Quem não chora não mama?

Gosto de escarafunchar os argumentos até ao fim.

É que as situações são tão parecidas que até eu fico confusa. Viveram sempre escondidos dos olhares públicos, disfarçaram as suas vontades, construiram estratagemas para não serem marcados pela sociedade que fingia e finge que não os vê. Mas existem e são muitos. Os dedos apontados não os deixam assumir-se e as acusações que lhes fazem são ignóbeis, são a franja que se confunde com o lixo e que se esconde debaixo do tapete.
A humanidade tratou-os como trata muitos outros marginais - regras de excepção se fossem ricos e poderosos, com a própria Igreja a conceder licenças especiais, um buraco escuro e as pedras das gentes se fossem pobres e vivessem escondidos nos montes. Todas as grandes religiões os condenam, são considerados criminosos em muitos Estados, são párias em todo o lado.
No entanto andam aí e são gente como nós. Constituem famílias, têm filhos, vivem o seu amor longe dos olhos dos outros e, até agora, ainda não reivindicaram o seu direito a um tratamento igual. E, quer queiramos quer não, são muitos. Muitos mais do que as nossas imaginações gostariam que fossem. Sim, que nós, quase todos os nós, mesmo os nós abertos a todas as diferenças, não conseguimos aceitá-los, percebê-los, tratá-los como iguais. Eles são o nosso grande tabu.

E se um dia, um dia qualquer, decidissem dizer - Nós também queremos. Nós também temos o direito de nos casarmos legalmente. Que argumentos iriamos nós usar para dizer que não?

Não discuto o direito que pessoas do mesmo sexo têm de se casar civilmente, mas gosto de levar os argumentos até ao fim e se as razões servem para uns servem para todos, que desonesto é defendermos os nossos interesses mas depois pararmos onde nos convém.
Fui ao site da ILGA e copiei alguns dos argumentos legais usados na defesa do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Deixo-os aqui.

Em Portugal, o Artigo 36º da Constituição refere que "Todos têm o direito de constituir família e de contrair casamento em condições de plena igualdade." Mais: A Constituição da República Portuguesa proíbe explicitamente, desde 2004, a discriminação com base na orientação sexual (Artigo 13º). No entanto, o casamento civil continua a existir exclusivamente para casais constituídos por pessoas de sexos diferentes, numa clara violação da Constituição – que é a nossa Lei Fundamental.

Artigo 13º da Constituição? Era giro dar-lhe uma vista de olhos, não era?

Artigo 13.º

(Princípio da igualdade)

1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

Sem dúvida que consta aqui a proibição de discriminação com base na orientação sexual. Mas constam outras proibições de discriminação. E o que eu gostava de saber era porque razão, com base no famoso décimo terceiro, nunca apareceu ninguém a pedir a declaração de inconstitucionalidade deste artigozito do Código Civil:

Artigo 1602.º
(Impedimentos dirimentes relativos)

São também dirimentes, obstando ao casamento entre si das pessoas a quem respeitam, os impedimentos seguintes:
a) O parentesco na linha recta;
b) O parentesco no segundo grau da linha colateral;
c) A afinidade na linha recta;

Estranho.... Se forem lá acima, ao tal artigo 13º fica bem claro que ninguém pode ser discriminado com base na ascendência e parece que é exactamente isso que aqui está.
Perguntas? Aí vão elas.
Porque razão não é permitido o casamento entre familiares directos? Porque razão nem nos passa pelas cabeça permiti-lo? Razões religiosas, antropológicas, sociais, psicanalíticas, históricas, tabu universal?
O que quero, o que peço, é que me dêem uma razão, uma só razão lógica e atendível que possa ser usada para proibir estes casamentos e que seja diferente das que se usam ou usaram para não permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

E não, não estou a dizer que concordo ou deixo de concordar quer com um quer com outro. Estou só a pensar alto. E acho que me vou rir um bocadinho quando aparecerem por aí com as histórias da falta de peso social - visitem o Portugal profundo e depois conversamos... - com o desvio comportamental que estas situações implicam - nem comento! - com o tabu ou, melhor ainda, com a questão dos filhos.
Vá, surpreendam-me!

