Na rua da verdade crua

Subo a íngreme ladeira das expectativas exageradas, ofegante, só pelo prazer de me guindar ao ponto mais elevado de onde poderei saltar depois.
Passo a passo, a ver se não tropeço num engulho para não acordar com o barulho da minha imaginação ressabiada que cultiva a ambição desmedida neste sonho impossível de concretizar.
O som de um cavaleiro de bronze tombado do pedestal, estendido ao comprido no sopé da sua escalada viciosa pelo ciclo descrito em prosa.
Pela vida que nos estatela no meio das palavras que não conseguimos amordaçar. A poesia que paira no ar rarefeito que transforma o meu peito na cratera agitada de um vulcão acabado de despertar de um son(h)o profundo.

E toda a esperança do mundo expelida de uma vez sobre o alpinista que a lava desfez em lágrimas evaporadas depois. As nuvens que cobrem os sóis deste planeta distante onde sopra um vento levante que arrasta as cinzas deixadas pela explosão, as sobras de outra desilusão acordada pela manhã.
Desço da cama onde a vida sonhada é uma amálgama alucinada de referências e de impressões. Um pequeno almoço de ilusões depois do duche com um balde de água fria e a porta de saída rumo à entrada para o elevador que transporta o amor para o piso mais alto como pode conduzi-lo à cave ou ao rés do chão.

O sol verdadeiro que não ilumina o mundo inteiro ao mesmo tempo, entretido no jogo do gato e do rato com a noite que acaba sempre por lhe escapar.

Um novo dia a começar na rua da verdade crua, paralela à avenida da fé.

48 comentários:

@na disse...

lindo!
mas no meu mapa a avenida da fé é perpendicular à rua da verdade crua, não é paralela.

gaija do norte disse...

é tão bom começar o dia com uma prosa destas...

atravesso, muitas vezes a correr, a rua da verdade nua e crua, mas gosto sempre da avenida da fé!

logo já é fim-de-semana :)

shark disse...

Espero que não te falhem os cruzamentos, Ana.

Teresa disse...

faz favor, posso pedir uma informação? estou na rua da verdade crua a tentar ir para a rua da fé mas perco-me sempre nas ruas da amargura. pode dizer-me qual é o melhor caminho?

shark disse...

Agora imagina tu, Gaija, como é bom acabar o dia com o respectivo prosador...
:-)

shark disse...

Concerteza, minha senhora. Está de carro ou a pé?

shark disse...

(Maçaricas, nem GPS nem Google Maps...)

Teresa disse...

é melhor ir a pé para não ter de me preocupar com os sentidos proibidos..

Teresa disse...

(as mulheres não sabem ler mapas de estradas, dizem...)

gaija do norte disse...

hummm... era só prosa?

gaija do norte disse...

dizem muito mal! eu leio muito bem mapas de estrada. também me entendo com o google maps, mas não me habituo à voz da senhora que mora no gps...

Teresa disse...

a catarina? essa é um bocado irritante mesmo..
(eu também sei ler os mapas quase todos, que com os astrais nunca me entendi muito bem, mas deixa-me lá pôr este ar indefeso que o tubarão gosta de ser cavaleiro andante e eu estou a precisar de um principe num corcel que corra a canalha a golpes de espada...)

Anônimo disse...

Prosa e poesia. Era o culto da língua.
(Portuguesa, claro)

Anônimo disse...

Cataclop.

Teresa disse...

cataclop?? Lá me caiu ele outra vez do cavalo...

gaija do norte disse...

seria, então, um fim de dia de treta?

gaija do norte disse...

corre! vai ver se ainda está inteiro...

Teresa disse...

está pois, assim que chegou fui logo ver e já lhe tirei a sela escovei e meti no estábulo. O princípe não faço ideia, que não tornou a aparecer...

Anônimo disse...

Pelo menos não se partiu nada que faça falta...

Teresa disse...

Foi só a cabeça?

Anônimo disse...

enquanto estiver Sol eu aguento com tudo, infinitos infinitos inclusivé e portanto é despachar

camarada deixa lá as fodas de lado durante uns dias e encosta-te ao Sol, come bem, a seguir vão disputar-te como se fosses um cachalote, palavra de golfinho

Anônimo disse...

e já agora uma kpk outlier

shark disse...

Se tu o dizes, eu quero é aprender com os melhores.
;-)

gaija do norte disse...

estou baralhada... um tubarão partido vira cachalote?

Teresa disse...

cachalote deve ser um tubarão com uma grande cachola...

gaija do norte disse...

não, não, não! o nosso tubarão não é cabeçudo!!!

Anônimo disse...

Mas é grandote...

Teresa disse...

e depois? eu cá sou pecanina com'á sardinha e nunca me dei mal... mania das grandezas!!

gaija do norte disse...

e eu com este tamanhinho nunca deixei faltar nada a ninguém!

Teresa disse...

e temos dito!!

Anônimo disse...

Só tenho a vossa palavra e acredito. Mas não há como testarmos a hipótese para fazermos a coisa com um método mais rigoroso e científico.

gaija do norte disse...

'pera aí que vou já buscar a fita métrica!

Teresa disse...

e tu estás calibrado? é que testes com máquinas não calibradas não dão resultados fiáveis...

Anônimo disse...

Tenho que ser sincero: perante duas gaijas como vós fico todo descalibradinho...

Teresa disse...

bem me pareceu que estavas com falta de diapasão

Anônimo disse...

Mas tenho fé de que é possivel afinar o instrumento antes do concerto.

gaija do norte disse...

tanta música... o que tocas?

Teresa disse...

o que toca? toca-me a alma quando me dá mimos e o mau feitio quando escoiceia...

Anônimo disse...

Toco peles.

gaija do norte disse...

tu és mau!

Anônimo disse...

Não. Nisso sou bom mesmo.

Teresa disse...

Já viste, gaija? Eu tão derretida e ele pumba! vá de dar pancada...

gaija do norte disse...

quem sou eu para duvidar que és bom, mas que és mau, és!

gaija do norte disse...

chefa, alguns gostam de pancada!

Teresa disse...

Eu não gosto! Gosto de mimos e se isso faz de mim uma freak eu não me importo.

Anônimo disse...

Eu dei-te pancada, chefa? Onde? Como???

gaija do norte disse...

afinal há testemunhas!

Teresa disse...

(quem??)