Balada da Cisterna

Eu tinha dito que este estava a render mas hoje é domingo, dia de sobremesa.

O José do Carmo Francisco mandou outro poema e voltou a acertar na mouche. Aqui, a menos de três metros de mim, tenho uma cisterna de eirado. É dela que vem a água aqui para casa e é com essa água que se faz a sopa e se lavam os dentes. Nos primeiros tempos de vida rural a minha sensibilidade citadina fazia-me querer lavar a água que nos lavava a nós, mas depressa percebi que precisava era de lavar os olhos e passar a ver com a alma. Lembrei-me de quando era miúda e ouvi aquela mulher, de enxada às costas, dizer à minha mãe minha senhora, os seus filhos não estão sujos, isso é terra!...

E isto, a seguir, é água. Fresca. Pura. Da cisterna do eirado.

Balada da cisterna

Cisterna de eirado
Onde estive um dia
E que tinha ao lado
A água mais fria

A água mais pura
Na antiga cisterna
Matando a secura
Da sede moderna

Um jarro na mesa
O bordado com rede
Espelha mais beleza
Quando mata a sede

Cisterna de eirado
Lá no Carvoeiro
Com o mar calado
Fala o nevoeiro

Eu subo à açoteia
Para olhar melhor
Com pés de areia
Sinto mais calor

Comemos sardinhas
No calor da brasa
O sumo das vinhas
Na sombra da casa

Cisterna de eirado
Ficou a saudade
A sede é passado
A água é verdade

Ela veio da Terra
Ela veio do Mundo
A pedra da serra
Desenha o fundo

De cisterna fria
Balde de metal
Onde uma enguia
Vigia o caudal

José do Carmo Francisco

2 comentários:

Anônimo disse...

É verdade que foi escrita a partir de uma cisterna o Carvoeiro mas a pensar nas cisternas da Serra dos Candeeiros. E fica muito bem neste Blog. Obrigado JCF

Teresa disse...

O blog é que fica muito melhor com a sua cisterna!