(afinal parece que ontem, no Prós e Contras que não vi, também se discutiu o casamento incestuoso.)


29 comentários:

Anônimo disse...

Eu tenho falta de peso social, mas compenso na balança com a escala normal.

shark disse...

Ó chefa, eu adoro surpreender-te mas não sei se entendi bem a pergunta...

MoonLight disse...

cá vai a minha contribuição :)

estudo medicina, mas estou apenas no 1º ano, o que quer dizer que pouco ou nada sei daquilo.

no entanto, tenho uma explicaçãozita que pode servir as tuas perguntas, algo que apenas conheço de um modo muito muito superficial e como tal posso estar a dizer algo pouco correcto cientificamente.

existem doenças genéticas, ponto, e nisso ninguém pode discordar. doenças genéticas que como tal, se transmitem de pais para filhos. assim, numa família, havendo uma pessoa com determinada doença genética, a possibilidade de essa doença estar também presente num familiar próximo é muito superior à probabilidade de estar presente num outro indivíduo qualquer.

acontece também que algumas dessas doenças são recessivas, ou seja, um pessoa tem 1 gene que determina a doença mas tem o outro normal, e o normal prevalece e a pessoa não apresenta a doença (são os chamados portadores). (mais informação, por exemplo, aqui: http://www.eurogentest.org/web/files/public/unit6/patients/Portuguese/Recessive%20Inheritance.pdf)

ora acontece que se duas pessoas portadoras de determinada doença genética, se reproduzirem entre si, a probabilidade de ter um filho doente é de 25%! que é extremamente elevado e preocupante se estivermos a falar de uma doença grave!

daqui até à proibição do casamento, cada um pode entender como quiser, não é o facto deste estar proibido que vai impedir que dois familiares tenham filhos e que a doença possa ocorrer na mesma, mas penso que a proibição do casamento é justificada pelo que acabei de explicar, podendo ser eficaz ou não..

deixo aqui o abstract de um artigo sobre o assunto, quem quiser saber mais pode pesquisar..:) ou perguntar, o que eu souber respondo..:)
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10975944?ordinalpos=1&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DefaultReportPanel.Pubmed_RVDocSum

MoonLight disse...

sei que fui bater na questão dos filhos, mas suportei a minha resposta com argumentos cientificos e (penso eu) válidos..

Teresa disse...

Simplesmente tu

Sim, o teu argumento é válido é o argumento genético - populações homozigóticas e eterozigoticas. O problema é que essa questão pode ser mais relevante entre primos direitos (pais e mães irmãos entre si) - grandes probabilidades de terem alelos iguais, que entre pais e filhos ou mesmo irmãos - e o casamento entre primos é possivel.
Durante muitos anos este foi o argumento que prevaleceu, mas já há muito que a genética o desmistificou (não, não sou do ramo, mas a minha irmã é investigadora na área da genética e passou-me umas informações)

E sim, caíste nos argumentos dos filhos, ou seja só será possivel o casamento se for possível a descendência e, neste caso, a descendência saudável.
Este é um dos argumentos a que há muito se deixou de dar relevância.

Teresa disse...

Shark, é simples.
Dá-me um argumento para proibir o incesto. Mas tem de ser um argumento que não tenha já sido desconstruido em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Visconde de Vila do Conde disse...

Teresa, há uma razão pertinente. Imagine a confusão que seria, por exemplo, o resultado de uma relação incestuosa. Imagine a sala de partos, a enfermeira a dizer "o senhor não pode entrar, bem sei que é delicioso ser avô, mas só os pais é que podem assistir", e o pai a dizer "mas eu sou o pai" e a enfermeira "sim, é o pai, mas é o pai da parturiente". Imagine que, quando a enfermeira-parteira finalmente percebesse a situação, o chavascal que seria naquele piso e nos três pisos abaixo e acima, toda a gente a querer ver com os seus próprios olhos, primeiro o pessoal menor (o das algálias aos velhotes, e isso...), depois a enfermeira-chefe e, finalmente, os cirurgões. Todo o tempo que se perdia nesta troca de argumentos seria vital para que o parto decorresse em bom ritmo, com óbvias repercussões no processo de nascimento da criança.

