Quem diz a verdade não merece castigo?

Tenho um lado marginal. Acho que todos temos, mas também acho que o meu é um bocadinho maior que o normal.
Há uns anos uma amiga minha comentou o meu novo namorado com um "sempre tiveste queda para a marginalidade". A minha mãe acha que eu tenho "alma de vigarista", o que nela só pode ser um cumprimento, que se fala em alma já não é mau de todo. Aliás, o meu pai dizia que se quisesse vender um carro ou casar uma filha iria ter grandes dificuldades, que a minha mãe tratava de mostrar a realidade nua e crua a qualquer possível interessado. Sempre achei que isso era uma forma de carinho, que ela estava era muito apegada às filhas e aos carros para os deixar ir assim com qualquer um. Mas pronto, talvez ela até tivesse razão, que muitos quilómetros são muita estrada e há sempre umas folgas na direcção.

Isto para dizer que o primeiro email que recebi hoje foi do meu namorado. Não, não foi um bom dia minha querida, dormiste bem? tive saudades tuas...
O que recebi foi isto:

From: V.............. [............@mail.telepac.pt]

Sent: sábado, 1 de Março de 2008 11:37

To: Teresa ..............

Subject: já...

...gamaste o Expresso, hoje?


Brincadeira? Hum, hum. Ele já me conhece um bocadinho e sabe quais são as minhas rotinas de sábado de manhã. E também sabe que tenho alma de vigarista...

Como uma dona de casa responsável aproveito o sábado de manhã para ir às compras. Apesar de viver no meio de nada tenho a cinco minutos de casa um Continente e para poupar nas voltas é lá que vou quando não me apetece ir ao mercado de Albufeira, onde, fora do Verão, encontro o melhor peixe do meu mundo.
Mas, voltando ao Continente, e já depois de ter o carro estacionado, de ter largado três asneiras por não ter trocos para o carrinho, de ter feito 256 ameaças de meses sem televião às minhas filhas e de ter discutido com os seguranças todos, entro no supermercado propriamente dito. Como é sábado, e sem mesmo olhar para a lista das compras, pego no saco do Expresso e ponho-o no sítio lógico - pendurado atrás do carro das compras, naquele gancho que tem um letreiro a dizer "É favor pendurar aqui o saco do jornal".
Duas horas depois chego finalmente às caixas. Pelo caminho perdi as duas crianças, mas não é preocupante. A Clara está no balcão de apoio ao cliente e já nem precisa de dizer nada que o aviso é o do costume Senhora Clara (ela faz questão no senhora!) chama mãe Teresa. Uma está encontrada e a outra vem aí. Nunca se perde que que é só ir seguindo o meu rasto e aproveitar para apanhar as alfaces, os pacotes de natas, o shampoo e as outras ninharias que foram caindo da montanha de compras em que se transformou o carrinho.
Ora estou então na caixa para pagar. Saem as garrafas de vinho e cuidado que se partem, os enchidos, os garrafões de água, atenção não ponham em cima dos morangos, meninas despachem-se a tirar tudo que preciso do carro deste lado, olhem as batatas e o leite que já deviam aqui estar, os sacos já tapam a menina, depressa, preciso do carro aqui... Elas tentam passar os Kinder, a Clara já pôs duas embalagens de preservativos e a TVmais, eu estou doida por fumar um cigarro, e sim tenho cartão Continente, cuidado que o óleo está a vazar, a menina da caixa redige mentalmente o pedido de baixa por esgotamento e o carro passa para a zona descontaminada, finalmente vazio.
Vazio? Não! Atrás, rodeado de alarmes e olhos atentos de empregados mal pagos, um pequeno saco com um grande jornal, aliás um pequeno saco com um pesado jornal, resiste ainda e sempre aos exércitos do Belmiro. Pronto, o Expresso passou e não foi pago....
E agora, que fazer? Volto atrás e digo ó faxefavor esqueci de pagar isto, ou não sei de nada, não vi nada, que não volto lá dentro nem que me arrastem?
Está bem. Tenho alma de vigarista. E mais, cinco em cada dez vezes o Expresso sai assim, sem nos darmos conta. Nas outras cinco já faz parte do jogo dos sábados de manhã - passa ou não passa que isto não é roubar, que está bem à vista, é só um teste de atenção...
Posso dizer que a atenção das meninas é de 0,0005% e que me dá um gozo desgraçado este engano dois em um - Belmiro e Balsemão metidos no mesmo saco nos meus sábados de manhã....

Hoje não fui ao Continente por isso escusam de me perguntar se li o Expresso. É que tenho assinatura sabem? E há sábados em que não me falta nada na despensa...

Quem diz a verdade não merece castigo, pois não?

4 comentários:

cereja disse...

Aqui em Lisboa, é o Público que é oferecido no Continente. Mas é mesmo oferecido! Está num montinho, já depois do tapete rolante das caixas e quem quiser tira :)
Olha menina, a mim aconteceu-me pior. Como vocês sabem, nos carrinhos por debaixo do «corpo» do carro, entre as rodas, há uma plataforma onde se colocam as coisas mais pesadas. Eu nunca uso aquilo, ponho sempre tudo dentro do carro propriamente dito. Sempre, ou quase sempre... Uma vez, já não sei porque carga de água, (talvez para ficar com mais espaço no carro) decidi colocar nesse sítio o pacotão dos leites. Já não sei agora se foi apenas uma embalagem de 6 ou duas. E tal como contas, chego à caixa, pago tudo, arrumo os sacos no carro, vou-me embora. Na maior inocência. Despejo os sacos no porta-bagagens e vou arrumar o carrinho. Só quando aquilo não entra no sítio para recuperar a moeda é que vou ver o que estava a travar: era o leite!!! Tinha passado à candonga na maior.

Teresa disse...

Olha outra com alma de vigarista...

aqui também oferecem o Público, mas o Expresso é o Expresso e às vezes, no mesmo saco, também vem o Courier Internacional...

Anônimo disse...

... Gadinha pelas sugestões !!!

Brisa disse...

As meninas da caixa que comecem a prestar mais atenção!! Isto não é roubar, é trazer de borla sem querer...