Ele ouve-se com cada coisa...

Está bem, o meu carro, que nunca me deixou ficar mal, tem-me andado a falhar, mas isso não é razão para repensar toda uma filosofia de vida...
Hoje de manhã, na hora de ir comprar o pão, tornou a acontecer o que já tinha passado a ser rotina - bateria, zero. Muito bem, ele até já está numa descida por alguma razão.
Três metros à frente, que aqui as descidas são curtas, continuava sem dar ar da sua graça e, antes que precisasse do tractor para o desatolar do meio do pasto, fiz torradas para toda a gente e fiquei à espera. À espera que os vizinhos, que até andam por aqui, aparecessem mais a jeito de semear, que os cabos milagrosos estavam já a postos e só precisavam de uma bateriazita em melhor estado que a minha para fazerem o seu serviço.
Estava a rebentar de orgulho, que não me apanhavam de calças na mão. Sim, eu até tinha cabos, sou mulher mas previdente. Que esses cabos me foram dados ontem por quem teve de andar às oito da manhã a carregar-me a bateria do carro, não valia a pena dizer. Que esse alguém também me carrega as baterias a mim, é perfeitamente escusado que se saiba, portanto, e voltando aos cabos e aos vizinhos, fiquei serenamente ao sol à espera da melhor altura para a pedinchice.
Foi agora.
- Sou César, ó fache favor, importa-se de me dar uma ajudinha?
Foi tiro e queda.
Cabos para cá, cabos para lá, dê à chave D. Teresa, pega, não pega, vai a baixo, torna a pegar e torna a ir abaixo.
- Água na bateria, tem?
Água na bateria? Sei lá, eu levo à oficina e já é uma trabalheira...
Salta a caixa das ferramentas do IKEA, outro dos meus orgulhos de gaija sozinha mas desenrascada, e as tampas da bateria são abertas.
Nadinha. Seca. Água era coisa que se já tinha visto só pode ter sido há muito muito tempo. Pronto. Água destilada do ferro da roupa, funil do azeite que eu cá gosto de almotelias, e toca de dar de beber a quem tem sede. E de dar à chave. E de ouvir o motor a ronronar tal qual um fórmula 1 em dia de grande prémio.
Tudo resolvido? Não, faltava a humilhação final.
- Sabe D. Teresa, isto não é só pôr gasolina...
- Pois Sou César, eu sei, eu sei...
- Deixe lá, as mulheres são assim. Faz muita falta um homem em casa, não faz?
Han??? Como??? Faz muita falta o quê onde?
Mas eu pedi uma ajudita para o carro, não pedi uma lição de vida e muito menos apartes foleiros. Um homem em casa? Mas um homem em casa tinha feito o quê? Posto água na bateria? Não me cheira...
Um homem em casa estaria ainda a tentar ligar para o mecânico que não lhe ligava nenhuma e a recusar-se a pedir, olha a humilhação, ajuda aos vizinhos. E, acima de tudo, um homem, ainda que em casa, não usa mini saias destas, e mesmo que ficasse sem cervejas e dada a situação de calamidade iminente acedesse a pedir ajuda ao Sou César, ele de certeza que não ia perder tempo a pôr-lhe água na bateria.
Mais grave ainda, com um homem em casa eu até podia estar com a sainha com que estou, que o Sou César estava-se bem borrifando. É que se tenho cão não posso caçar com gato e lá ficava a bateria sem água e eu sem as cervejas que vou agora, de carro, comprar.
Por isso, e adaptando o velho adágio popular, homens e passarinhos só na casa dos vizinhos.

5 comentários:

gaija do norte disse...

Tão esperta é a sabedoria popular!

Anônimo disse...

Teresa água tinha há bem pouco tempo....eu vi....lembra-se!
o melhor é mesmo uma bateria nova
:)

Teresa disse...

não tinha... deve ter evaporado...tb disse que tinhas visto... mas aquela porcaria tem seis furos e só vimos um...não comunicam..... gaijas...

Teresa disse...

mas estás a imaginar o sou cesar? eram só mordomias.... só faltavas cá tu e até a bateria tinha mudado...rs

O Santo disse...

eu aposto na bateria nova, e utilizando a mesma sabedoria - olha que quem te avisa....