Penso que seja por este motivo e, sendo, o legisldador legislou com o objectivo de proporcionar o bem-estar da criança, o que já não se verificou, a meu ver, no caso da pequenita Esmeralda.

É isto, não é?...

Visconde de Vila do Conde disse...

(E agora deu-me um estremecimento de arrependimento por ter argumentado ao lado do post, um bom post, que deu trabalho a escrever, que está bem escrito e que merecia tudo menos um comentário menor)

(mas agora é tarde de mais...)

Teresa disse...

Visconde não se arrepie porque todos os outros argumentos do contra não podem ser usados - se não são válidos para uma situação também não podem ser para a outra. Ou o contrário...

Acho que tem razão no que disse. Conta um para o Não!

shark disse...

Olha, Chefa, o meu argumento aplica-se aos dois casos em apreço.
Ninguém, Estado ou instituição possui o direito de interferir de qualquer forma e seja a que pretexto for nas escolhas de cada pessoa em matéria amorosa.
Mesmo que soe abjecto à maioria, não admito que neste caso concreto (ambos) se aplique qualquer tipo de democracia.

Teresa disse...

Completamente de acordo.
Mas, por incrivel que pareça, não é isso que está em discussão. Em ambos os casos.
O que se diz, ou o que se pretende, é o contrário - quer-se que o Estado regulamente as escolhas amorosas e diga quais são legítimas e podem ter cobertura legal e quais não o são.
De resto se duas pessoas do mesmo sexo viveram juntas as consequências são as mesmas, legalmente, que se forem dois irmãos a fazê-lo - nenhumas.

MoonLight disse...

okay, afinal percebes da coisa..

eu com tanto trabalho..;)
mas fica a explicação para quem não pesca nada de genética..:P

tal como eu disse, a validade do argumento tem a ver com cada um..pessoalmente acho que é um assunto sério, até porque uma pessoa que tenha uma doença grave e que saiba que é bastante provável que caso tenha filhos eles a venham também a desenvolver, prefere não ter filhos, mas lá está, isso em nada interfere com o relacionamento entre parentes próximos em si, a cada um é como cada qual e tem as suas ideias e cultura!;)

Teresa disse...

Eu acho que a rsposta é só essa - uma questão de cultura.

Ângela disse...

Teresa,
podemos ver isto por tantos prismas... Desde a liberdade contratual, que não é assim tanta (ainda temos aquele artiguinho do CC que fala na ilegalidade de negócios contra a moral) como às vezes parece, passando pela questão dos contratos nominados e inominados, até à legitimidade de limitação de acção por parte do Estado na esfera privada de cada um (desde que maior e no pleno uso de todas as suas faculdades).
Sinceramente, acho que vai acontecer aqui o mesmo que aconteceu com o aborto. Posições estremadas e consenso fora de questão...
Mas a tua pergunta é inteligente. Para os dois lados
Bjs

sem-se-ver disse...

nota prévia:
como sabes gosto de ti e por isso aqui vai:

a tua pergunta não é inteligente, é esperta. a tua pergunta, sob a capa de grande objectividade e análise desapaixonada, é meramente demagógica. a tua pergunta envolve uma analogia incorrecta, uma incorrecção jurídica, falaciosa ainda por cima, e um preconceito subjacente.

por partes:
- analogia incorrecta: o amor incestuoso e correspondente proibição legal de resultar em casamento, como citas, é um gesto do legislador dizendo a quem o pratica: erraste, impeço-te de errares. por isso, pelas razões que são culturais PORQUE A BIOLOGIA DA CULTURA FAZ PARTE, que levam à condenação moral do incesto - o comentador anterior já explicou porquê, e lacan ainda melhor - o casamento entre parentes próximos são legalmente proibidos. quando o legislador proibe o casamento entre pessoas do mesmo sexo, está a dizer-lhes algo bem diferente; está a dizer-lhes 'tu és um erro'. é a diferença entre o ser e o fazer, e essa tu compreendes bem.

- incorrecção jurídica: não se pretende agora que «o Estado regulamente as escolhas amorosas», porque isso é exactamente o que o Estado já faz; quer-se que abra o espectro a todos os cidadãos que queiram celebrar um contrato civil de casamento, e não só, como até agora, aos que amam pessoas de diferente sexo. dito de outra maneira, actualmente é que o Estado já regulamenta quais as escolhas amorosas que são legalmente admissíveis. e que não tenha o poder de o fazer face a escolhas amorosas que optam por um sexo que neste momento é, por razões de moral vigente e não de consubstancialidade impressa na própria escolha, não instituído como são e permissível.

- o preconceito subjacente é esse que já imaginas de que te vou acusar, a ti, que te sei mente aberta e com certeza amiga e respeitadora de muitos homossexuais - uma homofobia envergonhada que, incapaz de com toda a serenidade, tranquilidade, sem inventar mais problemas (artificiais, para além daqueles com que as minorias homossexuais já têm que lidar diariamente), ateste unicamente que sim, que deve ser permitido e já o casamento entre pessoas do mesmo sexo, desde que:
- seja uma decisão livre;
- recíproca;
- efectuada por pessoas de maior idade, sem constrangimentos ou condicionalismos de qualquer espécie.

como os negros tiveram direito a que a escravatura fosse abolida.

como as mulheres tiveram direito a votar.

como as crianças tiveram direito à sua carta de direitos da criança.

como todos temos direito a obter direitos civis que, desde as revoluções liberais (francesa, inglesa e americana), foram sendo consagrados, após muita luta, muito protesto, muita determinação.

como agora. é uma questão de tempo. o tempo corre a favor das minorias nos regimes democráticos, e sabes porquê? porque, como vi citado há bem pouco tempo noutro blog, «La démocratie, ce n’est pas la loi de la majorité, mais la protection de la minorité» (Camus).

lamento ter usado aquele adjectivo lá em cima, querida teresa, mas, se colocares a mão na consciência, penso que concluirás que não foi só por provocação que levantaste o - falso - problema do teu post: foi sim porque algo em ti brama contra o casamento entre homossexuais.

se estou enganada, que me desculpes e continue a dança. se estiver certa, também.

Anônimo disse...

E o que chove lá fora?
(fónix...)

sem-se-ver disse...

*como se verifica, ainda, neste extracto de um comentário teu: «De resto se duas pessoas do mesmo sexo viveram juntas as consequências são as mesmas, legalmente, que se forem dois irmãos a fazê-lo - nenhumas.»

donde, fica claro: mas para que é que eles querem casar porra? deixem-se estar quietos a viver juntos como até agora, que nem consequências legais lhes advêm, e não se chateiem nem nos chateiem mais com isso...

basicamente, é isto: queres que continue o impedimento a que homossexuais tenham o direito a contratualizar um casamento.

o que é de uma crueldade imensa.

tão simplesmente isso: crueldade.

e tão cruel ainda que se debata o amor de alguns, e tão cruel ainda mais que se lhes diga 'não podes casar que eu não deixo', e tão cruel, enfim, que se lhes mostre que 'vamos pensar melhor no seu caso mas não estou bem segura que você tenha direito a casar, vendo bem qual é a diferença entre si e entre duas pessoas da mesma família que querem cometer amor incestuoso?'...

oh teresa, que direito temos nós, mas que raio de direito temos nós, a manter o impedimento de quem quer casar-se livremente?

e sim: é inconstitucional sim! batatinhas, acrescentaram aquela coisinha insignificante no dito artigo 13º, então que se legisle a preceito e em consequência! porra! é tão difícil assim de perceber?

sem-se-ver disse...

