As greves suspendem o acto de trabalhar. Têm por isso primariamente um impacto económico, e só em menor grau um impacto político, que é pouco mais que o da repercussão mediática que a greve pode ter e do seu eventual impacto na opinião pública, nacional e internacional.
A opinião pública internacional importa pouco ou nada para países pequenos como Portugal.
Não influencia grandemente a nossa balança comercial com o exterior, que anos de campanhas e rios de dinheiro a promover uma "marca Portugal" não conseguiram fazer. E não influencia nada a nossa política externa, que é cada vez mais condicionada por acordos internacionais e por questões comerciais do que por reais opções políticas ou por qualquer género de "prestígio" dos países.
O "prestígio" dos países, quando muito, dá desculpas para coisas como "ah, vamos subir-vos as taxas de juro nos empréstimos novos, que parece que vocês andam por lá a fazer greves e pode ser que não nos paguem". Mais uma vez, uma questão económica.
A greve tem efeitos quando mostra a existência de real poder dos trabalhadores perante o patronato.
Destina-se a levar o patronato a negociar ou a ceder às exigências dos grevistas.
Produz efeitos quando o patronato cede por comparação do custo económico da greve com o custo de implementação das medidas.
O que significa que a greve tem tanto mais impacto quanto maior for o potencial dano económico que pode provocar.
Mas também significa que a greve só é eficaz como arma contra quem se sinta lesado por esse dano económico. E é especialmente eficaz como ameaça, como moeda de troca numa negociação.
As greves não funcionam como instrumento contra o Governo.
Uma greve geral, num contexto em que não há negociação, não funciona como instrumento contra o Governo.
Uma greve geral, sem reivindicações concretas, não funciona.
Porque o Governo não é prejudicado economicamente pela greve. O País é, o Estado é, mas o Governo não é. E no momento de crise que o país atravessa, não é mais um dia ou menos um dia de greve que vai fazer o Governo subitamente ficar preocupado com o custo económico da greve. O problema, infelizmente, é muito maior que isso.
E a greve acaba por prejudicar toda a gente, menos o Governo.
Volto a dizê-lo. Uma greve geral sem reivindicações, sem ser uma peça no contexto de uma negociação, não funciona contra quem se limita a gastar dinheiro que não é seu.
A menos que seja apenas uma demonstração de força.
A menos que seja apenas o prelúdio de outra coisa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário