Está frio.
Dizem!
Vejo as imagens da chuva, e da neve, e do granizo, e do sincelo (e isto, sabem o que é?) e lembro-me do que era ter frio. Frio a sério e não este frio maricas de que me queixo agora.
Por aqui o frio é como tudo o resto, vem de passagem, em turismo, e não chega a fazer cama. Uma lareira acesa, uma camisolita de lã e estamos conversados no que toca a frio. Não há gorros, nem luvas, nem cachecóis, nem casacos em cima de casacos. E não há, graças a todos os deuses e mais um, pijamas de flanela, botas de dormir (escarpins... até o nome é mau!, escarpins...) ou botijas de água quente. E também não há camisolas interiores. Meu Deus, como odeio as termótebes.
Aqui não temos as mãos gretadas com frieiras nem os lábios rachados e a escorrer sangue. As caras não andam vermelhas e os pés não passam a apêndices que se deixam de sentir. De manhã não custa muito sair da cama, o banho não é um tormento, a água não gela nos canos, o saco com os fatos de banho está arrumado mas à mão de semear e as camisolas de alças nunca saem das gavetas do quarto.
Mas hoje lembrei-me de como era ter frio. De como de manhã, a caminho do liceu, o vento nos cortava a meio e entrava pelas mangas dos casacos que ainda não eram kispos, os lençois da cama pareciam molhados (lembras-te Tab@sco? "o que mais me custa é isto... é isto... é isto??!!..." e os teus pezinhos sem conseguirem chegar ao fim dos ditos lençois gelados numa cama, ó espanto!, feita à espanhola...), não tinhamos polares e as camisolas tricotadas à mão, em lã escocesa, não aqueciam quase nada, e as casas nunca estavam quentes o suficiente.
Hoje lembrei-me da casa da minha mãe e das dezenas de aquecedores espalhados e do frio que tinha sempre. Na sala de jantar havia um aquecedor por baixo da mesa, outro ao lado e na outra ponta a lareira acesa e um aquecedor a gás. Quente? Nem pensar. As costas estavam sempre geladas e uma ida à cozinha, com outro aquecedor ligado, era como mergulhar no mar do Norte. Os corredores eram gelados, os halls eram gelados, as casas de banho eram geladas, a vida era seis meses gelada. Usavam-se collants por baixo das calças de fazenda, o que provocava o imediato tolhimento das pernas, e camisolas tipo casca de cebola. Vestir um casaco por cima, para ir à rua, implicava que os braços deixavam de poder ser dobrados e ficavam com uma abertura de 45º o que, aliado à pouca flexibilidade das pernas, nos dava um ar de mortos-vivos a soprar vapor pela boca.
Porque me lembrei disto? Porque o Natal vem aí, e vem com a velocidade do costume, desabrido, que ainda ontem era Verão, e eu vou ter que ir até ao frio. Espero conseguir sobreviver, mas pondero sériamente baldar-me à Missa do Galo. É que não sei se um encontro de zombies será a melhor forma de matar saudades de quem não vejo há muito tempo.
Clássicos II
Clássicos
2008 - A minha filha.
"odeio (cintos)"
"estás a ver, nunca me percebes, por isso gosto de falar com os meus amigos..."
"quando tiver um quarto só para mim oiço música alta à vontade"
" sou sempre eu, a Clara é a santinha..."
" esqueces-te que sou uma pré adolescente, já não sou uma criança"
"estás sempre a exigir, nunca ficas contente com as minhas notas"
1975 - O meu diário.
"a avó tentou dar-me um sermão mas já não cola"
"odeio (saias de peitilho)"
"ele é o menino da mamã"
"tenho doze anos e tratam-me como se tivesse quatro"
"nunca dizem bem de mim, 'tá mal! Se tiro um 17 querem 18 se tiro um 18 querem 19"
"quanto mais longe estiver desta casa melhor para mim"
Palavras para quê?
Como é que sendo eu tão diferente da minha mãe (será que sou?) e tendo elas uma vida tão diferente da que eu tive (será que têm?) é tudo tão papel químico? Serão o raio das hormonas que unificam assim os comportamentos?
Ao reler os meus diários percebo que pouco há a fazer para além do que já está feito. Vou ter uns duros anos de contestação pela frente, mas vou tentar nunca me esquecer destes cadernos milagrosos que escrevi há tantos anos sem sonhar que me iriam ser tão úteis. É que é muito bom poder usar-me como intermediária para a descodificação deste discurso.
E apesar de a paciência me faltar muitas, mas muitas, vezes, quando lembro como eu era tenho um orgulho ainda maior nela - é tão melhor que eu!
James Bonga
Os Contemporâneos são de morrer a rir. O novo 007 poderá ser negro... Diz o Daniel Craig.
Diz um barbeiro " eu cá sou um bocado racista, cada macaco no seu galho. Cada um na sua terra." E estava a ser genuíno.
RTP1, sábado à noite. 00244 (indicativo de Angola). Bonga. James bonga.
E o La Féria a treinar os jogadores também foi engraçado. A ensinar-lhes a cairem com ar convincente...
Será?
Vi-os chegar. Traziam sacos de supermercado e uma árvore de Natal. Estão a tentar entrar em minha casa pelo quarto do meu filho. Será que querem partilhar a árvore comigo? Será que se sentem sós? Será que estão a fazer baixo-relevo com o martelo hidráulico e eu não percebo nada de arte? Será que acham o quarto pequeno e o querem expandir? Será que as crianças estão a brincar? Será que estes vizinhos ainda vão ficar aqui ao lado muito mais tempo?
Banoffee!! Afinal este País também é para velhos!
Hoje por imperiosa necessidade, fui fazer compras a um supermercado.
Na azafama do tira coisa-põe no carro, deixa o carro longe e vai lá atrás a outra prateleira trazer outra coisa, para tudo ser muito rápido, voltei ao carro e tinha desaparecido.
You know the feeling - Não foi bem aqui que o deixei, mas tenho a certeza, que tempo perdido... já não volto atrás!
Nisto, reparo que a uns metros de mim, em sentido contrário, ia uma velhota, bengalita pendurada, saia desnivelada, cabelo branco desalinhado, a empurrar o (meu) carro. Expliquei-lhe com a minha maior simpatia (Aviso já que gosto de velhos!) a troca.
Ela, de cara doce (há velhos que não têm caras doces) e sorriso de avó, agarrou-me as duas mãos (eu tinha debaixo de um braço 2 Kgs de arroz e no outro mais coisas). As mãos dela estavam muito frias e calmamente, com todo o tempo que só os velhos têm, começou a explicar-me a troca inadvertida... a maçada que era agora procurar o carro dela... que disparate que se ela não fosse tão distraída logo teria visto que aquela quantidade de coisas não podia ser a dela...
Nisto, deita a pestanita para o (meu) carro de compras e remata que também ela adorava gelados da Häagen-Dazs (ok, pronto riam...já estava à espera, esta "coisa" era a mais imprescindível de todas, pronto confesso!), sobretudo um que há muito não encontrava chamado Banoffee !!!
Banoffee!! Podem acreditar? Eu não acreditava. Melhor, eu não sabia! Não sabia, que havia velhinhas, muito velhinhas de saia desnivelada e bengalita que pudessem gostar de Banoffee (um gosto extravagante e único de banana e caramelo, que se estranha e que se entranha). De entre todos... the only .. Banoffee! Também para mim há muito perdido.
Encurtando, tagarelando e a trocar sabores e gostos lá encontrámos o carro, levei-a a casa.
Fiquei a pensar, toda a tarde no que é que ela estaria a fazer. O que estaria a comer. Que segredos esconderia a sua despensa, o seu frigorífico. Se viveria sozinha. Estranhamente não falou disso. Estranhamente não se queixou da saúde ou da falta dela.
Fiquei a pensar que nem todos os velhos são tristes. Que também os velhos têm coisas para contar. Coisas tão incríveis como gostarem de Banoffee.
Fiquei a pensar que é pena que as casas já não tenham o tamanho suficiente para albergar os velhos. Que a nossa visão utilitarista e racionalista lhes retirou utilidade. Que, na generalidade, não é importante saber os gostos deles, as casas em que vivem (ram), o que fizeram, quem amaram.
Fiquei a pensar que os velhos estão mais próximos do fim do que alguma vez já estiveram.
Nunca me hei-de esquecer do sabor do Banoffee. Voltarei sempre há procura dele nas arcas, mesmo depois de perder toda a esperança... ajeitarei a saia que teimará em desnivelar e agarrarei o primeiro carro de compras que estiver à mão sobretudo um que esteja cheio de compras!
Sem (re)animação
A noite fria de um inverno tão seco como a última expressão que me dirigiste, no dia em que decidiste abraçar um modo hostil.
Escuto a sirene à distância, de uma apressada ambulância que transporta alguém para a urgência hospitalar onde tentarão reanimar um coração em colapso final. Pessoa conhecida, anciã solitária numa caverna situada num edifício qualquer. Revela-se essa realidade pela boca de um mirone de circunstância, atraído pela ambulância que implica a desdita de que se quer testemunha, a plateia sempre apinhada de quem parasita o sofrimento alheio para minorar um pouco o seu, por comparação ou ainda pior.
O mesmo critério que aplicaste ao amor que não te neguei até ao momento em que deixei cair a vontade nos braços de um fantasma em que tornaste a relação que elogiaste enquanto o coração te guiou.
Depois, na prática, parou e a cabeça logo tomou as rédeas da tua loucura e impôs a ditadura do boçal, reduziu-te a uma pessoa banal das que compõem esta multidão que se acotovela para sorver a desgraça alheia sem qualquer sinal de perturbação.
Tão fria, a multidão, como a tua atitude que recordo nesta noite em que a rua, agreste, me presenteia com a imagem de outro fim.
Caro Dr. Phil
Tenho uma mãe de 82 anos que acaba de despedir a sua sétima brasileira, empregada interna.
Tem também uma empregada dois dias por semana, mas devido à idade, não convém , nem ela quer, ficar sozinha. A minha irmã trabalha e já se recusou a tomar conta dela, devido à depressão que a mãe apresenta e hipocondria aguda, que lhe dá cabo dos nervos (da filha e das empregadas). A ideia é pois, aqui a "je" ir mais os seus dois filhos, dois gatos, um cão e um rato, residir por tempo indefinido com a mãe, que mora numa casa de sete assoalhadas, e atender às suas necessidades, enquanto não se arranja outra empregada.
O que me aconselha a fazer? Sou uma espécie de mãe a tempo inteiro que dá 4 h de explicações por semana (que iria desistir) e um pouco mais paciente que a dita mana, mas ....
Não são pequenos, são clássicos...
Foram precisos dois anos para o Conselho Indiano de Pesquisa Médica medir cerca de 1.200 pénis de todo o país asiático e a conclusão acabou por ser bastante surpreendente e até preocupante: os preservativos, que seguem tamanhos internacionais médios, são demasiados grandes para os indianos. O estudo procurou incluir todas as regiões e classes sociais, para ter uma amostra fidedigna da realidade do país e provou que, principalmente em comprimento, 60% dos indianos têm alguma dificuldade em encontrar o tamanho certo de preservativo. A diferença é de três a cinco centímetros. Pode parecer uma anedota, mas a Índia é o segundo país mais populoso do mundo (atrás da China), com perto de 1.150 milhões de pessoas. Um em cada cinco preservativos usados na Índia cai ou rasga-se e a taxa de infecções por VIH/Sida é a maior do mundo. Por outro lado, apesar de as alternativas não serem muitas, é possível conseguir comprar preservativos mais pequenos em algumas regiões, fabricados localmente, mas chegar a uma farmácia e pedir especificamente o tamanho mais pequeno que exista é coisa que os homens têm dificuldade em fazer.
A numerologia dos ausentes
Chega um tipo aqui desprevenido para ver onde param as modas e o que lhe aparece à frente? Ora vejamos (esta é para mostrar que temos de aprender com os bons...):
Algures lá para baixo o problema era sobre ménage - o que ocorre logo? Três. E ainda por cima nem com pormenores nem sem pormenores, qual foi o desfecho? Nada.
Depois aparece a chefa (que falando de bons tem de vir à baila ou lá se vai o 13º) a dizer que afinal não é três mas deve ser A 4 - o que me parece um exagero, mas como foi a chefa que disse...
Depois até o comentador mais de serviço que os e as ditas cabras acha que afinal aquilo resulta é a dois - mas que revela a versatilidade e a diversidade que nos caracterizam.
Acho por bem vir relembrar que o tio Woody era da opinião que, enfim, sempre se pode considerar sexo com alguém que se ama e ainda vão arranjar um termo fino tipo manopessoais por exemplo. Monopessoais? Soa melhor?
Mesmo on-line, apalpanço é coisa séria
Como acontece ao palato apanhado de surpresa pela pimenta na língua, só agora consegui perceber o potencial da catarse que a nossa Tabasco sugeriu com a sua posta mais abaixo. E de igual forma me senti estimulado (sou todo cliché na reacção física às especiarias – as propriamente ditas, que já provei) para descobrir os novos sabores de ódios de estimação requentados.
A minha dificuldade é escolher entre um lençol com cinco ou seis monitores de extensão ou fazer a coisa por capítulos, mas essa é uma decisão que tomarei ao longo do exercício que a Cabra mais picante me propôs abraçar (abraçar o exercício, não a propriamente dita).
Isto porque um gajo com o meu feitio acumula quase tantos ódios de estimação como aqueles que suscita, pelo que uma pistola de palavras não bastaria: só mesmo uma metralhadora. Ou mesmo uma bazuca. Uma brasuca também podia servir, em determinadas circunstâncias e estritamente no âmbito do salutar debate acerca dos prós e dos contras do malfadado acordo ortográfico que, já agora, pode abrir o rosário das minhas embirrações.
Não tenho paciência para reaprender a escrita, depois de tantos anos a esforçar-me por aprender onde intercalar os cês. É um fato e eu até desatino imenso com gravatas.
E com o euro também, essa divisa multimarca que nos minimiza a soberania e acabou com os contos de réis para agora nos presentear com as histórias da carochinha que nos contam quando escasseia o pilim.
Eu ainda raciocino em escudos e o meu cérebro não quer dispensar a bengala cambista.
Também desatino com todo o tipo de gajos que não aqueles que só sirvam para me ajudarem, por comparação, a fazer boa figura (felizmente, estes são a esmagadora maioria e por isso desatino pouco neste particular). Falo, naturalmente, em fazer boa figura perante o único grupo onde não possuo qualquer ódio de estimação (e mesmo que possuísse dava a volta ao problema, pois percebia ser uma falsa questão): as moças.
Mas a ideia é exorcizar pequenos demónios e por isso sigo já para o que mais me desagrada nessas criaturas com pila que de pouco ou nada me servem em termos práticos: não são mulheres. E isso é, a todos os títulos, imperdoável.
Porém, vou confinar ao parágrafo acima quaisquer alusões a esse desperdício de cromossomas que poderiam render bem mais na pele das mais maravilhosas criaturas do universo do qual, aliás, possuo algumas razões de queixa comuns a todos os apreciadores de Ficção Científica.
É inadmissível o silêncio dos extraterrestres que em puto sempre esperei viessem pôr ordem na barraca com as suas inteligências superiores e supremacia tecnológica avassaladora. O mais próximo que encontrei desta fantasia foi a supremacia tecnológica dos americanos (reelegerem o Bush desmentiu de vez – ou será que confirmou? - a sua origem alienígena) e na parte do silêncio apenas a actual líder do PSD.
Em matéria de marcianos até Marte se revelou uma desilusão. Em vez de homenzinhos verdes andamos à procura de criaturinhas microscópicas nalguma poça daquela água congelada a que se reduz a esperança terráquea num Novo Mundo para envenenar.
Reparo agora que já me estiquei e por isso deixo a coisa em suspenso até ver se ainda há alguém acordado depois deste prazenteiro momento de leitura.
Porque não sou cristão
Porque detesto Igrejas, santos e mártires. Milagres. crendices tradições e acreditar porque sim. Por ter fé. As Igrejas portuguesas, barrocas, com os seus Cristos sangrentos, pregados na cruz, as ofertas e as caixas de esmolas, os dourados e os sermões sobre pobreza e aborto e anticoncepcionais e assuntos que parecem política , ditos por alguém que segue fielmente as directivas das autoridades.
Há princípios éticos que nos são inculcados por pessoas cultas, laicas, que não rezam mas acreditam no mal e no bem, e nãose envolvem em disputas com outras religiões. Que acreditam que o mundo que existe é este e com este temos de viver, o melhor possível. sem prejudicar os outros para não sermos também prejudicados. E que não há um sítio melhor para onde ir sem ser este, por isso, vivamos, enquanto estamos vivos.
Simplesmente Fabuloso!
"Minha querida lavandaria"por Manuel António Pina, no DN
A RTP é a lavandaria do regime. Não há vítima de cabala que não lave a consciência naquela espécie de Santa Casa da Misericórdia dos aflitos.
Desde a entrevista a Carlos Cruz lavado (o termo é apropriado) em lágrimas, os queridos telespectadores já não choravam como choraram com Dias Loureiro (talvez com excepção da entrevista a outra perseguida, a dolorosa mártir Fátima Felgueiras).
Dias Loureiro, um homem, como aquele, Malaquias, de Manuel de Lima, barbaramente agredido, foi aos estúdios de baraço ao pescoço e sem bigode, confessando que, sim, era administrador da SLN, mas, enquanto aconteciam no BPN as trapaças que têm vindo a público (e as que hão-de vir), calhou sempre de estar a olhar para outro lado. Assinava as contas sem as ler, pois só lê biografias e romances policiais (as contas do BPN eram um romance policial, mas como podia Dias Loureiro sabê-lo?). Por isso está, obviamente, de consciência limpa.
