Foda-se!

Acho que a primeira vez que a disse em voz alta foi quando fui mordida por um peixe aranha. A água do mar estava gelada, a tarde estava a acabar, recomendaram-me dizê-la porque era mais fácil mergulhar mas eu, moita carrasco, mantinha a boca fechada. Disse-a, gritei-a, quando senti o sacana do peixe a picar-me no pé. No mesmo pé que me levou a dizê-la agora outra vez.


Eu sei que isto agora é um blog mais solto, eu sei que me devia ficar por coisas mais leves, mas não me apetece.
Apetece-me vir aqui e gritar Foda-se! e, na minha vida, gritei assim poucas vezes, mas a alternativa seria nem vir aqui e isso também me anda a chatear. Este é o único blog que tenho e se me apetecer gritar é so aqui que o posso fazer, portanto, grito.

Estou farta. Já não consigo manter por mais tempo o ar de que está tudo bem e sou muito feliz. Não, não está. Não consigo viver comigo assim, não consigo sentir-me limitada em tudo o que faço. Não consigo perceber que, afinal, o corpo é que paga mesmo e que tenho que me habituar.

Habituar? Eu? Eu que sempre achei que bastava ter força de vontade e tudo conseguia? Eu, que sempre me desenrasquei sozinha? Eu, que só pedia ajuda se soubesse fazer sozinha e quisesse que o outro, ou os outros, se sentisssem muito mas muito mal?

Foda-se!
Não tenho mais paciência para mim. Para ir à praia sem conseguir ir ao mar, para não ser independente para nada, para tentar começar a andar só com uma muleta e torcer o pé até gritar, e elas ouvirem, Foda-se! Para ficar torcida com dores. para ver as minhas filhas a sentirem-se culpadas por culpas que não têm porque eu é que me armei em heroina, para tentar mostrar-lhes que ainda sou eu quem toma conta quando agora são elas que têm de o fazer. E elas são duas miúdas que deviam estar a ver filmes de princípes e de princesas e nunca por nunca a carregar tudo o que não posso agora levar nas mãos.

Estou farta, saturada, sem paciência para mim, já disse? E torci o pé na cozinha e doeu-me como... pois... como aquela coisa que aqui não digo. E não quero mais pensar que afinal temos limittes e se o carro tem um furo numa roda vou ter de pedir ajuda e não vou conseguir pegar no macaco e tratar do assunto.
E não. Não estou habituada a isso.
Foda-se!


207 comentários:

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Teresa disse...

(olha um gaijo gaijo... estás bom, gaijo lindo?)

Teresa disse...

e truncha também!

Anônimo disse...

Ó Teresa, essa análise encheu-me as medidas e é de gaija que é muito gaija e muito gaijo, ao mesmo tempo.Isto é, é de ser humano completo, acima de pilas e de passarinhas.

( sim, é isso mesmo, sou bastante senhora para poder dar-me ao luxo de ser brejeira ou, até, ordinária. E, sim, estava a pedi-las, o anónimo )

condessa das urtigas

shark disse...

Bom todos os dias, foda-se!

(Isto é para alinhar no espírito do post, Chefa, que eu não digo estas coisas...)

Teresa disse...

Condessa, fico feliz por a ver satisfeita e de medidas cheias.
:))

(e tiro-lhe o chapéu!)

Teresa disse...

Gaijo, estás mesmo imbuído do espirito!

calamity jane disse...

Eu diria mesmo mais: truncha!

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