Começou o velório

Morreu. O espírito já se foi, como qualquer espírito que se preze, mas deixou ainda por aqui a velha carcaça a decompôr-se. Vamos falar do defunto e de como foi bom e teve uma vida curta mas tão cheia. Os dias da praxe vão passar, pouco a pouco vamo-nos esquecendo e ficará perdido na memória como todos os outros. O enterro será discreto, quase envergonhado. Vamos notar que finalmente nos deixou quando os monstros vermelhos desaparecerem das varandas e as árvores de natal, com o resto de um fio dourado e um anjo esquecido, forem despudoradamente escostadas aos caixotes do lixo.

6 comentários:

Anônimo disse...

Uau, mas que mergulho profundo no espírito da quadra...

Teresa disse...

o espirito já se foi, não viste?

Anônimo disse...

Nem se despediu, o filho da mãe...

Teresa disse...

é sempre assim.... saiu de fininho e agora cá estamos nós para limpar a confusão que deixou...

Anônimo disse...

cabras e tubarões:
um gato nunca é demais para detectar um espírito, como é sabido.
e eu garanto que já não mora aqui.

Teresa disse...

O gato, que eu saiba, é mesmo dos poucos animais que não detecta o espírito - é um animal diabólico, que vive no meio deles e não dá sinal. Qualquer bruxa que se preze tem um, certo?