Eu acredito em Dias Loureiro (que diabo, é um conselheiro de Estado!) e não em cínicos como Stanislaw Lec, para quem a melhor forma de manter a consciência limpa é não lhe dar uso.
Vamos a isto dos "Apalpanços on-line"!
Estive a ler outra vez o desafio que a Chefa nos fez no dia 20, no post "Apalpanços on-line" (que só pegou nos comentários mas com timidez) e estou nessa.
Isto também para quebrar o ritmo que temos imprimido ao Cabra, depois da frase "fatal" de Z que mexeu com todos.
Pois bem, posto isto começo da forma mais fácil que é deixar aqui algumas das coisas que mais odeio (sim, porque não é nada difícil fazer igual elenco das que mais gosto mas admito essas - pelo menos algumas - são mais difíceis de confessar).
Então, levantando um pouco o véu, das coisas que mais odeio (é difícil parar quando se começa): - Marquises (apêndice de todo o bom prédio português que se preze que derrotou a varanda, essa sim característica da arquitectura urbana dos países mediterrâneos); Naperons (peça decorativa do psiché, também odeio psichés, embora goste da palavra);O apito do carro da Family Frost no fim das tardes de domingo; O modo "funcionário" de viver (como dizia o Alexandre O´Neill); Termos politicamente correctos (tipo: chamar invisual a um cego ou pessoa de etnia cigana a ciganos, entre muitos); Condutores de domingo; Carros vestidos com capas cinzentas e cartões nos pneus que geralmente se perpetuam nos melhores lugares da rua; Pessoas pouco limpas (a este propósito vejam a Revista Pública, de domingo 23, sobre hábitos de limpeza dos portugueses. Não resisto, 5% de portugueses nunca lavam os dentes seja em que circunstância for); Cócós de cão nos passeios; Homens com calças de ganga coçadas no sitio em que estão todos a pensar (vá lá reconheço que já se vêem poucas, não porque se tenha perdido o hábito, mas efeito do aumento de consumo do bem); Falta de civismo; Mentiras; Falta de sentido de humor; Pessimismo; O escarro e a palavra escarro; Poesia de intervenção; A hipocrisia; A tirania do relógio; A Canalhice; Pessoas que nos falam sem nos olhar nos olhos; Acreditar-se que a responsabilidade social acaba no Estado; Bufos; Gente acrítica (habitualmente estes 2 últimos tendem a reunir-se na mesma pessoa); A giria desportiva metida a torto e a direito e de forma extemporanea e que invade as conversas mais distante do assunto; Odeio siglas, venho-me à nora para desdobrar as mais simples.
Vou parar para já! UFF que isto cansa!
Na mouche
O Z é um génio, e acerta sempre na mouche.
Claro que por mais desprendidos que nos mostremos, quando fazêmos amor, é porque queremos sentir amor. Mesmo que o disfarcemos de sexo casual, relações sexuais, e outros nomes .
A não ser as pessoas da profissão, que claro, têm outras motivações.
Seja pelo que fôr, bute faZê-lo
..." as pessoas querem é sentir amor, nem que seja por breves instantes, finge-se que é por prazer mas qual quê, é por amor"
Z, 22 de Novembro de 2008
Muita tinta já correu neste blogue a propósito das polémicas declarações do nosso anónimo de capa negra e mascarilha que às vezes quando esgrime argumentos deixa-nos a farpela toda rasgada.
Pois bem, e como quando bloga um português blogam logo dois ou três, entendi pendurar-me descaradamente nesta popular citazão para poder aderir ao movimento colectivo de dissecação exaustiva do comentário mais polémico do Z (MCDECMP do Z, travestindo a coisa por uma sigla) de geração espontânea, o movimento, com base nesta tirada deste Cabrão que é afinal o correspondente do nosso Cabra para os assuntos comentários.
Só posta nas caixas mas apenas por uma questão de espaço disponível (quando bate a todos/as ao mesmo tempo a vontade de postar o blogger até se engasga).
Contudo, e voltando ao cerne da questão, esta frase do nosso Z contém em si uma multiplicidade de sentidos mais complexa do que a rotunda do Marquês mas é de sentido único a leitura possível.
Senão vejamos (esta é um clássico irresistível, dá muita vontade de embalar na leitura. Senão vejamos:):
No trecho (…) nem que seja por breves instantes (…) temos definida uma quantidade de tempo que peca por defeito na percepção de quem a lê. Trata-se, pois, de uma clara alusão ao que popularmente entendemos por “rapidinha” (algo a que só não torce o nariz quem do mal o menos).
E esta interpretação acaba confirmada pelo trecho seguinte: (…) finge-se que é por prazer (…). Lá está, uma rapidinha é sempre um mal menor (como o autor muito bem embutiu, com uma discrição notável, nas entrelinhas da sua intervenção) e depois as moças têm que fingir, recorrendo a sons captados algures num serão a ver o XXL ou a ouvir a invejada paródia no quarto dos vizinhos de cima.
A acutilânzia do nosso Delfim, ao contrário do que a complexidade da abordagem da Caos possa fazer presumir, explode nos olhos do leitor e embora de forma subtil não dá margem de manobra para as complicadices de gaija.
Senão vejamos (fica-se ou não desertinho por ler o resto?).
(…) As pessoas querem é sentir amor (…). Isto é óbvio aos olhos de qualquer macho da espécie. As pessoas querem é senti-lo (o amor) bem fundo (no seu âmago de pessoas sensíveis) e, como os trechos supra comprovam, nem que seja à coelhinho porque os coelhinhos são fofinhos e tal mas a malta quer é sentir amor ao ponto de até fingir (talvez para alimentar a esperança de uma segunda, “ainda que por breves instantes” se instale uma flacidez desanimadora), fingir, dizia eu, que é por prazer. Mas qual quê?
Se é sempre por amor, bute desbundá-lo sem reservas. Mesmo que às vezes, por breves instantes, se apanhe um tão pequenino (o amor) que até parece um daqueles a fingir.
Os zigs e os zags
Lembro-me de umas escadas escuras, uma sala de espera com cadeiras desconfortáveis e revistas velhas num canto e uma janela a dar para a Ferreira Borges. Também me lembro que quando um empregado velhote se assomou à porta e disse que a Sra. Dra. podia entrar eu continuei sem me mexer. Foi precisa alguma insistência da parte dele para eu começar a pensar - é que se estava sozinha na sala a Sra. Dra. devia ser eu...
Foi há 22 anos, tinha acabado o curso de Direito há uns dias e esperava para ser recebida pelo meu futuro patrono. Eu vinha recomendada por um ex-professor e ele era um tipo ainda novo mas uma grande promessa na advocacia e com queda para a política, dizia-se. Eu embirrava com o gajo, mas achei que era só mais um dos meus embirranços sem sentido, tinha que começar a ser mais adulta, a tratar da vida como os crescidos - falava com ele e de certeza que iria concluir que estava enganada.
Falei. Ou falou ele. Sedutor, insinuante, cheio de esperanças no futuro e duplos sentidos no presente. Eu podia começar de imediato, se quisesse.
Não quis e saí de lá a embirrar com ele ainda mais do que antes de ter entrado. E ainda hoje continuo a embirrar, mas talvez tivesse feito bem em ter aceite aquele estágio, que o jogo dele ainda não acabou mas os prognósticos continuam os melhores. O tipo safou-se bem na vida e continua a safar-se, não continua Dr. Dias Loureiro?
Claro que sim, claro que querem sentir amor. Nem que seja por uns instantes. Mas querem sempre de quem não está lá...na mesma onda deles. Daqueles que atiçam qual jogo de poder. É desses que geralmente se quer o "amor", de quem é pouco provável recebê-lo. É uma viagem em que a paisagem tem mais interesse do que o destino. É um passatempo com piada. Com garra. "Até onde consigo ir", "Até onde consigo ter".
Queremos sempre "O amor", nem que seja para tapar o buraco que foi deixado no nosso coração, no nosso ego, na nossa vida. Nem que seja porque "mordidela de cão sara com pêlo de outro". É tão, mas tão pouco provável querer o amor de quem nos ama e uma vez lá, é tão mas tão pouco provável estimá-lo e agradecê-lo.
Há sempre mais, há sempre melhor, há sempre mais rápido e há sempre tempo e lugar para mais. Queremos sentir amor, sim, mas não de quem nos ama, esses já foram conquistados. Queremos do outro, daquele do outro lado do oceano que nunca nos viu nem sequer nos sonhos. É esse que queremos, porque é giro querermos, é giro cativar. Mais giro do que estimar. Muito mais.
Há um gajo qualquer que dizia "é tão pouco provável amar alguém e ainda mais difícil amar que nos ama". Talvez tenha razão. E quando acontece, façamos como a Katie Melua e acabemos com a busca. End.
Um dia White.
Faz hoje 40 anos.
Foi o meu primeiro albúm, oferta do meu pai que me o trouxe da Alemanha juntamente com o meu primeiro relógio, e ainda hoje é um dos meus preferidos. A genialidade de uns Beatles em fim de carreira.