** de notar ainda que o citado artigo 13º não refere em lado nenhum o incesto como abrangido no princípio da igualdade, certo? donde, do ponto de vista da constitucionalidade, a tua questão não o é; é sim, repito, um falso problema, uma analogia falaciosa e uma incorrecção jurídica.

agora vou jantar.

escarlate.due disse...

bem... eu nem sou estudante de medicina (nem sequer nunca me candidatei a tal) e nem sou jurista (coitados dos tribunais eram arruinados) mas...

-o tal problema genético pode ser ultrapassado face ao avanço da medicina, não é?!

-casamento implica obrigatoriamente filhos?

-pessoas não familiares com problemas de saúde hereditários também não podem casar?

-porque é que temos de analisar "pessoas incestuosas", "pessoas homossexuais" "pessoas bla bla bla" e não analisamos apenas Pessoas?

-porque é que existe a necessidade de se igualar tudo, quando na verdade nada no mundo é igual? (parece aquela coisa do amigo tem 1 carro eu também tenho o direito de ter mesmo que eu viva no meio do oceano)

-porque é que de repente toda a gente resolve querer casar, é para poder contribuir para a estatistica de divórcios?


aaaahhhh pretendias respostas e não perguntas... sorry

Teresa disse...

sem se ver, era uma racção como a tua que eu estava à eespera.
Vê bem, vieste com argumentos biológicos, morais, meteste as mãos pelos pés e ainda tiraste uma conclusão fantástica - que eu não quero que o legislador permita casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
E sim, digo-te, a única diferença que há entre duas pessoas do mesmo sexo que querem casar e duas pessoas da mesma família que querem casar é a moral vigente, mais nada. É inútil tentares pintar umas coisas com umas cors e outras com cores diferentes.
Sim, o incesto para mim também é tabu e a homossexualidade não é mas tenho consciência que a diferença que faço entre as duas situações é moral. Se argumentar com direitos é exactamente a mesma coisa. E, para que não te fiquem dúvidas, é a mesma coisa que o casamento heterossexual.
Comecei o post dizendo que gosto de levar os argumentos até ao fim e isso tu não fizeste. Horrorizaste-te com as relações incestuosas da mesma maneira que muita gente se horroriza com as homossexuais - foi vísceral e pronto.

Pensa sem julgares - porque há-d ser proibido?
Por uma questão cultural, mais nada. E é nessa pedra que tudo devia assentar.

Teresa disse...

Angela, acho que vai ser diferente do aborto e vai ser aprovado, mas continuo a achar que é de todo legítimo que o seja mas as razões que estão na base são as erradas.

Teresa disse...

Escarlate, identifico-me com todas as perguntas que fizeste e nessas perguntas estão muitas das respostas.

escarlate.due disse...

por alguma razão eu gosto deste blog, Teresa :)

sem-se-ver disse...

1. se as razoes que estão na base estao erradas, diz quais são.

2. é na pedra cultural que tudo assenta. donde retiras daí objecções ás minhas próprias objecções que te tinha endereçado?

3. não vim com argumentos morais e biológicos (tu, sim, subjacentes à tua argumentação), mas sim constitucionais e jurídicos; quanto a estes, disseste nada.

4. eu nao me horrorizei com relações incestuosas, expliquei porque elas não têm nada a ver com as relações homossexuais, no plano do direito e à luz do artigo 13º da constituição. e tu, explicaste alguma coisa senão que a diferença entre ambas é a moral vigente, quando já devia ser evidente que não o é?

5. donde, peço perdão, mas tu não levaste os argumentos até ao fim, e eu é que sim. tu simplesmente misturaste alhos com bugalhos para colocares em causa, como notório em comentários que depois deixaste, que não entendes a necessidade de se estender o casamento civil a pessoas do mesmo sexo.


e siga a dança.

Teresa disse...

Usaste argumentos constitucionais e jurídicos? Quais? Explica-me porque é discriminação não permitir o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo e não é não o permitir entre familiares directos.

