Ninguém diria que já não acreditamos.

Ontem li esta notícia e pareceu-me que já não havia vergonha, que as noções de política e bem comum há muito que se teriam perdido numa volta qualquer de um cocemos-nos para dentro, que uma mão lava a outra, as duas lavam a cara, e com tanta gente aos tiros por aí já nem se notam estas coisinhas.

Estava assim, preto no branco.

Valter Lemos, secretário de Estado da Educação, embaraçou o actual Governo pela forma como atacou uma sua antecessora socialista na função, Ana Benavente, que por sua vez tinha considerado que a equipa que dirige o ministério da Educação "não honra o PS".

O embaraço surgiu porque ao disparar sobre Ana Benavente, acabou por atingir, por ricochete, um influente membro do actual Governo, Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares, que no tempo de Guterres foi ministro da Educação, tendo precisamente Ana Benavente como sua secretária de Estado. A actuação de Benavente no Governo, disse Valter Lemos, teve como consequência "os piores resultados escolares da Europa".

O bold é meu, que por aqui começamos.
Valter Lemos, secretário de Estado da Educação acha que Ana Benavente, uma sua antecessora no cargo, fez um mau trabalho e prejudicou os alunos das escolas portuguesas. Esticou o dedo, apontou para ela, e disparou.
Parece-me que o lógico seria que a própria, ou alguém por ela, viesse defender a sua honra e garantir que, técnica e politicamente, as suas decisões tinham sido as melhores para o país. Espanto meu, que ainda sou dada a espantações, quando percebo que o busílis da questão é outro e passa muito ao lado do interesse público. Fez-se o melhor ou não se fez? Não sei, que ninguém me explicou, logo a mim que até tenho duas crianças na escola e estas coisas fervem-me com os nervos.

Ontem, numa conferência de imprensa na sede nacional do PS, Augusto Santos Silva acabou por implicitamente verbalizar o embaraço: "Não me quero alongar no assunto", disse, depois da segunda ou terceira insistência dos jornalistas. Acrescentando: "Todos temos as nossas apreciações sobre os tempos que passaram e os tempos que vivemos hoje. O mais importante é o tempo que nos espera."

Mas afinal há por aqui embaraço, e dos grandes. Sempre vou ter direito a uma explicaçãozinha. Andei eu a comprar livros, cadernos e lápis, a gastar o dinheiro que dava para aquelas férias na educação delas e afinal não lhes ensinaram nada de jeito? É bom mesmo que comecem a desbobinar tudo, que não sou de cantigas.
Sentei-me e fiquei à espera do pedido de desculpas, pronta para limpar o cadastro das minhas vítimas por engano, e compensá-las das horas de castigo por erros no ditado.

Os microfones aproximam-se, eu aproximo-me, e aí vem a resposta.

Antes de Augusto Santos Silva falar já Manuel Alegre lhe estava a exigir esclarecimentos. "Não é normal que um secretário de Estado de um Governo do mesmo partido ataque um anterior secretário de Estado", disse ao DN. O ex-candidato presidencial achou a atitude "tanto mais estranha quando isso pôs em causa o titular da pasta da Educação da altura, que por acaso é o actual ministro dos Assuntos Parlamentares". "Gostaria de saber o que ele pensa a este respeito", afirmou Alegre, que repudia a "quebra de regras de solidariedade que normalmente devem existir entre membros de diferentes governos do mesmo partido".

Obrigada. Fiquei finalmente esclarecida.
Portanto, que me lixe eu, as minhas crianças, as crianças dos outros todos e mais os impostos que pagamos e o pouco que ainda iamos acreditando. Fez-se asneira? Que é que isso interessa? Se foi um dos nossos manda a solidariedade partidária que estejamos todos caladinhos...
Já agora, este Manuel Alegre não é aquele senhor que até é poeta e andou a apregoar uma tal de ética na política?
Bem, pelo menos fiquei a saber o que quer dizer "ética". É assim mais ou menos uma espécie de comemos todos do mesmo tacho e temos de ser amiguinhos ou nem o fundo conseguimos raspar.

Hoje li uma outra notícia.

Sondagem: Portugueses desiludidos
Sistema partidário sem credibilidade.

Quem diria? Vá-se lá saber agora porquê, que os designíos do povo são insondáveis...

2 comentários:

Anônimo disse...

Bem, até manda ventarola...
Hoje nota-se muito que estás de serviço.

Teresa disse...

e não vou largar tão depressa, que há umas que se não saiem até deixo de conseguir engolir.