Uma outra White faz hoje anos, a Tab@squinha, e se não fosse filha da mãe dela seria minha filha de certeza. Parabéns gaijas.
Como não há duas sem três, hoje é também o aniversário d' "O meu Tio da América". O tio que que todos os miúdos gostariam de ter tido e que eu gostaria de ser. O tio cientista que nos ensinou a sonhar e que ontem teve um dos melhores presentes da vida dele, vai ser avô. Como ele diria, "epá, porreiro!"
Nem mais, Z!
..." as pessoas querem é sentir amor, nem que seja por breves instantes, finge-se que é por prazer mas qual quê, é por amor"
Z
22 de Novembro de 2008
OnShore
Oliveira e Costa fica em prisão preventiva e já fez uma cartinha para o Pai Natal. No sapato quer dois jogos da Majora para brincar no recreio com os outros meninos - o intemporal Monopólio e A Bolsa, um clássico de outros tempos.
Reviver o passado em Brideshead
Às vezes as gaijas nem precisam de chamar os bombeiros, Z, que os bombeiros vêm ter com as gaijas.
Era Setembro, fim de férias. A casa de Verão estava a fechar e as malas estavam todas feitas e à porta. Todas? Não, nem todas. Eu, a minha irmã e a Tab@sco - a eterna externa lá de casa - resistiamos ainda à autoridade paterna e os nossos argumentos eram de vulto, "precisávamos de estudar para os exames de segunda época e ali, na casa da Figueira, tinhamos muito mais sossego". E também tinhamos, mas isso nem era importante, muito mais esplanadas, com cerveja gelada e caranguejos e namorados fresquinhos.
Esquecendo o pormenor de as nossas razões não terem tido a devida compreensão paterna, ou terem tido até demais, mas de ter pesado o facto de nos termos acorrentado às persianas da sala, acabámos por ficar as três, mas sem dinheiro. Comida no frigorífico, mas dinheirinho fresco, nada. Afinal ficávamos para estudar, não era?
Era, claro que era. E tanto era que num daqueles fins de tarde de Setembro, em que a noite chega sem quase darmos por isso, estávamos nós também a chegar a casa, carregadinhas de livros e de sol e de areia e de sabor a sal. A praia sempre foi o sítio certo para levar livros a passear e os nossos não eram menos que os outros. Mas portanto, estávamos nós a chegar a casa com aquelas coisas todas do sal e da areia e dos livros e já com a noite a cair e havia ainda que preparar uma excursão exploratória e desesperada aos restos da despensa, para ganhar forças para uma longa noite de estudo, pois claro!, e que tomar o duche do costume - sua-se muito a carregar livros.
Foi exactamente esse duche que me levou hoje até lá.
Relembremos as cores do quadro já pintado e acrescentemos mais uma ou duas para compôr a cena - noite de Verão, três gaijas sozinhas em casa, um quarto andar em frente à praia, sem vizinhos ou prédios na frente e com uma enorme varanda virada para o oceano. A música de certeza que estava alta, as luzes todas acesas, as portas de vidro da varanda abertas e sucediam-se as idas e vindas para a casa de banho. Não me lembro que nessas curtas viagens tivessemos muita roupa em cima.
Foi por esta altura que a Tab@sco, mais despachadinha e já lavadinha, se plantou no meio da sala e largou o grito que fez história - Está um homem na varanda!
Ao som de Querias!... Estás com visões... Pois claro!..., chegaram mais duas gaijas saídas directamente do duche. A Tab@sco estava imóvel, debaixo dos holofotes acesos tal qual uma diva da tela, a começar já com tremuras, o frio!... o frio!..., e na varanda, na tal varanda de um quarto andar com vista para o mar, estava um bombeiro, fardado, imóvel, atónito, sem tirar as vistas daquela sala bem iluminada, onde três gaijas saídas do duche lhe aliviaram a monótona subida, varanda a varanda, até um andar lá mais em cima com uma chave esquecida no lado errado da porta.
E deve ter sido esta a hora coca-cola light daquele valente soldado da paz!
Apalpanços online.
Durante muito tempo estive desse lado, do lado de quem lê.
Lia, comentava, etiquetava, tinha amores e ódios, embirrações, espelhos, construía personagens, atribuía virtudes e defeitos.
Deste lado, agora, esqueço-me muitas vezes, a grande maioria das vezes, que desse lado quem me lê, quem nos lê, faz o mesmo que eu fazia e tenta espreitar para lá das letras. Melhor ou pior fomos coisificados, passámos de letras num monitor a bonecos construídos post a post, comentário a comentário. E esta é uma das tais situações em que cada cabeça, cada sentença.
Comecei há pouco tempo a falar com uma pessoa que me conhecia daqui, das letras que escrevo, dos sítios por onde passo. Tem sido interessante ir percebendo, aqui e ali, a imagem de mim que estava construída, desconstruída, catalogada.
Sou curiosa. Bastante curiosa. Ali em baixo está uma caixa de comentários inteirinha ao vosso dispôr. Digam lá o que acham, abram os vossos corações, pintem-nos com as vossas côres. Somos muitas gaijas e alguns gajos e não devem faltar histórias que nos dêem forma.Vá, de certeza que palpites há muitos e deve haver quem pensa saber, de certeza certezinha, quem dorme com quem por aqui, quem se odeia, quem é cabra a sério e cabra só a brincar, quem é de esquerda e quem é de direita, quem gosta de gelados de chocolate e quem gosta de bolos de bacalhau (bolos! não é pastéis) quem gosta de praia e quem gosta de campo, quem isto, quem aquilo e quem aqueloutro.
Força nas teclas que isto deve ser melhor que jogar ao Quem é Quem.
O Caco Antíbes devia ser português.
Novos Ricos de Memória Curta.
Por mais voltas que dê esta é mesmo a única expressão que me apetece utilizar quando penso em nós, portugueses - novos ricos de memória curta. Na outra noite ia a conduzir para o hospital e a pensar o quanto refilamos de barriga cheia. Estava na Via do Infante e dirigia-me ao Hospital do Barlavento. No sentido contrário ao meu passou uma ambulância. Pensei que deveria estar a ir para Lisboa com um doente, mas não seria nada de muito urgente, que se o fosse teria sido evacuado de helicóptero. Depois pensei na tab@sco que me visitou no fim de semana. Veio de comboio e fui buscá-la, a ela e à tab@squinha, à estação aqui ao lado de casa. A mesma estação onde há muito pouco tempo fizeram uma passagem aérea, por cima das linhas, com três elevadores, ou como dizia um amigo meu alemão, Trrês Elevadorres???!!! E nós pagam izo tudo...
Tentei recuar uns anos. Poucos. Recuei até 1989, o ano em que deixámos de pagar contribuição industrial, imposto profissional, imposto de mais-valias, imposto de capitais, imposto complementar, imposto sobre a indústria agrícola, contribuição predial e mais um ou dois e passámos a pagar IRC e IRS. Pensei se o que pagamos agora será muito mais do que o que pagávamos na altura. E, caso o seja, se será, pelo menos, equivalente ao aumento da nossa qualidade de vida.
Escusam de fazer contas, não é. Há muitos anos que andamos a viver com o dinheiro dos outros mas a exigir como se fossemos nós a pagar. E quanto menos pagamos mais exigimos e mais reclamamos. Queremos maternidades abertas em cada esquina, uma viatura de emergência médica com apoio de vida por cada sandes de torresmos comida na tasca, escolas abertas 24 horas por dia, estradas sem um buraco de agulha, um polícia por baixo de cada janela das nossas casas, esplanadas desde a nascente até à foz de todos os nossos rios, subsídios de emprego, desemprego, invalidez ou validez a mais, de aleitamento já com extra cálcio e vitaminas incluídos, apoios à família numerosa, mais ou menos numerosa, média, minúscula, actual, futura e à que esteve para ser mas nunca foi - falta do subsídio adequado, pois claro! - e queremos tudo e reclamamos de tudo e temos direito a tudo. Trabalhamos para isso? Não, nem temos que o fazer que a nossa única obrigação é reclamar porque é isso que nos torna uns verdadeiros europeus.
Com caraças! É que não me apetece mesmo dizer outra coisa.
Eu, que muito pouco tenho contribuido para o bem estar comum, ia naquela noite por uma excelente auto-estrada sem portagens, a caminho de um Hospital bem equipado, depois de ter ido buscar as minhas filhas a uma escola pública onde nada lhes falta. Há vinte anos nem me teria arriscado a vir viver para o Algarve com duas crianças pequenas.
Não é só vontade de remar contra a maré, mas tenho pouca vontade de dizer mal e muita de dizer bem. Tenho tido sorte, alguma, mas também não tenho grandes razões de queixas. Sempre que precisei tive a melhor resposta e se tiver que me queixar de alguma coisa nem é da falta de infraestruturas, ou de investimentos, mas da preguiça e relaxanço de quem tendo os meios não os usa. Mas refila.
