A verdadeira questão da tampa da sanita levantada.

Há muito tempo que sei que não quero roupa de homem nas gavetas cá de casa. Não é por nada, mas como assim como assim há sempre mais roupa deles espalhada pelos cantos da casa e em cima das cadeiras da sala que nas gavetas própriamente ditas, prefiro que seja por uns dias e sem direito a armários que seja por uma vida inteira.

Nada tenho contra os homens, pelo menos os que não conheço, mas dão muito trabalho e pouco proveito. Pelo menos os que conheço. E deixam sempre a tampa da sanita levantada, podendo qualquer mulher garantir-vos que essa é a gota que faz vazar o copo. Ou que molha a perna que se senta distraída, mas isso já pode ser considerado crime.

A tampa da sanita está para a minha vida sentimental como a tampa do shampoo esteve para a da Carmen Rico-Godoy. Esta jornalista espanhola, que infelizmente morreu de cancro há uns anos, escreveu um delicioso livro, ligeirinho mas bom de ler, chamado "Como ser una mujer y no morir en el intento". Nele avança com a teoria da tampa do shampoo, teoria digna de ter ganho um Nobel, demonstrando a verdadeira incapacidade dos homens para conhecerem a alma feminina e a sua eterna dependência de uma mãe que vá pondo ordem ao caos que eles deixam por onde passam.

Na histórinha da Carmen a mulher de serviço passa uma manhã na praia com o seu homem e este passa uma manhã na praia com os olhos colados num bikini que não era o dela. Chegados a casa a rotina do costume, jornal para ele, arrumos para ela, que ele não tem culpa que ela seja maníaca das arrumações, mas sabes onde está a minha camisa que não sei onde a pus? e dá-me um par de meias que ainda me constipo e estava a apetecer-me comer qualquer coisa, podias fazer uma tortilha que eu não sei...
Quando finalmente a Carmen que não é a Carmen tem tempo para o duche e começa a relaxar com a água morna na cabeça, pega no shampoo e fica com a tampa na mão enquanto o frasco se vai enchendo de água no fundo da banheira. Ele não tinha enroscado a tampa, que homens têm sempre coisas muito importantes para fazer e não podem perder tempo com pormenores.
É aqui que lhe salta a tampa a ela. Todas aquelas coisinhas que foi acumulando durante a manhã com um sorriso na cara, que não vale a pena ter ainda mais chatices, riem-se agora para ela naquele shampoo espalhado onde só devia haver água. Agora sim, ele vai ouvi-las.

"Dime una cosa: tu orgulho de macho te impide enroscar el tapón o qué? cerrar los botes después de haberlos utilizado, te parece de mariquitas? Voy a decirte algo: soporto, mal, que ronques, que dejes tus calcetines y tus calzoncillos por todas partes hasta que yo los recojo. Soporto muy mal que no me hables cuando tienes algún problema, o que no pueda leer en la cama cuando tú duermes porque te molesta, aunque yo tenga que aguantarme cuando tú lo haces. Pero que vayas por lo vida poniendo los tapones a los bores sin enroscarlos, eso no te lo aguanto. Me has oído?

Ele até tinha ouvido, e até falava espanhol como ela, mas não é que não percebeu nada? Homens. Não nos compreendem, é o que é.
Por isso, e para evitar que uma tampa de sanita levantada provoque, sem querer, alguma morte, é que tomei esta importante decisão que me poupa muitos desgostos - não quero roupa de homem nas gavetas. Só no chão, e por pouco tempo!

8 comentários:

Anônimo disse...

só mesmo roupa no chão e por muito pouco tempo e......sem direito a terem uma escova de dentes,nem gel de barbear e muito menos lâminas para a barba! Sim porque eles não se preocupam em lavar a cara nos cabelos da barba!
e amarmos as nossas vidas, nas camas e nos armarios sem vocês! Apenas em alguns momentos, momentos esses que têm que valer de muito e darem-nos muito prazer. caso contrario só quero mesmo o meu pixas pequenino ou o sebas(é um cão) no caso da Ernesta!

Anônimo disse...

Concordo em absoluto. E só faço a barba uma vez por semana e com um aparador com aspirador e reservatório incorporado, não escapa um pelo seja para onde for.
Ah, e dou muito valor aos momentos esses.
Um valor incalculável.

(Fui.)

Teresa disse...

muitas muitas gargalhadas, ó ceguinho.....

Anônimo disse...

(A GNR não agride os invisuais. A GNR não agride os invisuais.)

Teresa disse...

ai não? olha que nesses é que é bom dar umas cacetadas, que não vêem nadinha...

Anônimo disse...

E eu já te contei que tenho um tio que é sargento?

Anônimo disse...

Eu a achar que ninguem tem 22anos!
Boa vou mudar as regras ca da casa..Mas teem que utilizar a tactica do "eu seja ceguinho"

Brisa disse...

Muito certo! De facto, somos todas iguais e eles todos iguais também!