Não sei como é com o resto dos imortais, mas para mim é estranho. Penso em idades, anos feitos, contados, e acho que tudo isso se passa numa outra realidade que não a minha.
A minha idade não me incomoda, nada, não a sinto, não me vergo a ela, mas a dos outros é-me estranha, puxa-me para um mundo onde não me reconheço.
O meu pai faria hoje 84 anos. O pai das minhas filhas faz hoje 49 anos.
Porra.
Não consigo perceber estes números. Não sei o que significam. Com 84 anos é-se um velho e o meu pai nunca foi velho, não seria velho agora.
Quarenta e nove anos. E eu dormi com ele? E fizemos duas filhas? Mas eu não me deito com gajos dessa idade, quase cinquenta, não é possível, o tipo é quase da minha idade e eu não sou dessa idade de certeza..
Merda, esta coisa dos números baralha-me. No outro dia, o Vasco, contava-me como iria ser a festa dos cinquenta anos dele. O gajo é uns meses mais novo que eu! Cinquenta? Mas com cinquenta anos somos velhos, não somos? E eu, ele, o meu pai, o pai das gaijinhas, os meus amigos quase todos, nós somos velhos? Se morressemos numa praia debaixo de um calhau ou num passeio esborrachados por um carro iriam chamar-nos pessoas de meia idade, ou idosos, nos títulos dos jornais?
Porra outra vez!
O meu pai, que faria hoje 84 anos, dizia que eu nunca tinha deixado de viver no período de queima das fitas. Era uma crítica, eu sei, mas tinha razão. Parece que, como lá, o relógio não tem horas, o tempo parou, e o Zé, que um dia me disse que tinha vinte anos e eu quinze e as diferenças eram muitas e agora tem 51 e eu 46 e as diferenças não são nenhumas, continua a ter vinte anos. O Zé não pode ter 51 anos, o Luís, irmão dele, com quem eu ia beber uns copos ao Pavilhão Chinê, não faz hoje 52, o meu pai não faria 84 e o pai delas não acabou de virar para os 49.
Continuo a dizer, não sei como será com todos vocês, mas para mim isto é mais estranho que um conto do Isaac Asimov. Sim, o tempo passou, lembro-me disso, gosto disso, mas não consigo olhar para mim, e para quem me rodeia, e pensar que temos aquelas idades que há minutos atrás julgaria impossível alguém ter. Mais de vinte? Isso é uma eternidade. E hoje, mais do que no dia dos meus anos, penso nesta coisa das idades. O meu pai, o pai das minhas filhas e o irmão mais velho do meu primeiro namorado, aquele para quem nem me atrevia a olhar porque já tinha dezoito anos, fazem, ou fariam, hoje, 84 anos, 49 anos e 52 anos.
São anos demais.
(E será que também eu andei a fazer anos estes anos todos?)
41 comentários:
como sabes, fiz ha poucos dias 50 anos.
são anos demais.
a estranheza não é com a idade dos outros, embora também partilhe dos teus comentários.
é mesmo com a minha.
ninguém tem 50 anos, eu não tenho 50 anos. não tenho.
é mesmo verdade que há duas dimensões do tempo, só que nós por efeitos da gravidade e do apego andamos muito em cima do relógio e pouco nos soltamos. Falo por mim.
tens aqui uma fflutuação:
Mircea Eliade conta-nos que o homem religioso conhece duas espécies de tempo, profano e sagrado: uma duração evanescente e uma sequência de eternidades periodicamente recuperáveis durante as festas que constituem o calendário sagrado - os participantes da festa tornam-se contemporâneos dos deuses e dos seres semidivinos e o calendário sagrado regenera periodicamente o Tempo, porque o faz coincidir com o tempo da origem, o tempo forte e puro. O autor usa a expressão homo religiosus para abarcar todos aqueles que atribuem um cunho sagrado ao passar do tempo e recorda que em várias culturas aborígenes, sejam os yuki ou yokut da América do Norte, diz-se que o mundo passou para referir que passou um ano, enquanto que os dakota dizem expressamente: o ano é um círculo em volta do mundo.