O nosso sistema de saúde, até agora, ainda não me deixou desamparada e só tenho tido razões para dizer bem. Eu sei que naquela noite, na sala do serviço de urgências, se reclamava por longas horas de espera mas parece-me que se devia esperar ainda mais. Eu incluida, pois claro. Não sou médica mas assim, a olho nu, nenhuma daquelas pessoas, eu incluida, me pareceu precisar de ser vista num serviço de urgência de um hospital, ainda por cima durante a noite quando os custos do serviço são muito mais elevados.
Em toda a minha vida, com filhas incluidas, fui muito poucas vezes a um serviço de urgência. Nos últimos vinte anos fui duas vezes para ter filhas, outra para um shot de oxigénio que o ataque de asma estava mais complicado que o normal e outra com um braço partido. Com as miúdas as visitas também não foram muitas, mesmo tendo em conta que uma foi operada ao coração com seis meses e apesar de estar fantástica qualquer constipaçãozeca pode ter efeitos muito complicados e a outra tropeçar no ar. Com a Clara não vou a uma urgência desde que entrei na do Hospital de Vila Franca de Xira, ela com a cabeça de um dedo pendurada, e depois de termos sido evacuadas pelo INEM de um comboio Alfa. Há dez anos atrás. Com a Francisca a última visita tem quase três anos. Não esperámos nem cinco minutos para sermos atendidas. Ela estava com uma apendicite aguda, foi operada ainda nesse dia, e quando chegámos ao hospital já estava lá, ele sim à nossa espera, o fax da linha Saúde 24, onde excelentes profissionais seguiam telefónicamente o evoluir da " dor de barriga" . Atendimento exemplar, queixas zero.
Sim, tenho cunhas, mas nunca precisei de as usar quando toca a assuntos sérios. Tenho duas excelentes portas de cavalo num dos melhores hospitais pediátricos do país e anda aqui a ler-me quem não me deixa mentir, nunca fui aquela urgência por uma das crianças estar carregadinha de febre desde manhã ai s'nhor dótor a minha menina... Nem mesmo no dia em que o estupor da cabra mais nova resolveu beber um frasco de anti-histamínico eu saí de casa com ela. Linha de Apoio Venenos. Deram-me instruções precisas, executei-as e estes anos depois a gajinha continua grande e cheia de saúde.
Nós temos tudo, só precisamos de usar correctamente.
É por isso que digo que somos novos ricos de memória curta. Em poucos anos a nossa qualidade de vida melhorou muito sem os custos nos terem saído do bolso, mas passámos a exigir o rabinho lavado com água de colónia.
Hoje li que a Assembleia Municipal de Lisboa chumbou a abertura da contratação para a criação de uma rede de bicicletas partilhadas na cidade, com votos do PSD e PCP e vários argumentos, entre eles estas pérolas a falta de tradição de tráfego de bicicletas em Lisboa, as condições do relevo da cidade e a falta de infraestruturas para a circulação em duas rodas e uma cereja no topo "Passam-se dias sem ver alguém a andar de bicicleta".
A fotografia aqui do lado mostra o parque de estacionamento de uma estação de comboios alemã. Eles, os que nos pagam as auto-estradas que nos levam da porta de casa até à porta do emprego, as urgências hospitalares para o pingo no nariz e os subsídios para o Clube Recreativo Os Amigos da Pandeireta, andam de bicicleta e comboio. Devem ser parvos e pobres, devem ter um clima melhor que o nosso, que por aqui chove que se farta e faz muito frio, e se o nosso vizinho de cima também vai de carro porque não haviamos nós de ir? Somos menos que ele?
Refilemos pois. Fica-nos tão bem!
Chateada
Antes que comecem a falar dos bons velhos tempos em que até o Santo postava... É portanto um post preventivo.
Mas sim, venho dizer que devem ter cuidado com o que dão aos vossos crianços neste Natal. Sobretudo NUNCA, mas é que é mesmo NUNCA lhes passem prà mão alguma coisa que tenham pedido porque a Joana também tem ou que também deram um igualzinho ao Teo. Nunca.
E porquê? Perguntam vocês (é bom que perguntem senão o resto do post não faz sentido).
Muito simples. Estava eu a pensar que tenho alguns clientes que são piores que os putos. Ai ele tem? Então também quero. E este ele pode ser qualquer um, o vizinho, o fornecedor, o cliente, o tipo ao fundo da rua, aquela loja que abriu agora, os tipos do país ao lado... E foi aí que se fez luz, é que até o próprio mundo está a ser regulado assim. Desde a politica interna - ai ele foi primeiro ministro? então também quero; secretário de estado? também quero; ex-ministro administrador não executivo de empresa publico-privada a ganhar um balurdio? também quero (bem, isto eu também quero, caso alguém de vulto leia estas linhas) - mas se passarmos para a politica internacional não melhora. Ai eles são da UE? Também quero; ai usam euro? também quero... até a nível planetário, incrível. Dizem os pobrezinhos dos bancos que deviam apoiar, como os EUA fizeram claro, industria automóvel??? está mal, deviam apoiar como os EUA fizeram. Os Jogos Olímpicos?? Lindo, deviam fazer como os Chineses.
E tudo isto nasce onde? Na famosa e inocente frase "mãe, ele tem eu também quero..."
Não é?
Urgência de Hospital (outra parte)
É nestas alturas que confirmo que não fazemos parte do pelotão da frente. Quanto muito seremos a cauda. Parece impossível, mas é mesmo assim, é de cauda que se trata, que à minha volta só vejo caras de cu. Bem que assesto os olhinhos em todas as cortinas que se abrem só que sai sempre mais um cara de cu. George Clooney, que é bom e eu gosto, nadinha. Nem cheiro. Mas vou pedir o livro cor de rosa, ai isso vou, que se andamos a pagar um dinheirão todos os meses já era mais do que tempo de termos um Clooney em cada urgência.
Urgência de Hospital (1ª parte de muitas, pelo que já me está a parecer)
Há menos, muito menos, de meia hora que aqui estou e já tinha matéria para vários posts, ou mesmo teses de doutoramento.
Iniciei-me em grande, com uma funcionária solícita a explicar-me que "Ami" - eu pensava que tinha dito Ani e com Y, mas deve ser do meu sotaque nortenho - é "o nome de uma instituição". Agradeci bastante a preciosa informação e o voluntarismo com que foi dada e vim sentar-me com o rabo entre as pernas e pedindo desculpa por ter mostrado tamanha ignorãncia. Consegui, apesar de tudo, manter o riso bem resguardado.
Silêncio profundo na sala até chamarem uma senhora que até aí se mantinha, como todos os outros, sossegadinha num canto. O sossegada e calada era uma porém mera ilusão, que assim que ouviu o nome arrastou-se até à porta não parando de dizer bem alto ai nossa senhora, ai nossa senhora, ai nossa senhora. Aqui, sim, aqui, foi-me muito mas muito mais difícil conter a gargalhada, mas lembrei os sábios conselhos da minha amiga gaija. Os torceres de cara terão assim passado a esgares de dor e já decorei aquele ai nossa senhora para usar no momento certo porque deve ser eficaz. Pelo menos ela já está lá dentro.
Pronto, aquela ligeira animação foi o suficiente para se instalar um verdadeiro ambiente de arraial. A rapariga de vermelho já fez um escândalo no guichet de entrada, o homem de boné tenta explicar a toda a gente como o hospital Amadora Sintra é grande, o Ucraniano ouve e vai dizendo fónix - não sei se simples se com ph - e eu vou retirando úteis informações sobre vermelhos, amarelos e brancos - será que se estão a referir à agenda telefónica do comendador? - e contabilizando horas de espera. Parece que a média vai em sete horas, acabei de voltar a ouvir, sete horas, e acho que não preciso de muito mais para me sentir sã que nem um pêro (ups, agora um rapazinho de fato e gravata acena com processos de possíveis negligências e ameaça com reclamações no portal do ministério da saúde, que o livro de reclamações vai para o arquivo morto, mas isso já sabiamos que a rapariga de vermelho, que trabalha com essas coisas, já nos tinha esclarecido.)
Eu, à falta de jantar, tomei uma decisão. Enquanto tiver bateria no portátil estou cheinha de dores. O apagar do bicho vai ser a minha cura miraculosa. É a única decisão sensata. Sim, sei que tenho uma coisa daquelas bicudas que acho que se chamam cunhas, mas se tento atravessar aquela porta bem guardada na frente de um destes desperados saio daqui muito pior do que entrei e com muito menos saúde.
Lipstick Jungle
Vireal.
A britânica Amy Taylor pediu o divórcio ao marido depois de o apanhar a traí-la. Uma história aparentemente normal, não fosse a traição ter sido «consumada» no programa virtual Second Life. A amante era uma avatar, mas o divórcio foi pedido na vida real, informa a SkyNews.
Afinal há mesmo dois mundos, o real e o virtual, ou são só duas dimensões do mesmo?
