Já que se tem estado a falar de crianças...

Ainda não tinha idade para ter filhos e já dedicava algum do meu tempo a pensar como os iria educar um dia. Nessa altura a resposta era fácil e andava sempre à volta do mesmo princípio - não vou fazer o mesmo que os meus pais estão a fazer comigo. Básico, simples. Digamos que era o outro lado do espelho da educação.
Anos mais tarde, ainda sem filhos mas com uma pequena fera de 5 anos entregue aos meus cuidados e que se divertia a tentar pôr-me completamente louca, o que, como se nota, conseguiu, achei que o mais sensato seria recorrer a quem sabia da poda e comecei a ler os clássicos. O Dr. Spock, o tal que dizia que a criança tinha sempre razão e que anos mais tarde se descobriu que maltratava os filhos, foi o primeiro da lista. Seguiu-se a colecção completa sobre pedagogia infantil da Gulbenkian, o Bons Pais do Bettelheim, os Dr. Brazelton, Dodson e mais uns quantos que me deixavam sempre com a sensação que estava a fazer o contrário de tudo o que era certo, e que o certo era sempre o contrário de qualquer coisa.
Quase em desespero de causa descobri um dia a verdadeira Bíblia dos pais. O livrinho mágico que nunca mais larguei e que tenho aqui, ao meu lado, velhinho e gasto. Foi escrito por Pierre Antilogus e Jean-Louis Festjens e chama-se Guia de Sobrevivência Para uso dos Pais, com o subtítulo Manual para Pais Desesperados (ou quase).
Qual a importância deste livro? Primeiro define exactamente o que é uma criança e sentimos imediatamente que nos estão a falar ao coração, aquela linguagem nós entendemos. Depois dá-nos as Dez Regras de Ouro para educar uma criança, regras que afinal são treze mas que os autores nos explicam que se Deus tivesse tido que educar o filho dele teria entregue estas regras a Moisés chamando-lhe Dez Mandamentos.
Porque considero que isto é serviço público, transcrevo a descrição da criança já que convém conseguirmos reconhecer uma quando a temos à frente.

(As crianças são) Geralmente de pequena estatura, não têm muita idade. Cerca de dez anos. As crianças de pequena estatura com trinta anos ou mais, designam-se anões. As crianças de grande estatura com trinta anos ou mais, designam-se crianças-grandes (Americanos).
No que respeita ao físico, as crianças apresentam inúmeras características comuns. Estão mal penteadas "como um petardo" seria a expressão mais correcta. Na maior parte do tempo estão esfalfadas. Têm os olhos vermelhos (choro), a garganta vermelha (anginas), as faces vermelhas (bofetadas). O queixo apresenta-se normalmente viscoso, o nariz ranhoso, com crostas, deplorável, as mãos sujas e os dedos pegajosos.
(...) a rapariga usa saia, tem tranças e brinca com bonecas Barbie; o rapaz mete o dedo no nariz, ri-se estupidamente e admira os futebolistas... os dois equivalem-se.
(...) As crianças são agitadas. Falam sem parar embora não tenham nada para dizer, saltam a pé-coxinho e correm pela rua de braços abertos imitando um avião. Outras julgam-se automóveis.
Emitem sons horríveis com a boca, com os brinquedos, com as mãos, com tudo o que tocam, com tudo o que partem, é um inferno. As crianças são doidas!
Metem o dedo no nariz como os automobilistas! Algumas, especialmente paranóicas, andam sobre os muros, brandem pistolas de plástico e atiram contra inimigos invisíveis. (...)
Há ainda crianças que se contorcem nos passeios para não andar nas linhas dos pavimentos. Outras repetem incansavelmente, palavra por palavra, tudo o que dizemos e divertem-se loucamente com o facto. Mal lhes fazemos a mais pequena observação cruzam os braços e amuam. Às vezes desatam a chorar sem mais nem menos diante de toda a gente. As crianças têm um comportamento grotesco. Insensato. Infantil.
Ignoramos porque fazem tudo ao seu alcance para nos enlouquecer do mesmo modo que ignoramos em que idade são mais temíveis e se as raparigas são piores que os rapazes ou ao contrário. O que é certo é que, no conjunto, todo o bando tem muito má fama.
(...) além do mais é necessário sabermos que aos olhos da Lei a criança é considerada irresponsável. Ir-res-pon-sá-vel! Só para terem uma ideia de como não se pode confiar nelas, nunca, em país algum, uma criança foi chefe de estado. É um indício que não deixa dúvidas.

E pronto. Foi este o livro que me ajudou e tem vindo a ajudar na educação das minhas filhas. Depois de tantas experiências é bom percebermos que há mais gente sensata e realista como nós.

8 comentários:

Marias disse...

Sim, eu conheço, foi baseada nos extractos de educadores que eles incluem, e comentários que acrescentam, que me lembrei dos textos.

cereja disse...

É excelente, sim! É que estas coisas ou se levam com bom humor ou estamos feitos!!! O mais fácil é aconselhar. O difícil é fazer.
Mas a verdade é que eles crescem e quando damos por nós a coisa já passou - estão uns homens ou umas mulheres e pronto...

gaija do norte disse...

e porque é que estes senhores não ganharam um prémio nobel?

Rachel disse...

Ora AÍ ESTÁ!!!!
Vou mandar a TODAS as minhas amigas, que pariram ou estão para parir.
Elas, que só agora começam nisto, não se acreditam no que eu, que fui mãe aos 20, tenho para lhes dizer...

sem-se-ver disse...

parece bué da fixe :-))

(mesmo para quem decidiu nao os ter mas apanha com os dos que os decidiram ter)

mãe disse...

Pronto, já me fizeram dar a gargalhada de hoje :)) e ainda me metem em despesas, a aumentar a biblioteca...

saltapocinhas disse...

não conhecia!
mas já tomei nota e vou ver se encontro este livro!!

Teresa disse...

Tens vizinhos? Cuidado, eu rio sempre às gargalhadas...