Hoje por imperiosa necessidade, fui fazer compras a um supermercado.
Na azafama do tira coisa-põe no carro, deixa o carro longe e vai lá atrás a outra prateleira trazer outra coisa, para tudo ser muito rápido, voltei ao carro e tinha desaparecido.
You know the feeling - Não foi bem aqui que o deixei, mas tenho a certeza, que tempo perdido... já não volto atrás!
Nisto, reparo que a uns metros de mim, em sentido contrário, ia uma velhota, bengalita pendurada, saia desnivelada, cabelo branco desalinhado, a empurrar o (meu) carro. Expliquei-lhe com a minha maior simpatia (Aviso já que gosto de velhos!) a troca.
Ela, de cara doce (há velhos que não têm caras doces) e sorriso de avó, agarrou-me as duas mãos (eu tinha debaixo de um braço 2 Kgs de arroz e no outro mais coisas). As mãos dela estavam muito frias e calmamente, com todo o tempo que só os velhos têm, começou a explicar-me a troca inadvertida... a maçada que era agora procurar o carro dela... que disparate que se ela não fosse tão distraída logo teria visto que aquela quantidade de coisas não podia ser a dela...
Nisto, deita a pestanita para o (meu) carro de compras e remata que também ela adorava gelados da Häagen-Dazs (ok, pronto riam...já estava à espera, esta "coisa" era a mais imprescindível de todas, pronto confesso!), sobretudo um que há muito não encontrava chamado Banoffee !!!
Banoffee!! Podem acreditar? Eu não acreditava. Melhor, eu não sabia! Não sabia, que havia velhinhas, muito velhinhas de saia desnivelada e bengalita que pudessem gostar de Banoffee (um gosto extravagante e único de banana e caramelo, que se estranha e que se entranha). De entre todos... the only .. Banoffee! Também para mim há muito perdido.
Encurtando, tagarelando e a trocar sabores e gostos lá encontrámos o carro, levei-a a casa.
Fiquei a pensar, toda a tarde no que é que ela estaria a fazer. O que estaria a comer. Que segredos esconderia a sua despensa, o seu frigorífico. Se viveria sozinha. Estranhamente não falou disso. Estranhamente não se queixou da saúde ou da falta dela.
Fiquei a pensar que nem todos os velhos são tristes. Que também os velhos têm coisas para contar. Coisas tão incríveis como gostarem de Banoffee.
Fiquei a pensar que é pena que as casas já não tenham o tamanho suficiente para albergar os velhos. Que a nossa visão utilitarista e racionalista lhes retirou utilidade. Que, na generalidade, não é importante saber os gostos deles, as casas em que vivem (ram), o que fizeram, quem amaram.
Fiquei a pensar que os velhos estão mais próximos do fim do que alguma vez já estiveram.
Nunca me hei-de esquecer do sabor do Banoffee. Voltarei sempre há procura dele nas arcas, mesmo depois de perder toda a esperança... ajeitarei a saia que teimará em desnivelar e agarrarei o primeiro carro de compras que estiver à mão sobretudo um que esteja cheio de compras!
Há 2 anos
29 comentários:
Tabasco, se isto não é uma história bonita, então não sei nada de histórias bonitas.
Obrigado por tê-la contado. Mas obrigado, mesmo.
acho que vou ser assim. agarrar carros que não são meus, já é uma especialidade...
Cabra, cabra, um milhão de vezes cabra.... Não bastava fumares a minha marca de cigarros tinhas também de gostares de Hägen-Dazs??!!!.... E logo Banoffee, o meu sabor preferido e que não encontro há décadas??? Quando não há Banoffee lá tem de vir o Strawberry CheeseCake. E sabes como os como? Meto uma embalagem de meio kilo dentro de uma chávena dos flocos, seguro pela asa para a mão não gelar, vou buscar uma colher de sopa e só páro quando toco no fundo..
Sabes que Hagen-Dazs é o meu outro nome?? (se não acreditas pergunta à Gaija do Norte ou ao Santo... à Gabs não perguntes que ela chiba-se logo...)
(A tua afilhada está para aqui a dizer que isto é assustador.... que somos iguazinhas...
Senhores cuscos, deleitem-se com este pequeno apontamento privado...)
Exijo provar!
(E estou deleitado. Com o pequeno apontamento privado. Há mais alguma característica que partilhem, só por curiosidade?)
pois foi, conheci a chefa com nome de gelado! e podem ficar com esses... (banana/caramelo... iacc)
Ok, a minha mãe veio cá para casa hoje, sábado, e não domingo, pois a empregada pirou-se e chegou e disse: eu só como sopa.
