Os dias na net ( continuação)

A rotina mata-me.
Depois da noite e da manhã, o dia na net.
Além das compras, limpezas, levar à escola, fazer comida e dar mimos a dois gatos, um cão e dois miudos, há o meu "emprego".

Os senhores do centro de emprego de Loures, muito activos, mandaram-me a uma entrevista num centro de explicações , perto de casa, uns 15 minutos de carro. Aí estou eu, ex professora de português do complementar, a aceitar um emprego de 500 euros mês, mais seis de subsídio de almoço, oito horas dia, dar aulas de inglês , português e ATL. Ok, tudo bem, sempre ganho experiência e desatrofio um pouco. Mas aí percebem que não sou desempregada de longa duração, não lhes vou dar benefícios fiscais e sou despachada. Mas 15 dias depois telefonam-me.
Que há um aluno, Nuno, a preparar para o exame de 11 º ano de inglês, se eu quero, pagam 10 euros hora, mas quando completar o ano de desemprego (setembro) podem contratar-me. E não se diz nada no centro de emprego, pois. Bem, eles lá também não me pagam nada, por isso...

Lá aceito e ando eu a gastar gasolina, dinheiro em livros, gramáticas, fotocópias, a estudar para o preparar para um exame de seis/sete anos de inglês. Ele, que tem nível de 9º ano, chumbou no 10º com seis valores, este ano nem assiste às aulas. Aparece com as suas jeans rasgadas a cair, rasgões nas pernas, caderno enrolado na mão. Através da franja mal se vêem as feições, e é difícil arrancar algumas palavras sobre a importância do inglês no mundo de hoje.

E apesar de tudo eu gosto. Lá andamos nós, todos ex professores desempregados, muito animados, a pensar que fazêmos alguma coisa util.

O programa é muito moderno, é sobre os problemas da actualidade, obesidade versus fome, consumismo e exploração infantil, tecnologia e alienação, ambiente, ecologia, turismo, ecoturismo, globalização, poluição.... são temas importantes. Os textos são bem escritos, as discussões orientadas, e eu tento que ele leia e perceba e dê a sua opinião.

Ele quer saber se sai no exame, se pode sair cinco minutos mais cedo, para ver o jogo, quer ser treinador de futebol... Vai, pira-te. É o teu mundo, nós é que tu fizemos mas és tu que vais viver nele, eu preocupo-me , tu não, mas nós fizémos-te assim.

14 comentários:

zbeb@ disse...

O problema pode estar na franja.
Eu qd tinha franja tb tinha dificuldade em olhar para o futuro, só q agora.....cof cof.....vou ver se a deixo crescer, pq não me agrada nada o q lá vem!!!

:P:P

gaija do norte disse...

Ele não tem culpa. Como dizes, nós é que o fizemos, mas porque nos fizeram e alguém antes de nós o fez... Isto soa a rebanho, não gosto!!

O Santo disse...

tas a ber gaija que tenho razao. é a sociedade que faz as pessoas e nao o contrario

Teresa disse...

gaija e santo,

estranho...vocês dois a dizerem o mesmo? e a negarem a liberdade de nos auto determinarmos? onde fica a escolha individual? a consciência, a liberdade?
a nossa história já está escrita antes de nós?

ó santinho, e o pecado, como resolves o problema do pecado? "perdoai-me meu deus que a sociedade pecou"?

desenbolbam, faxavor...

O Santo disse...

nao decides nada de novo, mas apenas e só sobre o que a envolvencia te permite.

(mas tb fiquei preocupado com a concordância com nortenhas.... inda perco metade dos meus rebanhos e fustigarão os ventos as minhas pastagens... sim o caos esta perto)

Teresa disse...

mas do caos nasce a luz, já dizia o Isaac Asimov...

agora vamos por partes:

1. E deus fez o céu e a terra e descansou ao sétimo dia.
Ou continua ainda a descansar ou há dedo dele na tal envolvência. Se assim fôr, e desta vez como dizia o Bertrand Russel, se deus faz o mal e o bem tem de ter tanto de bem como de mal nele. Pai e padrasto ao mesmo tempo. Cai por terra o tal deus é amor.
Por outro lado, se o Criador nos largou à nossa sorte por causa da tal maçã, e se a nossa sorte é ditada pela nossa envolvência, quem envolve a envolvência? Há uma força mais poderosa que a de deus a comandar os nossos destinos? Se fôr assim lá se vai a omnipotencia.
(vira-te, ó santo!)

2. Concordares com a gaija do norte, esta ou outra qualquer, mesmo que não seja tão nuorte nuorte e mais nuortecentro, só te fica bem, ouviste pázinho??
(vira-te, ó nem sempre de serviço!)

O Santo disse...

isto ja comeca a dar trabalho, mas se e pa me virar... (inda bem que duas vezes que nao consigo escrever de costas)

a tua sorte és tu q a fazes. isso é obvio. por isso Pai e não dono.
mas as tuas escolhas estão limitadas ao que conheces e te rodeia. não é comandada, a existência é simplesmente limitada pelo que te é revelado.
até o bem e o mal te são revelados (ai se o Socrates ouve... o velhote, nao é este)
Pq escreves comentários? - pq alguem escreveu o post
Pq escreveram o post? - pq existia blog
Pq fizeram blog... etc etc etc...

Teresa disse...

teoria da causalidade?
mas desde há anos que se tem como assente que a causalidade está limitada pela consciência. Em direito penal a única causalidade que se aceita é a causalidade adequada, não se podendo punir pela morte do homem aquele que vende a arma.
Mas podemos também falar de Freud, e do Ego, formado pelo Superego e o Id, mas Ego.
Ou queres Ortega y Gasset (bolas, isto é que é citar de memória..) com o eu sou eu mais as minhas circuntâncias?

Agora explica é a parte do "limitada pelo que te é revelado". Revelado çpor quem?

O Santo disse...

poderia complicar mto mais as coisas mas fiquemos pelo simples e imediato - Estas a citar, td isso te foi revelado. cqd

(e cabrinha mor, nao te vires.. gosto de frente, olhar nos olhos)

(o post era sobre isto???)

gaija do norte disse...

teresa, nós não dissemos o mesmo. o santo é acha que sim.

santo, não, não é só a sociedade que nos faz, ou eu nunca seria gaija.

e que tal comentarem o post???

Anônimo disse...

E eu sou a gabs do litoral (gaja não gosto) e o post era sobre esta geração não nos ligar nenhuma, tal como nós não ligávamos à anterior,e eu estou a transformar-me na minha mãaeeeee.....

Teresa disse...

Não gostas de gaija, gaija?

Marias disse...

Não. Vamos ver se consigo sair sem ser anónima. mas gajos são os pós 25 abril, e eu na altura era pequenina, e nunca chamei gajo ou gaija ou isso, era betinha....

Teresa disse...

Pois eras. Eu lembro-me. Eu também era, mas arrepiei caminho a tempo. Agora é gaijo mesmo. E sou gaija, pois claro.