Estava eu a arrumar a minha caixa de email quando me deparei com um contacto telefónico que ainda não cuidei de gravar no telemóvel.
E dei comigo a olhar para o visor do equipamento. “Nome”. E eu: “Visconde”. “Apelido”. E eu: “Viladoconde”.
Abro aqui um pequeno parêntesis. (Não vale a pena insistirem que eu não vou mesmo fornecer a hotline Visconde. Mesmo que seja a própria Soraia Chaves a pedir, desesperada por se ver preterida por um macho de tal calibre. Mesmo que a Soraia Chaves faça aquele olhar de cachorra abandonada e o beicinho e se incline ligeiramente para eu não poder deixar de reparar no decote e me faça promessas e propostas indecorosas ao ouvido com voz de anúncio da Optimus. Não dou). E fecho agora o parêntesis que não é pequeno mas foi o que me apeteceu.
Claro que o senhor Visconde sabe tão bem como eu que não queremos saber do nome de gajos para nada, basta uma alcunha e tá a andar. E por isso até pode parecer normal que nenhum de nós precise de identificação para uma porção das nossas vidas se encontrar neste ponto de intersecção em que o Cabra se tornou.
E aqui pára o abichanamento (esta tem direitos de autor do próprio e ilustre colega).
O que me traz aqui é precisamente a constatação (confirmação?) de que podemos muito bem passar horas na palheta acerca de uma data de coisas aqui nas caixas e acompanharmos a evolução uns dos outros em muitos aspectos que nem nos ocorreria abordar fora deste contexto sem sequer sabermos o nome dos interlocutores.
Isso pode soar estranho. A mim soa mágico. Pelo que implica da nossa capacidade de comunicação e, acima de tudo, pela empatia que conseguimos gerar apenas com as palavras que aqui se arrumam algures. Pedaços de nós. Maior o pedaço quanto maior a emotividade, o desbocamento ou apenas o grau de timidez e/ou de privacidade a que cada um/a de nós se permita aqui, em html.
E quando me deparo com um post como o que podem apreciar logo a seguir ao que está abaixo deste e percebo que por detrás do enigmático Visconde de Viladoconde e lado a lado com o pintas cujo jogo de pernas é bem capaz de trocar alguns olhos na finta de corpo (uma categoria específica de macho alfa que somos ensinados de pequenos a ter sob a mira quando as nossas piquenas revelam apetência para a leitura), dizia eu que a par com essas características que a gente vai descortinando no perfil existe um fulano, cujo nome desconheço, que das duas uma: ou é um ganda músico (o que não deslustra em qualquer macho digno desse nome) ou tem mesmo a sensibilidade necessária, quase feminina (ambos sabemos que também não nos caem os parentes na lama), para a partir de um momento excepcional conseguir experimentar e descrever as emoções que o seu post desenha.
Tudo isto para dizer que a blogosfera é um espectáculo e que um destes dias vou mesmo insistir numa reunião de trabalho (chamemos-lhe assim porque homens como nós nunca “saem” uns com os outros) lá no Club ou numa esplanada baril onde um gajo possa beber umas bejecas, trocar uns pontos de vista e usufruir do silêncio cúmplice e sorridente que se instala entre nós gajos a sério quando a vista que passa no horizonte até calha ser muita boa.