Tereza, também me lembrei do aniversário do teu pai, que por acaso coincide com o da minha mãe, faz hoje 81 anos, e não é velha, como o teu pai nunca seria velho, pois pessoas como o Sr Eng Bento não envelhessem.
beijo
Tu não és velha. Apenas fazes anos...
A vantagem de fazer anos, é essa aproximação que antes nos parecia um fosso.
Pensa lá nisto: se tu tivesses 20 anos, nós nunca poderíamos ser amigas, pois não?
Penso nisso cada vez que penso nas pessoas que ganhei na minha vida precisamente porque o tempo passa.
Passa mas também deixa cá muita coisa que pode ser muito boa se a soubermos aproveitar. Se olharmos mais vezes para o copo meio-cheio do que para o copo meio-vazio.
Se não penso que passa muito depressa? Claro que penso. Ainda me parece impossível que a gaija que apareceu de calções na 1ª página do DN ontem, hoje seja mãe.
Mas, apesar de todas a perdas, o balanço final, garanto-te que me parece muito positivo.
Muito loiras e de mini saia, mas em vez de bares, na net? Eh, eh,eh.
Chavalita, isso da preocupação com a idade é pra velhotas.
Acho que só damos pelos anos a passar qdo olhamos para as fotos antigas, e às vezes qdo nos olhamos no espelho... mas cá dentro temos a idade que queremos! E como diz o ditado "velhos são os trapos" por isso mesmo o melhor é ir comprar uns novos...:o)
Tereza...apesar de concordar inteiramente contigo, ofereço-te uma frase que a mim funciona estilo penso rapido quando penso na idade:
"não tens idade, tens vida"...
Tens 50 anos de vida e não 50 anos de idade!
é diferente....tens tempo vivido...e por sinal, muito bem vivido!
SSV O problema não e ter 46 anos, ou 50 ou o que seja. O problema é ter construído à volta desses números cenários onde não me revejo.
O Sagrado e o Profano. Já nem me lembrava dele.
Tem piada o que disseste. Fiquei a pensar se o tal tempo da Queima não será o tempo sagrado que regenera o profano. Afinal o meu pai devia mesmo ter razão.
Também me lembrei do aniversário da tua mãe, só não fazia ideia dos anos que fazia. Lá está, juraria que eram menos, muito menos.
E tu, que conheceste o meu pai, percebes bem o que sinto. O meu pai dificilmente seria velho, velho no sentido de ter perdido o tempo dele lá atrás, mas 84 anos são anos demais. Começo a tentar imaginá-lo assim e vejo o meu avô, o pai dele, e o meu pai não pode ser, não era, o meu avô, não posso acreditar que para as minhas filhas a imagem que têm do avô é a de um velhinho, tal como eu recordo o meu.
tereza:
«a estranheza não é com a idade dos outros, embora também partilhe dos teus comentários.»
mente:
ya, pois, ya... tasse bem, minha. tudo numa nice.
(beijo)
O balanço é positivo Peixa. Pelo menos, para mim, é. E já disse que a minha idade não me incomoda, o que me incomoda é ver o tempo passar nos outros e pensar que posso não ter estado devidamente atenta à passagem do meu.
(capa do DN? estás a falar daquela maluca em cima de uma moto? estás a ver, se eu tivesse 20 anos queria ser amiga dela de certeza. Já do namorado não sei, não sei mesmo, continuo a dizer que o par de cornos dele me assusta...)
É Gabs, essa foi a única falha no raciocínio, trocámos as letras - não é BBA é MSN...
Chavalito, as velhotas já não se preocupam com a idade.
:)))
Carrie eu dou por mim a ter de fazer contas para saber quantos anos tenho - normalmente penso que é mais um do que a realidade mas isso é porque sempre que cumpro mais um ano de vida vejo-me a estrear o ano novo que chega. Neste momento estou a viver o meu 47º ano à volta do Sol e não são os números que me distraem do que tenho para viver.
Ana, essa dos trapinhos novos foi mesmo a melhor sugestão!
(a chatice é que também gosto dos trapinhos velhos)
SSV para mim a estranheza é mesmo com a idade dos outros. Com a minha posso eu bem mas a idade deve ser como a velocidade - relativa. Talvez o tempo também precise de um ponto de referência para poder ser medido e para mim esse ponto são as pessoas que me rodeiam. Tal como me sinto parada dentro de um carro em andamento, precisando das árvores lá fora para me ver mexer, também só me vejo envelhecer se sair de mim e olhar para fora.
agora imagina se tivesses uma irmã com 62 anos
Para isso eu teria de ter 63...
Assim só me ocorre que de facto "Sei o que fizeste o (Inverno) passado"...
Não sabia que também és imortal. Às tantas também me vais dizer que o mundo (também) é teu.
Agora não tenho tempo para ler os comentos todos, até porque estive a ler desde as vacas do Senhor Visconde até quase cá acima, mas não quero deixar de te dizer que cada vez me identifico mais contigo, melher!
Isto, claro, apesar de estar à espera que me retornes uma (leia-se 4) chamada há coisa de um mês, mais coisa menos coisa...
identificaste mais ca chefa adonde?
(estas gaijas têm a mania de me baralhar toda!!!)
ó chefa, eu sinto-me tal e qual! um dia destes disse a um primo que ele não podia ter 55 porque eu não tenho primos dessa idade! para mim ele não passou dos 20... e o meu pai? com 71, está tal e qual como quando o conheci, pelos 30. a carrie tem razão!
Tereza: realmente nós que estamos aqui, eu e tu e tod@s, temos milhões de anos, segue o teu código genético por aí fora. Os entas é apenas o diametro da bolinha do desdobramento do ser,
(tenho ali dois travesseiros)
(travesseiros de gila e doce de ovos queria eu dizer)
(tenho tanta inveja de ti, z!)
(antes que apareça o edito, lá em cima é "identificas-te"...)
(só para desenjoar: também tenho ali iscas de porco com puré de batata mas é só para amanhã, eskupa lá mas a verdade vem sempre ao de cima, e acho que devia comer uma sopa de feijão encarnado antes que azede; vá lá consegui comer só 1 e deixar o outro, chama-se a isto maturidade creio, seguida de dois cigarros, e lá vou eu xonar não tarda; não vale a pena ter inveja de um rapozito entradote com uma pelada no rabo, mas pronto)
e xonar, hoje vou sonhar com o basterds.
Bons sonhos, Z.
Cy, claro que o mundo é (também) meu. Quer-se dizer, acho que é mesmo só meu mas aqui, em público, tenho de ser comedida..
CJ, não sejas tonta rapariga. Olha que eu, para além de coxear, tenho uns anitos a mais que tu...
Z, achas que o meu código genético deve cortar o cabelo? É que há muito que não tinha o cabelo comprido e encaracolado, mas já estou a ficar um bocadito para o farta...
Por outro lado, cabelo curto? Depois chego a casa e ainda me arrependo.
(eu tenho tarte de maçã feita pela xica)
támém quero!!!
Tá tum boa, gaija...
(E estava a responder-te mas ligou-me a Peixa e prontos...)
Tu percebeste-me...
às vezes acho que este desfazamento com a idade é por ter filhas pequenas (e pequenas é figura de estilo...). Essa coisa de ter sido mãe tarde afinal deu jeito - agora tenho um pé no mundo delas e lembro-me tão bem de ter a idade que elas têm que esqueço a minha.
Ora! Não é por teres uns anitos a mais que eu passo a sentir os quarenta que vão entrar ainda este ano. É que, de facto, também não tenho qualquer problema com os números em si, simplesmente não me sinto com esta idade. Sinto-me uma miúda, pronto.
(ou estás a dizer que por seres mais velha não me retornas a chamada e tenho que continuar a penar embora não tenha crédito no lelé e tu tenhas o teu meo inacessível???)
(Gaija, é nisto que me identifico com a chefa. E tb na paixão pelo Chico. E mais umas coisitas que agora não me lembro. E outras que me lembro mas não digo aqui em público...)
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