Esta hora mágica.

Gosto de fins de tarde, muito. Sempre me lembro de gostar. Muito miúda, ficava sentada nas escadas de pedra da quinta do meu avô a ver o sol a pôr-se atrás das serras. a adivinhar as formas das nuvens e a sentir uma paz que ainda hoje lembro e me alimenta.
São horas serenas, com uma luz diferente, são as minhas horas do dia.

E também há muitos anos que gosto deste poema, que sei quase de cor. Hoje lembrei-me dele. Fica por aqui.

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus barcos...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

Florbela Espanca


2 comentários:

Marita Moreno Ferreira disse...

sempre gostei desta hora dos mágicos cansados e deste poema muito por causa dela

susana disse...

calha mesmo bem, agora que chegou a primavera. :-)