Urgência de Hospital (1ª parte de muitas, pelo que já me está a parecer)

Há menos, muito menos, de meia hora que aqui estou e já tinha matéria para vários posts, ou mesmo teses de doutoramento.
Iniciei-me em grande, com uma funcionária solícita a explicar-me que "Ami" - eu pensava que tinha dito Ani e com Y, mas deve ser do meu sotaque nortenho - é "o nome de uma instituição". Agradeci bastante a preciosa informação e o voluntarismo com que foi dada e vim sentar-me com o rabo entre as pernas e pedindo desculpa por ter mostrado tamanha ignorãncia. Consegui, apesar de tudo, manter o riso bem resguardado.
Silêncio profundo na sala até chamarem uma senhora que até aí se mantinha, como todos os outros, sossegadinha num canto. O sossegada e calada era uma porém mera ilusão, que assim que ouviu o nome arrastou-se até à porta não parando de dizer bem alto ai nossa senhora, ai nossa senhora, ai nossa senhora. Aqui, sim, aqui, foi-me muito mas muito mais difícil conter a gargalhada, mas lembrei os sábios conselhos da minha amiga gaija. Os torceres de cara terão assim passado a esgares de dor e já decorei aquele ai nossa senhora para usar no momento certo porque deve ser eficaz. Pelo menos ela já está lá dentro.
Pronto, aquela ligeira animação foi o suficiente para se instalar um verdadeiro ambiente de arraial. A rapariga de vermelho já fez um escândalo no guichet de entrada, o homem de boné tenta explicar a toda a gente como o hospital Amadora Sintra é grande, o Ucraniano ouve e vai dizendo fónix - não sei se simples se com ph - e eu vou retirando úteis informações sobre vermelhos, amarelos e brancos - será que se estão a referir à agenda telefónica do comendador? - e contabilizando horas de espera. Parece que a média vai em sete horas, acabei de voltar a ouvir, sete horas, e acho que não preciso de muito mais para me sentir sã que nem um pêro (ups, agora um rapazinho de fato e gravata acena com processos de possíveis negligências e ameaça com reclamações no portal do ministério da saúde, que o livro de reclamações vai para o arquivo morto, mas isso já sabiamos que a rapariga de vermelho, que trabalha com essas coisas, já nos tinha esclarecido.)
Eu, à falta de jantar, tomei uma decisão. Enquanto tiver bateria no portátil estou cheinha de dores. O apagar do bicho vai ser a minha cura miraculosa. É a única decisão sensata. Sim, sei que tenho uma coisa daquelas bicudas que acho que se chamam cunhas, mas se tento atravessar aquela porta bem guardada na frente de um destes desperados saio daqui muito pior do que entrei e com muito menos saúde.

20 comentários:

Anônimo disse...

primeira parte de muitas, mas o que se passa? Não não quero que contes mas vou já amnhã meter ali uma cunha ao meu Cristo para ti, funcionou para o meu aristóteles há-de funcionar para outros a que bem quero, mesmo nunca lhes tendo posto uma pata no cabelo.

E entretanto deixa-te encantar com um desses enfermeiros é do melhor que há, simpáticos, bonzões, olhos brilhantes e dentes branquinhos,

Anônimo disse...

já estou a caminho das galinhas, mas tens aqui beijos

http://www.youtube.com/watch?v=xRqI5R6L7ow

O Pinoka disse...

Amadora Sintra, Amadora Sintra...
Nem é bom lembrar.
Beijocas

gaija do norte disse...

z, estou toda baralhada! a caminho das galinhas com penas de ganso ?!

Anônimo disse...

(nós cá temos de nos fazer às modas e à meteorologia: andamos numa de quetzalcoatl, a serpente emplumada, e as galinhas dão jeito porque atrás vem um raposo inocente, além de que sempre tive um fraquinho por galinhas, tadinhas)

gaija do norte disse...

