Em busca do tempo perdido

17 222 dias.
Do nascer ao pôr do Sol. Mais as noites melhor ou pior dormidas, as passadas em claro, as escuras, as boas, as menos boas, as más e as inesquecíveis.

413 327 horas.
Horas curtas e horas mais esticadas, com sessenta minutos passados num ai  ou com todos os segundos torcidos sem quererem escorrer. Horas minhas. Horas de todos os meus dias.

E essas horas, esses dias, esses pedaços no meu tempo e do meu tempo, onde inspiro e expiro, onde bebo e amo, como e trabalho, espero, desespero, corro, choro, olho, cheiro, sinto, penso, sofro, são as peças do puzle que me faz. E todas elas têm sentido, todas se encaixam na pintura onde o pincel não é seguro por ninguém e me desenha a mim.

Mas isso era se tudo fosse como nós o queremos. Como nós o escrevemos em juras de tem de ser. 
Tenho horas, tenho dias, que  se soltam dos outros e teimam em buscar um sentido que não têm, que nunca tiveram, mas que por ele existiram. Ou que, penso eu em dias bons, têm um sentido que ainda não chegou.
São como maratonas sofridas e desistidas a metros da meta, escaladas ao Everest que ficaram pela última base onde já se vê o topo que não se alcança, panarícios lancetados no meio da dor e que nunca chegaram a cicatrizar.
São tempos que, ainda que não perdidos, não foram cumpridos.
Tempos duros, tempos gritados, tempos chorados, penados, desesperados. Tempos nunca esquecidos. São as almas penadas dos meus dias passados que vagueiam na minha vida à espera da salvação final. À espera da redenção. À espera de um sentido, de um virar de jogo que me deixe olhar para eles e ouvir o primeiro choro da criança que, nascida, faz esquecer os rasgares do parto.

Dá-me o meu tempo perdido. Não queres, não podes, não consegues por ti, faz por algumas das minhas horas, dos meus anos, dos meus dias mais negros. Dá-lhes o sentido que merecem, a extrema unção que os deixará descansar enfim. Diz-me que foram passos que tinham de ser dados para lá chegares, e chega. 
Chega e fica. De uma vez por todas! Não andes a escalar montanhas para nunca chegares ao topo. Não te enganes com as primeiras neves, nem nos enganes a nós que te preparámos há muito a mochila e te segurámos as cordas cada vez que o pé te escorregou. Que te aguentámos o peso, que gelámos tal como tu gelaste, que sofremos sem podermos fazer mais, porque a bandeira estava e está nas tuas mãos. Chega ao cume ou desiste de tentar trepar trilhos que não são os teus.  As Capelas podem ser Imperfeitas mas estão acabadas há muito. E esse, mesmo que imperfeito, também pode ser um fim.
Deixa-me é arrumar o meu tempo e dar-lhe um tempo no tempo que já passou.

16 comentários:

shark disse...

Nunca me tinhas deixado sem fôlego, Chefa...

Visconde de Vila do Conde disse...

(só para que saiba que li)

Teresa disse...

Tirei-te o fôlego, Tubarão? Deve ser das companhias.
:)))

Teresa disse...

(tomei nota)

calamity jane disse...

Desculpem lá companheiros, mas eu agora tenho de dizer

FODA-SE!!!

(pronto já disse)

diácono remédios disse...

(Ela disse o que me pareceu que ela disse?)

Mente Quase Perigosa disse...

CJ, macacos me mordam o rabo já aqui e agora se não pensei o mesmo!!!

Seguido de um: "PQP!!!! Como eu gostava de ter no corpo todo o talento que a gaija tem na unha do pé!!!!"

Dasse...

Mente Quase Perigosa disse...

A ti, Tereza, não tenho palavrinhas para dizer. Às vezes, fico assim, despalavrada para com o autor da coisa.

Dasse...

CybeRider disse...

(Dizer até dizia, ainda estou estarrecido... desde há duas horas, já li três vezes... A ver se aprendo alguma coisa...)

E "panarícios" é muito bom!
(Por escrito, quer dizer... Bolas que até estou tonto...)

Mente Quase Perigosa disse...

Eh pá, é que não lhe consigo dizer nada... O que é que se diz perante a perfeição?

Eu sei que ela gosta do Sócrates e tal e o Magalhães, mas não lhe vou dizer: "porreiro, pá".

É que qualquer coisa que uma pessoinha escreva depois disto é pálido, insonso, desenxabido, completamente desprovido de melodia ou sentido.

Anônimo disse...

bem escarpado, Tereza. Todos levamos as bandeiras, que história é essa que querer passar a responsabilidade para o outro?

Num tempo fora do tempo está tudo arrumado,

Teresa disse...

Pronto, lá fico outra vez com Síndroma CJ...

Teresa disse...

Não Z, não estou. Sabes, há um velho provérbio alemão de que gosto muito - "Podes levar um cavalo até à ribeira mas ele só bebe se e quando quiser."

Unknown disse...

li e reli e tenho a certeza que o voltarei a ler...


(entretanto, estou sem palavras)



bom dia, tereza

Teresa disse...

Bom dia, elle.

calamity jane disse...

Sindroma CJ?