Costuma ser certeira, mas dessa vez foi ainda mais que o habitual. É minha amiga, a Isabel, e estávamos, em mais um fim de tarde, a desfiar o nosso rosário. Dúvidas para aqui, neuras para ali, já não há paciência para aturar gajos, são todos iguais, e mais aquelas coisas que as gajas dizem dos gajos sempre que eles não estão, que quando estão não dizemos, que ou lhas gritamos aos ouvidos ou vamos atirando umas setas envenenadas, quando ela se sai, assim, sem aviso prévio, com a frase lapidar - esta mania moderna de não fazermos perguntas... antigamente era tudo mais fácil...
Recuei uns anos. Muitos. Até uma terça feira de 1984. O cortejo da Queima já estava quase cá em baixo. Num dos carros de Direito, que ele era quartanista, estava o Z., seguramente que com os óculos já de lado e rodeado da matilha habitual, que mesmo não usando óculos também já devia estar toda de lado. Em baixo, na rua, terceiranistas greladas, com direito a ir mesmo ali ao lado do carro, onde as cervejas ainda chegam frescas, iamos nós e, no meio dos nós, eu e a M..
A M. tinha descoberto que o Z. até era flor que se cheirava duas ou três noites antes, no Scotch, e fez o que qualquer gaja faz - marcou-o. Ele não se fez muito rogado, mas Queima é Queima e nada se leva muito a sério.
Nada? Não conhecem a M.. Sério é sério e naquela terça feira, com milhares de pessoas nas ruas, ela mostrou-nos a todos como se resolvem as coisas. Parou o cortejo, pôs-se-se à frente da enorme camioneta enfeitada de flores vermelhas com os braços abertos, que por ali não passava ninguém enquanto ela não o permitisse, e gritou, bem alto que o vozear era muito, a pergunta que tinha de ter resposta ali e já - Ó Z., és meu namorado ou como é que é?
Vinte e três anos depois ela ainda lhe deve fazer algumas perguntas, mas agora devem ser mais do tipo queres que te ponha as malas à porta?
Nessa mesma Queima eu também tinha um namorado - o Paulo, madeirense, bem giro. Conheci-o num cinema e consegui aguentá-lo exactamente uma semana. Foi no dia em que lhe comuniquei que pois, e tal, e ele até era simpático, e boa pessoa, mas pronto, e mais aquelas coisinhas do costume que embalam o pôe-te a andar, que ele me confessou o que eu nunca lhe tinha perguntado, que teria bem dispensado saber e que, não fosse aquele despedimento sumário, talvez ele nunca me tivesse dito - não se chamava Paulo, chamava-se Virgílio!...
Isabel, tens toda a razão, era muito mais fácil antigamente, quando se faziam todas as perguntas. O pior é que há perguntas de que não queremos saber a resposta, que um Virgílio, giro ou não, nem uma semana teria durado...
13 comentários:
hum,
z
hummm, z que não é Z...
mas confessa, tu fazes as perguntas todas ou há algumas que atiras para trás das costas e seja o que não sei quem quiser?
já te disse o que tinha a dizer em "as respostas que não tenho para te dar"...
agora repara como há perguntas perfeitamente inuteis: o nome! quem é que se lembra de perguntar o nome???
Ninguém, claro...e eu comprei como mo venderam... mas juro que ainda hoje tenho vontade de rir quando penso que andei uma semana a chamar Paulo a um gajo que se chamava Virgílio e o cabrãozinho nem abriu a boca... e olha que dava pelo nome, que era de uma fidelidade canina... (sinceramente, acho que ainda hoje é...)
Mas perguntas? Será que queremos mesmo saber as respostas ou só as fazemos se sabemos que já nada valem?
Durante muitos anos a minha mãe contou a história dela e eu tenho-a como lema. No dia em que se casou, logo a seguir aos sins e àquelas promessas todas do até que a morte e coisa e tal, o meu pai fez-lhe duas perguntas - se ela era virgem e se sabia fazer sopa...
A sorte dele foi ter feito as perguntas à mãe e não à filha, que a minha resposta teria sido só uma - tarde piaste!
(mas juro que sei fazer sopa!)
o que me respondes: "Mas perguntas? Será que queremos mesmo saber as respostas ou só as fazemos se sabemos que já nada valem?"
o que te respondo: "mas vale realmente a pena ter estas dúvidas todas?... quando a coisa é merecedora, as dúvidas não existem!"
MAI NADA!
Eis aqui o mistério da fé...
Parece que já ouvi isto nalgum lado, mas parece que ao mesmo tempo soavam umas campainhas e logo a seguir podiamos deixar de estar de joelhos..
Tivesse eu aqui um acólito a jeito e tirava as dúvidas, assim vou ter de as tirar noutro lado qualquer. Será que posso perguntar?
se é a mim, be my guest!
Ó gaija, tu nem o pai nosso deves saber de cor...(e, por falar nisso, lembrei-me de um post...)
e sei!
mas a propósito do "eis o mistério da fé"... quando era miúda e tinha obrigatoriamente que ir à missa depois da catequese, no momento em que se ouviam as campainhas e o padre dizia "eis o mistério da fé", era costume todos baixarem a cabeça e colarem os olhinhos aos chão! o que eu não imaginava que se passasse durante aqueles segundos em que não podia ver o que se passava. não durou muito. um dia pensei, se estão todos a olhar para o chão, ninguém vai ver que levantei a cabeça! que grande desilusão (foi talvez a primeira...). estavam de facto todos a olhar para o chão, menos o padre, que olhava para o teto. não acontecia mais nada, e mistério, nem vê-lo!
(ufa, que já era tempo de não comentar o post!!!)
Vocês filosofam tanto...
Eu sou mesmo pragmática. Ou sim ou sopas. Queres ou não queres.
Deve ser de ser agnóstica...
Mas acredito nos signos...hihihi
Explica lá melhor esse sim ou sopas...
uma vez (ai, há tantos, tantos anos) usei essa expressão. a resposta foi: "é sim, claro, que eu não gosto de sopa!" durante algum tempo ainda me questionei se eu seria um bom substituto da sopa...
eu não faço perguntas nenhumas Teresa, mas sou gato do telhado e da mata
z
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