Há muito que me habituei a ter gente "virtual" na minha vida. Conheço dezenas de pessoas assim e ainda hoje penso na "filha da fortuna", no "emvooplanado" na "de rastos" ou no "ezequiel" como amigos que já não vejo há muito tempo. E tenho saudades deles exactamente da mesma forma que tenho de muitos outros amigos que também já não vejo há muito tempo. A única diferença é que se a alguns poderia dizer estás mais velho ou estás gorda que te fartas a outros poderia notar algumas diferenças, mas seriam todas muito mais opinativas, tipo tens menos graça, estás mais comedida no linguajar ou perdeste a capacidade de sonhar.
Quando gosto de alguém normalmente é pelo que vejo, pelo que me é dado ver, pelo que sinto quando os sinto. Da mesma forma que se a companhia me agradar não costumo perguntar de que côr são as cuecas também não tenho necessidade de saber se quem encontro por aqui tem barriga, usa bigode ou gosta de saias travadas pela barriga da perna. Não há uma pessoa por trás de um nick, há um nick que identifica uma pessoa. Ou uma falta de nick.
Todos, aqui no Cabra, conhecem o Z, o nosso anónimo de estimação. O Z não é uma sombra na parede, o Z é uma pessoa, perfeitamente identificada pelas características que o fazem único no mundo. O Z pode entrar nas nossas caixas de comentários com o anónimo do costume e escrever uma coisa tão simples como "caril de camarão" que sabemos que é ele, da mesma forma que saberiamos que o Zé Manel, vizinho do 5º esq., era o Zé Manel, mesmo que um dia entrasse no elevador a falar russo.
Não distingo também os sentires, ou os gostares, entre o tal mundo e o outro ou o contrário deles. As paixões, os amores, os desamores, os ódios e as raivas não precisam de um desenho que lhes dê forma ou de um nariz que os cheire. Porque será compreensivel gostar de um tipo que tem uns olhos lindos ou de uma gaja que tem um extraordinário par de mamas e tão estranho gostar de quem, por qualquer razão, nos arrancou um sorriso, um suspiro, um frémito de prazer, um lampejo de esperança? Teremos sentires para quem estamos a ver e sentires para quem estamos a ler? Serão uns mais sérios que os outros?
Quantas vezes não dissemos já, e não ouvimos dizerem-nos "afinal não te conheço"? Teremos a pretensão de julgarmos que o que os olhos vêem é-nos mais verdadeiro que o que os sentidos sentem ou a cabeça pensa? Fosse assim e ainda hoje um tal de Copérnico juraria a pés juntos, tal como toda a gente o jurava, que o Sol fartava-se de rebolar à volta da terra, então não se estava mesmo a ver?
Andei, antes de começar a escrever este post, a fazer umas pesquisas sobre o real e o virtual e encontrei uma definição, na wikipédia, que me agradou bastante porque é exactamente o que penso. Transcrevo-a aqui, mesmo que o brasileiro com que está escrita lhe dê aquele ar de signo do zodíaco.
Quando pessoas se encontram ao vivo, elas só sabem da presença da outra pelos cinco sentidos do ser humano.
Visão. Vemos outra pessoa graça à luz. Então somos mediados pela luz. Não vemos a outra pessoa, vemos a luz que refletiu nela e chegou às nossas retinas.
Audição. Não ouvimos a pessoa: ouvimos as vibrações no ar feitas pela outra pessoa.
Olfato, gustação, tato. Podemos sentir o cheiro da pessoa. Mas o que sentimos são informações nervosas desencadeadas por substâncias exaladas pela outra pessoa e que chegam ao nosso sistema olfativo. Da mesma forma, o tato e a gustação.
Uma interação "ao vivo", então, é mediada pela luz e pelo ar. Nas interações por computador, estes dois meios são traduzidos mais algumas vezes: a luz e o som são transformados em impulsos elétricos, depois digitalizados, transformados em orientações magnéticas (nos disco de computador), em energia elétrica (nos circuitos eletrônicos), em luz (nas fibras ópticas), em ondas eletromagnéticas, etc, e decodificados novamente na outra ponta da comunicação. O que aconteceu, na verdade, foi traduzir algumas vezes a informação, mediar mais algumas vezes uma mediação que já existia. Toda interação é mediada, não importa sua natureza. Isto acontece com pessoas ou com qualquer outra coisa no universo.
Não existe, a rigor, diferença entre uma interação ao vivo e uma interação por computador, a não ser na forma de maior resolução e qualidade da mediação. Uma interação ao vivo tem maior resolução, maior quantidade de informações que uma mediação por computador. Mas também é mediada. Sendo ambas interações mediadas e tendo ambas a mesma natureza, como todas as mediações, não faz sentido diferenciá-las, a não ser pelo nome da mídia: interações ao vivo, interações online, por exemplo.
Parece então que a grande diferença é a quantidade de informação simultânea que se passa e se recebe, porque a qualidade não é diferente. E, a quantidade, pode sempre ser compensada com mais e mais informação ou com informação mais precisa.
Nada do que sinto por aqui será muito diferente do que sinto lá fora. A grande questão, aqui e lá, é conseguirem fazer com que sinta ou predispôrem-me a sentir. Tudo o resto só pode ser igual com estímulos diferentes. A Amy, a lá de cima, estava coberta de razão. Se apanhar o marido com outra é razão para divórcio por o considerar uma traição então não vejo qualquer diferença entre uma avatar e uma avantesma.
Posso?
Um dia, e por causa da merda de um vestido, zangámos-nos [é assim que se escreve zangámos-nos?], birra práqui, birra práli, amarrei o burro e ela o burro amarrou.
A verdade é que penso nela todos os dias. Não lhe ligo que eu cá sou uma mulher a sério e era o que faltava ela saber que tenho saudades dela [e o vestido era meu, foda-se!]. Ela, que é feita da mesma massa, lá deve andar, de nariz empinado por essa Porto fora. Porreiro.
Este fim de semana ela teve uma comunicação a fazer. Não sei se vai casar, se está grávida, não sei nada. Fui chutada pra canto por causa de um vestido [lindo] e ela fez um jantar em que convidou os meus pais. Fui mesmo chutada pra canto.
Podia ter pedido desculpas, ter-lhe ligado 2 meses depois e começar a conversa como se tivesse desligado ontem. Podia ter feito tanto para saber a comunicação e não fiz nada. Não estive lá nem quando foi decidido nem quando foi comunicado.
Isto tudo para dizer o quê?
Simples. Isto tudo são merdas. As pessoas, as Pessoas que nos são importantes merecem que estejamos lá, engolindo um vestido ou o raio que a parta. Devia ter baixado os cornos, emprestar lhe o vestido e talvez neste fim de semana estivesse aí, com papai e mamãe, a ouvir o que a minha doce irmã tinha para dizer. Preferi manter-me longe [que se foda] e não assisti a nada da vida de uma pessoa importante para mim. Nada.
Sim, fiquei com o vestido, não, não sei nada da minha irmã. Aquela que eu adorava e que me fazia chorar a rir, hoje, está noutra onda que eu não acompanho.
Este post é pra nada. Nem sequer está bem escrito. Não tem politica, nem provocações, nada.
Este post nem sequer está aberto a comentários. Este post [esta amostra de post] é uma tentativa de assumir que as pessoas, as Pessoas são mais que merdinhas e que as merdinhas, as pequenas merdinhas, estragam o que nós temos de mais valioso; as Pesssoas
E pronto.
Anonimato
Quando se fala de anónimos, e da coragem da cara tapada, fala-se de energúmenos como estes. À frente do TIC ou nas caixas de comentários. A coragem da bestialidade merdosa e medosa.
Os posts que não escrevi.
Não me apetece escrever. Nos últimos dias tem sido assim, não me apetece e pronto. E a minha barrinha do browser vai ficando cheia de temas para posts que não escrevo.
Não escrevo o post com a crónica da morte anunciada do bebé P, morto pela mãe e padrasto debaixo dos olhos dos serviços sociais e da polícia inglesa. A onda de indignação e emoção que varre o Reino Unido é enorme, tanto mais quanto se sabe que o menino de 17 meses foi visto dezenas de vezes por funcionários dos serviços sociais, médicos e polícias de Haringley, a norte de Londres, mas que estes foram incapazes de o retirar das mãos dos agressores. Acabou por morrer, em Agosto de 2007, vítima de ferimentos múltiplos. Se escrevesse até me podia apetecer perguntar se eles têm a certeza que isto não se passou no Algarve, porque lá na terra deles são todos muito eficientes.
E também não vou escrever sobre esses mesmos ingleses, ou outros, ou todos, que think the country's children are beginning to behave like animals and many believe they are increasingly a danger to adults and each other, according to a poll released on Monday. "It is appalling that words like 'animal', 'feral' and 'vermin' are used daily in reference to children,". "These are not references to a small minority of children but represent the public view of all children." Mas como não escrevo não digo, como o Astérix, que estes bretões são doidos. Devem ser maus exemplos vindos de fora. Qualquer dia as criancinhas do continente também têm de ficar de quarentena, como os cães, antes de entrarem em terras de Sua Majestade.