E não, SSV, nunca disse que não acho necessário que se legalize. Antes pelo contrário. Digo que, infelizmente, é necessário. E é infelizmente porque parece que é necessário que o Estado dê a benção para que se comece a respeitar. Porque essa sim vai ser a grande diferença, tudo o resto são meros pormenores.
(todos os outros argumentos, como a questão das heranças, cairiam por terra em países como a Inglaterra onde a vontade testamentária não tem limitações).
E vou dizer mais uma vez para ver se não sou mal entendida - concordo com e possibilidade do casamento entre duas pessoas do mesmo sexo. Só não concordo com os argumentos que se usam.

Anônimo disse...

Aaaah! então era aqui que as meninas andavam!!!
Eh pá! Confesso que toda esta argumentação me esgotou mentalmente (ainda mais do que já estava). Mas a pouca lucidez q me resta diz-me que, embora brincando, o Visconde colocou aqui a questão que estabelece a verdadeira distinção entre uma coisa e outra: de um casamento entre pessoas do mesmo sexo não haverá descendência natural. Ponto. Não existe o risco de nascer uma criança com laços de parentesco indefiníveis. No caso do incesto esse risco é concreto. Não poderá nunca permitir-se (legalmente, digo), penso eu, que existam seres humanos que sejam simultaneamente filhos e (outra coisa) de... E é tudo. E é muito, acho eu

sem-se-ver disse...

teresinha,

ainda não me respondeste a:

1. «continuo a achar que é de todo legítimo que o seja mas as razões que estão na base são as erradas». quais? e quais são as 'certas'?

2, isto é, «Só não concordo com os argumentos que se usam». até aí já percebemos. quais são os teus?

3. «não acho necessário que se legalize. Antes pelo contrário. Digo que, infelizmente, é necessário. E é infelizmente porque parece que é necessário que o Estado dê a benção para que se comece a respeitar.» Que cândido da tua parte, teresa... resumes a isto o direito que os homossexuais têm de se casar? (achas mesmo que é isso que lhes importa, começarem - putativamente - a ser respeitados só por estarem casados legalmente?)

4. «Porque essa sim vai ser a grande diferença, tudo o resto são meros pormenores.» não, não vai ser essa a grande diferença, o tal de respeito. porque os 'pormenores' a que te referes são consequência do 'pormaior' que lhe interessa: terem o direito de se casarem, se quiserem. com todo o peso simbólico e cultural e histórico que o conceito de casamento contém.

5. olhando para o artigo 13º, há duas excepções - há portanto duas discriminações - ao direito ao casamento: o incestuoso, se por ascendência lhe deres a interpretação que deste (na qual não cabe a alinea b do artigo 1602 do código civil, pelo que, primeiro problema da tua leitura, não parece ser possível entendê-la assim) e o por orientação sexual homossexual.

onde eu creio que não é honesto misturar-se ambos (e não é por acaso que os partidários do não apelam sempre à proibição do amor incestuoso como argumento para que o entre homossexuais também não seja permitido...) é aqui: atendamos unicamente ao final do artigo 13º. retira-se dele o direito a não se ser discriminado, quanto ao casamento, por motivos de orientação sexual. e é-se, ainda. essa a inconstitucionalidade, como tu própria escreveste. dela se tem de dar conta. resolver o problema desta inconstitucionalidade não implica nem obriga que só se a possa resolver se e quando se resolver a que invocas quanto á ascendência. este é um ponto importante. quando falo de misturar alhos com bugalhos falo disto.

6. dê-se o direito a heterossexuais casarem entre si e a homossexuais casarem entre si. se esses casamentos forem, ou quiserem ser, incestuosos, esse é um assunto à parte, a ser tratado à parte. neste momento são proibidos. talvez possam vir a deixar de ser. talvez as tais «Razões religiosas, antropológicas, sociais, psicanalíticas, históricas, tabu universal» possam vir a ser ultrapassadas um dia. talvez até quem sabe, se desfaça o direito ao casamento entre heterossexuais com o argumento de que se o incestuoso é proibido então também o heterossexual o deve deixar de ser. talvez os heterossexuais tenham de vir a lutar pelo seu direito ao casamento. talvez os heterossexuais se sintam surpreendidos por outros invocarem que, para eles terem tal direito, também os amores incestuosos o tenham que vir a ser.

