Não há longe nem distância

Como gosto do Richard Bach desde os tempos do Fernão, achei que não seria um abuso assim tão grande usar um dos seus títulos para este post. Mas este título em particular tem-me deixado imensas dúvidas sobre a sua veracidade.
Vivemos num mundo cada vez mais global e cada vez mais é simples comunicar e cada vez mais é simples percorrer o mundo e o saber e cada vez mais é simples estarmos munidos da tecnologia que nos permite ver e ouvir e ler e falar e cada vez mais é simples comunicar.
E sabemos que do outro lado está o outro ser. Sabemos o que nos quer dizer porque o diz, sabemos se está alegre ou triste ou ri ou chora porque o vemos, sabemos se concorda porque acena que sim ou se está longe de ter a mesma opinião porque nos grita a sua indignação. Com jeito e prática somos até levados a perceber alguns dos sentimentos desse ser que não são revelados e somos levados a ter sentimentos por esse ser que não se revela. Vivemos no mundo onde não hà longe nem distância porque ambos se ultrapassam com o 3G e a banda larga móvel de qualquer ISP que se preze.
Mas, por muito que tudo fique unido e unificado e logo ali à mão de semear, o único abraço que é possível está no final do mail, quando se recorda que é isso que realmente queremos, um abraço e um beijo. E queremos muito mais que nunca dizemos porque já fica fora do protocolo. Queremos abraçar para sentir o cheiro e a carícia e aspirar e saborear o que nos é oferecido pelo outro quando está ao nosso lado. Queremos encostar os peitos e unir as mãos e passar os dedos no cabelo e pedir desculpa porque a barba já arranha um pouco e sentir a humidade dos corpos encostados e sorver o arfar do ser que connosco partilha o momento.
Não há longe nem distância mas ficamos abraçados ao nada, encostados ao vazio e adormecemos num colo que não existe.
Desculpa Richard ter usado e abusado da tua frase, mas os cinco sentidos deixam-me sempre a pensar que há o longe e que a distância por vezes é uma chatice insuperável.

46 comentários:

gaija do norte disse...

és tão lindo, santo! um dia vou ter quem me escreva um texto assim, quem tenha saudades do meu cheiro e de passar a mão no meu cabelo. há alguém neste mundo que é uma gaija cheia de sorte!

Marias disse...

Também gostei de ler. Acho o mesmo que tu. Não sabia esses sentimentos aqui no colega.

@na disse...

Lindo!!! E tão verdade que linkei.

(há gaijas com sorte)

O Santo disse...

uma??? la estão vcs com ideias redutoras

Anônimo disse...

isso está bonito pá! ainda há o morder a almofada,

falta o dois em um a fazer três, o espírito santo do Universo, o sopro suave do quase nada que é tudo

mad eu por causa das coisas já me safei com o 1/0= infinito que ao menos é portátil,

é verdade tenho que revêr para mandar amanhã

Anônimo disse...

falta o dois em um a fazer três não é no teu texto, é na almofada

O Santo disse...

infinito ou indefinido? será a mesma coisa?

Anônimo disse...

não, não é. Descartes recusava-se a utilizar infinito que considerava atributo exclusivo de Deus, só usava indefinido, mas Fontanelle desde o sec. XVIII que definiu infinito como o último número da sucessão dos naturais e um século depois vinham os infinitos infinitos de Cantor.

Na projecção estereográfica da esfera no plano complexo o infinito do plano compexo é o pólo Norte da esfera

quando estiver online alguém te faz chegar o link, se é que já não olhaste para o pdf,

Anônimo disse...

e ainda tenho que escrever outra coisa, agora em inglês, tão chato, talvez alguém me dê uma marretada na cabeça e fico livre,

mas não me cheira, obrigações interiores são para cumprir

Anônimo disse...

eu muitas vezes adormeço no nada como colo de Deus, e está tudo bem

o problema é quando dá a desespautabilização

O Santo disse...

pois, mas o 1/0 fica onde? e neste caso a pergunta não depende do dominio utilizado.
apesar de nao ser por razoes teologicas estou mais perto de Descartes do que considerar algo que surge logicamente de uma sucessão ou projecção ou... o fora do sistema ainda me atrai mto.

O Santo disse...

ah... e obrigado gabs, ja tenho a minha frase lapidar - "aqui jaz um matacão insensivel", ver se deixo isso no testamento.

Anônimo disse...

se estás no plano real usa o modelo da hipérbole, quando vens a caminhar para a origem pela direita disparas para mais infinito, quando vens pela esquerda para menos infinito, os dois extremos (supremo e ínfimo) da recta acabada

quando passas para o plano complexo no contexto da projecção estereográfica o infinito é a junção desses dois extremos no pólo Norte da esfera

quando passas ainda mais longe para os infinitos ou transfinitos de Cantor eles sucedem-se infinitamente e é belo

quando se mostra que o indefinido não tem fim chama-se infinito

no infinito estás sempre a ir para fora do sistema, regressas, e sais de novo, está aberto

O Santo disse...

