2008 - A minha filha.
"odeio (cintos)"
"estás a ver, nunca me percebes, por isso gosto de falar com os meus amigos..."
"quando tiver um quarto só para mim oiço música alta à vontade"
" sou sempre eu, a Clara é a santinha..."
" esqueces-te que sou uma pré adolescente, já não sou uma criança"
"estás sempre a exigir, nunca ficas contente com as minhas notas"
1975 - O meu diário.
"a avó tentou dar-me um sermão mas já não cola"
"odeio (saias de peitilho)"
"ele é o menino da mamã"
"tenho doze anos e tratam-me como se tivesse quatro"
"nunca dizem bem de mim, 'tá mal! Se tiro um 17 querem 18 se tiro um 18 querem 19"
"quanto mais longe estiver desta casa melhor para mim"
Palavras para quê?
Como é que sendo eu tão diferente da minha mãe (será que sou?) e tendo elas uma vida tão diferente da que eu tive (será que têm?) é tudo tão papel químico? Serão o raio das hormonas que unificam assim os comportamentos?
Ao reler os meus diários percebo que pouco há a fazer para além do que já está feito. Vou ter uns duros anos de contestação pela frente, mas vou tentar nunca me esquecer destes cadernos milagrosos que escrevi há tantos anos sem sonhar que me iriam ser tão úteis. É que é muito bom poder usar-me como intermediária para a descodificação deste discurso.
E apesar de a paciência me faltar muitas, mas muitas, vezes, quando lembro como eu era tenho um orgulho ainda maior nela - é tão melhor que eu!
Há 2 anos
25 comentários:
Eu acho-te mais parecida com o teu pai, na argumentação e ironia. A tua mãe era mais, fazes e acabou-se.
fazes e acabou-se?? és uma eterna optimista...
não sei é genético mas cíclico é, sem dúvida. e acho graça, muita graça, que o meu filho use expressões que eu usei e faça as queixas que a mãe já fez :)
graça eu acho, mas é tão estranho estar a ver um filme onde já fomos actores principais... e estar a vê-lo sentados onde se costumavam sentar os críticos do regime.
mas nós já não somos os críticos do regime. temos a responsabilidade de não ser, de conseguir dar uma resposta diferente daquele "não" simples que por vezes ouvi. para nós é, apesar de tudo, mais fácil.
Queres saber um segredo, gaija? Eu leio o teu comentário e imagino o meu pai a dizer exactamente o mesmo...
pois é chefa, e foi o que ouvi da minha mãe.
sei que a "revolução" foi muito maior para ela do que será para mim, e também por isso tenho a tarefa facilitada.
no entanto espero, sinceramente, conseguir transmitir ao meu tudo o que a minha mãe me deu :)
Não sei para quem será maior a revolução ou se isso se poderá medir.
Sabes, ao reler os meus diários encontrei umas citações de Aristóteles. Copiei-as a 12 de Agosto de 76, e escrevi "para reler e meditar". Tinha 13 anos... Uma delas dizia isto " os jovens são propensos aos desejos e capazes de fazerem o que desejam, mas inconstantes. Depressa se enfastiam do que desejaram. As suas vontades são violentas, mas sem duração, exactamente como os acessos de fome e sede dos doentes".
Olha que devia ser dose aturar um estupor de 13 anos como eu devo ter sido...
acabaste de me dar um grande sorriso. muito obrigada chefa!
de alívio, espero... os nossos filhos, comparados connosco, são uns santos sem gémeas...
são os nossos, e por isso, muito melhores do que nós!
sem dúvida nenhuma... tirando aquela parte em que nos dão cabo da cabeça, mas isso só podem ter herdado dos paizinhos, como é claro.
só pode ter sido... os meus genes são todos excelentes!!!
e os meus nem são genes vulgares, são gen-iais...
Neste momento sinto-me mais uma adolescente rebelde, com uma mãe a criticar-me "estás a ficar gorda" e outros mimos, e no telemóvel é só sms "vens sair ou não?". Vai mas é um Xanax e piro-me pela janela. Ou elevador...
xefa, se leres o teu diário e comparares com qq miuda de 13 anos de qq altura não devem ser mto diferentes. Axo q nao é de mãe para filha, é de todas para todas... e todos em mtas das situações.
e deixa lá Gabs, a outra hipótese é o tás mais magro, comes mal, nunca te alimentas a horas e em condições, ainda ficas doente... e etc...
Gostei tanto desta posta, Teresa! E terminas exactamente com uma ideia q costumo exprimir imensas vezes acerca da geração deles. E quando "nos ouvimos" dizer-lhes aquelas coisas q nos faziam ir aos arames do estilo "eu não sou a tua amiga da escola" e etc?!...
Sim, eu já me ouvi a dizer "olha que eu sou a tua mãe! Julgas que sou alguma miuda da escola?". E ela faz 12 em Janeiro. Ai.
Mas nós darmos respostas iguais às que nos deram a nós é explicável, repetimos o que vimos, mas eles ( e elas) estão a estrear a vida, porque hao-de ser todos tão iguais? Será que é pavloviano, nós fazemos igual ao que nos fizeram e eles reagem daquela forma? É fácil pôr o foco neles, mas scho que o devíamos pôr em nós...
(obrigada Calamity...)
Querida Chefa: "Filho és, pai serás!"
Tive a reler um dos meus diários (de 1976) e não dizia nada do género, muito menos citava Aristóteles. Eu, só coleccionava uns "pensamentos" ou umas frases (já nem sei bem) que vinham na Reader's Digest que a minha avó me guardava religiosamente e que eu lia passado muito tempo da publicação (sabes o que é? Essa instituição da Reader´s Digest?)).
Bem o meu diário é literalmente assim: "Hoje gosto do Cané". (dá para acreditar um nome assim? Comentário actual!) No dia seguinte: "O Cané é mesmo infantil, um estúpido. Bem mas hoje depois de almoço, o Pedro veio ter comigo e ofereceu-me um chapéu de chocolate. Adoro-o!!!!" Passados 2 dias: "Conheci o irmão da Luisa P. chama-se Diogo, tem 16 anos, cabelo negro aos caracóis...é lindo!......."
Sim, é isso mesmo! Nós é q estamos em questão. Eles estão constantemente a colocar-nos "na ordem". Eles muito mais do que nós. ainda agora ouvi o meu filho (11 anos menos 12 dias) dizer umas quantas verdades ao avô (meu pai) como eu nunca fui capaz de o fazer. Com uma classe, uma assertividade... depois penso: alguma coisa terei feito para ele ser assim. Além do XX, i mean, e de o ter parido e essas coisas...
de nada Teresa, é um prazer vir ao Curral
Queres diários para a troca? Eu ontem encontrei uma divisão de gajos por nomes de comida... acreditas que um deles era o filetes e outro o pastéis de massa tenra?
(o Diogo P tinha cabelo aos caracóis??)
Calamity uma das cenas mais hilariantes a que já assisti foi a minha filha, que tinha 8 anos na altura, a tentar convencer a minha mãe a votar sim no referendo do aborto e com argumentos muito certos?
Eu também era mais como a Tabasco, com a diferença de que lhes dávamos alcunhas " o Calhaú andou a correr atrás de mim ..." "O Xouriço disse que o Calhau gosta de mim" "eu disse-lhe para ir passear", ele disse "só se fôr contigo". E o mais giro é que esse Calhau têve a filha na turma do meu filho no JI e ela se fazia a ele....(elas é que se fazem sempre, são umas atrevidas, os nossos filhos são uns santos).
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