Pátio dos desencontros

Nunca percebi se me eram dirigidas aquelas palavras esquecidas que ela quis esculpir num muro antes de partir, numa pedra de gelo que o tempo já quase derreteu.
Nem sei se já me esqueceu ou se ficou tatuada na sua memória cansada a imagem cliché de um beijo prolongado diante de um ocaso alaranjado de Verão.
Nunca saberei se neste momento ela sabe que ainda existo ou se isso lhe interessa sequer.
Sei apenas que é a mulher cujo cheiro me evoca o canteiro daquela vizinha do rés-do-chão que combatia a solidão espreitando, parasita, por detrás das cortinas daquela janela deserta, o amor possível para um voyeur como aquele que contempla agora as cicatrizes esfareladas nas paredes meio desabadas onde ela, a caminho de uma porta de saída em busca de salvação, gravou o epitáfio da sua secreta paixão.

7 comentários:

O Santo disse...

hummm...
isto cheira mas é a "Pátio das Cantigas"

Anônimo disse...

Ocorreu-me a canção do bandido, a propósito...

ardiloso disse...

Não será a Janela Indiscreta?

Anônimo disse...

Também encaixa bem, Ardi...

gaija do norte disse...

estou com uma neura que só queria ser aquele muro de gelo! derretia e pum!

gaija do norte disse...

foi-se o muro e o gelo:)

quando eu for grande, shark, quero ser como tu!

Anônimo disse...

E eu só não digo o mesmo porque trabalho em seguros e faz-me confusão a ideia de andar aí a enlouquecer o trânsito e a provocar acidentes à minha passagem pelas ruas...