Sim senhor ministro, ...

Eu tento, ... eu juro que tento mas, eles não deixam, ...

Pois é. Por muito que eu tente manter-me afastado de discussões sobre tecnologia, e sobre os efeitos desta na sociedade, não consigo. Os casos estúpidos e, digamos, criminosos, são flagrantes demais.

O DN publica hoje que "Um estudo do Governo defende que as bases de dados de toda administração pública sejam centralizadas e guardadas por uma entidade privada, numa nuvem tecnológica (cloud)".

O texto que se segue, vem de um tipo que esta de acordo com o retirar do estado do papel de interveniente na actividade económica, mantendo-se como legislador mas, aqui tenho de perguntar:

  • Quem foi a CRIATURA que assinou este estudo?
    Indiquem-no, por favor, por nome para todos sabermos que obviamente se trata de um ser acéfalo ou de mais um agente pago pelas pseudo empresas Portuguesas de Trastes que por aí populam. Mais um estudo que visa favorecer alguma empresa e que, mais uma vez, será ruinoso para o Estado Português.

Mais, porque razão a Comissão Nacional de Protecção de Dados não esta já a saltar e a chamar o boi pelos nomes. A denunciar este estudo como irresponsável e ilegal (bom, por acaso, não sei se será ilegal fazer este disparate; seria se tivéssemos leis que valessem alguma coisa). Vão repetir a vergonha que já se passou na banca? E no cartão do Cidadão? Ou vão demonstrar que valem o dinheiro que custam e não são só um entrave ao desenvolvimento nacional?

Estamos num país em que o Presidente da Republica vai inaugurar a sede de uma empresa Americana de software, onde os monopólios são acarinhados e incentivados dando com empresas onde a lei é mera indicadora da sua conduta e o número de acções ilegais e imorais são contadas ao dia mas, nunca antes vi um estado disposto a alienar a sua informação estratégica e a pôr em causa a justiça, a privacidade e a segurança dos seus cidadãos.

Tão gritante é esta medida que não tenho qualquer dúvida que aqui se trata de um estudo patrocinado por alguma empresa privada e que, mais uma vez, estamos a hipotecar o futuro do país para servir a interesses privados. A confirmar-se esta medida, é de notar que a Amazon terá mais cuidado em salvaguardar a minha morada que o meu Governo em salvaguardar qualquer informação pessoal que tenha sobre mim.

Esperava ver um conjunto de jornalistas a saltarem em cima desta medida mas, honestamente não creio que ainda haja algum jornal no país que não esteja a soldo de quem me parece que patrocinou este estudo, ...

2 comentários:

Unknown disse...

Desconfio que metade dos jornalistas nem percebe bem do que se está a falar, como dois terços dos políticos também não o entende (e provavelmente três quartos dos cidadãos).

A palavra que está a mais neste estudo é "privada".

Aliás, nem percebo como é que um estudo supostamente tecnológico vem dar palpites sobre o facto de a entidade que gere os dados ser pública ou privada. Acho isso inadmissível num contexto profissional de um estudo encomendado pelo Governo, e pago por mim e por ti.

Que as bases de dados deviam ser geridas de uma forma coerente e eficiente, todos sabemos há anos. Que não faz sentido o Estado, o mesmo Estado, ter mais de dez institutos de informática, todos sabemos há anos. Que sem uma política coerente não há interacção nem poupanças, todos sabemos há anos.

Mas o Estado continua a não ter ninguém competente à cabeça, e a ser gerido por cambadas de burocratas que acham que percebem muito de sistemas de informação porque sabem usar um browser e até foram a uma conferência convidados por uma dessas multinacionais.

Resumindo, se me perguntares se centralizar a informação num hiper-modelo de dados coerente, servido por uma infra-estrutura de serviços comuns é boa idéia, eu digo que é.

Se me perguntares se acho que o Estado tem lá gente suficientemente boa para o conceber e gerir, até tem.

Se acho que os vão deixar fazê-lo? Não, de todo, quem vai mandar nisso são os burocratas.

Das duas uma: ou vão pensar num modelo a sério, e contratar uma empresa privada qualquer para o fazer, e essa empresa vai perder-se anos em estudos para depois não sair nada, ou então vão decidir meter tudo na Amazon (ou pior ainda, numa Amazon privada "nacional" feita por uma empresa qualquer de um amigo). E com sorte, ainda acham que "a cloud" é colocar as bases de dados e as aplicações tal como estão num datacenter qualquer gerido por terceiros.

Sim, que as nuvens em Portugal são muito mais pragmáticas.


(a mim o que me irrita é pensar que alguém pagou este estudo, e fomos nós. na crise em que estamos, e andamos a pagar estudos masturbatórios para coisas em que não temos dinheiro para investir agora?)

Fusão do Atomo disse...

Desde que os "jornaleiros" estão com "eles" entalados entre o frete ao grupo económico que lhe paga o ordenado e o horizonte de uma qualquer assessoria de um qualquer gabinete do estado, que há muito deixaram de se preocuparem com a investigação, com a ética ou mesmo com a vontade de ser imparcial.

Os estudos de tudo e mais alguma coisa, multiplicam-se pela gamela onde comem os abutres da advocacia, onde o poder lobista pulula e a comunicação social fecha os olhos....vidé o caso BPN e seus apendices, a maior fraude dos ultimos tempos, (e tantas têm havido). Num país cujos os banqueiros se dão ao luxo de vomitar chorrilhos de asneiras com o beneplácito da orde, está tudo dito.