porque, teresa, se eu bem percebo o teu ponto, tu é que pareces que não alcanças a dimensão do teu: agitas um tabu que é universal, o único aliás que é universal, transversal nas sociedades e nas épocas, para dificultar o casamento a pessoas do mesmo sexo que se amam - responder-me-ás que essa, a homossexualidade, também foi um tabu tão enraizado, inconsciente e transversal como o outro. e eu puxarei uma baforada do cigarro, olhar-te-ei nos olhos, e nada te responderei. porque saberás, e eu saberei que tu sabes, que não tens razão.

Anônimo disse...

Eu sem-te-ver já te adoro.E se alguma dúvida restasse sobre a tua mais que óbvia razão argumental que merece o título:
"como desmontar uma chica-esperta em 3 ou 4 actos" a tua última frase
"olhar-te-ei nos olhos, e nada te responderei. porque saberás, e eu saberei que tu sabes, que não tens razão." é o "golpe de mesericórdia" que torna a questão da igualdade de direitos tão clara como a água potável.
Parabéns Sem-se-ver.Não dá mesmo para tolerar estes truques de"homofóbicos envergonhados".Um abraço.

catarina

Teresa disse...

Foi ao ver hoje este comentário da Catarina que vi o teu comentário, SSV, a que não respondi. Peço desculpa e irei fazê-lo o mais depressa possível. Acredito que terá sido nos dias em que tive a net aos saltos.

Quanto a homofobias envergonhadas só quem não me conhece me poderá acusar de ter vergonha de defender o que quer que seja em que acredito. E não, não sou homofóbica, porque se o fosse não teria qualquer problema em o gritar aos quatro ventos. E não o sou pela mesma razão que não sou muitas outras coisas - porque acredito firmemente na Justiça (nesta que se escreve com letra grande) e não consigo compactuar com qualquer situação de desigualdade.
O questionar o casamento, porque é isso que estou a fazer, não dá o direito a ninguém de dizer que quero ou defendo qualquer discriminação, muito menos de me chamar Chica esperta porque, minha cara catarina, chica não sou de certeza e esperta muito menos. Só não gosto, como já disse, de deixar argumentos a meio e isso é o que tem andado a fazer quem defende o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo com base na constituição, ou nos direitos sucessórios, ou na lei do arrendamento, ou em qualquer outra lei positiva qualquer. O que está errado não é a lei, é a cultura dominantte, é a consciência colectiva que nos leva a ter cidadãos de primeira e de segunda.
O que digo, e o que defendo, é que o simples facto de se questionar um direito já é uma forma de discriminação, o arrajar razões comezinhas para o reivindicar é triste, extremamente triste. Os direitos são absolutos e inquestionáveis. Dizer que um homossexual tem dirito a casar-se para ser respeitado pela sociedade é tão violento como se dizer que um negro tem direito a ir à escola para ser respeitado. Porra! Não se invertam as coisas. Não tem direito para, tem direito porque!
O que defendo, o que acredito, é no respeito que todos os seres humanos me merecem, sejam brancos ou pretos, homens ou mulheres, hetero ou homo, capazes ou incapazes.
Querem ter direito a casar? Acho que muito mais importante é conseguirmos esse tal respeito que as pessoas merecem. Casar? Usar um instituto perfeitamente obsoleto para ver reconhecidos direitos fundamentais? Mudem-se as mentalidades já que as regras mudam imediatamente.
E sim, sei o que é sofrer na pele a discriminação dos outros. Sei o que é ir na rua e sentir olhares pousados, sei o que é lutar para que pessoas que eu amo, que são carne da minha carne, possam ser tratadas com a dignidade que merecem. Sejam elas o que forem.
A catarina pode dizer o mesmo?
Com a SSV a história é outra. Ela sabe que debato argumentos e nunca posturas.