Também já me apeteceu falar sobre a semana do empreendedorismo e de como gosto de empreendedores, ou sobre o puto alemão, um empreendedor, sem dúvida, que estava sentado na sanita quando saiu disparado pela janela da casa de banho depois de ter accionado o ambientador de aerosol enquanto brincava com um isqueiro e que diz que ficou a cheirar a churrasco!...
No capítulo das comidas, e já que se falou de churrasco, gostaria de ter pedido ajuda para perceber esta notícia - uma refeição composta por 250 gramas de sopa, 100 gramas de fruta, 125 gramas de iogurte e 50 gramas de pão tem tantas calorias como um simples queque de 80 gramas. Como é que alguém, no seu perfeito juízo, vai gastar tempo a mastigar tanta coisa quando se consegue engordar exactamente o mesmo com um queque que, ainda por cima, é muito mais saboroso? Eficácia. O que é preciso é eficácia.
Infelizmente não me apetece escrever. Logo agora que não faltam notícias estranhas. Então não é que a CP vai homenagear o cineasta Manoel de Oliveira, baptizando um comboio Alfa pendular com o nome do cineasta? Um combóio Alfa? É que isto não é uma homenagem, isto só pode ser uma brincadeira. E ficaram-se pelo Alfa porque ainda não têm o TGV, mas deve ser esta a razão de tanto empenho neste combóio, poderem gozar com a cara do Manuel de Oliveira. Um combóio rápido? Será que estão a querer dar-lhe algum recado? Atrevem-se a sugerir que estão fartos de planos lentos, muito leeeeeennnnntos e que talvez um Alfa dê mais animação aos filmes? Ingratos!
A cereja no topo do bolo, o que me está mesmo a deixar incomodada por estar com alergia ao teclado é esta notícia do Sol - Sócrates entregou Magalhães só para a fotografia. Parece que o gajo esteve na Escola do Freixo, em Ponte de Lima, a entregar computadores aos alunos do 1.º ciclo. Mas, depois de o primeiro-ministro ir embora, as crianças tiveram de devolver os Magalhães. Palhaços! Para aí cheios de éticas e valores e dedos apontados e agora saem-se com uma destas. O Arquitecto, será que está inscrito na Ordem?, passou-se. Então o Saraiva achava que o Engenheiro, será que está inscrito na Ordem?, é algum Pai Natal? Se estamos em crise fazia algum sentido andar assim a dar computadores a criancinhas só por causa de uma fotografia? É mesmo só para embirrar. Palhaços!...
E pronto, como não me apetece escrever, devo estar com a neura, não vou fazer um post. Desperdiço este manancial de temas mas tenho fé nos homens e mais oportunidades irão aparecer, não tenho grandes dúvidas.
A queda de um mito
Por mais que acredite que o sol quando nasce é para todos, e que o Natal é quando um Homem quiser, hoje sofri uma desilusão.
A minha sala lá na empresa, além de ampla, tem janelas enormes e uma vista que me leva à foz do Douro. Sempre gostei do espaço que me destinaram, onde, não raras vezes, me deixo ficar sem fazer nada, entregue aos meus (poucos, claro!) pensamentos.
Hoje cheguei à empresa e reparei que a fachada do prédio está em obras, e agora é que vem a notícia, as minhas janelas tinham sido forradas com andaimes! Gaija, pensei, o teu dia está a começar bem… já não vais a lado nenhum. Esperei pacientemente, sempre atenta. Ouvi marteladas, máquinas e vozes, mas a minha vez tardava. Por fim, e no meio de muitos C e F, percebo que alguém se aproximava. Meia a medo (que nunca se sabe …) olhei, e, confesso, tive alguma dificuldade em desviar o olhar, enquanto concluía que a hora coca-cola light é um mito! Não vos descrevo o que os meus olhinhos tiveram que suportar, mas entre um neanthertal muito bem nutrido ainda com restos de arroz de cabidela comido à mão e sem fazer a mínima ideia do que seria um guardanapo, e um cro-magnon acabado de travar uma luta feroz com um mamute, não há muito mais a descrever! Fechei de imediato o portátil e saí, certa que só um bom bocado de sol na moleirinha me faria esquecer aquela visão dantesca.
Concurso de Natal
I live on a land down under
Para a malta xóvem que nos lê e para os restantes membros do rebanho (também jovens) informo que nos anos oitenta, havia um grupo de rock australiano chamado Men at Work que, entre outras musicas fabulosas, tocava uma chamada "Land down under". Ora pois, a dita música (que ainda ouço com alguma frequência) lembrou-me que, também eu vivo numa terra assim. A metáfora surgiu-me ao ler as declarações de Fátima Felgueiras (Sim, a nossa Fátinha, icon da política nacional) aquando da leitura da sentença de condenação a 3 anos e 3 meses de pena suspensa e multa de 2.000€ e perda do mandato por crimes de peculato, peculato de uso e abuso de poder. A Fátinha vai apenas recorrer da condenação à perda de mandato, sim porque apenas esse detalhe MENOR da pena a impede de reiteradamente continuar a cometer os restantes crimes. Ora bem continuando, a nossa Fátinha presenteou-nos com as seguintes pérolas: "Deus é grande. Eu não fui condenada, eu fui liberta!" Aleluia que alguém grita bem alto a verdade da mentira, pena é que só alguns (poucos muito poucos, elite que escasseia e à qual a Fátinha tem o privilegio que pertencer) tenham nascido com a rara, mas certamente recompensante, auto-alienação da realidade. Obrigado, Fátinha, só tu consegues com clareza mostrar-nos, ao Povo, o quanto nós vivemos numa "land down under".
Securas
Tinha tido uma noite agitada, recebendo e enviando sms até se deitar, já o sol estava prestes a ser senhor do dia...
Olhou para ele e sorriu piedosamente, certa de que era precisa muita pachorra para tanta insistência. Divertiu-se à brava, como em muitas outras coisas que faz na vida, sem desviar do caminho o empata. Finalmente entregou-se quase toda a ele e digitou furiosamente parando apenas quando a vontade de rir era incontrolável.
Desistiu, resignada a aceitar o que ele tinha para lhe oferecer, deitando-se primeiro de costas e depois de bruços mas desnecessariamente sozinha.
Ajoelhou-se, juntou as mãos em oração e pediu a Deus que lhe abrisse os olhinhos para não voltar a desperdiçar assim uma preciosa oportunidade.
Disse ámen, voltou a deitar-se, pousou-o na cabeceira e adormeceu pensando:
Deixa lá, ao menos o telemóvel não ressona!
Humidades
Olhou para ela e sorriu ansiosamente, certo da sensação maravilhosa que lhe iria proporcionar. Despiu-se com tempo, como muitas outras coisas que faz na vida, sem desviar o olhar. Finalmente meteu-se nela e puxou furiosamente parando apenas quando a dor era insuportável. Desistiu, resignado a aceitar o que ela tinha para lhe oferecer, deitando-se primeiro de costas depois de bruços. Ajoelhou-se, colocou as mãos em concha e espalhou pelo seu corpo encolhido, torcido e já dorido o precioso líquido. Saiu, enxugou-se, vestiu-se e saiu dizendo: Olha lá, o chuveiro não funciona!
Empregos
Tão simples quanto isto,
Faz parte. É mais prático assim. Fá-lo ser independente. Poupam-se minutos de manhã quando o sono é maior que a disponibilidade para fazer essa dança dos cordéis. Pronto. Ponto.
Pela vida fora o puto habitua-se a atar os sapatos sozinho. É capaz de pedir ao colega do liceu para segurar os livros enquanto o faz. Nunca o contrário. Nunca diz "ata-me os sapatos que eu estou cheio de livros".
Podem ter-se hérnias, um braço ao peito, putos ao colo; agaixamo-nos sempre para atar os sapatos largando, por vezes o mais importante; nós ou pelo menos parte de nós. Para quê? para atar sapatos, porquê? pois não sei.
E de vez em quando era bem porreiro que perdêssemos a vergonha de esticar o pé e dizer "ata lá essa merda por mim se faz favor", ou mesmo retirar os sapatos e meter aquelas botas que, por serem 2 números acima do nosso pé, deslizam que nem uma luva e não nos obriga a meter o saco das compras e a bilha do gás e o puto e o marsupio e a revista e a chave de casa e o telemóvel que entretanto tocou e atendemos em voz alta misturado com o miúdo que guincha porque tem fome e a massa que entretanto saiu do saco e caiu escada abaixo... e tudo porquê? porque fomos habituadas a atar os nossos próprios sapatos.
Bom fim de semana :)
Mão na massa.
Eu bem que não queria, mas vai ter de ser que de mal entendidos não gostamos.
A @na ontem fez um post que pôs no blog. Hoje decidiu tirar o post. A quem já tinha comentado peço desculpa, em meu nome e no do Cabra, mas a @na não reparou que já estavam comentários feitos e não é possível agora recuperá-los.