é esse conceito de mais longe que me baralha. pq mais longe? por ser infinito?

Anônimo disse...

aqui mais longe era no plano conceptual, passaste da unidade infinito para a multiplicidade de infinitos que depois se revela ela própria sem fim, ou seja infinita, sempre a abrir, e no entanto ao alcance do pensamento,

é parecido com o amor, onde nos encontramos e perdemos

e por falar nisso hoje é dia de me perder a ver se me encontro

Anônimo disse...

só para descansar a cabrinha-mor: o pólo Norte da esfera é convencional, pode ser o pólo Sul que é equivalente, faz-se a projecção de baixo para cima e funciona na mesma

shark disse...

Sorver o arfar não me parece que se coadune com a paixão racional de que falavas há dias, parceiro...
:)
Boa malha. Há que assumir a barba mal feita e não lhes dar goelas com os queixumes dos arranhões.

O Santo disse...

nao vejo que exista antagonismo peixao.
e se quisermos convencionar de qq outra forma todos os pontos da esfera são infinitamente equivalentes, simetria esférica. mas aí é que perdemos o norte e o sul

O Santo disse...

e voltando a barba... sao umas mariquinhas é o q é
:)

Marias disse...

Eu cá não me queixo...nem tenho motivos....snif.
Mas tu no teu testamento podias deixar-me antes guito,na lápide escreve o que quiseres como "Aqui jaz um gajo sensível, mas incompreendido".

O Santo disse...

ok escrvo as duas coisas e deixo ao criterio de quem le.
A guita deixo ao planetário, ja o papagaio em si penso que seria util a fundacao McDonalds

Teresa disse...

Lindas horas para eu chegar aqui...

Santo, quebra mais vezes o protocolo!

gaija do norte disse...

só agora, chefa? isso é que foi dormir...

Teresa disse...

eu avisei-te que isto hoje ia ser para a desgraça, sua...sua... desencaminhadora de almas puras e simples...

(e o joel?, meu deus!, o joel...)

gaija do norte disse...

(a minha sorte é que tenho a cabecinha bem treinada, ou estava com pesadelos até agora!!! )

Teresa disse...

eu pesadelos não tive, que fui dormir com um embalo muito bom, mas apesar disso aquela imagem tenebrosa não me sai da cabeça...

Marias disse...

Diz-se "o guito" em calão e apesar de conhecer vários intelectuais de ciências que acham que os acentos e a escrita correcta é para as secretárias (e agora se calhar corretores de texto), penso que as pessoas educadas escrevem como as ensinaram na escola. (Isto é por não me deixares o guito).

gaija do norte disse...

embora guito exista no dicionário de calão, guita é também sinónimo de dinheiro.

Teresa disse...

Desculpem lá vocês as duas, mas tenho aqui um dicionário de calão que o JCfrancisco me ofereceu e na letra G aparecem muitas palavras, tais como "grãos", "guizos", "gostar da fruta", "grelo", "gruta do amor", "gargarejo" ou mesmo, e esta pago a quem souber o que é " "godomiché", mas guito ou guita não constam...

Marias disse...

Deve ser um neologismo...

Anônimo disse...

guito é pilim. vê-se mesmo que és da província...

Teresa disse...

o que é pilim?

Teresa disse...

o que é província?

gaija do norte disse...

eu sei o que é guito, guita, pilim, carcanhol e por aí fora. nenhum deles é um neologismo.
provinciano és tu, ò estrelado!

Anônimo disse...

A chefa é que perguntou e citou o dicionário não sei das quantas, ò tripeira mau feitio!

Teresa disse...

Eu vi logo que era para mim.... fado é assim...

gaija do norte disse...

mau feitio? eu, um injinho doirado com as asinhas a dar a dar, mau feitio???

Marias disse...

Como as coisas são, um gajo a falar de estar com saudades de não sei quem e nós a discutirmos o guito, guita, carcanhol, que se calhar até faz mais falta. Ah, que saudades daquelas compras à maluca, com o cartão de crédito!

Teresa disse...

esse é que é o verdadeira problema. Não, não é o de o gajo não dizer de quem são as saudades, mas as compras à maluca com o cartão de crédito. É que é por essas e outras que nós agora temos saudades.

gaija do norte disse...

(estou a precisar de um desenho, chefa!)

Anônimo disse...

(Eu faço, diz-me só o que queres que desenhe...)

Anônimo disse...

e...

Anônimo disse...

pimba no 44

Marias disse...

É preciso fazer desenhos? Antes quero ser rica e com saúde que pobre e doente... Mas doi-me aqui o pé...

sem-se-ver disse...

«que a distância por vezes é uma chatice insuperável.»

a quem o dizes, santo, que desde 2005 só tenho relações à distância.

phone-ix!

O Santo disse...

mas ssv nem o 92 nos safa nisso...