Quero a minha revolução de volta.

Ela tem 11 anos agora. Eu tinha 11 anos em Abril de 74.

O quarto dela tem posters dos Jonas Brothers e da Hannah  Montana.
Eu tinha cartazes do PPD (sim, todos temos algo que nos envergonha...)

Caramba, eu nunca fui teenager, fui revolucionária! 
Tudo, na altura, se media pela Revolução. 
Não me lembro de  discutir música com o meu pai. Lembro-me de discutir política. Se ele era de esquerda eu ia ser de direita que generation's gap é generation's gap, mas não me recordo de grandes conflitos, que na altura as liberdades eram amplas e se não eram nós fazíamos com que fossem.

Poucos meses depois de Abril fiz a minha primeira manifestação. Tinhamos todos pouca altura, mas grandes cartazes.
Marchámos, primos, primos de primos e primos de primos de primos, pelo jardim da minha avó com cartazes onde as palavras de ordem eram simples - Não Queremos Sopa!
Podemos não ter conseguido atingir os nossos objectivos, mas ninguém nos disse para ficarmos caladinhos e sossegados. Eram outros tempos e liberdade era liberdade!

O poster do John Lennon nu apareceu no meu quarto pouco depois. Acho que a minha mãe, facha!, muito facha!, ainda disse qualquer coisa, mas eu devo ter ameaçado com o Vasco Gonçalves, ou mesmo o Otelo, e o Lennon lá ficou. O meu pai deve ter feito um sorriso dos dele e seguiu em frente. 

E lembram-se de como era na escola?
Tudo estava politicamente classificado.
Os comunas. Os MRPP. Os anarca. Os fascistas do CDS. Os Carneiristas. Os gajos do aparelho, PS portanto... 
E tinhamos fardas - querem que vos lembre dos pullover azuis escuros com calças à boca de sino ou dos lenços palestinianos? - tinhamos convicções profundas e tinhamos as hormonas adolescentes aos saltos. Saneámos professores, denunciámos informadores, fizémos parte de vários comité e achámos que estávamos a ser todos muito adultos, e sérios, e responsáveis e políticamente empenhados.

Porra. Erámos uns putos a tentar ser gente, mas agora não sabemos, ou eu não sei, como lidar com adolescentes tout court. É que agora as diferenças entre nós, os crescidos, e eles, os adolescentes, já não podem ser desculpadas com um 25 de Abril qualquer, e temos de lidar com os gritos do Ipiranga dos nossos filhos sem sabermos muito bem como isso se faz. E eu tenho de levar com uma parede de quarto cheia de posters da Bravo porque a gaijinha teenager gosta de usar fita cola nas paredes, sem perceber que aquilo faz parte dos braços de ferro que não precisam de revoluções.
Mas, pergunto eu em pânico, afinal de que partido são os Jonas Brothers? E a Hannah Montana? Aquela choca de certeza que vota Cavaco... 

10 comentários:

calamity jane disse...

Eu era mais canina, mas na minha escola eram todos fachos e eu fartei-me de levar porrada...

Teresa disse...

Tu nem digas nada que tareia foi mesmo o meu forte...

gaija do norte disse...

o gaijito queria por um poster do hulk ou lá quem era na parede do quarto. foi direitinho fazer companhia aos outros todos que nunca sairam do lado de dentro da porta do armário.
também gosto muito da democracia e do generation gap!

Teresa disse...

facha!

gaija do norte disse...

sou nada... os jogadores de futebol é que são feios!

Teresa disse...

Se calhar os Jonas não sei quantos são lindos...

gaija do norte disse...

mas tu tens mais estômago do que eu...

Teresa disse...

Estás a chamar-me gorda??
CHUAC!

gaija do norte disse...

não chefinha, não era desse estômago...

Unknown disse...

Tereza, fita cola, ai a tinta... Pede para ela usar aquelas coisas que parecem plasticina (tipo bostik/uhu) que não estraga... (eu ainda estraguei uma cama porque para não me tirarem as coisas usei supercola, ups...)