Percebi hoje que era já rotina.
Vinha da escola, de levar as crianças, e quando cheguei ao último cruzamento antes de virar para casa - o café e o banho ficam sempre para depois de me despachar delas - ali, naquele sítio onde me aparecem os montes ao longe e os campos verdes a perder de vista, pensei nos 69.000 mortos na China.
Percebi que desde há uns tempos, todas as manhãs, quando ali passo, é para eles que vão os meus pensamentos. Para todas aquelas pessoas que não vão ter mais manhãs, nem campos verdes, nem colinas.
Tenho andado a fugir de escrever sobre a China e a Birmânia. Tenho andado a fugir de escrever sobre essas pessoas que, por serem números, deixaram de ser pessoas. Há mortos que são mais mortos que outros e estes, por serem tantos, deixaram de o ser. Passaram a calamidade, desgraça, horror, e deixaram de ser pessoas, uma a uma, até se chegar às 69.000.
É muita gente. São muitos miúdos, como as minhas filhas, que morreram nas escolas. Muitos pais, muitas mães, muitos tios, avós, namorados, sacanas e génios. São "os mortos confirmados" e deixaram de ter nomes para serem um número. Grande. Grande demais quando falamos de almas.
Todas as manhãs penso como é pequenina a minha vida, como me embrulho com os meus nós e os meus laços, como me sinto miserável ou a rebentar de felicidade, e como consigo fazer isso tudo aqui no meu mundinho, sem me lembrar, a maior parte das vezes, do mundo lá fora. Do mundo grande. Do mundo a sério. Do mundo onde morrem 69.000 pessoas e nós continuamos a reclamar porque a chávena do café não foi escaldada.
Tenham uma boa semana. Não percam muito tempo a pensar no chinesinho lindo, o número 12.423, que morreu a brincar com um cavalo de pau, mas pensem só um dois segundos. Pensem que nem direito a um nome teve na morte. Só a um número. E pensem como o nosso olhar é tão curto, que só nos deixa ver e sentir o que temos ao pé da porta. Ou o que tem nome e não só um número.
Vinha da escola, de levar as crianças, e quando cheguei ao último cruzamento antes de virar para casa - o café e o banho ficam sempre para depois de me despachar delas - ali, naquele sítio onde me aparecem os montes ao longe e os campos verdes a perder de vista, pensei nos 69.000 mortos na China.
Percebi que desde há uns tempos, todas as manhãs, quando ali passo, é para eles que vão os meus pensamentos. Para todas aquelas pessoas que não vão ter mais manhãs, nem campos verdes, nem colinas.
Tenho andado a fugir de escrever sobre a China e a Birmânia. Tenho andado a fugir de escrever sobre essas pessoas que, por serem números, deixaram de ser pessoas. Há mortos que são mais mortos que outros e estes, por serem tantos, deixaram de o ser. Passaram a calamidade, desgraça, horror, e deixaram de ser pessoas, uma a uma, até se chegar às 69.000.
É muita gente. São muitos miúdos, como as minhas filhas, que morreram nas escolas. Muitos pais, muitas mães, muitos tios, avós, namorados, sacanas e génios. São "os mortos confirmados" e deixaram de ter nomes para serem um número. Grande. Grande demais quando falamos de almas.
Todas as manhãs penso como é pequenina a minha vida, como me embrulho com os meus nós e os meus laços, como me sinto miserável ou a rebentar de felicidade, e como consigo fazer isso tudo aqui no meu mundinho, sem me lembrar, a maior parte das vezes, do mundo lá fora. Do mundo grande. Do mundo a sério. Do mundo onde morrem 69.000 pessoas e nós continuamos a reclamar porque a chávena do café não foi escaldada.
Tenham uma boa semana. Não percam muito tempo a pensar no chinesinho lindo, o número 12.423, que morreu a brincar com um cavalo de pau, mas pensem só um dois segundos. Pensem que nem direito a um nome teve na morte. Só a um número. E pensem como o nosso olhar é tão curto, que só nos deixa ver e sentir o que temos ao pé da porta. Ou o que tem nome e não só um número.
3 comentários:
É mm... demasiado cruel.. e nao da seker para pensar mt..imaginar.
Boa Semaninha.
Ana
anamania.blogs.sapo.pt
realmente é mesmo como dizes, mas ainda bem, não é?
se nós tomássemos como nossas todas as desgraças que acontecem morríamos de tristeza!!
Não quero tomar como minhas todas as desgraças, que tenho tristezas suficientes no curriculum e nem a essas deixo levantar muito a grimpa, mas custa-me ouvir falar em numeros destes sem se pensar que são uma soma de pessoas.
por não dar para pensar, ou imaginar, é que nós não pensamos... mas às vezes é bom que se faça um esforço. e eu quero fazê-lo.
obrigada pela visita..
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