As ajudas nem sempre são o que parecem

E aquela sala estava uma balbúrdia. Madeiras e chaves e parafusos e encaixes - onde estará a 2ª pagina das instruções?
- Cuidado para não ferir os cantos da mesa.
- Vá, vamos virar com jeitinho.

E lá vem o Diogo vaidoso dos seus ténis novos... dois anos e meio de malandrice metidos num corpo rechonchudo e não muito alto. São assim os homens daquela casa, já o pai em pequeno era assim, o irmão era quase tal e qual, e o mais novito não foge à regra.

Tinha acabado de estar com ele no café, depois de meter as caixas na garagem, de reunir toda a coragem necessária ao árduo trabalho de montar uma mesita IKEA e de saber que a viagem da família era curta - uns ténis novos para o Diogo que estes já lhe apertam coitado.

Os olhos claros mal acreditavam que não estivesse a ver um brinquedo. E este é grande. Mas estão todos tão atarefados que é melhor andar por aqui com cuidado.
Vá lá, pelo menos repararam nos meus ténis novos! Giros não são? E porque raio está o meu tio a saltar?? Será para eu saltar também para experimentar os ténis? Ok, vou-lhe fazer a vontade para ele ficar contente e até vou rir que isto é giro - pensou o maroto.

O Diogo tem esta particularidade, pensa. E chora se não tem o que quer e berra se o chorar não resolve. Mas como é calão (ai a minha moral para criticar...) o Diogo não é muito amigo de falar.

Lá sai uma palavrita ou outra porque tem de se mostrar que se consegue, lá vem uma "pápa" porque a fome (sim, aquele corpinho requer manutenção atempada) às vezes aperta, lá vem um "mamã" porque depois ela faz muitos mimos e sabe bem, agora fazer uma frase.... naaa, isso já ultrapassa os limites do que ele acha razoável.

E nesta brincadeira do saltas tu salto eu o Diogo ouviu a mãe perguntar - Como se chama o tio?

Ok, condescendo em aceitar que o meu nome é simples e que qualquer criança o sabe dizer, alguns até mais novinhos que o bom do Diogo, mas lá que a resposta saiu tão rápida como surpreendente - essa não deixo ninguém sequer julgar. O Diogo, das palavritas que já disse uma foi o meu nome. E na altura certa ainda por cima. Quais instruções bilingues qual chave eléctrica qual carapuça... a ajuda para terminar de montar o novo mobiliário tinha acabado de chegar.

Resultado - 3 parafusos não encaixavam em lado nenhum e foram classificados como suplentes. Devem ser, não acham? "Qualquer mesa pode abanar um bocadinho que não vem mal ao mundo" - ficou decidido também.

Gosto dos meus sobrinhos

5 comentários:

Teresa disse...

inbejoso...
Mas se estamos numa de babanços, posso contar a minha história. As minhas filhas quando eram pequenas dormiam as duas no meu quarto. A Clara com dois anos e meio e a Xica nascida de fresco. Parecia uma sala de maternidade. A minha cama e na parede em frente as camas delas - duas camas de grades seguidinhas. Um dia acordei com um "mamã" e instintivamente olhei para a cama da Clara. Nada. Dormia profundamente. Obriguei-me a olhar para a outra. Agarrada às grades, a espreitar entre elas, tinha sete meses e sete dias de gente a chamarem por mim... Desgraçadamente, a partir desse momento mágico, nunca mais se calou!

O Santo disse...

mas essa a grande diferença, após aquele momento de fulgor oratório, o bom do Diogo voltou aos seus risos e chega de conversa para os próximos tempos

Teresa disse...

(reparei agora... outra vez o "jeitinho"?)

O Santo disse...

algo contra?

Marias disse...

Também não resisto a contar uma. A minha Catarina tb era nuito circunspecta e com dois anos não dizia palavra, além da mamã e papá, mas com mais uns meses, eu digo-lhe, apontando na Tv um animal: "Olha, um memé! " e ela com ar intrigado " Ah! Paece mesmo uma ovelha....?!?" . Pois....Ok...
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