Os cães e os gatos


Os cães e os gatos dão-se muito bem.
O meu gato sobe ao sítio inacessível onde eu guardara os bifes para o almoço e atira-os ao chão. A cadela come-os e deixa-lhe uns restos.
Brincam muito , sobretudo à apanhada, e se o gato leva uma dentada mais de força surgem logo as unhas de fora e um ganido sentido.
Tanto um como o outro aprenderam depressa as regras de higiene. O gato no tabuleiro de areia e o cão nos jornais da marquise... Só que o gato no seu zelo de limpeza e escavação atira-me as pedras pela cozinha toda e a cadela prefere ir até à rua, onde me puxa em direcção ao parque e aos amigos, quer eu queira, quer não...
São ambos muito fiéis à sua dona e embora durmam muito (como ela), seguem-na por toda a casa, e se por acaso ela tem dores ou chora, entram num estado de aflição impressionante.
Mas os cães e gatos dão muito trabalho, e mordem, roem, arranham, ladram, miam com o cio...
Para muitas pesoas é demais. E nas férias, o que fazer? Levar, ficarem em casa, pagarem a alguém para tomar conta? E é assim que muitos ficam pelo caminho, no alentejo, quando os donos vão para as suas férias de verão para o algarve.
Os cães e gatos não duram para sempre, uns 15 anos, no máximo. O meu último gato estava na minha mãe e adoeceu devagar, de feroz e vivaço tornou-se em meses numa sombra do que era. Quando vim de férias o ano passado e o vi assim , levei-o às urgências do hospital veterinário de S. Bento, onde lhe fizeram uma ecografia. Era um tumor e nada se podia fazer. Aliás ele estava agonizante. O vet perguntou se lhe podia dar uma injecção. Eu disse que sim, e fiquei com ele. Ele demorou mais do que necessitava, talvez para me dar tempo com ele, e eu com o ouvido no seu pescoço, ouvia-o ronronar, arfar e depois parar. Quando o médico chegou já não era preciso, e eu fui à rua levantar dinheiro ao multibanco, pagar a consulta, a cremação e assinar os papéis.
Saí com os ouvidos a zumbir e guiei em transe até casa, sempre com a s lágrimas a cairem sem parar. Só pararam em casa da minha mãe, onde ela diligentemente já fizera desaparecer todos os vestígios do gato. Que era meu e não dela, apesar de lá ter vivido 15 anos, doze sem mim.
O que fiz a seguir foi ir a uma instituição de abrigo de animais com os meus filhos e doar as coisa e comida que restara. Depois fomos à "creche" e vimos os gatitos. Havia três albinos acabados de chegar e eles quiseram logo o mais franzino e barulhento. Meio duvidosa, não fosse ele morrer, lá o trouxe, para nossa casa, onde já estava a cadela de seis meses, preta. Foi realmente amor à primeira vista, com aquele gatito intrépido a explorar a casa seguido de uma cadela a ladrar sem parar, mas a uma distâncoa prudente, já fora educada pelo que morrera.
E pronto. São mais quinze anos de alegrias. Provavelmente até vou eu primeiro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Li agora " O Marley e eu " e fartei-me de chorar. Há os que gostam e os que não gostam nada, e de certeza que muitos cães abandonados no alentejo encontram donos.

Anônimo disse...

Li agora " O Marley e eu " e fartei-me de chorar. Há os que gostam e os que não gostam nada, e de certeza que muitos cães abandonados no alentejo encontram donos.