Memórias de Abril (ou outro mês qualquer que da data já não me lembro)

A minha filha ontem perguntou-me se eu conhecia o Vitorino. Ela, que até nem é analfabeta musicalmente, não estava a ver quem ele era mas a boina preta e algumas músicas colocaram-na no sítio. Porque raio me perguntou se o conhecia não sei, mas os filhos acham sempre que nós, pais ou mães, somos assim uma espécie de super heróis que conhecemos tudo e sabemos tudo.

O que ela não sabe, e eu não lhe digo, é que eu conheço o Vitorino. O Vitorino já não me deve conhecer a mim mas eu nunca me vou esquecer do Vitorino. É que ele, Vitorino, está escrito em letras de oiro nas histórias da minha vida.

Eu conheci o Vitorino sim. Era uma catraia, advogava há pouco tempo, e o Vitorino andava por lá, pelos meus sítios. O Vitorino, na altura, era dono do Ritz Club, ali, na Praça da Alegria, e o Vitorino sempre que estava comigo perguntava-me porque nunca tinha eu aparecido pela casa que era dele.
Sei lá, Vitorino, porque não, mas uma noite destas apareço por lá.
Tinha mais que fazer, mais por onde ir, não tinha filhas a perguntarem-me se conhecia o Vitorino, o Plateau tinha umas noites giras, outros que nem digo o nome também e, ó Vitorino, Ritz Club era uma chatice, música de baile estás a ver?
Um dia, ou uma noite, apareceram-me uns clientes do Porto. Dois casais. Meia idade, muito compostinhos, muito cheios de cerimónias. Fui destacada para lhes servir de cicerone na Lisboa à noite e a seguir ao jantar fizeram-me o pedido - queriam dançar. Dançar, dançar? Isso é complicado mas se querem bailinho, Ritz Club, pois claro!, e junta-se o útil ao agradável.

É que estava tudo a correr bem, muito bem. A mesa era boa, perto da pista, o ambiente estava composto e eles estavam felizes. Até que, e há sempre um até que, Vitorino apareceu. Ele até podia ter aparecido e ficado por lá longe mas não, apareceu, veio direitinho à nossa mesa e atirou-me a boa noite que nunca mais esqueci e eles, os meus convidados, quase de certeza que também não:
- Então dótoura, por aqui num bar de putas?

Gosto de pessoas com sentido de humor, gosto muito, mas ó Vitorino, era preciso assim tanto?

8 comentários:

Sérgio disse...

Ganda Vitorino.

Patife disse...

Não posso! Céus. Bem... fica a história para contar.

Mente Quase Perigosa disse...

(Qual será a parte de 'a Peixa tem sempre razão' que ela ainda não percebeu?...)

Teresa disse...

Sérgio, obrigada pela solidariedade... Na próxima podes ficar à espera que te entregue um recado, ai podes, podes...


Patife, meias palavras?? mas que história é essa?


Razão onde,Peixa????

Debaixo do Bulcão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Debaixo do Bulcão disse...

olá. obrigado pela publicidade ao meu blogue. como terá notado, eu não sou ESSE Vitorino, mas ando cá há quase tanto tempo - ele na música e eu no jornalismo. é natural que não me conheça. nem eu conheço o meu homónimo do Redondo (suponho que nem temos qualquer parentesco).
conheci o Ritz Club, bebi por lá muitos copos e cheguei a participar numa exposição colectiva nesse espaço, com fotografias, em 1990.
se procurar bem, encontra qualquer coisita sobre isso no meu blogue.

saudações e agradecimentos,

António Vitorino (de Almada)

Anônimo disse...

o Ritz Club era o bar de putas mais castiço - tipo museu, mesmo! - ANTES do Vitorino o comprar; nunca me hei-de esquecer: era um bar de alterne que tinha parado no tempo: as "miúdas" tinham 60 anos, os músicos também, e os "pintas" idem...era uma curte; depois o Vitorino comprou-o e perdeu toda a piada; se virem o "Kilas" aparece lá o velho e saudoso Ritz Club...

calamity jane disse...

Que saudades do Ritz...