A blogosfera tem livro de estilo?

Chamo-me ernesta e tenho um blog. Ou melhor, não me chamo ernesta e tenho um blog.
Ando nesta coisa da "blogosfera" há muito tempo, muito mais do que aquele que poderia ser sensato se sensatez fosse medível, e sempre assinei tudo o que escrevi com um nome, o meu, o próprio. Desta vez entendi que não o queria fazer. Porque sim, porque não e porque não tenho que explicar a patrões, accionistas, editores, redactores, leitores, amigos, conhecidos, afins e o que mais venha na rede, o que me apetece escrever, como, quando, onde e de que forma.
Não sei quem me lê, se me lêem, porque o fazem ou porque o deixam de fazer. Escrevo por e para mim, mas deixo a porta aberta para quem quiser entrar. Tenho uma das prateleiras da minha estante cheia com os vários diários que escrevo há mais de trinta anos e tenho pastas e pastas com cartas que escrevi e nunca mandei. Tenho notas nas margens de livros, agendas, folhas soltas, post its e guardanapos de papel. Gosto de escrever e preciso de escrever.
Tenho um blog colectivo com um abre-te sésamo para clientes escolhidos e tenho este para quem vier por bem, por mal, por engano, para desengano ou para cheirar e ir embora. Tenho uma caixa de comentários aberta e sem qualquer tipo de moderação.
Tenho também a exacta noção do que posso e não posso escrever. Conheço as regras da decência e da lei. Não me escondo em qualquer ernesta de serviço para injuriar quem defender não se pode, nem lanço atoardas só porque me apetece, resguardando-me neste virtual estranho onde se pode ser quem se quiser e não se ser ninguém. Não escrevo como escreveria num caderno de capas pretas que da minha mesa de cabeceira não iria sair, mas não deixo de gritar se gritar me apetece.
Por uma única vez, neste blog de escrever privado que acaba público, identifiquei-me por ter identificado uma das minhas filhas pondo, para quem quisesse ver, a fotografia dela no blog. Achei que o devia fazer, da mesma forma que sempre que entrei numa guerra dei nome, morada, telefone, número de carta de condução e tamanho do sapato se necessário fosse.
Há um ano atrás, nesta mesma "blogosfera" que serve de mundo para tantos, vivia-se uma luta sem quartel. Estávamos em vésperas de referendo e as posições de quem sim e quem não extremaram-se, escrevendo-se muitas vezes o que já não era opinião mas insulto gratuito e ofensa torpe. Comentei, publiquei e assinei. Sempre com o meu nome. Partilhei muitas das minhas experiências com quem me quis ler, resguardando a identidade de quaiquer terceiros envolvidos, mas não deixando de os referir. Não posso, muitas vezes, falar de mim sem falar de outros. Não vivo na caverna de Platão e o meu mundo não são sombras na parede. Tem gente, gentinha, pessoas e bichos. Muitos bichos e, alguns, papões. E se me apetecer exorcizá-los assim, nada me obriga a ouvi-los primeiro e a publicar a resposta.
Não posso "postar" a fotografia dos meus vizinhos ou do padeiro onde vou, mas posso dizer que fazem barulho com os móveis ou que me engana nas contas. Se algum vizinho ou algum padeiro se sentirem incomodados, talvez seja por se revêrem no retrato. Nesse caso, que sacudam a lapela e digam alface quando se pôem na frente de uma máquina fotográfica.
Pobre da minha vida se só tivesse o meu umbigo. Pobre de mim e de todos nós se passássemos pelas vidas dos outros sem deixarmos um ai que fosse.
E eu quero poder dizer ai se aiar me apetecer.

6 comentários:

Anônimo disse...

tem todo o direito de dizer ai e mais sei lá o quê!
Ninguem nos pode censurar,criticar ou mal falar apenas porque dizemos o que sentimos!
Para além de cabras somos livres de dizer/fazer o que bem entendermos.
É bem bonito saber ouvir,ler e respeitar o que o proximo diz,pensa,ou faz.

Anônimo disse...

Ernesta,
mais uma vez asseguro-lhe que é um prazer lê-la.
A sua escrita, além de visceral, tem a pujança da sinceridade de quem escreve "por si e para si".
Quase que me apetecia dizer que, paradoxalmente, é nesse egoísmo de escrita que reside o altruismo e o amor da sua escrita : altruismo pois faz passar esse prazer para quem a lê e amor porque se limita a escrever, sem nada pedir, em troca, ao que escreve.

Anônimo disse...

Não fico calada, mas não por ter o mesmo nome da outra.Tem todo o direito de escrever o que quiser, vim ver o seu blog por conselho de outra pessoa e gosto do que escreve, mas chocou-me vê-la expôr a sua privacidade a toda a gente. Pode até ser perigoso. Não leve a mal, nem a conheço, não tenho nada com isso.

Teresa disse...

mifá,
e mais uma vez lhe garanto que é um prazer saber que me lê.

odete,
agradeço a sua preocupação,mas sempre me pareceu que o maior perigo está mais no que se esconde do que no que se mostra.
quanto a privacidades isso é mesmo assim - privado. cada um tem as suas e resguarda-se como pode e sabe.
acabei de ir medir uma das minhas saias. tem exactamente 26 cm desde o cós à ponta da bainha. não me causa qualquer arrepio sair com ela à rua mas, se precisar de fazer, manhã cedo, um telefonema de trabalho, garanto-lhe que mesmo que sentada na minha cama não o faço de pijama e chinelos.

Anônimo disse...

Não tenho paciência para continuar nesta conversa, mas quero apenas dizer-lhe que não entendi nada da saia e do pijama. Parabéns por trabalhar em casa, parabéns por ter tempo de se vestir antes de começar a trabalhar, parabéns por usar mini-saia ou parabéns por ser muito baixinha. E mais não digo. Tchau.

Teresa disse...

Odete,

tentei explicar-lhe que a minha privacidade passa por outras linhas, mas com faltas de paciência é complicado...