Prefiro ver o meu copo meio cheio.

Oito e vinte da manhã.
Aqui o Santo não fez milagres, feriadinho é mentira e a rotina é a do costume.
DESPACHEM-SE!!!!!...
Vamos chegar tarde à escola... E hoje tenho uma criança a mais em casa, que eles, por aqui, parece que nascem nos cantos... Clara, bebe o leite... não, não está quente... Francisca, bolas, onde é que vocês foram?? À piscina??? Estão malucos?? Agora estão para aí a escorrer e já deviamos estar a caminho...
Sabes m'mã, ainda não te dissemos mas a Colette fugiu e não sabemos onde está...
Ups e pára tudo... Branco ou não, tenho um rato à solta na minha cozinha?? Ninguém sai de casa enquanto o maldito rato não aparecer, ou meto o Sebastião cá dentro e ele trata do assunto.
Aulas? Não quero saber. A Clara só entra às 9.30, vocês têm Educação Física e hoje nem iam fazer nada de especial. Ou encontram o rato ou temos chatices.
O armário, não mexam nesse armário... não mexammm... nãaaaooo... Mexeram! Claro que as prateleiras iam cair, eu disse não mexam! ajudem aqui, apanhem os flocos, cuidado com os vidros, Francisca empurraste o armário? Parece que estou a ver a Colette lá ao fundo, mas está esmagada... Bolas, pára de gritar e vai buscar a lanterna...E eu disse não mexam! Olha, parece que não é a Colette, era uma lima...
Muito bem, o rato está encontrado, mas a primeira hora está perdida.

Sexta-feira 13 ... Eu sabia que só podia dar azar.

Oito e trinta da manhã.
Aqui o Santo não fez milagres, feriadinho é mentira e a rotina é a do costume.
Entrada da escola.
Carros, confusão, crianças aos berros, mães histéricas, o pai giro, o único, já chegou?, olhem o dinheiro do lanche, deixaram a flauta no carro, pirem-se, corram, a campainha está a tocar.
É sempre o mesmo, mas hoje não foi. Hoje foi muito diferente, nós não estávamos lá, mas a história já foi contada e voltada a contar.
Vem aí a carrinha do pão. O tipo está acelerado. Ai..ai ai... Não vai ver aquele carro.... Shit!
O carro foi arrastado na frente da carrinha uns bons metros. Lá dentro a mãe e as duas crianças. Parou quando bateu no outro e o atirou contra o muro da escola. Lá dentro o Carlos, o director, o ídolo da criançada.
Bombeiros. Inem. Polícia. Dezenas de miúdos em pânico. Caos. Gritos, muitos gritos. Cortem os carros para os tirar de lá. Rápido, estão muito mal. O Carlos safa-se, os outros é complicado.
Não há aulas no primeiro tempo. É preciso acalmar toda a gente. A psicóloga já não tem mãos a medir. Vai ter muito trabalho antes que a normalidade regresse à escola.

Raio de azar, só podia ser sexta-feira 13...

Pois só, mas as minhas filhas e o amiguinho delas não estavam lá. Foram poupados a tudo isto. O meu azar, o lá de cima, o primeiro, afinal tinha virado uma enorme sorte.
Somos assim. É-nos muito fácil lamentar e olhamos só do lado que convém, do da desgraça, do coitadinhos de nós que só temos azares na vida e nada nos corre bem.
Será? Mesmo quando parece que corre mal não poderá estar a correr bem? Que tal se, de vez em quando, experimentássemos olhar do outro lado e agradecessemos um bocadinho à vida as borlas todas que nos vai dando?

3 comentários:

gaija do norte disse...

O meu copo está sempre cheio, de sorte!

sem-se-ver disse...

espero que os outros se tenham safado!!

Teresa disse...

Safaram... magoados, mas sim. Já fui saber.