Ok. Fazer sopa. Tomei dois shots de vodka e preparei-mre para as sopas, chás, bitijas, penicos...
Adoro os velhinhos e cá em casa há sempre lugar para mais um.
Sô Shark, partilhamos mais uma ou duas, mas essas são muito intímas...
Gaija, cala a boca e... e... nem digo mais nada!...
Vou dizer isto, e em público para ser mais sério, se quiseres trazer a tua mãe para minha casa é só dizeres. Sim, está chata, mas sim outra vez, nunca me esquecerei de quando a Clara nasceu e de como ela me ajudou. Todos os dias estava no hospital. Foi a única que se aguentou. Nem que fosse só por isso despejava agora todos os penicos que fosse preciso.
Olá prima. Hips, é a vodka.
Tens aí quem . desta vez?
(de vez em quando transformo-me! deve ser desta vida na twilight zone!!!)
um sofá,uma lareira acesa, Esteva e requeijão. Achas que chega? Também tenho duas gaijinhas a comer, as usual...
Obrigado, Visconde!
Rebanho, nada deste mundo me faz acreditar que a chefa teve esse nick! Quanto aos apontamentos privados, nem é bom começar. Estaríamos aqui tempo demais. Muitos anos (salvo seja, que ainda somos xóvens)que até envolveram a portinhola que fecha o penico nas mesas de cabeceira a esmagar-me a cabeça. Nem sei como sobrevivi!
Chefa, achas que a podemos convidar para o Cabra?
Aqui estou. Chá de cidreira. Ainda bem que me lembrei de trazer de casa dela. Estou a ver o Caia quem caia, mas tenho de ir fazer chá. De cidreira. Teresa, a minha mãe agora tem mais 14 anos e está com senilidade, segundo a psiquiatra. Mais uma semana e está aí.
um sofá numa sala muito quentinha, um murganheira muito bruto, uma bola de carne, um bolo de cenoura... tudo só para mim! será que morri e fui para o céu?
(chefa, ainda estou a pensar no que me disseste... cala a boca!)
Meu Deus, mil perdões, mil e um, que o ultimo "à" não tem agá. Isto de se escrever ao correr da pena...
(estás com sorte que a edito estrelas ainda não apareceu...)
Chove imenso por aqui... aqui que em sacavém se vão inundar de novo... Aqui na Portela é só prédios altos e a água acumula nos páteos e cai lá em baixo nas garagens...
Ò Gaija, como é que podes acreditar que estás no céu se não tens perto de ti o anjo?
precisamente! os anjos andam a tratar dos que ainda não chegaram ao céu :)
falaram em anjos? os tais que não têm sexo?
Sim tab@sco, já tive nome de gelado, a cala a boca e qualquer outra coisa que não digo pode confirmar.
Quanto à porta do penico, a tal que te bateu na cabeça vezes de menos, queres a descrição publica do assunto?
Gabs, pode vir.
Hummm...vou pensar. E quarto? Nem penses que ela sobe aquelas escadas para o sotão...
Opah... não é para vos fazer inveja, mas eu tenho a receita do banoffee... posso degusta-lo sempre que me apetecer!
***
quando empurrar carrinhos alheios e meter conversa com as mocitas jovens sobre gelados (esta ideia parece-me magnifica, obrigado pela dica picantolas) ainda me vou andar a lambuzar com doce de leite. Mas vou contar à menina e à irmã gémea esta história do Banoffe, garanto.
Xefa, já avisei dos problemas de obesidade por comeres gelados ao kilo, dps queixa-te.
Pois é. Gelados não é comigo. Gosto de chocolate preto em barra.
Crepes com chantilly. Scones com doce. Bolo de bolacha. Baba de Camelo. Leite creme com caramelo queimado. Arroz doce quente com ovos. Coisas simples. Mas na falta posso comer um Bollycao,não sou esquisita. Pois, vou fazer arooz doce.
Tab@asco, velhos também não são o meu forte, mas quando estou com eles tenho que reconhecer que adoro. Porque eles têm sempre histórias para contar, conversas que nos entretêm, fica sempre um carinho no ar. Esta tua descrição de uma simples troca de carrinhos de compras está maravilhosa. Obrigada:-)
medusasss, faz o teu preço!
medusass e doce de leite? nao a desconto de quantidade?
Quanto levas medusass por teres aí uma senhora de idade adorável e cheia de histórias para contar? É mentira, a minha mãe foca-se no presente, nas dores de barriga, de cabeça, de pés.
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