A sorte dela

Estava a conduzir e lembrou-se das outras seis. Aquelas que encontra três ou quatro vezes por ano, a quem telefona no Natal, nos aniversários e sempre que acontece alguma. Elas e a sua vida organizada não dão para muito mais. Casadas ou de facto em união, fazer jantares onde menino e filhos não entram é por vezes complicado. Umas permanecem na união original, outras vão já na terceira, mas só ela continua (para grande alegria das outras) solta! Elas gostam das aventuras dela, dos fins-de-semana, dos tombos no rafting, das viagens, das pessoas que vai conhecendo. Gostam do atrevimento, aquela capa que esconde a sua imensa timidez, do seu ar de menina, do nariz torcido de cada vez que ouve um palavrão despropositado, do riso, da facilidade com que lhes diz tudo sem as magoar, da forma cuidada como escolhe as palavras antes de se pronunciar.
Não gostam dos namorados, gostam dos homens que vão passando pela vida dela, sem parar… Dizem que não querem que ela se estrague, que ela não imagina a sorte que tem… Ela não entende bem esta noção de sorte! Afinal, não são elas que têm um ombro (sim, têm mesmo) sempre que chegam a casa, não são elas que têm sempre companhia quando querem sair? Não são elas as amigas e confidentes dos respectivos? A culpa é dela, que conta a vida como se fosse um livro bem disposto. Não lhes conta quando chora, quando precisa do tal ombro e não tem, quando não lhe apetece cozinhar e prefere não jantar a entrar num restaurante sozinha. Isso é dela, e não conta a ninguém. Não vale a pena. Não porque elas deixassem de gostar dela, isso nunca, mas porque iam começar a telefonar todos os dias e ela não tem paciência. Está sozinha porque quer. E gosta!!
Chegou ao destino. Estacionou, saiu do carro e sorriu-lhe.

2 comentários:

Teresa disse...

Olha uma vida copy/paste...

O Santo disse...

e cut e save