(está bem, está... manda-me o raposo e podes ficar com as galinhas, tadinhas :))

Anônimo disse...

então mas o raposo é para ficar enroscado comigo, as galinhas é na sala

mas eu depois penso melhor nisto tudo, e ainda há o escritório

bem, vou mas é para o edredon que esse não foge

bjo

sem-se-ver disse...

as melhoras, que se estás nas urgencias nao deve ser coisa agradavel. beijo.

gaija do norte disse...

despacho telefónico:

estou com dois chiliques e a fumar um cigarrinho a ver se passa. já fui vista e revista pela neurologia, que confirmou todas as suspeitas e me despachou a grande velocidade, dando-me como um caso perdido. agora vou lá para dentro, e se sobreviver à selva da sala de espera, tentarei ligar o meu computador. feliz natal cheio de propriedades.
teresa dixit

gaija do norte disse...

z, pelo menos o edredon não nos falta :)

bj

Anônimo disse...

Teresa: faz como eu, desde que me despediram que não me dou ao luxo de adoecer, eles queriam era que eu me suicidasse, logo, como não gosto de dar nozes aos algozes até me passaram as dores nas costas,

que nos meis académicos conta-se que a vingança serve-se fria

e a minha leva mayonaise, feita por mim

cereja disse...

Caríssima, urgências para mim própria nunca estive (ou talvez, mas não me lembro que não estava consciente) mas tenho um historial de acompanhamentos que dava para um livro!!!
E o raio é que os 'habitués' sabem normas que nós não sabemos. Uma vez acompanhei uma doente, mas era a uma consulta. marcada pelo próprio hospital. Como ia de cadeira de rodas teve de se chamar bombeiros, etc, etc. Depois chegámos às 9, a hora indicada , e fomos atendidas às 2 da tarde. Parece que é normal. m´dica quando nos viu exclama: mas está de cadeira de rodas! devia ter passado à frente!
Ah é? E algumas das meninas que atendem ou auxiliares de enfermagem informou disso?... Mas eu reparei em muitas doentes que mal a porta se entreabria, metiam a cabeça dizendo que era só uma perguntinha.... e ficavam!

Teresa disse...

Emiele, ontem percebi que se usarmos a urgência de acordo com a norma, ou seja, sem ser para urgência alguma, pode ser um dos sítios mais divertidos que conheço. É que é realmente difícil conter as gargalhadas tal o número de sketchs montyphytonianos.Deve ser para passar um bom bocado que aquelas pessoas todas, com ar de respirarem saúde por todos os poros, ficam por lá horas sem fim. E também percebi que os clientes habituais já têm o santo e senha que abre todas as portas, mas estou segura que com mais umas visitas conseguirei perceber as regras do jogo. A primeira já a sei - ser portadora de uma saúde de ferro envolta num ar de profundo sofrimento.

Marias disse...

Amadora-Sintra, mas a que propósito? Esse é um bom inferno...
A minha mãe agora é cliente das Urgências da Luz, mas a meio deixa de ter dores de barriga para lhe doer o peito e depois a médica diz que já não é nada com ela...

Teresa disse...

Tenho de ter uma conversa com a tua mãe. Agora estou cheia de truques...

gaija do norte disse...

(se precisares de mais alguns, apita!)

Teresa disse...

Piiiiiiiiiiiiiii

Teresa disse...

(aquilo era um apito...)

cereja disse...

Por acaso o que «conheço» melhor é exactamente o Amadora Sintra! (sempre como acompanhante, é certo) E tenho histórias para todos os gostos. O que me tem enervado mais é a 'espera da triagem'! Porque aparentemente, antes de se saber se uma coisa é urgente ou não, deve ser logo visto, penso eu. Mas não é assim. Esse tempo, até se ser chamado para a triagem deixa-me enervadissima. E já acompanhei um jovem adolescente com uma dor estranha (que afinal era bem grave porque era uma pericardite com um derrame já grande em redor do coração) que foi bem atendido, reconheço, um doente de psiquiatria que apesar de ir já encaminhado para o internamento foi incrível a primeira abordagem, de uma estupidez que apetecia fazer queixa, e várias vezes uma doente com Parkinson que ia com fracturas ou delírios graves.
Dizem que o ir-se directamente do Centro de Saúde é melhor mas não acredito. Assisti às queixas de uma senhora que vinha do Centro de Saúde mas tinha senha verde e esteve lá quase 24 horas à espera!!!!
Olhem que os privados são melhores mas... Leram o que contou o Shark?!

Teresa disse...

Emiéle, já tinhas decidido fazer um post, mais a sério, sobre isto. Vou aproveitar e respondo-te lá, pode ser?
(agora tenho de sair a voar que as crianças já estão à espera...)