Para quem não percebeu nada - se abrirem inscrições digam-me onde, que também quero pôr o meu nome - fica um aviso: a @na poderá pôr aquele ou outro post qualquer, outra vez, quando assim o quiser e entender e aí é que ninguém vai mesmo perceber nada, vai ser mesmo granel e vamos parecer uma gambiarra de natal com posts a apagar e a acender.
Pode ser estranho, mas há que reconhecer que é muito adequado à época e nada mas nada monótono.
Que maçada
Acabei de saber que amanhã vou ter um dia cheio…
O que eles inventam para me dar cabo da beleza!
Talvez por ali
Avança como recua no seu caminho por esta rua, hesitante quanto ao rumo a tomar.
O sexto sentido a alertar para o perigo de seguir até a um ponto longe demais.
Na mente as virgens vestais que se choraram ofendidas pelas expectativas criadas quando nada existia ainda que as pudesse sustentar.
Avança como recua no seu caminho por esta rua, em busca de equilíbrio entre um objectivo realista e o simples desígnio do acaso que nos cartografa o terreno a pisar.
Os erros do passado para ainda mais complicar a travessia de uma rua deserta, vazia.
A penumbra do futuro para nos cegar a vontade de caminhar.
De simplesmente seguir por ali.
PURA MAGIA
O David Copperfield fez desaparecer aviões, o FCP fez desaparecer o Sporting da Taça de Portugal, a administração do BPN fez desaparecer uns milhões nas off-shores.
E nós no Cabra fazemos desaparecer posts. Mainada!
Resumo de uma semana no Cabra quando ainda só passaram 4 dias
(Poupem-me, estou farta de subir o Pico só para postar... é o único sitio onde tenho rede e ao fim de semana está apinhado de gente)
É mais ou menos como o seguinte;
Encontras uma pessoa porreira, trocam downloads (i)legais de filmes, montes de coisas em comum, anda ver a minha casa e eu convido-te para veres a minha... ok.
Eu chego lá e vejo logo uma gaija do norte toda bonita, bem arrumada, cheirosa e tal, a queixar se que ele, parvo, não quis, não foi, não coiso, não nada. Todos os tipos dizem "Eu!!, Eu!!" mas ela, com ar de desprezo, diz "não... não eras bem tu... era algo especial..."
Do outro lado um tubarão a sussurrar que "assim as palavras não magoam e eu, em cima do meu rochedo mantenho a distancia de segurança [que foi adjudicada pelo tribunal] e não fere. Fere de fera [pensem comigo: Fera -> tubarão] [acho piada ao efeito da seta...].
Aparece a Gabs que me espeta um autocolante colorido na testa. Assim. E sorri. E pronto.
O Santo, o tal que no inicio me disse [e isso deu-me razões para continuar a viver] olaaaaaaaaaaa Caos... [sim, Santo, lembro-me como se fosse antes de ontem...] nunca mais nada. Não me tuge, não me muge, não nada.
Eu ainda recito um texto que mete perfume e umas madeichas de outra, assim a ver se faço figura mas olham todos para mim e respondem-me em coro "HAN???" ao que respondo a ganir [e não no bom sentido...]
Bem á minha frente a dona do bar - de seu nome Teresa - pergunta, de telemóvel em punho, que numero de matricula é esse. Dizem-lhe que não sabem de nada e ela espeta o franguinho à parede e grita "não podias ter posto pelo menos a matricula do MEU carro? básico!!!"
Ao fundo, o comentador Z canta "Beija flor" do Cazuza enquanto no rodapé passa o youtube da música.
A Arrobita bate com o copo na mesa, diz que não consegue respirar, que o fumo é demasiado e vai-se embora, de férias. Ao abrir a porta, cruza-se com o Zé e a Tabasco que entretanto estavam lá fora a fumar um cigarro.
Bem giro...sim.
[O que mais gosto em vocês é o poder de encaixe. É bem bonito]
Ai sim?
Os homens são como tempestades de neve; nunca sabes quando vêem, nunca sabes quantos centímetros terão e quanto tempo irão durar.
[um bem haja...]
Mitos Urbanos II
As mulheres são como os táxis – estão sempre disponíveis (em teoria) mas raramente se encontra uma livre e sem empecilhos de qualquer ordem para efectuar o serviço nas horas de ponta.
Dia não
- Apeteceu-me bater-lhe! Estava eu ali, prontinha, linda, cheirosa, diposta a tudo, e o gajo: até amanhã... Totó! Grande totó!
Vamos lá pôr granel nisto.
A primeira vez é com o que se sabe ou o que nos dizem. Escreve-se o número e acrescenta-se-lhe um nome. Pode ser Pinto Castanheira, Alda do Talho, Notário de Ourique ou Loja para alugar. A seguir grava-se e já está, temos mais um contacto na nossa lista telefónica.
Se forem como eu também podem improvisar, e até adjectivar, e lá aparece a Ursa, o Sacana ou mesmo o Gaijo. Depois, com tempo, raivas ou amores, vamos reciclando. A Loja desaparece que já foi alugada, a Alda do Talho passa a Marido da Alda do Talho, porque afinal o número é o dele e o tipo até corta melhor os bifes e anota as encomendas, e o Pinto Castanheira pode ficar assim até nos tornarmos a lembrar quem é e por que raio temos aquele número. A Ursa e o Sacana normalmente chegam para ficar e o Gaijo tem muito que se lhe diga. Este é dos tais que nunca muda o nome, vai só mudando o número. Uma questão de updates, se me estão a perceber.
E gaija é assim. Tem destas coisas e não muda. Ou, pelo menos, eu não mudo, porque nem consigo perceber como se pode não dar relevância à forma como chamamos a quem nos liga. Ou não nos liga nenhuma.
É fatal como o destino que há nomes que na minha lista de contactos vão sendo alterados conforme sopram os ventos. De "amigo da Luisa" pode passar a, como é que ele se chamava Luisa? aquele que eu pois e coisa e tal e tu ficaste danada?, bem , de "amigo da Luisa" pode passar a Manel Faria, depois a Manel e um dia, talvez, quem sabe, pudesse ter ascendido à superior categoria de Gaijo, implicando uma ligeira remodelação no Gaijo pré existente que, com sorte passaria a Xico Marques ou, apanhando-me de esguelha, a Sacana12.
Mas isto, pelos vistos, é coisa de gaija, porque eles não ligam nenhuma, ou dizem que não ligam, ou fazem-se distraídos.
Gajo até já pode ter dez netos e três filhos da Lurditas, que ainda tem Lurdes Correia Cunhada da Alberta Mamalhuda escrito no telemovel. Ou então tem Kiduxa, Amorzinho, Gato Fôfo, com fotografia acoplada e música do mais only you que imaginar se possa, mas isso foi porque a gaja, sem "i" e com letra pequena, lhe apanhou o telefone e depois da triagem diária dos sms recebidos e enviados, chamadas atendidas, números marcados e horas de conversa, e voltando a não apanhar nada que o tipo é fino e sabe o que tem em casa, procedendo também ele a uma diária limpeza antes de sair do escritório, lhe muda o nome, derretida de amores e porque o seu Canuco vai ficar encantado que ela conhece-o bem.
E agora, que as posições estão esclarecidas, acho que qualquer Gaija gaija e cabra ainda por cima perceberá perfeitamente a ligeira irritação que tive há uns dias quando percebi que, num certo telefone para onde ligo uma vez ou duas por dia e já mandei umas centenas largas de sms, mas só por razões de saúde, claro, o meu nome, meses e meses depois, e estes meses têm dias e os dias têm noites e mais alguns dias entre as noites também, ainda aparecia tal qual fora escrito a primeira vez - TeXxx.
Os xizezinhos, estas pequenas incógnitas para o público em geral, é que davam a graça toda ao nome, diferenciavam-no dos outros, eram assim uma espécie de apelido. Estas letrinhas podiam ser muitas, mas muitas, há tantas por onde escolher, um alfabeto inteiro à disposição, mas eram, tão só, as três primeiras letras do nome da amiga boazona que nos apresentou antes dos tais meses e dias e noites terem passado, e bem.
É que é caso para dizer, sem qualquer dúvida e a Gaija do Norte apoiar-me-á de certezinha - masquéstamerda?
Pronto, fiz uma ligeira cena, pequenita, porque ele nem estava por perto, as negociações foram feitas pelo tal telefone onde a ignomínia aparecia, guardando eu qualquer atitude mais digna e uma tomada de posição mais firme para quando o apanhar à mão de semear, e parece, parece!..., que o meu nome já foi alterado. Acho que ele pode até não ter percebido a profundidade das minhas razões mas o instinto de sobrevivência está nos genes de todos, principalmente nos dos nossos gaijos, e ele lá terá considerado o fundamental da questão.
É que digam-me lá, gaijas, há pachorra para isto? As mãezinhas não lhes ensinam estas coisas? Teremos sempre de ser nós a fazer tudo? Os gajos não conseguem entender que isto não é um pormenor de gaija que não tem interesse nenhum, mas que isto é um daqueles pormenores a que nós damos toda a importância porque se eles pensam que é o tamanho da pila que conta mais para a avaliação geral estão completamente enganados?