A VIDA RESPONSÁVEL
Conduzir sem ter um acidente,
comprar massas e desodorizantes
e cortar as unhas às minhas filhas.
Madrugar outra vez, ter cuidado
e não dizer inconveniências, logo
esmerar-me na prosa de umas folhas
e estou-me nas tintas para elas,
retocar de vermelho cada face.
Lembrar-me da consulta do pediatra,
responder ao correio, estender a roupa,
declarar rendimentos, ler uns livros,
fazer umas chamadas telefónicas.
Bem gostaria de me dar ao luxo
de ter o tempo todo que quizesse
para fazer só coisas esquisitas,
coisas desnecessárias, prescindíveis
e, sobretudo, inúteis e patetas.
Por exemplo, amar-te com loucura.
Amalia Bautista
Esta senhora é espanhola e publica pouco, muito pouco, mas o que faz vale por muito. Nasceu em 1962, só um ano antes de mim, mas quando pega na caneta sai disto. Simples, não é?
Só não percebo porque é que eu não agarro já na caneta e não escrevo dúzias destes assim.
Parece-me que a gaita toda devem ser os decassilabos, mas com o treino e com a inspiração até ia lá.
Só falta mesmo é a inspiração.
E o treino.
E o jeito.
E os decassilabos...
É que pode parecer que não, mas os decassílabos são bichos muito irrequietos...
Só não percebo porque é que eu não agarro já na caneta e não escrevo dúzias destes assim.
Parece-me que a gaita toda devem ser os decassilabos, mas com o treino e com a inspiração até ia lá.
Só falta mesmo é a inspiração.
E o treino.
E o jeito.
E os decassilabos...
É que pode parecer que não, mas os decassílabos são bichos muito irrequietos...
Um comentário:
Desconhecia, o texto e a Sra.
Bom, muito bom. Obrigado
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