pelo jantarinho, me trancava em casa, me violava na cama e me levantava a mão para mostrar quem mandava. O meu dono.
É só um idiota de um cão, mas se não me transformou numa vítima de violência doméstica não sei o que mais poderei chamar a isto.
Há 2 anos
19 comentários:
quando tiveres visitas de longe, droga-o e enfia-o na bagageira com um lacinho ;)
Parece o Milu do Tintim.
vem cá outra vez vem... vais ter uma surpresa branca e peluda quando voltares para casa..
Milú, pois parece. Foi assim que ele me enganou... mas nem todos os cães brancos são o milu e nem todos os milu são o cão do tintin...
nããã... voltarei concerteza, disso podes estar certa, não ye escapas à bela da sangria na rede das aranhas, mas quando chegar ao portão faço uma vistoria ao carro. Nunca fiando, minha cara, nunca fiando...
vai escondido... ou no teu carro ou noutro qualquer um dia vai...
no meu não, que eu levo um detector de passageiros clandestinos
(la tenho de comprar uma moto para provar a sangria...)
e eu a pensar que vocês eram meus amigos, mas nem com o pobrezinho de cão me ficam...
amigos amigos, sangrias à parte
(os ditados populares cada vez estão mais estranhos)
e eu a pensar numa orgia à romana...
são loucos estes algarvios...
diz o gajo gordo de calças às riscas. bem... gordo não, um bocadito mais forte
(ideiafix, que axas?)
mas eu sou uma algarvia especial que vivo numa pequena aldeia que resiste ainda e sempre ao invasor..
Tou aqui tou a mobilizar as legiões...
eu quero é provar a poção, que este blog é só políticos, promessas, promessas e depois népias.
poção para quê, ana? começa-me a parecer que até das tais legiões nós davamos cabo sem precisarmos de fazer grandes esforços...
poção=sangria (dahhhh tenho sempre que explicar tudo...)
mas dessa já publicámos as receitas todas e poção poção tem de ser secreta...
o Druídafix também a faz e distribuí, eu não sou o obelix...
A minha é uma cadela com 15 quilos e também me segue com os irritantes tique tiques das unhas no parquet...Benditos gatos que dormem e não me ligam nenhuma. agora está na quinta /canil de luxo do vet, a aterrorizar os outros canitos, mas aposto que está cheia de saudades....mas aqui em casa cumpre o seu dever e ladra a toda a gente que se aproxima da porta, nem que seja para ir para o elevador e sinto-me segura.
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