As coisas que ando a aprender sobre mim.

"És mesmo púdica".

Não é que acabaram de me dizer isto? E não foi um gajo ressabiado, foi gaija mesmo, o que torna a coisa ainda mais perturbadora. Qualquer gaija acha que as outras são todas umas desavergonhadas e quanto mais ar de santas pior. Nunca por nunca se diz uma coisa destas a outra. A não ser que seja verdade. Ou que se meta pelos olhos dentro. Ou que a deixe pior que estragada.

A ser assim, e porque não estragou nada, acabei de descobrir que eu, afinal, não sou eu. Andei anos a achar-me a cabra de serviço, destravada, desavergonhada, descarada, sem regras nem limites a não ser os meus e depois, assim, numa tarde de sol que vai e vem, acabo por saber que apesar de tantos gritos de ipiranga, gritados até a voz doer, sou púdica.

Andava desconfiada, que os últimos tempos têm sido de grandes descobertas, mas pensava que o rubor das faces era charme e não pudor.
Logo eu, púdica. Eu, que li o Kamasutra entre os livros da Odete de Saint Maurice e que, quando a minha mãe me deu um livrinho com flores e borboletas, e disse para perguntar o que não percebesse, assobiei para o ar e pensei nos Miller todos já papados, na História d'O em banda desenhada - educativo, acreditem! - e em todos os outros que da prateleira de trás da biblioteca fizeram uma passagem pelo fundo da minha gaveta das meias.
Anos mais tarde, imbuída de todo o meu espiríto cientifico, e depois de tanta informação acumulada, tratei de lhe tentar dar uso e, ao mesmo tempo que testava a formula da nitroglicerina - é simples, só não fica aqui porque falar de sexo ainda vá, mas com o resto fecham o blog de certeza - ia guardando as fotos dos meus namorados numa pasta do PPD. Gostava do laranja da capa e da frase, escrita a branco, "Hoje somos muitos, amanhã seremos milhões".

Sim, tive uma educação católica, apostólica, romana, mas há muito que não uso camisa de dormir e tomei como boa a teoria do não sou sabonete - uso não gasta.
Hoje, no recato do lar, fiquei a saber que afinal sou púdica. E mais, que se fosse só isto podia tomar por não escrito. O resto é que me traça o retrato a tinta da china - não sou compartimentada, não tenho feitio para separar sexo/amor.
Esta fez-me dar voltas. Será? Pois, se calhar será. E lá se foi outro dos meus mitos - a gaja quase gajo, do meia bola e força e que seja para a desgraça, que aqui o que seja o que Deus quiser fica fora de tom.
Falando sério, acho que houve mesmo um zig qualquer que me saiu zag e, como diria a minha avó, estes tempos já não são os meus. Afinal nestes tempos sou púdica e recatada.

Ou seja, afinal sou gaija e andei anos convencida que era um gajo como os outros.


5 comentários:

Anônimo disse...

Só acredito perante factos.

Anônimo disse...

Isso são efeitos da História d'O em banda desenhada, o filme é bem mais educativo.

Teresa disse...

Factos? Ora aí vão:

E= MC2

Um ano luz equivale a uma distância de 9.454.254.955.488 km.

O resto é fé. Muita fé.

Teresa disse...

Ó Santa, quer que fechem o blog? deve ser da concorrência, de certeza...

susana disse...

grande gargalhada, está bestial!