Norte, há muito que não tenho. Não o perdi por aí, distraidamente, numa curva qualquer de um caminho já feito, mas larguei-o lá atrás. Deixei-o, a ele e ao lastro todo que carregava, que virar as costas ao norte é diferente de perdê-lo. A lógica é simples, só se perde quem tem um caminho apontado e se não tiver norte não me posso desnortear. Guardei o nascente e o poente, que assim se fazem os meus dias, e apontei a sul, que é onde está a felicidade. Tenho vivido bem, com esta bússola perigosa, que me faz virar costas à força que atrai a agulha.
Posso brincar com as imagens e explicar a mim mesma que o que me incomodava nessa coisa dos pontos cardeais era a cruz tão definida - Norte, Sul, Nascente, Poente. Parecia não haver como fugir à regra do martírio, que as cruzes foram feitas para serem carregadas, mesmo que nos apareçam desenhadas nas estrelas.
Larguei o Norte e fiquei comigo e com a graça do Nascente, Poente e Sul que tão bem desenham a letra do meu nome. Era eu e os meus pontos cardeais.
O perigo é que distracções todos temos e se perco o sul na curva de um tal caminho onde larguei o norte sem o perder, fico sem referência alguma. Com uma direcção, mas sem um sentido. O Nascente e o Poente embrulham-se um no outro, que não há como saber onde estão, e a vida perde-se em dias que nascem e morrem ou morrem e nascem sem se saber onde.
Andavam assim os meus dias. Tinha perdido o cheiro da felicidade que me apontava o sul bem melhor do que a agulha magnética aponta o norte, e os dias e as noites passavam sem saber onde começava um e acabava o outro. Passavam por mim, ou eu por eles, numa linha contínua sem princípio nem fim.
Não percebi logo que tinha perdido o rumo, só percebia que tinha perdido o riso. Andei triste, profundamente triste, a dar gargalhadas por aí para ver se reconhecia o som, mas o eco que me chegava era de miséria, de dor, de desespero, de fuga para a frente em dias e noites baralhados.
Pensei, perdida assim, voltar lá atrás onde larguei o Norte e voltar a fazer com ele a minha cruz. Não era o que eu queria, mas tinha que voltar a ter um caminho, nem que fosse esse que larguei por me doer.
Mas a vontade do Sul ainda era muito forte e se se perde só tem de se voltar a procurar, que nortes e desnortes não quero mais na minha vida.
Foi o que andei a fazer por estes dias, a procurar a minha felicidade perdida, que se vivo bem sem Norte não quero nunca mais viver sem Sul.
Voltei a encontrá-lo. Não estava tão perdido assim, que a felicidade quando se nos pega às carnes não se solta facilmente e o cheiro dela entranha-se em nós com tanta força que só mesmo se não a quisermos é que a perdemos. E eu não a quis perder, nem quero.
Tenho outra vez os meus pontos cardeais. Tenho o meu riso de volta. Tenho os dias e tenho as noites que se lhes seguem, tenho a vida, tenho o nascente, o poente e o sul a dar-lhes o sentido.
Estou feliz e estou a sulidificar esta felicidade reencontrada para não voltar a ficar sem rumo numa distracção qualquer.
Sou outra vez a Teresa, a sul e assumidamente sem norte. E sem desnorte.
Posso brincar com as imagens e explicar a mim mesma que o que me incomodava nessa coisa dos pontos cardeais era a cruz tão definida - Norte, Sul, Nascente, Poente. Parecia não haver como fugir à regra do martírio, que as cruzes foram feitas para serem carregadas, mesmo que nos apareçam desenhadas nas estrelas.
Larguei o Norte e fiquei comigo e com a graça do Nascente, Poente e Sul que tão bem desenham a letra do meu nome. Era eu e os meus pontos cardeais.
O perigo é que distracções todos temos e se perco o sul na curva de um tal caminho onde larguei o norte sem o perder, fico sem referência alguma. Com uma direcção, mas sem um sentido. O Nascente e o Poente embrulham-se um no outro, que não há como saber onde estão, e a vida perde-se em dias que nascem e morrem ou morrem e nascem sem se saber onde.
Andavam assim os meus dias. Tinha perdido o cheiro da felicidade que me apontava o sul bem melhor do que a agulha magnética aponta o norte, e os dias e as noites passavam sem saber onde começava um e acabava o outro. Passavam por mim, ou eu por eles, numa linha contínua sem princípio nem fim.
Não percebi logo que tinha perdido o rumo, só percebia que tinha perdido o riso. Andei triste, profundamente triste, a dar gargalhadas por aí para ver se reconhecia o som, mas o eco que me chegava era de miséria, de dor, de desespero, de fuga para a frente em dias e noites baralhados.
Pensei, perdida assim, voltar lá atrás onde larguei o Norte e voltar a fazer com ele a minha cruz. Não era o que eu queria, mas tinha que voltar a ter um caminho, nem que fosse esse que larguei por me doer.
Mas a vontade do Sul ainda era muito forte e se se perde só tem de se voltar a procurar, que nortes e desnortes não quero mais na minha vida.
Foi o que andei a fazer por estes dias, a procurar a minha felicidade perdida, que se vivo bem sem Norte não quero nunca mais viver sem Sul.
Voltei a encontrá-lo. Não estava tão perdido assim, que a felicidade quando se nos pega às carnes não se solta facilmente e o cheiro dela entranha-se em nós com tanta força que só mesmo se não a quisermos é que a perdemos. E eu não a quis perder, nem quero.
Tenho outra vez os meus pontos cardeais. Tenho o meu riso de volta. Tenho os dias e tenho as noites que se lhes seguem, tenho a vida, tenho o nascente, o poente e o sul a dar-lhes o sentido.
Estou feliz e estou a sulidificar esta felicidade reencontrada para não voltar a ficar sem rumo numa distracção qualquer.
Sou outra vez a Teresa, a sul e assumidamente sem norte. E sem desnorte.
10 comentários:
Ainda bem que te reencontraste. A Norte, a Sul, a Poente, a Nascente, ou por entre os pontos, o importante é (re)encontrarmo-nos.
Mesmo que contra tudo e contra todos...
Só se encontra quem ou o que se perdeu.
Disso mesmo tinha consciência Florbela Espanca, quando escreveu " que eu me saiba perder para me encontrar".
( muito interessante,Teresa, a forma como joga com as coordenadas! Para as descoordenar, como o faz, é necessário estar muito "ordenada").
Gostei, sinceramente, do texto: do sério que se esconde por detrás do brincalhão, da profundidade encabuçada de superficialidade.
Em suma, da forma lúdica e lúcida como expõe estados de alma, contornando a vulgaridade e a lamechice.
Parabéns e ... felicidades.
Como eu a entendo..........
Pois. O vento de Norte traz sempre muito frio. Bom tempo, normalmente, mas enganador, frio, e quando sopra com força, dá cabo de tudo, queima tudo. Boa sorte Teresa.
Então, como se diz no Algarve WELCOME!
JCFrancisco
bela imagem. e linda menina.
Lindo, lindoooo, lindoooo: maravilhoso post!
Cada (re)encontro connosco traz sempre um relembrar da matéria de que somos feitos e a certeza de que as nossas orientações são as mais correctas.
Teresa fico muito feliz por se estar a sulidificar.
Obrigado pela partilha, apesar de no fundo entender que mais do que uma partilha, é principalmente uma reafirmação pessoal do que se sente e se decidiu num caminho tantas vezes tão desorientado (aparentemente).
Beijos mil
Teresa:
Escreveu um belo texto, sim senhora! É talvez o melhor texto que eu li entre os que tem aqui no seu blogue, que já venho visitar há uns tempos. Vê-se bem que a Teresa é uma mulher determinada, embora me pareça que às vezes não sabe o que quer da vida, estou enganada? Mas não é por isso que estou a comentar pela primeira vez. A razão que me faz comentar é outra, uma pergunta apenas: gostava de saber se desta vez tem mesmo a certeza daquilo que quer do sul. Tem?
Anónima,
Eu não falei em certezas, falei em cheiro de felicidade. E, neste momento, esse cheiro é uma certeza. Não preciso de mais.
Obrigada pelas visitas.
Postar um comentário